Consórcio Magalu, uma das empresas do grupo, registra crescimento de 152% na venda de cotas para o segmento agrícola em 2020.
O agronegócio foi um dos poucos setores da economia brasileira que passaram praticamente incólumes pela pandemia em 2020. Apresentou crescimento de 9% e receita bruta de R$ 1,75 trilhão, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. E, com base na estimativa de 3% de alta do Produto Interno Bruto (PIB) do setor em 2021, o Consórcio Magalu, braço da rede varejista Magazine Luiza, deu ênfase ao segmento de máquinas agrícolas, após registrar alta de 152% nas vendas no período 2019-2020 – o restante do portfólio teve aumento de 25%. A origem em Franca, no interior paulista, onde há muitos fazendeiros, também serviu de atrativo para a aposta. “Temos um plano de negócios que prevê crescimento consistente em 2021”, afirmou à DINHEIRO o paulistano Alexandre Luís dos Santos, diretor do Consórcio Magalu. “Não seremos maiores que o Magazine Luiza. Mas queremos ser o segundo do grupo.”
A intenção é atender os produtores rurais que, muitas vezes, pretendem adquirir maquinários, mas esbarram na limitação de linhas de crédito e nos juros – nem sempre convidativos – cobrados por bancos, cooperativas de crédito e fabricantes.
Na empresa, a taxa média de administração no setor agrícola varia de 14% a 16%, enquanto que, em imóveis, é de 18%. “Para se ter uma ideia, em um contrato de 200 meses isso vai dar 1% ao ano, enquanto que em um banco, apenas com a reposição da Selic (taxa básica de juros da economia), será em torno de 4% ao ano.”
A taxa mais atrativa, no entanto, ainda não reflete totalmente na carteira de clientes do Consórcio Magalu. Dos 80 mil participantes ativos, apenas 1% (800 pessoas) está em grupos voltados ao setor agrícola. Santos aposta em um crescimento geral de 25% até o fim de 2021, puxado também por cotas de automóveis, veículos pesados, imóveis e eletroeletrônicos. “O segmento de tratores e caminhões, por exemplo, teve aumento de 120%”, disse.
Levantamento da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) revelou avanço no total de clientes ativos. De março de 2015 a meados de 2020, o setor cresceu 68,2% no volume de participantes – de 69,5 mil para 116,9 mil. Do total, 60,4% (70,6 mil) eram produtores pessoas físicas; 31,6% (36,9 mil) pessoas jurídicas; e 8% (9,4 mil) outros prestadores de serviços.
Para Paulo Roberto Brossi, presidente da Abac, o avanço está apoiado em fatores como a disponibilização de crédito, prazos e taxas. “No consórcio, por se tratar de autofinanciamento, o participante pode aderir a qualquer momento em grupos em formação ou em andamentos, podendo escolher o período mais adequados às suas necessidades, com opções de créditos”, afirmou.
A e estimativa de crescimento dos grupos agrícolas deve provocar o aumento do tíquete médio do Consórcio Magalu, atualmente em torno de R$ 45 mil. “Como o Magazine Luiza trabalha muito com eletro e eletroeletrônicos, isso acaba reduzindo o tíquete médio”, afirmou o diretor. A ideia é ampliá-lo até o fim do ano para R$ 70 mil, impulsionado por cotas de imóveis. Já no agronegócio o tíquete deve chegar a R$ 150 mil devido ao alto valor dos investimentos em máquinas e terrenos, por exemplo.
Diante da perspectiva de alta nos negócios, a empresa investiu R$ 6 milhões para expansão da estrutura, o que incluiu a abertura de três lojas próprias no Sul – estão previstas mais 15 pelo País até dezembro –, além do apoio operacional dos 1,3 mil pontos pertencentes à holding. A ampliação da área de atuação foi acompanhada pelo aumento de colaboradores. Eram 200 quando Santos, ex-presidente da BB Consórcios, do Banco do Brasil, assumiu, em abril de 2019, e já são 600, número que deve dobrar até dezembro. “Queremos ter um gestor de negócios em cada loja do Magazine Luiza”, disse. Há ainda profissionais que trabalham para o Consórcio Magalu de maneira terceirizada, em seus próprios pontos de vendas.
“Desde junho, nossas vendas têm crescido 10% ao mês. Tivemos mais eficiência e reduzimos as desistências” Alexandre Luís dos Santos, diretor do consórcio Magalu.
A aceleração nos investimentos em 2021 visa recuperar o tempo perdido com a pandemia. O Consórcio Magalu previa crescer 60%, mas teve de rever os planos – os números relativos ao ano ainda não foram divulgados. Diante das limitações impostas pelo isolamento social, a companhia buscou novas maneiras de fazer negócios. “Antecipamos a era digital na empresa. Hoje, não precisamos de espaço físico para vender”, disse Santos. “Desde junho, nossas vendas têm crescido 10% ao mês. Com o trabalho realizado pelos gestores, tivemos uma eficiência maior e reduzimos as desistências dos consorciados.”
Evitar a saída está entre os principais desafios do Consórcio Magalu. “O setor deveria pensar nisso. Ter o cliente como um valor da empresa. E cuidar para que fique até o final do plano.” Os do Consórcio Magalu para o setor agrícola têm duração média de 180 meses, mas é possível encontrar grupos de 24 a 120 meses. A retirada do bem será definida pelo cliente. A cota máxima é de R$ 200 mil e o participante pode adquirir mais de uma.
Independentemente do prazo e da pandemia, o sistema de consórcio parece ter caído no gosto dos brasileiros em 2020. O número de inscritos chegou a 7,7 milhões, recorde na história do modelo, com R$ 150 bilhões em negócios até novembro, segundo a Abac. “O consórcio não é uma dívida, é uma poupança. O cliente tem que olhar a prestação dele, se programar para dar o lance. Ele aprende educação financeira. E acaba trocando o imediatismo pela conscientização”, afirmou o diretor do Consórcio Magalu.
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