Mapa visto dentro do símbolo do FMI: última vez que o Brasil pediu ajuda ao fundo foi em 2002
São Paulo - O Brasil vive uma grave crise política e econômica,
com perda do nível de grau de investimento pela agência Standard &
Poor's e previsão de dois anos de recessão.
A solução? Pedir ajuda ao FMI
(Fundo Monetário International), diz Stephen Jen, co-fundador do fundo
de hedge SLJ Macro Partners LLP e ex-economista chefe de moedas do
Morgan Stanley.
Jen também acumula passagens pelo Federal Reserve, o Banco Mundial e o
próprio FMI, onde passou quatro anos envolvido na formulação do modelo
de ajuda a países muito endividados.
Agora, ele diz que recorrer ao órgão daria ao governo brasileiro
cobertura política para justificar as medidas impopulares que não quer
ou não tem conseguido passar.
“Eles não conseguem implementar políticas. Todo o sistema precisa de uma
limpeza. Uma forma rápida de pular por cima disso tudo é ir ao FMI",
diz Jen em entrevista para a Bloomberg, que chama a ideia de "radical".
Ele reconhece que não seria uma manobra comum para um país na situação
do Brasil, que não precisa de ajuda financeira de curto prazo graças às
reservas de US$ 370 bilhões.
Com alta nas exportações e queda nas importações e nos gastos no exterior, o déficit em conta corrente do Brasil caiu 25% nos 7 primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado.
O Brasil foi retirado recentemente
dos "5 Frágeis", lista do JP Morgan com países emergentes que dependem
demais de investimento externo para se financiar no curto prazo.
A última vez que o Brasil recorreu ao FMI foi em 2002, diante da crise
na Argentina e da perspectiva de vitória do PT nas eleições. Na época, o
país obteve uma linha de US$ 30 bilhões disponíveis para retirada se
necessário.
A quitação antecipada da dívida com o órgão, concluída em 2005, foi
celebrada pelo então presidente Lula como uma virada de página
histórica: "o Brasil vai caminhar com suas próprias pernas".
Dificilmente o governo do PT teria coragem de voltar a recorrer ao FMI,
salvo em circunstâncias extremas.
Mas para Jen, seria positivo ter a
"perspectiva imparcial e técnica" do banco neste momento em que as
saídas parecem escassas:
"Todos dizem que querem reformas, mas reclamam quando percebem que eles
mesmos serão prejudicados pelas reformas que estão pedindo. Com o FMI
para assumir a culpa, isso poderia ser útil para o Brasil forçar as
ações concretas sobre si mesmo", diz em entrevista para o site Financista.
Otaviano Canuto, diretor-executivo para o Brasil no FMI, disse na semana passada em entrevista para EXAME.com que o rebaixamento pode servir como catalisador para mudanças no país:
"Paradoxalmente, do ponto de vista fiscal estou mais otimista hoje do
que estava antes do rebaixamento por causa do choque de realidade. Não
dá para esperar, não dá para fingir que não está acontecendo."