segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mercado prevê juro e inflação mais altos e crescimento menor em 2014

Por Ana Conceição | Valor
 
SÃO PAULO  -  Analistas de mercado veem juros e inflação mais altos e menor crescimento econômico neste ano, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central (BC), que apura semanalmente estimativas junto a cerca de cem instituições. 

A mediana das projeções para a taxa básica de juros, a Selic, subiu de 10,75% para 11% ao fim deste ano. Os analistas acreditam que até o fim de 2015 a Selic subirá mais, para 11,50%. A taxa está atualmente em 10,50% ao ano.

No caso da inflação, a previsão é que o IPCA avance 6,02% em 2014, em vez de 6,01%. Para o próximo calendário, a expectativa é de uma alta de 5,70% no índice de preços, em lugar de 5,60% como o estimado anteriormente. A estimativa para o IPCA em 12 meses é de alta de 5,99%, contra 5,98% antes.

Os analistas Top 5 – os que mais acertam as projeções – mantiveram suas estimativas para a Selic neste ano e no próximo, em 11,50%, e elevaram ligeiramente a projeção para o aumento do IPCA de 2014, de 6,19% para 6,20%. A estimativa para a inflação de 2015 seguiu em 6%.

Ao lado de juros e inflação mais altos, há a projeção de uma expansão menor da economia brasileira. A mediana das estimativas para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) saiu de 2% para 1,91% em 2014 e de 2,50% para 2,20% em 2015.

A estimativa para o crescimento da produção industrial seguiu em 2,20% neste ano e passou de 2,89% para 2,95% em 2015.

No caso da taxa de câmbio, os agentes reforçaram suas expectativas de dólar a R$ 2,45 no fechamento de 2014 e a R$ 2,50% no encerramento do próximo calendário.
(Ana Conceição | Valor)

Custo dos estádios da Copa é três vezes maior que o previsto


A última estimativa oficial dá conta de que o valor chegará a R$ 8,9 bilhões

Jamil Chade, do
Sergio Moraes/Reuters
Visão aérea do estádio Arena Dunas, que deverá receber algumas partidas da Copa do Mundo de 2014, em Natal
Visão aérea do estádio Arena Dunas, em Natal: levantamento técnico da Fifa sobre o país em 2007 informava que as arenas custariam US$ 1,1 bilhão, cerca de R$ 2,6 bilhões

Genebra - O custo dos estádios para a Copa do Mundo já supera em mais de três vezes o valor informado pela CBF à Fifa quando o Brasil apresentou seu projeto para sediar o Mundial.

Cópia do primeiro levantamento técnico da Fifa sobre o País, fechado em 30 de outubro de 2007 e obtido pelo jornal "O Estado de S. Paulo", informava que as arenas custariam US$ 1,1 bilhão, cerca de R$ 2,6 bilhões. A última estimativa oficial, porém, dá conta de que o valor chegará a R$ 8,9 bilhões.

O informe foi produzido e assinado por Hugo Salcedo, que coordenou a primeira inspeção no País entre agosto e setembro de 2007. Na época, a Fifa considerou que o orçamento havia sido "bem preparado" e que "não havia dúvidas" sobre o compromisso do Brasil de atender às exigências da entidade.

"A CBF atualmente estima que os investimentos relacionados com a construção e reformas de estádios estão em US$ 1,1 bilhão", escreveu a Fifa em seu informe. Curiosamente, a entidade esteve em apenas cinco das 18 cidades que naquele momento brigavam para receber a Copa. Das que acabariam escolhidas, não foram visitadas Fortaleza, Recife, Salvador, Natal, Curitiba, Cuiabá e Manaus.

A Fifa, já na época, não disfarçava que o trabalho de reforma e construção dos estádios seria um desafio. "Os padrões e exigências da Fifa vão superar em muito qualquer outro evento realizado na história do Brasil em termos de magnitude e complexidade. Nenhum dos estádios no Brasil estaria em condições de receber um jogo da Copa nos atuais estados", alertou em 2007. "A Fifa deve prestar uma especial atenção nos projetos."
O time de inspeção ainda fez um alerta sobre o Maracanã. "Não atende às exigências. Um projeto de renovação mais amplo teria de ser avaliado."

AEROPORTOS - O relatório elaborado antes de o Brasil ganhar o direito de sediar a Copa é, hoje, verdadeira coleção de promessas quebradas e avaliações duvidosas. "A infraestrutura de transporte aéreo e urbano poderia atender de forma confortável as demandas da Copa", indicou. 

"O time de inspeção pode confirmar com confiança que a infraestrutura de aeroportos poderia atender a um grande número de passageiros indo a jogos em viagens de ida e volta no mesmo dia."

O transporte urbano também seria "suficiente" e a Fifa garantia, em 2007, que um "serviço de trem de alta velocidade vai ligar Rio e São Paulo". Considerava a infraestrutura hoteleira "suficiente" e, ao avaliar o sistema de saúde do País, fez elogios aos hospitais, apontados como "referência internacional". A referência, porém, não foram os hospitais públicos.

Blackstone compra Providência



SEDE DO BLACKSTONE NOS EUA: prêmio de 30% na aquisição 


O fundo americano de private equity Blackstone deve anunciar nas próximas horas a compra da Companhia Providência, maior fabricante de não-tecidos do país. O Blackstone se associou à americana Polymer Group Inc, que será sua sócia no negócio. Os compradores pagarão cerca de 10 reais por ação da Providência, um prêmio de 30% em relação ao preço atual dos papéis.

'Due diligence' e práticas anticorrupção


Valor Econômico


O volume de fusões e aquisições teve crescimento expressivo no Brasil e tudo indica que a tendência é de expansão. À primeira vista não parece óbvio que empresas brasileiras possam estar sujeitas à aplicação das penalidades previstas na Foreign Corrupt Practices Act norte-americana (FCPA), caso adquiram ou formem joint venture com empresa brasileira que tenha participado em atos de corrupção. Caso haja, todavia, elemento de conexão suficiente para sujeitar alguma das partes à FCPA, fusões, aquisições e joint ventures podem ter tal consequência talvez inesperada.

É de especial importância atentar às diretrizes das autoridades dos Estados Unidos (EUA) quanto à aplicabilidade da FCPA a tais operações. Vale notar que o Department of Justice (DOJ) e a Securities and Exchange Commission (SEC), órgãos encarregados pela apuração de infrações sujeitas à FCPA, vêm adotando interpretação ampla na aplicação da lei a empresas estrangeiras, já tendo sugerido que um telefonema, e-mail ou fax, para ou por meio do território dos EUA, seria suficiente para sujeitar empresas estrangeiras à FCPA, desde que tal canal seja utilizado como meio ou esteja relacionado à prática da infração.

A discussão é de especial importância diante da Lei nº 12.846, a Lei Anticorrupção Empresarial, que entra em vigor no dia 29. Inspirada na FCPA, a nova lei estabelece a possibilidade de punições a empresas nacionais e estrangeiras por pagamentos ilegais feitos a autoridades governamentais. Entre as muitas similaridades com a FCPA, incluem-se a possibilidade de celebração de acordo de leniência com as autoridades e a aplicabilidade a atos praticados em outros países.

E da mesma forma que a nova Lei Anticorrupção estabelece a permanência de responsabilidade em caso de incorporação ou fusão, também nos EUA o adquirente pode estar sujeito a punições por atos praticados pela empresa adquirida - sendo fusões, aquisições e joint ventures -, bem como a responsabilidade do adquirente ou empresa sobrevivente pelas irregularidades praticadas pelo negócio adquirido, importante área de crescente destaque nas investigações da SEC e do DOJ.

Em novembro de 2012, DOJ e SEC publicaram o Resource Guide to the U.S. FCPA, contendo orientações para o cumprimento da lei e diretrizes seguidas pelos mencionados órgãos nos processos para apuração de condutas. No que se refere especificamente a fusões, aquisições e joint ventures, o guia esclarece que a instauração de processo administrativo é mais provável no caso de irregularidades graves e contínuas, ou quando o adquirente tenha se envolvido ou não tenha tomado medidas para interromper a prática. O guia reforça a importância de duas medidas: um processo de auditoria legal (due diligence) de forma prévia à aquisição; e um programa de integração posterior à aquisição, incluindo passos para a adoção de código de conduta, treinamento e outras medidas para cessar práticas irregulares.

A realização de due diligence concernente a práticas de corrupção vai além do tradicional escopo daquela comumente realizada na prática de fusões e aquisições. Trata-se de toda uma nova área sujeita a procedimentos próprios de investigação. A recomendação do guia é uma auditoria baseada em risco, para identificação dos principais riscos relativos a potenciais práticas de corrupção no modelo de negócios de uma empresa e nos seus relacionamentos específicos com clientes, fornecedores e terceiros.

Não há fórmula pré-estabelecida quanto à maneira de realização da auditoria, mas o Resource Guide oferece exemplos de características desejáveis. Estas incluem a análise de dados financeiros e de vendas, bem como de contratos com clientes e fornecedores, pelas áreas legal, contábil e de compliance, com atenção a riscos de ocorrência de pagamentos indevidos; a avaliação da base de clientes da empresa adquirida; a auditoria de transações específicas selecionadas, relevantes no negócio da empresa adquirida; e a realização de discussões e entrevistas detalhadas com os departamentos jurídico, de vendas e controladoria, no que se refere a riscos de irregularidades, medidas tomadas para evitá-los, esforços para implementação de medidas de compliance e quaisquer outros assuntos relacionados a corrupção que possam ter surgido em anos passados.

Documentando-se um genuíno esforço para descobrir e evitar violações à lei, o adquirente fica melhor habilitado a demonstrar o comprometimento com políticas anticorrupção. A prévia realização de auditoria legal, o devido registro e documentação quanto à sua realização, e um programa de integração posterior são listados no Resource Guide como elementos fundamentais de um programa de compliance efetivo. Portanto, as autoridades norte-americanas esperam que um programa de compliance corporativo estabeleça diretrizes claras para realização prévia de processo de due diligence, bem como as políticas aplicáveis a processos de integração pós-aquisição de novos negócios.

Essa expectativa é de especial relevo no atual cenário brasileiro: a vigência da nova Lei Anticorrupção deverá trazer à luz mais investigações e fatos envolvendo potenciais atos irregulares praticados por empresas brasileiras. Uma vez que tais informações sejam investigadas, aumentará o volume de informações disponíveis aos órgãos dos EUA para instaurar seus próprios procedimentos e investigações. Nesse contexto, as empresas brasileiras que possam vir a se sujeitar à FCPA têm razões ainda mais contundentes para realizar um processo de auditoria que talvez antes não estivesse no radar, focado especificamente nos riscos e práticas de corrupção.




ANOMIA, O CASO BRASILEIRO.

Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
 
O sociólogo Emile Durkeim (1858-1917) viveu as turbulências do início da sociedade industrial e isto influenciou sua preocupação com a ordem e com novas ideias morais capazes de guiar o comportamento das pessoas. Ele observou os conflitos resultantes das transformações socioeconômicas nas sociedades europeias e concluiu que havia um estado de anomia, ou seja, a ausência de leis, de normas, de regras de comportamento claramente estabelecidas.
 
Na atualidade o rápido desenvolvimento dos meios de transporte, de comunicação, da tecnologia, da ciência indica a transição para um mundo mais complexo onde o conhecimento de hoje é rapidamente ultrapassado amanhã. Nesse contexto valores são perdidos, instituições se desagregam, percepções entre o certo e o errado desaparecem e o indivíduo parece uma mosca tonta na janela de um trem-bala. Prevalece o individualismo, o hedonismo, a vulgaridade, a mediocridade, a imoralidade.
 
Como as sociedades são dinâmicas e não dá para permanecer nesse estado indefinidamente aos poucos vai se construindo uma nova ordem. 
 
Paralelamente começam a surgir novas representações coletivas, outro conceito de Durkeim a significar experiências advindas da influência grupal – família, partido político, religião, etc.- que suprem os indivíduos com ideias e atitudes que ele aceita como se fossem pessoais.
 
No Brasil, país da impunidade, do jeitinho, da malandragem sempre houve certa anomia. Um salvo-conduto para o desfrute impune de atos de corrupção. Uma largueza moral que encanta os estrangeiros que aqui vêm usufruí-la sem jamais ousarem repeti-la em seu país. Características essas culturais originadas historicamente e aprimoradas ao longo do tempo.
 
Contudo, foi com a entrada do PT na presidência da República que acentuou nossa anomia. Isso se deu através dos sucessivos e impunes escândalos de corrupção do partido que se dizia o único ético, o puro, aquele que vinha para mudar o que estava errado. No poder o PT se tornou não um partido não igual aos outros, mas pior.
Por isso mesmo foi marcante o julgamento do mensalão quando, pela primeira vez, poderosos e seus coadjuvantes foram parar na cadeia por conta da coragem e da firmeza do ministro Joaquim Barbosa auxiliado por alguns ministros do STF.
Lula da Silva sempre foi um homem de muita sorte ajudada por sua verborragia. Herdou um país sem inflação, além de políticas públicas as quais de certo modo imitou. No plano internacional reinava calmaria econômica. No âmbito interno nenhuma oposição partidária ou institucional. As performances escrachadas do “pobre operário” agradavam a maioria e formou-se uma representação coletiva que aceitava todos os desvios e desmandos do governo. Diante da roubalheira o povo dizia: “se eu estivesse lá faria a mesma coisa”.
O todo-poderoso Lula da Silva se reelegeu e fez mais, obteve um “terceiro mandato” sem precisar alterar a Constituição. Isso porque elegeu uma subordinada que não dá passo sem ouvir suas ordens.
 
Contudo, no final do segundo mandato de Lula da Silva a economia do Brasil paraíso começou a fazer água e os três anos da sucessora tem sido um fiasco retumbante.
 
O álibi para o descalabro é a a crise internacional, mas, na verdade foi a politica econômica incompetente e errática da presidente e do Mr M autor das mágicas contábeis, ou seja, do Senhor Mantega, que está nos conduzindo ao fracasso.
 
O governo do PT conseguiu nos transformar no país dos pibinhos, no lanterninha dos BRICS. A inflação cresce, tivemos em 2013 o maior déficit comercial de nossa história, com resultado negativo de US$ 81,3 bilhões, a geração de emprego recuou 18,6% no ano passado, a desvalorização cambial já é outro grave problema.
 
Existe, porém, algo mais que a economia. Lula da Silva se aliou à escória governamental, a começar pela América Latina. Insuflou ódios raciais. Jogou a Educação no nível mais baixo enquanto seu ministro Haddad tentava insuflar amoralidade na formação das crianças. A Saúde virou sinônimo de crueldade e não serão médicos cubanos, ideologicamente trazidos para cá, que reporão a falta de estrutura de hospitais e postos de saúde.
 
Agora está sendo colhido o que foi plantado com os votos no PT. A manifestação pacífica de junho, em 2013, foi só um passo tolhido pela entrada dos tais black blocs, politicamente inseridos ou não. Entretanto, várias outras manifestações vêm se espalhando pelo país de forma violenta com queima de ônibus, interdição de estradas, depredações, saques. Enquanto isso aumenta a força da criminalidade dando a nítida impressão de que um tenebroso Estado paralelo se sobrepõe ao Estado de Direito.
 
A rotineira barbárie da prisão de Pedrinhas é a ilustração mais perfeita da anomia brasileira a qual devemos agradecer aos nossos governantes, especialmente, ao governo do PT.
 
(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga www.maluvibar.blogspot.com.br

domingo, 26 de janeiro de 2014

Bilionário egípcio fará proposta para comprar a TIM


Naguib Sawiris lidera um grupo de investidores dispostos a pagar até € 20 bilhões para comprar a subsidiária da Telecom Italia no Brasil.


, de

Lianne Milton/Bloomberg
Pedestres passam em frente a uma loja da TIM em Ipanema, no Rio de Janeiro
Pedestres passam em frente a uma loja da TIM: venda da subsidiária pode chegar à  € 20 bilhões

São Paulo – O bilionário egípcio Naguib Sawiris disse que fará uma proposta para comprar a TIM, caso a empresa seja posta à venda, segundo uma reportagem publicada neste sábado pela Folha de. S Paulo.

Ainda de acordo com texto, ele lidera um grupo de investidores dispostos a pagar até € 20 bilhões para comprar a subsidiária da Telecom Italia no Brasil.

O governo brasileiro tem feito uma forte pressão para a venda da TIM, desde que a Telefónica, dona da Vivo no Brasil, comprou o controle da Telecom Italia.

Uma das opções era o fatiamento da TIM e o compartilhamento das partes com Claro e Oi. Essa alternativa eliminaria um concorrente e traria uma economia substancial nos custos de cada empresa. 

Mas essa solução não agradou em nada Sawiris, o 2º homem mais rico do Egito e 11º da África, segundo a revista Forbes.

Politicamente engajado (ele fundou um partido revolucionário contra o ditador Hosni Mubarak e ainda apoiou rebeldes anti-Mohamed Morsi), Sawiris apressou-se em vir ao Brasil para impedir o fatiamento da TIM.

De acordo com a Folha de S. Paulo, ele encontrou-se com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para fazer um alerta ao governo sobre esta alternativa.

A fortuna de Sawiris, feita na área de telecomunicações, chega a US$ 2,7 bilhões – uma parte do seu capital (1,2%) está aplicado, inclusive, na Telecom Italia.

Oficialmente, a Telecom Italia diz que não haver plano de venda da TIM e que não recebeu nenhuma proposta pela subsidiária brasileira. 

Sabe-se, no entanto, que a venda da mais valiosa operação da empresa no mundo ajudaria a diminuir o endividamento da companhia, hoje em torno de € 58 bilhões. 

Inflação resistente aumenta custo para governo se financiar


Segundo especialistas, probabilidade de que o BC continue a elevar a Selic é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos títulos públicos

Wellton Máximo, da
Elza Fiúza/ABr
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, coordena reunião do Copom
Alexandre Tombini, coordena reunião do Copom: Banco Central deve continuar a elevar a taxa Selic para conter os preços

Brasília - A expectativa de que a inflação continue resistente nos próximos meses tem elevado o custo para o governo se financiar. Segundo especialistas, a probabilidade de que o Banco Central (BC) continue a elevar a taxa Selic – juros básicos da economia – para conter os preços é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos títulos públicos.

Nas últimas semanas, os títulos prefixados de dez anos, um dos papéis ofertados pelo Tesouro com taxas mais altas, vem pagando juros de 13,2% ao ano, o maior nível desde fevereiro de 2010. A instabilidade levou o Tesouro Nacional a suspender a venda de títulos no Tesouro Direto e a fazer leilões de compra, quando o governo readquire os papéis dos aplicadores para fornecer um referencial para o mercado.

Por meio dos títulos públicos, o governo pega dinheiro emprestado dos investidores para honrar compromissos. Em troca, o Tesouro compromete-se a devolver os recursos com alguma correção, que pode seguir a taxa Selic, a inflação, o câmbio ou ser definida com antecedência no caso dos títulos prefixados. O Tesouro vende os papéis se concordar com as taxas pedidas pelo mercado.

No caso dos títulos prefixados e corrigidos pela Selic, as taxas têm como referencial os juros básicos da economia. De acordo com o professor de estratégias empresariais Ricardo Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a preocupação de que a inflação permaneça alta em 2014 pressiona os juros dos títulos públicos por causa do aumento das chances de que o Banco Central promova novos aumentos na taxa Selic, atualmente em 10,5% ao ano.

“Os investidores olham como a inflação e os juros vão se comportar. O mercado considera o quanto a inflação vai resistir e quanto tempo deverá durar o ciclo de alta da Selic para formar os juros dos títulos públicos”, explica Teixeira. As preocupações, ressalta, aumentaram depois que a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, divulgada quinta-feira (23), indicou a possibilidade de a Selic continuar a subir.

No caso dos títulos prefixados, as taxas também refletem a desconfiança dos investidores em relação ao governo. Apesar de os juros desses papéis terem atingido os níveis mais altos em quatro anos, o professor da FGV não acredita que as taxas reflitam o desempenho das contas públicas, pressionadas pelo aumento dos gastos federais nos últimos anos.

“Em outras regiões, como na Europa, os juros dos títulos refletem uma crise de desconfiança em relação aos governos. No Brasil, o governo, de fato, tem gastado mais, mas isso ainda não afetou a crença na capacidade de pagamento da dívida pública pelo Tesouro”, diz.

Segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, os investidores acreditam que a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará 2014 em 6,01%. Pela segunda semana seguida, a estimativa aumentou.

O vice-presidente da Associação de Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, também acredita que as perspectivas em torno da inflação sejam o principal fator de influência sobre as taxas dos títulos públicos. “O mercado tem a expectativa de que o Banco Central continue a aumentar os juros por causa da pressão dos preços de transportes e de combustíveis. Sem contar que o dólar tende a subir ainda mais e pode contaminar a inflação”.

Embora resultem em aumento de custos para o governo financiar a dívida pública, Oliveira acredita que o momento é bom para quem deseja comprar títulos federais. “Esse nível de juros é ruim para o devedor, que é o governo, mas beneficia o investidor, que vai ganhar mais aplicando nesses papéis do que há um ano, mesmo com a inflação corroendo parte dos rendimentos”, acrescenta.