A expectativa do mercado financeiro e de especialistas da área
econômica segue o 'combinado' previsto da última ata da Copom (Crédito:
Freepik)
Terminou
nesta terça-feira, 19, a primeira parte da reunião do Comitê de
Política Monetária do Banco Central (Copom). A expectativa do mercado
financeiro e de especialistas da área econômica segue o ‘combinado’
previsto da última ata da Copom, apostando na queda de 0,50 pontos
percentuais na Selic. Hoje, a , a taxa básica de juros brasileira está
em 13,25%.
+ Termina a primeira parte da sessão de análise de conjuntura do Copom
“O
ciclo de queda continua com 0,50 pontos percentuais por alguns motivos.
Um deles é a diminuição da pressão política, e o outro que reforça
também é a perspectiva do Boletim Focus de Selic já no final de 2023
estar em 11,75% perante os 12% que tínhamos um tempo atrás”, afirma
Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT
Capital.
André
Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), avalia a situação inflacionária, que é um dos parâmetros
principais de influência na decisão dos diretores do Comitê. Conforme o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,23% em agosto,
0,11 ponto percentual acima da taxa de 0,12% registrada em julho.
“Os
dados mais recentes de inflação mostram alguma pressão ali na área de
habitação e de energia, particularmente energia elétrica, mas são todas
elevações pontuais. Há indicações de que a inflação de serviços vem
cedendo mais rapidamente do que o previsto”, reforça o economista.
Também
na esfera da inflação, Richetti chama atenção para o aumento de preço
dos combustíveis – inclusive destaque na última projeção do FGV/IBRE,
que projeta que o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC) deve
encerrar o mês de setembro com alta de 0,30% puxado por este grupo.
“Como
o Brasil é um país rodoviário, o aumento nesse custo é repassado para a
população como um todo e isso faz com que a inflação suba. Mas, perto
dos números que foram apresentados nas últimas duas semanas, eu ainda
acredito que esses 0,50% serão dados pelo Banco Central em virtude dos
dados e também por conta da questão de uma resposta política, de uma boa
comunicação entre Planejamento e Fazenda, o que dá um sinal de certa
forma positivo para o Legislativo e o Senado continuarem a fazer as
devidas aprovações que são necessárias com o Banco Central fazendo a sua
parte”, avalia o sócio da GT Capital.
PIB
Outro
motivo apontado por Roncaglia é o crescimento econômico. “[A
expectativa de alta] do PIB brasileiro para o ano que vem já vem
desacelerando bastante com relação a esse 2023. Então, como o Banco
Central está olhando para 2024 e ali as expectativas de inflação medidas
pelo Boletim Focus se encontram na casa de 3,4% não há em si muitos
motivos para que o processo de ajustamento monetário seja intensificado
do ponto de vista da contração”, argumenta.
Ele acrescenta que a
redução prevista da taxa de câmbio que já vem ocorrendo ao longo do
tempo, combinado com os efeitos defasados do aperto monetário que
ocorreu até o início da queda em agosto passado.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou alta de 0,90% no segundo trimestre de 2023
ante o primeiro trimestre, informou o IBGE. Na comparação com o segundo
trimestre de 2022, o PIB apresentou alta de 3,40%, resultado que também
superou a mediana das previsões do mercado, que apontava avanço de 2,7%
“Tivemos
uma expectativa de uma economia mais forte, dados do PIB do segundo
trimestre mostrando que a demanda, principalmente o consumo, continua
mais aquecidos do que era esperado. Isso tem impacto inflacionário,
então coloca em dúvida sobre a necessidade de manutenção de juros”,
reforça Reginaldo Nogueira, PhD em Economia e diretor sênior do Ibmec.
Porém,
é preciso considerar que o crescimento das dúvidas fiscais pode não ser
um bom indicativo. “O déficit fiscal do governo vem crescendo. Existe
aí muita insegurança a respeito do que será o orçamento do próximo ano, a
dúvida inclusive se o próprio arcabouço fiscal recém aprovado será
cumprido ou não na busca de um déficit primário zero para 2024”, alerta
Nogueira.
Para 95% do mercado financeiro, o governo não conseguirá zerar o déficit primário em 2024. O dado é da pesquisa Genial/Quaest
divulgada nesta terça-feira, 19. Apenas 5% dos profissionais de fundos
de investimentos ouvidos esperam cumprimento da meta fiscal no próximo
ano.
“É
mais provável que o grande debate agora comece a se centrar sobre a
taxa de juros no próximo ano, principalmente a taxa de juros terminal,
se ela terminará próximo de 9% ou acima. Provavelmente haverá pressão,
inclusive política, na imprensa e tudo mais, para que ela seja inferior a
isso, e isso obviamente vai depender de todos os cenários e dados
inflacionários e dados econômicos que vão ser colhidos nos próximos
meses. Mas com relação a essa semana, o mais provável é que não haja
surpresa”, finaliza o professor do Ibmec.
https://istoedinheiro.com.br/o-que-pode-pesar-na-decisao-do-copom-para-baixar-a-selic/