Queda da bolsa no Brasil cria alvos de aquisição
Queda da bolsa no Brasil cria alvos de aquisição
Por Carolina Mandl e Tatiana Bautzer
SAO PAULO (Reuters) – A grande atividade em torno de fusões e
aquisições nas duas primeiras semanas do ano no Brasil surpreendeu os
executivos de bancos de investimento.
Com a economia em recessão, inflação a duplos dígitos e a expectativa
de uma eleição presidencial polarizada, muitas empresas perderam valor
na bolsa e tornaram-se alvos fáceis de aquisição.
“Há muito tempo não via um início de ano com um volume tão alto de
fusões e aquisições”, disse Roderick Greenlees, chefe global de
investment banking do Itaú BBA.
O índice Ibovespa caiu 17% nos últimos seis meses, e o real perdeu 5%
em relação ao dólar, com as preocupações relativas aos riscos
macroeconômicos, piora da disciplina fiscal e incertezas eleitorais.
As empresas mais frágeis são aquelas listadas recentemente na bolsa e
que perderam valor de mercado significativo desde suas ofertas públicas
iniciais de ações (IPOs), segundo os executivos.
As varejistas de móveis Mobly e Westwing, a empresa de programa de
fidelidade Dotz, a companhia de terceirização de serviços Getninjas e a
Oceanpact , de engenharia marítima, perderam mais de 70% do valor desde
seus IPOs, no ano passado.
“Há muitas empresas listadas de pequeno a médio porte que teriam
dificuldades para acessar os mercados de capitais e levantar mais
dinheiro, então as fusões e aquisições são uma alternativa mais
confiável ou a única alternativa”, disse Gustavo Miranda, chefe de
investment banking do Banco Santander Brasil.
O Banco Modal, por exemplo, perdeu quase 60% do valor desde seu IPO em abril, e recebeu uma oferta de aquisição da XP este mês.
A discussão entre as empresas de shopping Aliansce Sonae e BR Malls
para uma fusão também ocorrem após queda de mais de 20% das ações de
ambas companhias frente a um ano antes. O negócio parece ser motivado
pela necessidade de mostrar crescimento e boas notícias aos
investidores, mesmo com as dificuldades da recuperação do setor de
shoppings.
A BR Malls rejeitou a oferta inicial da Aliansce Sonae, mas as
negociações devem continuar. As varejistas Americanas e Marisa Lojas não
chegaram a um acordo sobre uma potencial transação no ano passado.
Ricardo Lacerda, presidente-executivo e fundador do banco de
investimentos BR Partners, disse que a turbulência recente na bolsa
interrompeu planos de empresas recentemente listadas e elas podem ser
forçadas a entrar em transações. “Algumas estavam contando com ofertas
subsequentes para financiar sua expansão mas não conseguiram captar
devido à volatilidade de mercado”, afirmou.
Captar dívida também ficou mais caro para as empresas, com a alta das
taxas de juros básicas no ano passado de 2% em março para 9,25% em
dezembro.
“Dada a volatilidade que está afetando as ofertas de ações, os
volumes de fusões e aquisições em 2022 devem superar os do ano passado,”
afirma Hans Lin, co-head de investment banking do Bank of America no
Brasil. No ano passado, fusões e aquisições envolvendo empresas
brasileiras atingiram 101,6 bilhões de dólares, 152% acima de 2020.
NOVAS OFERTAS
Os executivos de bancos preferem não estimar o volume de ofertas de
ações este ano, mas vários esperam que os montantes caiam em relação ao
ano passado.
As ofertas de ações levantaram 26,2 bilhões de dólares no ano
passado, ligeiramente abaixo dos volumes de 2020 em dólares, mas o
número de negócios aumentou 17%, para 78 ofertas.
“Tivemos no ano passado recorde em ofertas de ações, mas 2022 não
será tão forte para as emissões como resultado da volatilidade
macroeconômica e política”, disse Greenlees, do Itaú.
Algumas empresas já anunciaram planos para ofertas subsequentes, como
a processadora de alimentos BRF e a petroquímica Braskem. Também é
esperada para junho a privatização da Eletrobras.
Os executivos acreditam que as operações de follow-on serão mais
comuns do que IPOs este ano, com os investidores preferindo ativos
conhecidos durante períodos voláteis.
“Dependendo da recepção às ofertas subsequentes, o sentimento dos
investidores pode melhorar e potencialmente permitir alguns IPOs,” disse
Eduardo Miras, chefe da área de banco de investimento do Citi.