sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Opinião: Como o BTG afeta o sistema financeiro e seu bolso




Thinkstock/buchachon
Engrenagem, sistema financeiro
Engrenagem: Um banco como o BTG pode colocar o sistema financeiro em risco?
Editado por Priscila Yazbek, de EXAME.com


São Paulo - A convite de EXAME.com, Beto Veiga, doutor e mestre em economia pela UnB, advogado especialista em direito financeiro e professor de direito bancário, escreveu o artigo de opinião seguir, que analisa o impacto do banco BTG Pactual para o sistema financeiro nacional e para o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) após a prisão de André Esteves, ex-presidente e controlador do banco.
 
Confira a seguir o artigo assinado por Beto Veiga.

Em geral, a grande dúvida que paira sobre acontecimentos das mais diversas naturezas que causam impacto no sistema bancário levam sempre à pergunta: qual é o tamanho do estrago que uma dada situação pode ocasionar? No caso de um banco do tamanho do BTG, então, a dúvida é mais do que pertinente. E a resposta é: na maioria das vezes, não temos a menor ideia.

Antes de partir especificamente para o caso do BTG, me permita um preâmbulo para explicar algumas questões sobre o nível de segurança do sistema financeiro nacional hoje.

No Brasil, o Banco Central (BC) faz o monitoramento da teia de relacionamentos das instituições financeiras para procurar métricas capazes de apontar o risco sistêmico.

Entre as várias ferramentas de que dispõe o departamento do BC encarregado de prever efeitos danosos ao sistema financeiro como um todo, um elemento importante é a relação de operações em bolsas e interbancárias, que mostra as responsabilidades e riscos assumidos pelos bancos entre si (o que um banco deve a outro).

Não posso deixar de mencionar também o Sistema de Informações de Crédito (SCR), que é a central de risco de crédito do BC, que apura o endividamento de empresas e famílias junto ao Sistema Financeiro Nacional.

A intrincada teia de relacionamentos pode ser rastreada com boa confiabilidade, diferentemente do que acontece em outros países, por incrível que pareça, tendo em conta a quantidade descomunal de informação privada que é compartilhada entre os bancos e o Banco Central.

O que falta ao BC é a possibilidade de entender o que os controladores à frente das instituições financeiras estão fazendo que pode ser classificado como “fora do convencional”.

Essa preocupação havia fugido do radar por um tempo quando, em razão do primeiro Acordo da Basiléia, o foco passou a ser a estrutura de capital dos bancos. Resumidamente, a capacidade das instituições para absorver perdas decorrentes de seus ativos.

Desvio de conduta era um tema fora de moda no âmbito dos fiscais “modernos”. O bonito mesmo era falar sobre os modelos matemáticos de gestão de risco de mercado e de crédito. Tal estado de coisas durou até que o Terceiro Milênio chegou com vasta oferta de motivos para que eles se lembrassem de que existe o fator governança, que deve ser observado muito de perto em suas atividades de supervisão.

De forma geral, a situação de uma instituição financeira é muito frágil em função do que se denomina alavancagem. Nos referimos a isso quando queremos dizer, de maneira vulgar, que o banco trabalha com o dinheiro dos outros.

Os bancos de investimento apresentam, em geral, baixa alavancagem, porque tendem a concentrar seus negócios na compra e venda de empresas e em reestruturações financeiras. O financiamento é utilizado muitas vezes para possibilitar fusões ou posteriores vendas de firmas dos mais diversos segmentos.

Por outro lado, nos Estados Unidos, foi justamente a atuação dos reguladores que instaurou a gigantesca crise cujos frutos ainda estamos a digerir. Eles deixaram que ativos tóxicos se espalhassem por todo o mercado e, quando lhes foi dada a possibilidade de resgatar uma instituição, optaram por permitir a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, episódio que acendeu a centelha que faltava para a crise.
 

Caso BTG


Feitas as observações, abordo agora o caso do BTG, que é registrado junto ao BC como um banco múltiplo, mas com ênfase prioritária na atividade de banco de investimento.

Começo pelo balanço de junho de 2015 (não usarei o de setembro em razão de estar consolidado com o banco BSI, adquirido na Suíça), disponível no BC, que apresentava um patrimônio líquido de 16,3 bilhões de reais. Em junho de 2015, o banco captava recursos (funding) no mercado para fazer suas operações de crédito por meio de diversas fontes, mas focarei naquelas que mais diretamente afetam os clientes pessoa física:

Depósitos à vista: 385 milhões de reais;
Depósitos interfinanceiros: 903 milhões de reais;
Depósitos a prazo: 17.604 milhões de reais;

Vemos que os depósitos à vista e a prazo somavam 18 bilhões de reais, montante cujos credores (depositantes) estão parcialmente sujeitos à proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). O FGC é uma entidade mantida pelas próprias instituições financeiras com o propósito de manter a segurança e solidez do sistema bancário. Logo na sequência tratarei da estimativa que fiz sobre a parcela desses depósitos que é protegida pelo FGC.

Por falar no FGC, na ocasião da aquisição do banco Panamericano pelo BTG, em 2011, foi concedida uma aplicação no banco, que foi feita com o objetivo de dar mais liquidez ao BTG. Foi praticamente um brinde concedido ao BTG, sem contar o fato de o Fundo ter permitido a realização do financiamento em um prazo fora do convencional.

A aplicação foi realizada pela administradora do Bradesco, que cuida de um fundo exclusivo que tem apenas o FGC como cotista e colocou na carteira um título do BTG, no montante de 5,7 bilhões de reais, segundo informações divulgadas pela própria administradora. Em outras palavras, o FGC (que era o único investidor desse fundo) fez um depósito no valor de 5,7 bilhões de reais no BTG, com a intermediação, exclusivamente operacional, do Bradesco.

Assim, o risco que o BTG traz ao FGC é, de cara, equivalente a quase 13% do patrimônio total do Fundo Garantidor de Créditos. Mas não para por aí.

Na última sexta-feira (04) foi anunciada mais uma exposição do FGC ao BTG: o Fundo concedeu uma nova linha de liquidez no valor de 6 bilhões de reais ao BTG. Incluindo essa nova linha, portanto, a exposição do FGC ficaria em 11,7 bilhões de reais, o que representa 26% do atual patrimônio de 44,3 bilhões de reais do FGC (segundo dados do relatório do primeiro semestre de 2015).

Como o BTG tinha 18 bilhões de reais em depósitos, parte deste valor está coberta pelo FGC. Lembro que os clientes que fizeram depósitos à vista ou a prazo (ao comprar CDBs, por exemplo) no BTG - assim como ocorreria com qualquer outro banco - contam com a garantia do FGC, que em caso de quebra da instituição reembolsa aos clientes seus prejuízos até o limite de 250 mil reais.

Infelizmente, não podemos precisar qual é a parcela exata de depósitos à vista e a prazo do BTG que contam com a garantia do FGC. Mas, ao considerar os dados do FGC sobre o sistema bancário no geral, a garantia do Fundo engloba 45% do valor total dos depósitos feitos em bancos hoje. Assim, se os depósitos do BTG seguirem a mesma linha e 45% deles estiverem dentro da cobertura do FGC, isso significa que um total de 8 bilhões de reais poderiam ter de ser reembolsados a clientes do BTG pelo FGC.

Essa, no entanto, é apenas uma estimativa grosseira, porque a carteira do BTG conta com clientes de maior porte do que aquela dos bancos de varejo, assim, muitos deles possuem altos valores aplicados, o que reduz a cobertura em relação ao total depositado. Como a garantia está limitada a 250 mil reais, um banco de varejo tenderá a apresentar um percentual de cobertura mais próximo dos 45% do saldo do que o BTG, que tem uma clientela mais abastada e possui depósitos que podem superar o limite de 250 mil reais.

Vale lembrar que uma das razões da existência do FGC é justamente contornar possíveis impactos danosos que instituições financeiras possam causar ao sistema. Isso quer dizer que está na essência do FGC socorrer os bancos e, como consequência, solicitar novos aportes às instituições para recompor seu patrimônio.

Competirá, portanto, às demais instituições financeiras repor os recursos, como forma de manter ativa esta ferramenta de seguro de depósitos.

Finalmente, destaco que a parcela de recursos investidos no BTG que não está coberta pelo FGC pode causar impacto à própria carteira de fundos de investimentos que têm papéis do banco nessa situação.

Podemos supor, com base na estimativa limite feita anteriormente, que algo em torno de 10 bilhões de reais seriam suportados diretamente pelos cotistas individuais, ou seja, pelos investidores pessoa físcia. Conforme EXAME já informou, vários fundos de investimento e de pensão têm papeis do banco, sendo os principais alguns fundos do BB, Caixa, Bradesco, Santander, HSBC, JP Morgan e, inclusive, do próprio BTG.

Após os eventos ocorridos no final de novembro, a própria administradora do BTG informou que retirou da carteira dos seus fundos os papéis emitidos pelo BTG. Por falar nisso, o que se espera em uma situação assim é que as demais administradoras também retirem ativos do BTG de suas carteiras, assim o banco pode ter dificuldade de obter recursos. A propósito, o BTG colocou à venda o recém-adquirido banco suíço BSI com a finalidade de fazer caixa.
 

Pouco importa o perfil banco, mas sim sua teia de relacionamentos


Concluindo, muito mais do que o tipo de instituição financeira – se ela é um grande banco de varejo ou um banco de investimentos - o que importa para a estabilidade do sistema é a teia de relacionamentos, ou seja, o quanto ela está conectada com as demais instituições.

No caso em questão, essa teia está muito ligada ao FGC. Mas, como o Fundo pode sempre chamar seus participantes a fazerem aportes extras e o volume que discutimos é compatível com a dimensão do FGC, não vejo nenhum problema a esse respeito.

Sem abordar a governança do FGC, que acaba decidindo quem fica ou quem sai do sistema (tema que daria um outro longo artigo), do ponto de vista do investidor pequeno e médio, portanto, as aplicações financeiras que não tenham títulos do BTG na carteira não serão afetadas.

Já aquelas que tiverem, podem sofrer redução no valor das cotas em função da desvalorização dos papéis da instituição nesse momento e, em último caso, podem enfrentar alguma perda no principal, equivalente ao montante de recursos que o fundo estiver aplicando.

Essa segunda hipótese, no entanto, aconteceria apenas se o banco sofresse demais com os acontecimentos e acabasse submetido a processo de intervenção ou liquidação, sem que fosse desenhada uma solução de mercado, como a venda do negócio (em geral, o controle é transferido para outra grande instituição para que os clientes não tenham perdas).
 

Beto Veiga é doutor e mestre em Economia pela UnB, advogado especialista em direito financeiro e professor de direito bancário, autor do livro "Case com seu banco com separação de bens".

PF prende 4 executivos por corrupção no Rio São Francisco


Arquivo/Agência Brasil
Polícia Federal
Polícia Federal: a informação foi confirmada nesta manhã pelos delegados da Polícia Federal em Recife, núcleo da operação
 
Mateus Coutinho, do Estadão Conteúdo
Andreza Matais e Fausto Macedo, do Estadão Conteúdo


São Paulo - A Polícia Federal prendeu temporariamente nesta sexta-feira, 11, quatro diretores das empresas Galvão Engenharia, OAS, Coesa e Barbosa Mello suspeitos de envolvimento no superfaturamento e desvio de R$ 200 milhões em dois lotes das obras da transposição do Rio São Francisco, entre o sertão de Pernambuco e a Paraíba.

A informação foi confirmada nesta manhã pelos delegados da Polícia Federal em Recife, núcleo da operação.

Ao todo, foram detidos um executivo que representa a OAS e a Coesa, um da Barbosa Mello e dois da Galvão Engenharia.

As prisões são temporárias, com duração de cinco dias podendo ser prorrogadas por mais cinco ou convertidas em preventiva - quando não há prazo definido para acabarem - e ocorreram nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e no Distrito Federal.

As empresas compõem um consórcio responsável por dois dos 14 lotes da transposição que está na mira da Polícia Federal deflagrada por repassar os recursos recebidos do Ministério da Integração Nacional referentes à obra para empresas de fachada dos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, ambos já presos e condenados na Lava Jato por usarem suas empresas para lavar dinheiro no esquema de corrupção na Petrobras.

Ao todo, o consórcio recebeu R$ 680 milhões pelas obras dos dois lotes, dos quais R$ 200 milhões foram repassados para empresas de fachada, segundo as investigações.

Apesar das coincidências com a operação tocada pelo juiz Sérgio Moro, no Paraná, a investigação é realizada pela Polícia Federal no Recife (PE), independentemente da Lava Jato.

Ao perceber que os alvos se cruzaram, contudo, a Polícia Federal compartilhou informações com a força-tarefa da emblemática operação que desmontou o esquema de corrupção na Petrobras.

Cerca de 150 policiais federais cumpriram nesta manhã 32 mandados, sendo 24 de busca e apreensão, 4 de condução coercitiva e quatro de prisão nos Estados de Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e em Brasília.
 

Obra


A obra de transposição do Rio São Francisco é tocada pelo governo federal e foi reiniciada na gestão do ex-presidente Lula.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, responsável pela execução, a obra engloba a construção de quatro túneis, 14 aquedutos, nove estações de bombeamento e 27 reservatórios. Desde que foi retomada, ela se arrasta há oito anos.

Além da recuperação de 23 açudes existentes na região que receberão as águas do Rio São Francisco.

O projeto esta orçado em R$ 8,2 bilhões, com base na planilha orçamentária vigente.

O governo diz que a obra beneficiará uma população estimada de 12 milhões de habitantes, em 390 municípios nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde a estiagem ocorre frequentemente.

A Região Nordeste possui 28% da população brasileira e apenas 3% da disponibilidade de água. O Rio São Francisco apresenta 70% de toda a oferta regional.

Em outubro deste ano, conforme o ministério, 81% da execução física da obra estava concluída, sendo o Eixo Norte com 82,2% e o Eixo Leste com 79,2%.

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou entre 2005 e 2013 irregularidades que somam R$ 734 milhões nas obras da transposição, o que inclui contratos que não foram honrados ou que têm sobrepreço, pagamento duplicado por obras ou pagamento de serviços que não foram executados.

Cade aprova venda de restante de aterro CDR Pedreira ao BTG




Nelson Ching/Bloomberg
Persio Arida, do BTG Pactual
Persio Arida, do BTG Pactual: aval foi publicado nesta quinta-feira no Diário Oficial da União
 
Da REUTERS


São Paulo - O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições a compra por uma sociedade do grupo BTG Pactual de 35 por cento do capital da CDR Pedreira, um aterro na cidade de São Paulo parte da Estre Ambiental.

A sociedade do BTG, a AZPSPE, detida pelo Fundo de Investimento em Participações Turquesa, passa, com a operação, a deter todo o capital da CDR Pedreira, já que tinha fatia de 65 por cento na empresa antes do negócio.

O aval foi publicado nesta quinta-feira no Diário Oficial da União.

BTG Pactual avalia venda de filial no Chile





REUTERS/Denis Balibouse
Ex-CEO e ex-controlador do BTG Pactual, André Esteves
Ex-CEO e ex-controlador do BTG Pactual, André Esteves: procurado pela Reuters, o BTG Pactual Chile afirmou que não comenta rumores da imprensa
 
Da REUTERS


Santiago - O grupo BTG Pactual está avaliando vender sua filial no Chile a sócios locais, em uma decisão que será definida na próxima semana, publicou um jornal chileno nesta quinta-feira.

Apesar da unidade chilena do BTG Pactual assegurar que sua situação financeira é robusta, os sócios chilenos do banco --Celfin Capital-- estão interessados em recuperar o controle da operação para se distanciarem o máximo possível dos problemas que afetam o grupo financeiro brasileiro.

Segundo o Diario Financeiro, os sócios chilenos do BTG Pactual estão dispostos a oferecer 200 milhões de dólares pelos ativos no país, mas o grupo brasileiro não está inclinado a aceitar menos de 400 milhões de dólares pela unidade.

Para facilitar as supostas negociações, o empresário chileno Jorge Errázuriz, um dos fundadores da Celfin, assumiu a tarefa de viajar a São Paulo para tentar obter um acordo com o BTG Pactual.

Procurado pela Reuters, o BTG Pactual Chile afirmou que não comenta rumores da imprensa.

Monsanto está aberta a aquisições no Brasil, diz presidente


Daniel Acker/Bloomberg
Logo da Monsanto
Logo da Monsanto: "se surgisse uma oportunidade no Brasil bastante interessante, a Monsanto seguramente consideraria", diz executivo
 
Caroline Stauffer, da REUTERS


São Paulo - A Monsanto, maior empresa de sementes do mundo, está aberta a aquisições no Brasil, onde os ativos tornaram-se mais baratos pelo enfraquecimento da moeda local, afirmou o principal executivo da empresa no país nesta quinta-feira.

A empresa com sede nos Estados Unidos desistiu da oferta de 45 bilhões de dólares pela rival Syngenta em agosto, mas os executivos ainda estão discutindo se eles deveriam tentar adquirir a fabricante de defensivos suíça ou outras concorrentes.

"Se surgisse uma oportunidade no Brasil bastante interessante, a Monsanto seguramente consideraria, principalmente se ela estiver dentro da nossa visão do que (a agricultura) vai ser nos próximos anos", afirmou Rodrigo Santos, em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira.

O Brasil, maior exportador mundial de soja, é segundo maior mercado da Monsanto, atrás apenas dos EUA, gerando para a multinacional uma receita de 1,7 bilhão de dólares no ano fiscal 2015, disse o executivo.

A Monsanto investiu 150 milhões de dólares no Brasil em 2015, e Santos disse que os aportes "continuarão bastante elevados no próximo ano", inclusive em sua unidade de pesquisa em Petrolina e na unidade de sementes em Campo Verde.  

Em outubro, a empresa informou que encerrou os negócios no mercado brasileiro de cana-de-açúcar, no qual operava com a marca CanaVialis, para focar as atividades no país em sementes, proteção de cultivos, biológicos e agricultura digital.

Brasil se diz satisfeito com o projeto do Acordo de Paris




Elza Fiúza/Agência Brasil
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, divulga os dados mais recentes do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real na Amazônia Legal feito pelo Inpe
Izabella Teixeira: "Com todas as sinalizações políticas que tive ontem, estamos todos mais otimistas em relação às possibilidades de um texto de convergência"
 
Giovana Girardi, do Estadão Conteúdo
e Andrei Netto, do Estadão Conteúdo


Paris - Um dos mais importantes negociadores da 21ª Conferência do Clima (COP21) das Nações Unidas, a delegação Brasil demonstrou satisfação nesta sexta-feira, 11, com o projeto de "Acordo de Paris", que servirá como novo marco legal internacional da luta contra as mudanças climáticas.

Para a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, chefe da comitiva do País, o texto "melhorou muito" e ainda pode avançar até a manhã deste sábado, 12, quando a versão final do documento será submetida à votação pelo governo da França.

O projeto de texto foi tornado público na noite de quinta-feira. Desde então uma maratona de reuniões bilaterais e multilaterais vem sendo realizada em Le Bourget para tentar aparar as arestas da redação.

"O texto melhorou muito em relação ao que estava na mesa anteriormente. Ainda tem questões que precisam ser sintonizadas, mas sinaliza claramente caminhos de convergência, o que o anterior não tinha", disse à reportagem Izabella Teixeira, coordenadora de um dos quatro grupos de mediação, sobre o tema da "diferenciação" das responsabilidades entre países ricos e pobres.

"Com todas as sinalizações políticas que tive ontem, estamos todos mais otimistas em relação às possibilidades de um texto de convergência."

O documento proposto pelo presidente da COP21, o chanceler francês Laurent Fabius, fixa como objetivo limitar a elevação da temperatura média da Terra a 2ºC até 2100, mas menciona a busca de um cenário mais positivo, de 1,5ºC.

Por outro lado, o último rascunho não mencionava metas de longo prazo de redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, que antes tinham duas opções: cortá-las entre 40% a 70% ou entre 70% e 90% até 2050, em relação aos níveis de 2010.

Sobre a controvérsia, Izabella Teixeira disse que "negociação é convergência".

"Não adianta ter um acordo em que os grandes emissores não estejam à bordo. Eu não acredito em um acordo em Paris sem os Estados Unidos, a China, a União Europeia. Temos de atender quais são suas condições."

O projeto de acordo também prevê que o volume de recursos de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento para financiar ações de adaptação e mitigação das mudanças climáticas deve ficar em US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020, quando o Acordo de Paris entrará em vigor.

Por outro lado, não há informações sobre como esses recursos - cujo montante é reconhecidamente insuficiente - será reajustado ao longo dos anos.

Outro consenso no projeto de texto foi a fixação de 2018 como o ano do primeiro balanço das metas voluntárias nacionais de redução de emissões (INDCs).

A primeira revisão obrigatória dos objetivos, por outro lado, só aconteceria em 2023, e a partir de então as reanálises aconteceriam a cada 5 anos.
 

Ambição


Em um dia repleto de negociações nos bastidores em Le Bourget, um dos anúncios mais relevantes do dia foi a entrada do Brasil na "Coalizão de Alta Ambição", um grupo de mais de 100 países que pede um compromisso em torno de alguns pontos específicos, como o limite de 1,5ºC.

Após o anúncio, Emma Ruby-Sachs, diretora-executiva da organização não governamental Azaaz, aproveitou para pressionar o Brasil por metas mais ambiciosas por um acordo em torno de energias limpas.

"A decisão do Brasil de se juntar ao bloco adiciona uma das maiores economias emergentes à lista de países, aumentando a expectativa de que Paris entregará um acordo para passar o mundo de fontes de energia sujas a energias 100% limpas."

Economist: Justiça no Brasil é estranha e Moro endossa isso


Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato
Juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato
São Paulo – Em reportagem sobre a corrupção no Brasil, a revista britânica The Economist diz que o sistema de justiça criminal brasileiro é antiquado e estranho, assim como a atuação do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.

A revista diz que, apesar dos brasileiros enxergarem Moro como um herói, devido ao modo como ele tem conduzido as ações da Operação Lava Jato, o método de aprisionar suspeitos antes de irem a julgamento aponta para uma falha na cultura legislativa do país.

“A prisão preventiva não deve ser usada para amedrontar os suspeitos a colaborarem com as investigações”, afirma o texto. “A maioria dos países só utilizam a detenção pré-julgamento como último recurso”.

A publicação ainda contesta o encarceramento em massa do Brasil, já que, segundo a revista, dois quintos dos mais de 600 mil presidiários ainda aguardam parecer judicial. “O código penal brasileiro fica para trás em muitos aspectos se comparado às normas internacionais”. 

Como exemplo, a Economist destaca que uma série de suspeitos, presos por ordem de Moro na Operação Lava Jato, foram colocados em liberadade pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pois o parecer de prisão apontava motivos genéricos e abstratos.

“Se o Sr. Moro age com tamanha independência para julgar os casos, é porque a lei brasileira confere esse tipo de poder incomum aos juízes”, afirma a publicação inglesa.