Em palestra no EXAME Fórum PPPs e Concessões, cientista político e sócio da Arko Advice Lucas Aragão avalia como a crise abre oportunidades no país
São Paulo – O ruído político em Brasília não tem, por
ora, força suficiente para derrubar o otimismo dos investidores
estrangeiros com os projetos de infraestrutura no país. A avaliação é do
cientista político e sócio da consultoria Arko Advice Lucas Aragão.
“Existe a certeza de uma agenda. Independentemente de quem será o
presidente em 2018, o compromisso com as reformas está garantido. O
Estado entendeu que o modelo que a gente estava atuando, com gastos
excessivos e os bancos públicos como principais fomentadores, não pode
ser mantido”, disse Aragão durante o EXAME Fórum PPPs e Concessões, realizado nesta quinta-feira (8) em São Paulo.
Uma possível saída antecipada do presidente Michel Temer,
na avaliação do cientista político, poderia comprometer a capacidade do
governo de tocar a agenda de reformas, “mas isso não significa que ela
não irá sair”. Para Aragão, a única chance de o presidente cair seria
por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no julgamento da chapa
Dilma-Temer que começou nesta semana.
“Os ministros Admar Gonzaga e Tarcisio Vieira são incógnitas. Eles
têm uma reputação forte em Brasília e eu acho que tudo está nas mãos
deles. Mas o cenário mais provável é de um pedido de vistas do que a
decisão ir para o voto”, avaliou Aragão.
A eleição de 2018 não assusta o cientista político. “Ciro Gomes tem
força no Nordeste, mas pouca capilaridade ue tempo de televisão. O mesmo
acontece com a Marina Silva. O partido dela tem poucos prefeitos, o que
a enfraquece”, disse.
Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Aragão acredita que
ele “não tem mais força para romper a esquerda, como fez em 2002. E tem
ainda o cenário ‘novo velho’, que seria um rosto novo em um partido
tradicional, como o João Dória, atual prefeito de São Paulo.”
Otimismo
Enquanto os brasileiros estão muito preocupados com as denúncias de
corrupção em Brasília, os investidores estrangeiros seguem otimistas com
os projetos de infraestrutura no país, segundo Aragão.
Como pontos positivos, o cientista político destacou que as agências
reguladoras estão alinhadas ao mercado e o Brasil “está barato”. Além
disso, o PPI [Programa de Parcerias de Investimentos] é politicamente
forte e a atual equipe econômica é estável, com uma agenda reformista
que agrada aos investidores. “O Brasil extra protecionista ficou para
trás e os editais estão mais transparentes.”
“Quem tem equipes de analistas aqui no Brasil e não olha para o país
só através da tela da Bloomberg sabe que temos muitos pontos fortes. Os
membros da equipe econômica são respeitados internacionalmente e falam a
língua dos investidores. Estão abertos a eles. É diferente do governo
anterior, que tratava o investidor estrangeiro como inimigo”, afirmou
Aragão.
Como pontos negativos, o cientista político destacou a crise, que
deixa os investidores receosos, e o fato de o país ter pedido o selo de
bom pagador concedido pelas agências de classificação de risco
internacionais.
“Os investidores estrangeiros sabem que o Brasil é o país emergente
mais parecido com as nações de primeiro mundo. O investidor
internacional prefere vir à São Paulo do que à Nova Deli ou Xangai. A
China não tem democracia. Aqui, temos uma equipe econômica técnica que
os recebem bem e fala a língua deles. Não dá para ignorar o Brasil”,
disse.
Para Aragão, o setor de óleo e gás pode ditar o ritmo das concessões
no Brasil. “O mundo olha para esse setor. É o setor que tem a maior área
de research no mundo. Quando uma gigante investe em um país, como a
Shell ou a ExxonMobil, dá uma segurança para todos os outros
investidores, porque eles sabem que esses gigantes não vão investir em
algo ruim. Eles se perguntam o que a ExxonMobil está fazendo no Brasil, e
querem vir para cá também.”
O fim da obrigatoriedade de participação da Petrobras em todos os
campos do pré-sal adicionou mais otimismo entre os investidores
internacionais com relação às aplicações no Brasil, segundo o cientista
político.