FRANKFURT (Reuters) – Não há necessidade de um grande aperto da política monetária na zona do euro, pois a inflação deve arrefecer e pode se estabilizar em torno de 2%, disse nesta segunda-feira a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
Apontando para os crescentes riscos de inflação, o BCE deixou em aberto, na semana passada, a possibilidade de um aumento das taxas de juros ainda em 2022 e afirmou que a reunião de 10 de março será crucial para decidir com que rapidez o banco central encerrará seu esquema de compras de títulos de longa data, elemento importante de seu estímulo econômico.
Mas Lagarde pareceu mais cautelosa nesta segunda-feira e argumentou ser improvável que a inflação alta se enraíze. Ela também alertou que os altos preços de energia, maiores vilões da inflação, provavelmente pesarão adiante conforme consomem o poder de compra das famílias.
“Aumentaram as chances de que a inflação vai se estabilizar na nossa meta”, disse Lagarde em audiência do Parlamento. “Não há sinais de que a inflação ficará persistente e significativamente acima da nossa meta no médio prazo, o que exigiria aperto mensurável.”
Mesmo ao repetir que os riscos de inflação estão inclinados “para cima”, Lagarde afirmou que a economia da zona do euro, no momento, não sofre com o tipo de superaquecimento que outras estão experimentando.
“Isso aumenta a probabilidade de que as atuais pressões de preços diminuirão antes de se enraizar, o que nos permitirá cumprir nossa meta de 2% no médio prazo”, disse ela.
Em resposta aos rendimentos nitidamente mais altos da dívida na periferia do bloco monetário desde a reunião de política monetária de quinta-feira passada, Lagarde afirmou que o BCE está pronto para intervir, se necessário.
“Usaremos quaisquer ferramentas, quaisquer instrumentos necessários para garantir que nossa política monetária seja transmitida adequadamente por toda a zona do euro, a todos os Estados membros”, disse ela.
Embora a própria Lagarde não tenha se comprometido, na semana passada, com nenhuma direção para a política monetária, várias autoridades desde então argumentaram que o primeiro passo será o BCE acelerar a saída de seu esquema de compra de títulos, que tem prazo indefinido, mas deve durar pelo menos até outubro.
Uma alta da taxa de juros só poderia ocorrer depois do encerramento do programa de compra de ativos, mas uma redução mais rápida do esquema poderia significar uma elevação nos custos dos empréstimos –que seria a primeira desde 2011– antes do final do ano.
“Existe um sequenciamento definido entre o fim de nossas compras líquidas de ativos e a data de elevação dos juros”, afirmou Lagarde. “Um aumento da taxa de juros não ocorrerá antes de nossas compras líquidas de ativos acabarem.”
“Qualquer ajuste de nossa política monetária será gradual”, acrescentou.
Os mercados agora precificam cerca de 0,5 ponto percentual de elevação dos juros pelo BCE neste ano, mas economistas estão mais cautelosos, com a maioria prevendo a primeira alta no final do ano ou no início de 2023.
(Reportagem de Balazs Koranyi e Francesco Canepa)