Ueslei Marcelino/Reuters
Vice-presidente da República, Michel Temer: para investidores, programa
do partido pode ter efeito positivo no mercado, se implementado.
A expectativa de rompimento do PMDB com o governo acelera as apostas no afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Com a possibilidade de o impeachment ser votado em menos de um mês, a tendência do mercado passa a depender menos de Dilma e mais da capacidade de um eventual governo do vice- presidente Michel Temer aprovar as reformas e reconquistar a confiança dos investidores.
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O risco Brasil caiu mais de 100 pontos este ano, enquanto o Ibovespa
subiu 26% em dólar. O mercado está refletindo o aumento da aposta na
saída de Dilma, diz José Marcio Camargo, sócio da Opus Gestão de
Recursos.
“O governo Dilma acabou; não consegue aprovar nada no Congresso”, diz
Camargo, professor da PUC-RJ e que está entre os economistas que têm
mantido contatos com interlocutores do vice-presidente sobre ideias para
um eventual governo Temer.
O PMDB do RJ acenando com a saída do governo e a perspectiva de o
partido todo e de outras legendas da base aliada também desembarcarem
ajudam a impulsionar o mercado, diz Eduardo Longo, gerente de renda fixa
e multimercados da Quantitas Gestão de Recursos. “Esses movimentos dão
força para o impeachment."
O impeachment já está praticamente precificado, diz Camargo. Melhoras
adicionais dos ativos brasileiros vão depender de o novo governo
implementar uma agenda de reformas.
Camargo considera que o programa “Uma Ponte para o Futuro”, do PMDB,
pode ter impacto positivo no mercado se implementado. O programa inclui,
entre outras medidas, uma maior flexibilização do orçamento, que se
tornaria impositivo, e a reforma da Previdência.
Camargo reconhece que as investigações da Lava Jato devem permanecer
como um fator de incerteza mesmo que a mudança de governo seja
confirmada.
Ainda assim, o impeachment seria bem visto pelos investidores por ao
menos criar uma possibilidade de melhora que o mercado considera
inexistente na hipótese de Dilma permanecer.
"O governo está paralisado. O impeachment pode não acabar com a crise,
mas será difícil a situação continuar tão ruim quanto está hoje”, diz
Camargo.
Embora o impeachment traga a chance de retomada das reformas, o mercado
ainda tem mais dúvidas do que certezas sobre a viabilidade de um novo
governo diante do cenário de elevada tensão política.
Os jornais têm noticiado conversas entre PMDB e PSDB sobre o cenário
pós-Dilma, mas o fato de líderes dos dois partidos terem sido citados na
Lava Jato desautoriza um otimismo mais convicto.
O foco do mercado é totalmente político, diz Leonardo Monoli, sócio e
diretor da Jive Asset. “O Brasil está em stand- by, aguardando o que vai
ser do seu futuro e com toda a sua população literalmente fora de sua
zona de conforto em uma economia que afunda a passos largos", diz o
diretor.