terça-feira, 22 de março de 2022

Governo zera imposto de importação de etanol e de seis alimentos


Medida vale até o fim do ano e pretende conter inflação 
 
 
Em relação ao etanol, a alíquota foi zerada tanto para o álcool misturado na gasolina como para o vendido separadamente

Até o fim do ano, o etanol e seis alimentos não pagarão imposto para entrarem no país. A redução a zero das alíquotas foi anunciada pelo Ministério da Economia, após reunião extraordinária do Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex).A medida beneficia os seguintes alimentos: café, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo de soja. Em relação ao etanol, a alíquota foi zerada tanto para o álcool misturado na gasolina como para o vendido separadamente. O imposto será zerado a partir desta quarta-feira (23), quando a medida for publicada no Diário Oficial da União.

Segundo o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, a medida tem como objetivo segurar a inflação. "Estamos preocupados com o impacto da inflação sobre a população. Estamos definindo redução a zero da tarifa de importação de pouco mais de sete produtos até o final do ano. Isso não resolve a inflação, isso é com política monetária, mas gera um importante incentivo", declarou.

De acordo com a pasta, a medida fará o preço da gasolina cair até R$ 0,20 para o consumidor. Atualmente, o litro da gasolina tem 25% de álcool anidro. Por causa da alta recente dos combustíveis, o governo espera que a redução da tarifa de importação praticamente zere os efeitos do último aumento. "Temos uma estimativa que isso poderia levar a uma redução do preço da gasolina da ordem de R$ 0,20 na bomba. Isso é uma análise estática. Na prática, essa medida vai acabar arrefecendo a dinâmica de crescimento dos preços na ordem de R$ 0,20", disse o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz.

Em relação aos produtos alimentícios, o Ministério da Economia informou que os produtos beneficiados são o que mais estão pesando na inflação, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Esse indicador mede o impacto dos preços sobre as famílias de menor renda. Atualmente, o café paga Imposto de Importação de 9%; a margarina, 10,8%; o queijo, 28%; o macarrão, 14,4%; o açúcar, 16%; o óleo de soja, 9% e o etanol, 18%.

 

Bens de capital

 
A Camex também aprovou a redução em mais 10%, até o fim do ano, o Imposto de Importação sobre bens de capital (máquinas usadas em indústrias) e sobre bens de informática e de telecomunicações, como computadores, tablets e celulares. A medida pretende facilitar a compra de equipamentos usados pelos produtores industriais e baratear o preço de alguns itens tecnológicos, quase sempre importados.

Em março do ano passado, o governo tinha cortado em 10% a tarifa para a importação de bens de capital e de telecomunicações. No total, o corte chega a 20%. Até o início do ano passado, as tarifas de importação desses produtos variavam de zero a 16% para as mercadorias que pagam a tarifa externa comum (TEC) do Mercosul. Com a primeira redução, a faixa tinha passado de 0% a 14,4%. Agora, as alíquotas passaram de 0% a 12,8%.

Em novembro do ano passado, o governo reduziu em 10% a tarifa de 87% dos bens e serviços importados até o fim deste ano. Na época, o governo alegou a necessidade de aliviar os efeitos da pandemia de covid-19 e que a medida já havia sido acertada com a Argentina. Segundo o Ministério da Economia, o governo deverá deixar de arrecadar R$ 1 bilhão com as medidas até o fim do ano.

Com Agência Brasil

 

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Vale fornecerá produtos de níquel de baixo carbono à Northvolt

Vale Logo – Mineradora - PNG e Vetor - Download de Logo


A Vale informou que a Vale Canadá e a produtora de células de íon-lítio Northvolt AB anunciaram nesta terça-feira, 22, um acordo plurianual no qual a Vale irá fornecer produtos de níquel de baixo carbono à Northvolt, reforçando o compromisso compartilhado das empresas com a sustentabilidade na cadeia de veículos elétricos e eletrificação da indústria de mineração de forma geral. O contrato é fruto de mais de dois anos de negociação e será a plataforma de lançamento para uma maior cooperação em diversas áreas.

A mineradora destaca que o acordo reafirma a posição da Vale como fornecedora preferencial para a indústria de veículos elétricos em rápido crescimento e se alinha com o imperativo da Northvolt de minimizar as emissões de carbono e outros impactos ambientais na cadeia de valor das baterias.

“A Vale é líder global na produção de produtos de níquel de baixo carbono e alta pureza. Os rounds de níquel de sua refinaria de Long Harbour em Newfoundland, Canadá, têm uma pegada de carbono verificada de 4,4 toneladas de CO2 equivalente por tonelada de níquel – cerca de um terço da média apurada pelo Nickel Institute para o níquel Classe 1”, informa a Vale.

A empresa diz que se comprometeu a investir entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para reduzir as emissões absolutas de carbono em 33% até 2030, como parte dos esforços para atingir emissões líquidas zero até 2050. A Vale também reduzirá as emissões da cadeia de valor em 15% até 2035.

A ambição da Northvolt é elevar o padrão de sustentabilidade para os produtores de baterias com um plano para reduzir as emissões de carbono em até 90% em comparação com as baterias de referência atuais, principalmente através da utilização de energia limpa na produção e reciclagem.

“Este contrato de fornecimento é mais um marco estratégico conforme direcionamos nossos negócios para a demanda de veículos elétricos”, destaca em nota Deshnee Naidoo, Vice-Presidente Executiva de Metais Básicos da Vale.

Maria Åstrand, vice-presidente de materiais ativos da Northvolt, também comenta em nota que a Northvolt foi fundada com a missão de construir a bateria mais ecológica do mundo para permitir a transição para a eletrificação. “Queremos construir baterias com uma pegada mínima de CO2 usando energia limpa e tecnologia inteligente. Esta parceria é perfeita para podermos alcançar essa ambição”, diz.

 

PlayStation compra Haven Studios para ampliar foco em jogos de serviços


Crédito: Pixabay

Play Station amplia seu foco no desenvolvimento de jogos de serviço com aquisição da Haven (Crédito: Pixabay)

A PlayStation, da Sony, anunciou nesta segunda-feira (21) a compra do Haven Studios, desenvolvedora de games criada recentemente por Jade Raymond, criador da franquia Assassin´s Creed. Junto com a PlayStation, a Haven trabalha em um jogo AAA, classificação usada aos jogos com grandes orçamentos e níveis de promoção.

“Estabelecemos uma cultura no Haven que se baseia na bondade, adaptabilidade e coragem, revelando a criatividade. Nossa primeira e nova IP para o PlayStation está no caminho certo para proporcionar uma experiência multiplayer AAA com uma visão de construir um mundo sistêmico e em evolução focado na liberdade, emoção e diversão que manterá os jogadores entretidos e envolvidos durante anos”, disse Haven em comunicado.

A Haven Studios conta com 60 funcionários e, além de trabalhar em sua próprias Propriedades Intelectuais (IPs), vai colaborar com outras empresas que pertencem à PlayStation, como a Guerrilha, Naughty Dogs e Insomniac.

Com a aquisição, a PlayStation pretende investir no mercado de jogos de serviço, que utilizam a monetização a longo prazo, com atualizações, assinaturas e outras formas de compra dentro do jogo.

“Tivemos o privilégio de trabalhar de perto com a Haven no ano passado e ficamos impressionados com o crescimento e o progresso do estúdio. Por isso, praticamente no aniversário de quando oficializamos a nossa parceria, é ainda mais emocionante recebê-los formalmente na família PlayStation. Não podemos esperar para ver o que o futuro reserva para o Haven Studios”, declarou a PlayStation em nota.

 

 https://www.istoedinheiro.com.br/playstation-compra-haven-studios-para-ampliar-foco-em-jogos-de-servicos/

 

Plataforma de gestão de gastos corporativos Jeeves estreia no Brasil, capta US$180 mi

Jeeves (YC S20) consigue una Serie B de $57 millones de CRV en una  valoración de $500 millones para impulsar su lanzamiento Reino Unido,  Europa y Colombia

 

Por Aluisio Alves

 

 

SÃO PAULO (Reuters) – A plataforma de gerenciamento de despesas multimoedas para startups Jeeves anunciou nesta terça-feira que recebeu um aporte de 180 milhões de dólares e também a sua estreia no Brasil.

Oriunda da Y Combinator, famosa aceleradora de startups do Vale do Silício, nos Estados Unidos, a Jeeves surgiu em 2019 como uma plataforma de cartões para ajudar empresas de alto crescimento com pagamentos em várias moedas de forma unificada.

Posteriormente desenvolveu estruturas financeiras locais para ajudar clientes a gerirem despesas de forma mais abrangente inclusive com pagamento de salários e de fornecedores, também oferecendo linha de crédito em moeda local e meios de pagamento independentemente do país e da moeda.

Atualmente, a Jeeves conta com 150 funcionários distribuídos em 10 países, de onde atende cerca de três mil empresas em todo o mundo, incluindo a bolsa de criptomoedas Bitso e a plataforma online de compra e venda de veículos Kavak. Agora, terá uma base também no Brasil.

“Sabemos que o Brasil fornece boas oportunidades e esperamos expandir nosso negócio em uma boa escalabilidade para o mercado brasileiro”, disse Fernando Torres, diretor das operações da Jeeves no Brasil.

“Temos clientes em fase de negociação que no momento não podemos divulgar, mas, estimamos que a base chegue rapidamente na casa dos milhares dentro de um ano”, acrescentou. Ele não informou que percentual da nova captação será destinado ao Brasil.

A rodada de recursos foi liderada pela Tencent e incluiu também o fundo soberano de Cingapura GIC, a Universidade de Stanford, os fundos de capital de risco Andreessen Horowitz, CRV, Silicon Valley Bank, FT Partners, Clocktower Ventures, Urban Innovation, Haven Ventures, Gaingels, Spike Ventures, além de fundadores de big techs como Meta, Apple, Amazon, Netflix e Google.

A Jeeves vem recebendo uma sucessão de aportes de investidores desde o começo do ano passado. Com este último, que avalia o negócio em 2,1 bilhões de dólares, computa captações de 380 milhões de dólares nos últimos 12 meses. A empresa afirmou em comunicado que deve usar o novo aporte para ampliar sua expansão internacional.

 

 https://www.istoedinheiro.com.br/plataforma-de-gestao-de/

 

Evergrande promete anúncio de plano de reestruturação até final de julho


Evergrande promete anúncio de plano de reestruturação até final de julho

Edifícios da China Evergrand na ilha artificial Ocean Flower em Danzhou

Por Clare Jim e Jason Xue e Shuyan Wang

 

 

HONG KONG/XANGAI/PEQUIM (Reuters) – A Evergrande apresentará uma proposta de reestruturação de dívida para os credores até o final de julho, disse a empresa chinesa nesta terça-feira, depois que as preocupações com a saúde financeira do grupo foram renovadas por um atraso na publicação dos resultados anuais.

A Evergrande, cuja dívida com credores internacionais de 22,7 bilhões de dólares é considerada inadimplente, está buscando “melhorar ainda mais as comunicações” com os credores para atingir a meta do final de julho, disse o diretor executivo da companhia, Siu Shawn, a investidores em uma teleconferência.

Mais cedo nesta terça-feira, a Evergrande anunciou que não cumpriria o prazo de 31 de março para apresentar seus resultados financeiros de 2021, porque o trabalho de auditoria não havia sido concluído.

A incorporadora imobiliária mais endividada do mundo afirmou aos investidores em janeiro que pretendia ter uma proposta preliminar de reestruturação em seis meses.

Uma onda de inadimplência no setor imobiliário da China abalou os investidores e, embora a intervenção estatal tenha reduzido as preocupações do mercado sobre um colapso desordenado da Evergrande, os credores ainda não sabem se vão recuperar seu dinheiro.

A Evergrande, que já foi a incorporadora líder de vendas da China, e que agora tem mais de 300 bilhões de dólares em passivos, deixou de realizar alguns pagamentos de títulos no exterior em dezembro e tem enfrentado dificuldades para quitar compromissos com fornecedores e credores, além de concluir projetos.

A incorporadora criou um comitê de gerenciamento de risco em dezembro composto principalmente por membros de empresas estatais, já que o governo da província de Guangdong está liderando a reestruturação.


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quarta-feira, 16 de março de 2022

Superintendência do Cade aprova joint venture entre Telefônica Brasil e Ânima

Sede da Vivo, marca detida pela Telefônica Brasil, em São Paulo (SP)


A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica aprovou, sem restrições, joint venture na área de educação a ser constituída entre Telefônica Brasil e Ânima Holding. A nova empresa atuará no desenvolvimento de negócio voltado à exploração comercial de cursos digitais livres e de curta duração para capacitação profissional.

A decisão está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira, 16.

Para a Superintendência do Cade, a formação da joint venture não gera implicações danosas ao ambiente concorrencial, principalmente porque a atuação será na exploração de um novo negócio pelas empresas.

Se o Tribunal do Cade não avocar o ato de concentração para análise ou não houver interposição de recurso de terceiro interessado, no prazo de 15 dias, a decisão da Superintendência terá caráter terminativo e a operação estará aprovada em definitivo pelo órgão antitruste.

Em fevereiro, quando anunciaram a conclusão da parceria, as empresas explicaram que ao final da operação a Telefônica ficará com 50% do capital social da joint venture e a Ânima deterá os 50% remanescentes. A relação entre ambas será regulada por Acordo de Acionista, a ser celebrado no momento do fechamento da transação.

A nova sociedade tem por objetivo operacionalizar uma plataforma digital de cursos livres de capacitação, com foco em educação continuada e empregabilidade em áreas como tecnologia, gestão, negócios e turismo.

 

 https://www.istoedinheiro.com.br/superintendencia-do-cade-aprova-joint-venture-entre-telefonica-brasil-e-anima-2/

 

 

Dos EUA ao Brasil, por que risco de estagflação voltou ao debate no mundo


A economia global pode estar distante da estagflação dos anos 1970. Mas da pandemia ao petróleo, a guerra na Ucrânia surge em um momento dos mais delicados

 

Por Carolina Riveira

 

 

 

Mais um dia, mais uma revisão de inflação para cima.

Essa tem sido a rotina em 2022. A situação inflacionária no mundo já vinha instável com variantes da covid-19 e gargalos na cadeia de suprimentos. Mas a guerra na Ucrânia faz ressurgir com força o debate sobre a chamada “estagflação” — termo que descreve um cenário de inflação alta e sem crescimento.

 

O risco é unir o pior dos dois mundos. Primeiro, as altas históricas no preço do petróleo e outras commodities chegam a uma economia global que enfrentava mesmo antes da guerra inflação anormalmente alta. Isso ocorre nos países desenvolvidos e de forma ainda mais acentuada nos emergentes (caso do Brasil, que fechou 2021 com inflação em 10,06%, a terceira maior desde a criação do Plano Real).

E do outro lado, choques de oferta em setores como o de energia podem frear a retomada que apenas começava a acontecer, após uma pandemia que matou 6 milhões de pessoas. Enquanto isso, as altas de juros esperadas para conter a inflação devem inevitavelmente desacelerar a atividade econômica.

“A guerra entrou para complicar um contexto que já tinha muita incerteza e riscos, no Brasil e no mundo”, diz a economista Margarida Gutierrez, professora do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ).

Juros nas alturas

O debate já acontecia, aqui e ali, há alguns meses. Mas a resposta na ponta da língua, como a EXAME mostrou em outubro passado, era mais previsível: com economias avançadas tendo juros muito baixos, bastaria subir um pouco as taxas e a inflação ficaria controlada sem choques muito profundos.

Assim, altas nos juros já eram esperadas para 2022 nas economias desenvolvidas. E no Brasil, onde o Banco Central havia levado a Selic de 2% a mais de 10% em um ano, o plano era começar a encerrar o ciclo de aumentos, ao mesmo tempo em que esperava-se que a inflação cairia pela metade, de 10% para a casa dos 5%.

Até que uma guerra surgiu no meio do caminho.

A grande dúvida agora — que o jornal britânico Financial Times chamou de um “desagradável dilema” — é se os bancos centrais terão de subir juros de forma muito mais acentuada do que o previsto. O conflito na Ucrânia já passa de 20 dias, sem um cessar-fogo duradouro à vista.

BC

Banco Central: ciclo de altas juros no mundo é esperado com a guerra na Ucrânia (Adriano Machado/Reuters)

Uma das primeiras respostas virá ainda nesta quarta-feira, 16, quando o Fed, o Banco Central americano, deve aumentar a taxa há anos zerada entre zero e 0,25%.

Analistas esperam outros seis ou sete aumentos, chegando à casa dos 2,5% e até 3% em 2023 nas projeções.

A inflação americana em janeiro e fevereiro superou 8%, a maior em quarenta anos — que não se via desde o fim, inclusive, da chamada “Grande Inflação” nos anos 1970, um período clássico de estagflação.

Em março, os números devem piorar ainda mais, com a gasolina batendo recordes, quase a US$ 5 o galão.

As cenas de filas nos postos americanos vistas nos últimos dias são quase nostálgicas da estagflação dos anos 1970. O mesmo aconteceu no Brasil, após a Petrobras anunciar aumento de 19% na gasolina e 25% no diesel, depois de 57 dias tentando segurar as altas.

O uso da definição de estagflação, no entanto, é polêmico entre economistas para descrever os riscos do cenário atual. “Não avalio que o termo é apropriado neste momento, nem aqui nem no mundo”, diz Alexandre de Ázara, do banco suíço UBS. 

O economista aponta que a projeção de crescimento do PIB brasileiro, por exemplo, tem sido revisada para cima, perto de 0,5%, o que não indica um cenário de recessão à vista.

“O que temos é um choque inflacionário, ponto. Houve um grande choque global de alimentos e energia, e com essa nova alta de commodities, temos mais um choque inflacionário em cima do anterior. Nossa visão é que isso vai exigir uma resposta de política monetária”, diz.

Para o Brasil, Azará defende altas mais bruscas do Copom na Selic neste momento, como dois aumentos de 1,5 ponto nas próximas duas reuniões (em vez de três aumentos de um ponto, uma opção mais amena).

É o petróleo, estúpido

Como hoje, a gota d’água na estagflação dos anos 1970 foi o petróleo, com as guerras no Oriente Médio e o posterior embargo dos países produtores da região contra os EUA por seu apoio a Israel. Com os choques, deu-se uma crise de oferta global e o preço do barril disparou.

Fila para abastecer em Maryland, em 1974: período da "Grande Inflação" nos EUA (Universal History Archive/Universal Images Group/Getty Images)

Desta vez, o risco é novamente uma disrupção nas cadeias de energia, uma vez que a Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo e líquidos do mundo. O país foi proibido de vender petróleo e gás aos EUA, por exemplo, e outras sanções também vêm impedindo investimentos em energia russa.

A situação na Europa é especialmente delicada porque a Rússia fornece 40% do gás da União Europeia, mais de um terço do petróleo e metade do carvão. Além de aumentar o custo de vida da população, os preços altos impactarão a indústria de forma ampla, um sinal vermelho para o crescimento. Enquanto isso, a inflação na zona do euro supera os 5% e deve passar de 6% ou mais com a guerra.

Mas há uma série de argumentos que analistas têm usado para apostar que o risco atual não deve chegar ao ápice da estagflação clássica. Um dos principais é que bancos centrais teriam aprendido a lição e vão subir juros e praticar política monetária mais contracionista antes de a inflação sair do controle, ou o fato de a economia ser hoje menos dependente de petróleo de uma só região.

Brasil e EUA, por exemplo, não estavam entre os maiores produtores nos anos 1970, mas viram suas produções alavancarem nas últimas décadas, com o pré-sal brasileiro e o gás de xisto americano.

Essa diferença, diz Gutierrez, da UFRJ, é crucial para que o risco de estagflação hoje seja menor, assim como os juros baixos pelo mundo. “Hoje, nos EUA, por exemplo, há mais 'gordura para queimar' e espaço para subir juros. Há riscos, mas não se compara ainda ao que foi nos anos 1970”, diz a economista.

Nixon: medidas econômicas criticadas levaram ao descontrole de preços (Don Carl STEFFEN/Gamma-Rapho/Getty Images)

Outro dos fatores que desencadearam a crise foram amplos custos dos governos americanos com a guerra no Vietnã e — dos necessários aos eleitoreiros — gastos sociais nos governos Johnson e Nixon. Nixon terminaria controlando preços, desvalorizando o dólar e forçando o Fed a abaixar juros antes de a crise estourar, o que se provou um erro.

Esses gastos têm sido, no limite, comparados com os da pandemia na lista de riscos. Mas nos EUA, os juros chegaram a beirar os 20% nos anos 1970, e mesmo assim, com inflação acima de 10%, cenário por ora inimaginável hoje.

O desafio em dobro no Brasil

No Brasil, a estagflação dos anos 1970 trouxe ainda seu caos particular, com os problemas estruturais do “milagre econômico” na ditadura militar aparecendo de vez, como o alto endividamento em dólar. Naquela época, a inflação chegava a 20%, mas iria para perto dos 100% até o final da década mesmo com juros altos (levando à subsequente década perdida dos anos 1980).

Agora, o país tem reservas em dólar e uma economia e dívida mais estabilizadas. Um dos desafios, porém, é que os choques globais chegam em momento especialmente delicado, lembra André Biancarelli, diretor do Instituto de Economia da Unicamp.

“Temos uma economia que há cinco, seis anos, está carente de motores de crescimento, a recuperação tem sido muito anêmica, esse é um problema que permanece. E com a guerra, adicionam-se a isso muitas camadas de incerteza”, diz Biancarelli, que aponta que o mundo tem visto um “nível de inflação latino-americana, mas em economias desenvolvidas".

Reforma Trabalhista - Nova lei trabalhista - CLT

Emprego: massa de rendimento da população brasileira caiu desde o fim do Auxílio Emergencial, mesmo com quedas no desemprego (Jorge Rosenberg/Reuters)

Para o cenário de inflação do Brasil, o desemprego tem caído, mas não se compara aos cenários folclóricos de EUA e Europa, com funcionários pedindo demissão ou barganhando aumentos em meio ao grande número de vagas abertas.

Por aqui, a massa de rendimento medida pelo IBGE inclusive diminuiu, o que indica que muitos brasileiros têm aceitado empregos informais ou com salário inferior, tornando a inflação especialmente trágica. Na última vez que houve inflação acima de 10%, em 2015, o desemprego era também menor.

A inflação que se viu em 2021 foi sobretudo de oferta, o que é preocupação para 2022 e 2023 se houver altas em demanda. Para Ázara, do UBS, é importante que o BC não “deixe as expectativas deteriorarem”.

Como sempre é um risco para economias emergentes, um aumento brusco nos juros nos EUA e Europa também levaria a uma desvalorização do real, com mais inflação. A alta das commodities, entre outros fatores, levou ao “rali” do real nas últimas semanas, mas a situação pode mudar em um piscar de olhos, somada também a riscos fiscais e incerteza eleitoral no Brasil em 2022.

Posto Shell em São Paulo/SP

Posto de gasolina: aumento global dos preços pressiona custo de vida dos brasileiros (André Lessa/Exame)

Após a Petrobras aumentar os preços dos combustíveis, o boletim Focus desta semana já trouxe a projeção de inflação para 2022 em quase um ponto percentual maior, a 6,45% (após ter começado o ano em 5%).

“Para o Brasil, não vejo que as commodities, sozinhas, podem dar conta”, diz Biancarelli, da Unicamp.

“Ainda que o Brasil não seja diretamente afetado pela guerra — com exceção dos fertilizantes —, minha visão é que o saldo em 2022 até agora é muito mais negativo do que positivo.”

Por outro lado, chegar verdadeiramente a uma "estagflação" significaria que o Brasil e o mundo, no pior dos cenários, poderiam ver retração no crescimento e aumento do desemprego ao mesmo tempo em que os preços sobem descontroladamente. Isso ainda não é um fato.

O Fundo Monetário Internacional foi categórico neste mês ao afirmar que a Rússia, sim, pode estar a dias de um calote na dívida, mas que isso não deve levar a uma crise financeira global. A aposta por ora é que o mundo em 2022 é muito diferente do que era em 1970, e que haverá desaceleração, embora não um completo descontrole como há 40 anos.

As incertezas, ainda assim, estão longe de acabar. E os reflexos para os cidadãos em todo o mundo, principalmente os mais pobres, seguirão sendo uma infeliz realidade que governos terão de trabalhar para amenizar.

 

 https://exame.com/economia/estagflacao-crise-guerra-ucrania/