Na contramão da Ford, a Scania acelera
seus investimentos no País. Embalada pela alta das exportações, a
montadora sueca vai desembolsar R$ 1,4 bilhão até 2024.
DE OLHO NO FUTURO Fabricando
somente conforme demanda, montadora espera um ano de retomada
consistente e sustentável. (Crédito: Claudio Gatti )
Em ano atípico de apenas 46 semanas, como definiu Christopher
Podgorski, presidente da Scania para a América Latina, a montadora
sueca registrou, até novembro de 2020, queda de 12,8% nos emplacamentos
de veículos pesados (acima de 16 toneladas) em comparação a 2019, após
ter as atividades paralisadas por quase seis semanas, entre março e
abril, por causa da pandemia. E a aposta para a retomada dos negócios em
2021 está no início do emprego de R$ 1,4 bilhão na planta de São
Bernardo do Campo (SP), programado para até 2024, e na eficiência dos
sistemas modular (permite montar os caminhões para diferentes
aplicações) e de produção global (aliado nas exportações). “A previsão
para 2021 é positiva do ponto de vista de produção levando em conta que o
Brasil está retomando as atividades, a exemplo de alguns países, como
Chile, Peru e Colômbia”, disse à DINHEIRO.
A utilização do sistema modular na linha de montagem, segundo o
executivo, oferece melhores resultados econômico e financeiro. A empresa
fabrica apenas a quantidade correspondente à comercializada. No início
da quarentena, em março, a montadora tinha em carteira 2,3 mil caminhões
a serem produzidos. Diante da situação, a Scania antecipou o retorno às
atividades com a preocupação de honrar os compromissos com os clientes.
“O mercado de transportes reagiu em V. Não demorou a retomarmos as
nossas atividades normais em termos de produção e comercialização.”
O sistema de produção global também tem garantido negócios
importantes para a operação brasileira. As dez unidades produtivas
instaladas em São Bernardo são idênticas em processo, método e
equipamentos às plantas européias. A Scania do Brasil exporta para a
Rússia e a África do Sul, além de ter a Argentina e o Chile como dois
dos principais clientes na América do Sul. “Com a desvalorização cambial
do real (cerca de 40% em um ano) repentinamente nos tornamos
supercompetitivos como exportadores”, afirmou o executivo, ao destacar
que 30% dos veículos fabricados no ano passado foram para o mercado
internacional.
Para atender às novas tendências globais de transportes, a montadora
vai iniciar neste ano o aporte de R$ 1,4 bilhão na modernização da
planta de São Bernardo. O montante será aplicado ainda em novas
tecnologias e no prosseguimento de projetos relacionados a combustíveis
alternativos, como o gás natural e o biometano. A Scania também tem
acelerado o processo jornada de eletrificação e mobilidade. Mesmo
durante a pandemia, a companhia concluiu a viabilização da
industrialização de veículos a gás, no caso caminhões – até outubro, 50
unidades foram comercializadas. E espera que, nos próximos meses, a
produção de ônibus a gás seja realidade no mercado brasileiro.
A planta da montadora automotiva tem trabalhado em alerta nas últimas
semanas em razão de problema comum a outros setores da economia: a
falta de matéria-prima e insumos. No caso da Scania, de aço e sucata. A
empresa, no entanto, não deixou de produzir qualquer unidade programada.
“O pior já passou. A situação deve estar normalizada ainda no primeiro
trimestre”. Além disso, como a cadeia de suprimentos da empresa tem
muitos componentes importados, o presidente revelou discussão comercial
com fornecedores para precificação em decorrência da desvalorização
cambial. “Tudo está equacionado.”
Apesar da preocupação com a desvalorização do real, além do possível
aumento da inflação e dos juros durante o ano, Podgorski revela
confiança na economia brasileira. “Temos 62 anos de Brasil. Estamos
acostumados à volatilidade. O nome do jogo é sempre flexibilidade. A
perspectiva é positiva”. De acordo com ele, com base na estimativa de
crescimento do agronegócio (3%, de acordo com a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil) e da indústria (de 4,2% para a
Confederação Nacional da Indústria), ”a retomada não parece ser em bolha
e, sim, consistente e sustentável pelo, no mínimo, os próximos 12
meses.”
ALTA A expectativa de bons negócios em 2021
demonstrada pela Scania é compartilhada pela Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Apesar de o segmento
de caminhões novos ter registrado queda de 12,3% no fechamento dos
emplacamentos de 2020 – foram vendidas 89.207 unidades no total contra
101.733 de 2019 –, o resultado foi superior ao projetado e depois
revisado pela entidade em outubro, que estimava redução de 15% (86,6
mil), e maior do que o computado nos anos de 2015 a 2018. Diante deste
cenário, a Fenabrave estima crescimento de 21,7% neste ano (em relação
ao último período), com a comercialização de 108,5 mil veículos.
O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, acredita que as
vendas só não foram maiores devido à retração da produção em virtude da
pandemia. “Os fabricantes de caminhões tiveram muita dificuldade para
atender à demanda”, afirmou, ao destacar que “boa oferta de crédito e
melhora do preço das commodities são fatores positivos, que
impulsionaram e continuam mantendo a procura.” Resta saber se a demanda
irá se manter ou se as montadoras terão de suspender novamente as
atividades em virtude do aumento dos casos de coronavírus pelo País.