Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Rússia, Vladimir Putin, encontraram-se no Kremlin, em Moscou, no dia 16 de fevereiro de 2022 — Foto: Alan Santos/PR
O governo do presidente Jair Bolsonaro fez a aposta diplomática errada ao visitar e prestar solidariedade ao presidente Vladimir Putin em Moscou em meio à escalada da tensão na Ucrânia. Agora, vai sofrer os efeitos dessa decisão na economia.
Essa avaliação é feita por assessores presidenciais e diplomatas brasileiros depois que Putin decidiu reconhecer a independência de duas províncias da Ucrânia e enviar tropas para elas, Donetsk e Lugansk, situadas na região de Donbass, na divisa com a Rússia.
O Brasil contava com um cenário de paz, não de risco real de conflito na região. Para piorar, o gesto de Bolsonaro desagradou aos Estados Unidos.
Antes da viagem para Rússia, Bolsonaro foi informado por sua equipe que a tendência era de pacificação na região e que Putin estava fazendo apenas ameaças, mas não partiria para medidas mais concretas e graves. E foi também aconselhado a não falar do conflito entre os dois países. Só que o presidente brasileiro acabou falando que o Brasil é “solidário” à Rússia, despertando a ira dos Estados Unidos.
Potências ocidentais reagem à decisão da Rússia de enviar tropas para Ucrânia
Agora, o Brasil pode sofrer na diplomacia, porque a relação com os Estados Unidos já não era boa, depois que Bolsonaro foi o último líder do G20 a reconhecer a vitória de Joe Biden contra Donald Trump, aliado do presidente brasileiro. Piores, segundo assessores presidenciais, são os efeitos na economia.
A tendência é que o barril do petróleo supere os US$ 100, podendo chegar a US$ 120. O que vai gerar pressão inflacionária em toda cadeia produtiva brasileira, a começar pelo preço dos combustíveis. E esse aumento vem, para azar do governo brasileiro, no momento em que havia uma boa notícia no setor, com uma queda constante do valor do dólar, que sinalizava cair abaixo de R$ 5.
Se esse cenário persistir ou piorar, a inflação brasileira, que estava começando a recuar, pode ficar pressionada ao longo de todo o primeiro semestre. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez uma previsão de que o pico inflacionário no Brasil seria em abril e maio. Essa previsão, porém, pode ficar defasada diante da mudança no campo econômico mundial.
Bolsonaro já vinha travando uma disputa política interna sobre o preço dos combustíveis, tentando transferir a responsabilidade pela alta no valor da gasolina, diesel e gás de cozinha para os Estados. Uma guerra mirando a disputa eleitoral deste ano. Tema que vai estar presente na campanha presidencial.