Investimento de R$ 100 milhões em 110 lojas e no novo centro tecnológico coloca a MadeiraMadeira entre as empresas líderes que buscam o domínio do pulverizado mercado de móveis e decoração no País.
Um ano atrás, a MadeiraMadeira se tornou o 16º unicórnio brasileiro, ultrapassando o valuation de US$ 1 bilhão com o aporte de US$ 190 milhões liderado pelos fundos SoftBank e Dynamo. De lá para cá, seu negócio deu uma guinada. Nesse período, o clássico modelo de marketplace ficou para trás com a consolidação de uma rede com mais de 110 lojas e a estruturação de um centro de inovação, ambos focados na marca própria. Juntos, eles receberam investimentos de R$ 100 milhões. As mudanças colocam a startup com uma das líderes na corrida para se tornar uma espécie de versão brasileira da Ikea – marca sueca que é referência global no segmento – e dobrar a sua fatia (hoje de 20%) no setor moveleiro, que ainda é bastante pulverizado e pouco digitalizado, com 90% de vendas no mundo físico. Nessa disputa, a empresa compartilha a ambição com a Mobly, outra nativa digital que partiu para o off-line em busca de impulsionar o salto no mercado.
Daniel Scandian, CEO e cofundador da MadeiraMadeira, diz que a empresa nascida no Paraná chegou a trazer parte da equipe escandinava para o Brasil e entender a dinâmica da Ikea, mas particularidades da indústria nacional tornariam o processo produtivo mais demorado e custoso por aqui. “Entendemos que não conseguiríamos crescer mais de dez vezes, como queremos”, afirmou. A MadeiraMadeira está entre as dez startups mais cotadas por analistas para abertura de capital ainda em 2022, algo que a concorrente Mobly fez há um ano. A performance, no entanto, não correspondeu, tornando a companhia uma das small caps que mais vêm sofrendo no mercado financeiro – as ações foram precificadas a R$ 21,00 no IPO e fecharam em R$ 6,35 na terça-feira (8).
Apesar da perspectiva negativa para o consumo no País, Scandian acredita que este ano será melhor que 2021 para a operação. “Com o consumidor mais sensível a preço, o e-commerce se torna mais atraente”, disse. É com essa expectativa que a companhia quer acelerar as transações em suas plataformas virtuais – a rede de lojas físicas seria uma extensão do digital e a vitrine de marca própria para um cliente que ainda não está na rede. O CEO lembra, porém, que existe um teto para incremento da participação do on-line e que, até o fim do ano, essa fatia chega no máximo a 12%.
100 milhões de reais para consolidar a rede física com 110 lojas no país e um centro de tecnologia em curitiba, no paraná
Ampliar o portfólio de produtos foi a chave para a startup entrar no varejo físico. A estratégia de expansão começou pela logística, com 16 pontos de distribuição no Brasil. Segundo Scandian, foi a primeira questão que a MadeiraMadeira precisou endereçar, depois que uma falha na operação de entregas durante a Black Friday de 2018 provocou caos e mais de 30 mil pedidos foram perdidos. “Hoje, 70% da operação logística é proprietária, e devemos chegar a 85% neste ano.” Para manter o ritmo de crescimento do negócio de 70% ao ano, o próximo passo será reduzir o tempo de produção dos móveis, que pode cair de seis meses para um mês com o novo centro tecnológico. “Esse processo nos torna uma espécie de Ikea fast fashion”, disse o executivo.
20% de market share no e-commerce de móveis e decoração no país. a empresa quer dobrar a sua fatia no setor
DISPUTA
Já a Ikea, que, em 2020, havia adiado para este ano seus planos de entrar na América do Sul com a inauguração de uma loja em Santiago, no Chile, não trouxe mais novidades até agora. Na indefinição da sueca, tanto a MadeiraMadeira quanto a Mobly projetam expansão internacional no médio prazo. O que segura as brasileiras hoje, além da instabilidade econômica, é a avenida para crescimento dentro do País. No caso da paranaense, a região Nordeste será o foco. “É um mercado ainda mal representado na nossa operação”, afirmou Daniel Scandian. Para esse estirão, a startup está de olho em aquisições de empresas dentro do próprio segmento, operação que deve se consolidar ainda em 2022.
70% da operação logística da empresa é proprietária, e a projeção é alcançar 85% até o fim deste ano para apoiar a demanda
Além disso, outra parte decisiva da estratégia são as marcas próprias, aposta da companhia para se diferenciar no concorrido setor moveleiro. Para aumentar as vendas das linhas exclusivas de 25% para 60% do faturamento, a empresa apostou na inovação de design, matéria-prima e até em tecnologias acopladas, caso do sofá com entrada USB. “Com essa engenharia de produto, conseguimos democratizar peças de uma categoria superior”, disse o CEO.
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