quinta-feira, 12 de setembro de 2024

PF prende ‘Patroa’ do PCC no dia de sua posse como estagiária de Direito no Ministério Público

 Foto do rosto de mulher parda, cabelos lisos compridos, pouco abaixo do ombro, camiseta de gola rolê e brincos redondos grandes e dourados - Metrópoles


A Promotoria de Justiça de Itapeva, no interior de São Paulo, iria ganhar uma estagiária, Elaine Souza Garcia, na última terça, 10, mas a posse da estudante de Direito foi barrada por uma ação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público estadual após a descoberta de suas ligações muito próximas com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Elaine carrega a alcunha de “Patroa” da facção. Ela foi presa pouco antes de assumir suas funções no MP paulista.

Alvo da Operação Baal, Elaine está sob suspeita de liderar ataques do “Novo Cangaço” – ações brutais de grupos armados da facção que espalham o terror em cidades menores do interior paulista e de outros Estados para roubos de empresas de valores e invasão de bancos.

A reportagem busca contato com a defesa. O espaço está aberto para manifestações.

Segundo publicação no Diário Oficial do Estado, Elaine foi convocada para assinar, a partir de 9 horas da terça, o termo de posse na Promotoria de Itapeva, município com cerca de 90 mil habitantes situado a 290 quilômetros de São Paulo.

Os promotores da Operação Baal estão convencidos de que o PCC tentou infiltrar “Patroa” no Ministério Público para levantar informações privilegiadas sobre investigações sigilosas.

Na terça, a PF deflagrou a segunda fase da Operação Baal para prender três integrantes do “Novo Cangaço”. As investigações foram abastecidas por vídeos em que um CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) dá aulas de tiro de fuzil para outro integrante do grupo.

Segundo a PF, um investigado preso na nova fase da Baal é ligado ao PCC. Ele ficou foragido de 2005 até 2024, quando foi localizado e detido em outra ação da Promotoria de Justiça de Campinas. Na ocasião, foram apreendidas armas, acessórios, munições, roupas camufladas e outros objetos usados na execução de crimes marcados por extrema violência.

A Operação Baal levou o Ministério Público a denunciar 18 integrantes de uma quadrilha que promoveu uma onda de ataques do “Novo Cangaço”. A Justiça tornou réus os acusados. A Promotoria pede que cada um deles seja condenado ao pagamento de R$ 5 milhões a título de indenização por danos morais à coletividade.

A primeira fase ostensiva da investigação foi deflagrada em maio, quando a Polícia Federal e o Ministério Publico de São Paulo cumpriram 12 ordens de prisão temporária e prenderam em flagrante quatro suspeitos por posse ilegal de arma.

“As ações investigadas constituem uma modalidade de conflito proveniente da evolução de crimes violentos contra o patrimônio, no qual grupos criminosos subjugam a ação do poder público por meio do planejamento e execução de roubos que causam um verdadeiro terror social”, destacou a PF.

Durante as diligências da primeira fase da Baal, foram apreendidas diversas armas, inclusive fuzis com alto poder de destruição, explosivos, pólvora, granadas caseiras e coletes balísticos. Em meio às buscas, um dos investigados no Piauí chegou a reagir. Outro tinha uma barricada no portão de sua casa.

O número de armas apreendidas em posse dos alvos surpreendeu os investigadores. No endereço comercial de um alvo – onde antes funcionava uma loja de veículos (hoje desativada), atualmente servindo de base para uma empresa de reciclagem – foi identificado um esconderijo de armas.

Também foram encontrados em uma casa no interior do Maranhão peças de fardamento usado por policiais, o que indica que o grupo estava pronto para uma nova ação, segundo a PF.

As investigações indicam que a quadrilha planejava um ataque para o final do ano passado, mas a ação foi adiada por causa da morte de um dos líderes, executado por outra facção.

O inquérito foi aberto após a tentativa de roubo a um banco em abril de 2023, em Confresa (MT). Na ocasião, suspeitos foram presos e mortos em confronto. Um deles morava em São Paulo e integrava o PCC.

A partir das informações sobre essa tentativa de roubo, foram descobertas outras ações semelhantes financiadas pelo PCC. O grupo está ligado a ações sanguinárias que levaram pânico e medo a Guarapuava (PR), em 2020, e também a Criciúma (SC),e Araçatuba (SP), em 2021

BCE volta a reduzir taxa de juros, mas não indica seus próximos passos

 


Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, em coletiva de imprensa em Frankfurt, em 18 de julho de 2024 - AFP/Arquivos

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira (12) o segundo corte do ano em sua principal taxa de juros, de 0,25 ponto percentual, para 3,5%, diante de uma inflação que continua a recuar, embora não tenha especificado se avalia novas reduções nos próximos meses.

“É apropriado agora dar um passo adicional na moderação do grau de restrição da política monetária”, indicou a instituição em um comunicado.

O BCE diminuiu suas taxas de juros em junho pela primeira vez em cinco anos, após um período de inflação elevada resultante da invasão russa à Ucrânia.

Em julho, no entanto, manteve as taxas inalteradas.

O corte anunciado nesta quinta-feira estava em linha com as expectativas do mercado, considerando os dados de inflação na zona do euro, que inclui 20 dos 27 países da União Europeia.

A alta de preços foi de 2,2% em agosto na zona do euro e ficou abaixo até mesmo da meta de 2% nas duas maiores economias da região, Alemanha e França.

“O Conselho de Governo está determinado a garantir que a inflação retorne em breve à sua meta de 2% no médio prazo e manterá as taxas de juros oficiais em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for necessário”, afirmou a instituição com sede em Frankfurt.

“Com o crescimento dos salários muito acima da produtividade e uma inflação dos serviços em alta novamente, não há razão para o Conselho de Governo acelerar o ritmo dos cortes de juros ou se comprometer com novos cortes neste momento”, comentou Sylvain Broyer, economista-chefe da S&P Global Ratings.

Os cortes impactam a taxa de mercado interbancário e, consequentemente, as condições dos empréstimos para pessoas físicas e jurídicas.

A flexibilização de junho veio após um período de encarecimento sem precedentes do crédito para combater uma inflação excepcionalmente elevada.

Esta decisão do BCE foi tomada antes do anúncio do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, que deve decidir seu primeiro corte do ano em 18 de setembro, após ter elevado o custo do dinheiro a níveis inéditos desde 2001.

– Relatório Draghi-

O novo corte de taxas do BCE ocorre após o anúncio de uma revisão para baixo do crescimento econômico na zona do euro no segundo trimestre, para 0,2%.

Mas a preocupação com os déficits orçamentários pode moderar a extensão dos cortes.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, pediu aos governos da zona do euro que implementem “agora” reformas para reduzir esses déficits.

Lagarde também incentivou os governos a aplicar as propostas do relatório sobre a economia europeia apresentado no início da semana por seu antecessor no cargo, o ex-primeiro-ministro italiano Mario Draghi.

“Faz um diagnóstico duro, mas, em nossa opinião, justo, e também aponta para reformas estruturais (…) que poderiam ser extremamente úteis para fortalecer a Europa”, afirmou Lagarde sobre o documento, que pede à UE a realização de investimentos maciços.

– Balança de riscos –

As declarações de Lagarde serão analisadas minuciosamente para ver para onde se inclina a “balança de riscos”, um tema sobre o qual “ainda não há consenso” entre os banqueiros centrais da zona do euro, declarou à AFP Gilles Moec, economista-chefe da Axa.

O debate opõe “aqueles que começam a se preocupar com a desaceleração acentuada da demanda”, o que justificaria reduzir rapidamente o custo do crédito, e “aqueles que consideram que a recuperação do poder aquisitivo, provocada pela desinflação, permitirá sustentar o consumo e que, por isso, não é urgente agir de forma contundente”, explicou.

O BCE manteve suas previsões de inflação na zona do euro: 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026.

Em contrapartida, cortou ligeiramente suas previsões de crescimento e prevê uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,8% neste ano (um décimo a menos do que o projetado em junho), e de 1,3% e 1,5% em 2025 e 2026, respectivamente.

Essas novas projeções econômicas não ajudam a esclarecer as dúvidas.

Isabel Schnabel, que integra o Comitê Executivo do BCE, defendeu recentemente uma estratégia prudente e progressiva sobre as taxas para evitar o retorno da inflação.

Isso pode incentivar a presidente da instituição a manter o princípio de se basear nos dados que vão sendo publicados, sem comprometer políticas de longo prazo

Para Lagarde, riscos para o crescimento econômico Europeu permanecem inclinados para baixo

 Lagarde diz que inflação deve continuar a cair, mas que há ...


A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reiterou nesta quinta-feira, 12, que os riscos para o crescimento econômico da zona do euro permanecem enviesados para baixo. Em coletiva de imprensa após decisão de juros, Lagarde explicou que a demanda mais fraca por exportações deve seguir pesando na atividade, diante do enfraquecimento da economia global e da escalada de tensões comerciais.

Ela acrescentou que as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza representam fontes de incertezas geopolíticas. “Isso pode fazer com que empresas e famílias fiquem menos confiantes sobre o futuro e o comércio global seja interrompido”, comentou ela, que também vê efeito defasado do aperto monetário do BCE.

A banqueira central disse ainda que a desaceleração econômica da Alemanha já era esperada pela equipe do BCE.

Para ela, é importante seguir atento aos riscos inflacionários, em particular os efeitos da crise climática nos preços. Mesmo assim, Lagarde disse que os dirigentes monitoram os riscos de inflação abaixo da meta.

Questionada sobre o relatório do ex-presidente do BCE Mario Draghi sobre questões estruturais da economia, Lagarde disse que esse assunto é uma responsabilidade dos governos, não da autoridade monetária

Enel anuncia contratações e aumento de frota em preparação para eventos climáticos no Brasil

 


Companhia de energia tem plano de R$ 20 bilhões de investimentos para o período entre 2024 e 2026

 

 

As ações fazem parte de um plano de investimentos de R$ 20 bilhões anunciados pela Enel Brasil em junho, em recursos que serão aplicados nos próximos anos, principalmente para reforçar as operações de suas distribuidoras de energia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.

Em evento para apresentar o plano, o CEO da Enel Brasil, Antonio Scala, destacou o aumento do nível anual de investimentos a serem executados nas concessionárias do grupo. Em São Paulo, o valor investido anualmente deve subir para R$ 2 bilhões em 2024-2026, ante patamar de R$ 1,4 bilhão registrado em 2018-2023.

Segundo o executivo, os aportes estarão focados na modernização, reforma das redes de baixa tensão e automação, com o objetivo de melhorar a qualidade da energia fornecida aos consumidores e responder mais rapidamente a ocorrências como quedas de energia a partir, por exemplo, de gerenciamento remoto.

Serão instalados mais de 1,5 mil novos dispositivos de telecontrole, somando as três distribuidoras, sendo 650 apenas em São Paulo, disse a companhia.

Em outra frente, a Enel deve reforçar as manutenções preventivas, com aumento das podas de árvores. Na distribuidora paulista, serão realizadas este ano 600 mil podas na área de concessão, o dobro do ano passado, segundo Scala.

O anúncio dos investimentos vem após concessionárias da Enel terem sido alvo de duras críticas por parte de consumidores e autoridades por sua atuação diante de eventos climáticos extremos ocorridos no fim do ano passado.

A demora para responder com ações para restabelecer a energia a milhões de consumidores levou à aplicação de multas milionárias às empresas, além de ameaças do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que chegou a falar em caducidade da concessão e impedimento da companhia para renovar seus contratos no país, que estão expirando nos próximos anos.

O ministro participa de eventos com a Enel em São Paulo nesta quinta-feira, com o anúncio dos planos e discussões de como mitigar os impactos das mudanças climáticas.

Weg anuncia aquisição da Volt Eletric Motors, da Turquia, por US$ 88 milhões

 

Logo WEG – Logos PNG

A Weg anunciou nesta quinta-feira, 12, a aquisição da Volt Eletric Motors, fabricante turco de motores elétricos industriais e comerciais e subsidiaria do Grupo Saya, no valor de US$ 88 milhões a serem pagos no final da transação, estando sujeito a ajustes de preço comuns a esse tipo de operação, disse a empresa em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Com o acordo, a Weg irá assumir o controle total da Volt, incorporando uma equipe de 690 funcionários e uma fábrica de 27 mil metros quadrados voltada para o desenvolvimento e fabricação de motores industriais e comerciais, com potências até 450 kW. Em 2023, a Volt registrou uma receita operacional líquida de US$ 70 milhões, com uma margem Ebitda de 18,5%.

Essa aquisição está alinhada à estratégia de crescimento do negócio de motores industriais e comerciais da Weg, disse a empresa, pois permitirá ampliar a presença e oferta de produtos em mercados estratégicos como o Leste Europeu, Oriente Médio, Ásia Central e Norte da África.

A conclusão da transação está sujeita ao cumprimento de determinadas condições precedentes, incluindo as aprovações regulatórias necessárias relativas à transação.

Lula pediu estudos para dar isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, diz Haddad

 


Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Rio de Janeiro

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira, 12, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai decidir em breve sobre um projeto para garantir a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, uma das suas promessas de campanha. O objetivo do mandatário, ele disse, é chegar a essa isenção em 2026.

“O presidente encomendou da área da Fazenda estudos que permitissem chegar no último ano do seu governo à cifra de R$ 5 mil, e nós apresentamos para ele alguns cenários”, relatou Haddad, no programa “Bom dia, ministro”, da EBC. “Nós temos um tempo relativamente longo para aprovar a medida, e os cenários todos preveem a possibilidade de cumprimento dessa proposta.”

Segundo Haddad, Lula ainda deve conversar com outros ministros sobre as propostas quando achar “conveniente”, mas já considerou que pelo menos um dos caminhos oferecidos é “promissor do ponto de vista econômico e político.” O ministro da Casa Civil, Rui Costa, está a par dos projetos desenhados pela Fazenda, ele disse.

O ministro da Fazenda lembrou, ainda, que o governo Lula já corrigiu duas vezes a tabela do IR, contrapondo-se ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Fizemos muito mais do que o governo anterior fez em quatro anos”, afirmou.

Reoneração da folha: como ficou o projeto aprovado pela Câmara após alterações

 


Plenário da Câmara dos Deputados em Brasília

 

A Câmara dos Deputados concluiu nesta quinta-feira, 12, a votação o projeto de lei que estabelece uma transição para o fim da desoneração da folha de pagamento de empresas, com medidas compensatórias para o benefício.

O texto aprovado, que segue para sanção presidencial, incluiu uma emenda de redação para definir que a captação pelo Tesouro Nacional de recursos esquecidos em instituições financeiras será contabilizada como receita primária do governo, ponto que é foco de discordância do Banco Central.

O texto, alinhavado na noite desta quarta-feira, 11, pela equipe econômica e pelas lideranças da Casa, traz uma nova redação em relação à versão aprovada no Senado – a mudança, no entanto, está sendo considerada como um ajuste de redação e, por isso, o projeto não precisou passar por nova análise dos senadores.

A expectativa é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancione a lei assim que ela chegar ao Palácio do Planalto. A aprovação do texto-base ocorreu às 23h57, sendo que o prazo determinado pelo STF para se concluir um acordo sobre o tema terminava na quarta-feira.

O novo trecho incluído no texto prevê que a apropriação, pelo Tesouro Nacional, de valores esquecidos em instituições financeiras, mesmo que não computada como receita primária pelo Banco Central, será considerada para fins de cumprimento da meta fiscal do governo. Dessa forma, esses montantes poderão servir como parte da compensação à desoneração. Hoje, no entanto, o cálculo válido para a verificação do resultado primário é o do BC.

O chamado resultado primário é a diferença entre receitas e despesas sem considerar os juros da dívida pública. Ou seja, o número que determina se o governo fechou o ano no azul ou no vermelho e se cumpriu ou não a meta estabelecida pela equipe econômica. Quando há descumprimento, gatilhos são acionados e o governo é obrigado a gastar menos.

“A redação deixa claro que o objetivo é forçar um entendimento sobre o cumprimento da meta. Contudo, é altamente questionável que a lei ordinária que está sendo proposta delimite os poderes que foram atribuídos ao BC por lei complementar (do arcabouço fiscal). De qualquer forma, o desejo de se viabilizar um cumprimento da meta ao atropelo dos padrões estatísticos internacionais está evidenciado”, afirma o ex-secretário do Tesouro e head de macroeconomia do ASA, Jeferson Bittencourt.

Esse novo trecho foi incluído pela então relatora da proposta, deputada Any Ortiz (Cidadania-RS), nos momentos anteriores à votação. A mudança atendeu a acordo das lideranças com o Ministério da Fazenda para contemplar alertas do BC, mas foi além dos pontos levantados pela autoridade monetária, criando essa exceção no regramento fiscal.

Any Ortiz, porém, abriu mão da relatoria, que passou para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Guimarães, que o senhor assine essa chantagem que estamos vendo aqui hoje. Não tenho como assinar esse relatório da forma como foi feito, no limite do prazo”, disse a deputada.

“Nós conseguimos um acordo feito com a faca no pescoço, como com um sequestrador. Nós estamos aqui como reféns, temos uma hora para aprovar esse projeto para que amanhã os setores não tenham uma conta impagável no colo. Vamos garantir a desoneração, mas é lamentável o que o STF está fazendo com o apoio do Executivo, passando por cima da maioria do Congresso”, afirmou ela, destacando que, apesar de desistir da relatoria, iria votar de forma favorável ao texto.

BC se posicionou contra

O BC enviou na última segunda-feira uma nota técnica aos deputados criticando a forma de se contabilizar esses montantes esquecidos nas contas bancárias, que somam R$ 8,6 bilhões. No documento, a autoridade afirmava que a incorporação desse montante bilionário no cálculo das contas públicas estava “em claro desacordo com sua metodologia estatística, indo de encontro às orientações do TCU (Tribunal de Contas da União) e ao entendimento recente do STF sobre a matéria.”

Caminho similar já foi realizado por governo e Congresso na proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição, aprovada no fim de 2022. Na ocasião, a PEC autorizou o governo Lula a incorporar R$ 26 bilhões esquecidos por trabalhadores nas cotas do PIS/Pasep como receita primária – engordando os cofres públicos. O Tesouro seguiu o texto da lei e incorporou o valor no primário de 2023, mas o mesmo não foi feito pelo BC – gerando uma discrepância bilionária nas duas contabilidades.

Para evitar que essa diferença ficasse ainda maior, a versão aprovada pelo Senado afirmava que o dinheiro esquecido nas contas deveria ser considerado “como receita orçamentária primária para todos os fins das estatísticas fiscais”. Ou seja, havia a tentativa de fazer com que o BC também computasse o valor na sua metodologia, que é o número oficial para fins de cumprimento da meta.

Com a reclamação do BC, esse trecho que tratava de “todos os fins das estatísticas fiscais” foi retirado, mas foi incluída a previsão de que os valores das contas esquecidas sejam “considerados para verificação do cumprimento da meta de resultado primário” – mesmo que o BC não considere esses montantes como receita primária.

Sanção imediata

A expectativa é de que o Palácio do Planalto dê aval imediato ao projeto, assim que aprovado na Câmara.

A pressa se deve ao fato de o prazo dado pelo ministro Edson Fachin, do STF, para que Legislativo e Executivo buscassem uma solução de consenso para o tema vencer nesta quarta-feira, 12. Dessa forma, caso a Câmara não aprovasse o projeto até o final do dia, voltaria a valer a decisão tomada pelo ministro do Supremo Cristiano Zanin, em abril, que determinou a reoneração da folha.

“O governo deixou para a última hora e agora os setores (que contam com a desoneração) estão com a faca no pescoço”, afirmou a deputada Adriana Ventura (Novo-SP). O tema mobilizou Executivo, Legislativo e Judiciário ao longo dos últimos meses, bem como o empresariado, que reclama de insegurança jurídica em meio ao longo impasse tributário.

“Ajustes que foram feitos são redacionais e vai para sanção, o que mostra o compromisso do governo. Seria muito fácil não votar e deixar voltar como era antes”, rebateu o líder do governo, José Guimarães.

Medidas de ajuste fiscal para 2025

Além do uso de valores esquecidos em contas, o projeto também prevê como medidas compensatórias o uso de depósitos judiciais, atualização de bens no Imposto de Renda, repatriação de ativos mantidos no exterior e renegociação de multas aplicadas por agências reguladoras.

A equipe econômica alega, porém, que esses valores podem não ser suficientes para compensar a medida em 2025. Por esse motivo, o governo enviou ao Congresso um novo projeto de lei que prevê aumento da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e uma mudança no Imposto de Renda dos Juros sobre Capital Próprio (JCP), uma espécie de remuneração paga a acionistas. Os dois temas, no entanto, enfrentam grande resistência no Congresso.

Reoneração da folha será gradual

O texto da desoneração da folha de pagamentos prevê uma reoneração gradual entre 2025 e 2027. A partir do ano que vem, os empresários passarão por uma cobrança híbrida, que misturará uma parte da contribuição sobre a folha de salários com a taxação sobre a receita bruta, da seguinte maneira:

  • Em 2025, as empresas pagarão 80% da alíquota sobre a receita bruta e 25% da alíquota sobre a folha
  • Em 2026, as empresas pagarão 60% da alíquota sobre a receita bruta e 50% da alíquota sobre a folha
  • Em 2027, as empresas pagarão 40% da alíquota sobre a receita bruta e 75% da alíquota sobre a folha
  • A partir de 2028, as empresas retomarão integralmente o pagamento da alíquota sobre a folha, sem o pagamento sobre a receita bruta.

Como contrapartida para o benefício, as empresas serão obrigadas a manter ao menos 75% dos empregados. Isso significa que uma redução de até 25% do quadro de funcionários não resultará na perda do direito à desoneração por parte dessas companhias.

No caso dos municípios, o texto também estabelece uma “escada”. Neste ano, está mantida a alíquota previdenciária de 8% aprovada no ano passado pelo Congresso. Em 2025, esse imposto será de 12%. Em 2026, de 16%. Em 2027, por fim, voltará a ser de 20%.

O que é a desoneração da folha

A desoneração da folha de pagamentos foi instituída em 2011 para setores intensivos em mão de obra. Juntos, eles incluem milhares de empresas que empregam 9 milhões de pessoas. A medida substitui a contribuição previdenciária patronal de 20% incidente sobre a folha de salários por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Ela resulta, na prática, em redução da carga tributária da contribuição previdenciária devida pelas empresas.

Por decisão do Congresso, em votações expressivas, a política de desoneração foi prorrogada até 2027, mas acabou suspensa por uma decisão liminar do STF em ação movida pelo governo federal. A alegação é que o Congresso não previu uma fonte de receitas para bancar o programa e não estimou o impacto nas contas públicas.

O Legislativo, porém, argumenta que medidas foram aprovadas para aumentar as receitas da União e que a estimativa de impacto estava descrita na proposta aprovada. O ministro da Fazenda anunciou, então, um acordo para manter a desoneração em 2024 e negociar uma cobrança gradual a partir do próximo ano.

O cerne da discussão passou a girar em torno das compensações da desoneração da folha de pagamentos. A equipe econômica insiste em uma medida que represente receitas para os próximos anos. Ela vale para 17 setores da economia. Confira abaixo quais são:

  • confecção e vestuário;
  • calçados;
  • construção civil;
  • call center;
  • comunicação;
  • empresas de construção e obras de infraestrutura;
  • couro;
  • fabricação de veículos e carroçarias;
  • máquinas e equipamentos;
  • proteína animal;
  • têxtil;
  • TI (tecnologia da informação);
  • TIC (tecnologia de comunicação);
  • projeto de circuitos integrados;
  • transporte metroferroviário de passageiros;
  • transporte rodoviário coletivo;
  • transporte rodoviário de cargas.