segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

População de rua no Brasil cresceu 10 vezes na última década e passa dos 227 mil, diz Ipea


População de rua no Brasil cresceu 10 vezes na última década e passa dos 227 mil, diz Ipea

Vale ressaltar que o Ipea considera dimensões estruturais do problema: no caso, a exclusão econômica, dimensão que envolve o desemprego, a perda de moradia e a distância do local do trabalho, é citada por 54% das pessoas (Crédito: Rovena Rosa / Agência Brasil)

 

A população de rua no Brasil aumentou cerca de 10,3 vezes em uma década: é o que mostram dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgados nesta segunda-feira, 11. O desemprego é um dos motivos da falta de casa, com 40,5% das respostas dos entrevistados, mas são as brigas familiares (47,3%) que lideram as estatísticas.

Em 2013, os dados da base do Cadastro Único (CadÚnico) indicavam 21.934 indivíduos vivendo na rua; em 2023, o número chega a 227.087 no total. A pesquisa destaca a complexidade do problema, que entre diversas dimensões, dificulta inclusive um levantamento fidedigno dos números totais de pessoas nessa circunstância.

No levantamento, o instituto considerou motivos individuais para quem se declara na situação. Além dos citados acima, aparecem também alcoolismo e outras drogas (30,4%), perda de moradia (26,1%), ameaça e violência (4,8%), distância do local de trabalho (4,2%), tratamento de saúde (3,1%), preferência ou opção própria (2,9%) e outros motivos (11,2%).

Mas vale ressaltar que o Ipea considera dimensões estruturais do problema: no caso, a exclusão econômica, dimensão que envolve o desemprego, a perda de moradia e a distância do local do trabalho, é citada por 54% das pessoas.

Na questão racial, a grande maioria da população em situação de rua se declara negra. Ele são 68% do total, sendo 51% pardos e 18% pretos. Entre a população brasileira como um todo os negros somam 55,9% do total, sendo 45% pardos e 11% pretos (IBGE, 2023a). Os brancos somam 31%, enquanto na população brasileira eles são 43%. O CadÚnico aponta ainda que 0,5% da PSR se declara amarela e 0,2% indígena.“A perda de moradia, o desemprego e as ameaças são motivos um pouco mais frequentes para situação de rua entre os negros do que entre os brancos. Questões familiares e distância do local de trabalho não apresentam diferenças significativas. O uso abusivo de álcool e outras drogas, por sua vez, é uma razão menos frequente entre os negros (27%) do que entre os brancos (31%)”, explica Marco Antônio Carvalho Natalino, autor da pesquisa.

 

 https://istoedinheiro.com.br/populacao-de-rua-no-brasil-cresceu-10-vezes-na-ultima-decada-e-passa-dos-227-mil-diz-ipea/

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Haddad diz esperar crescimentos de mais de 3% em 2023 e na faixa de 2,5% em 2024

Haddad promete medidas para compensar veto a desoneração da ...



O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira, 5, em Berlim, na Alemanha, que o Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu positivamente, ao crescer 0,1% no terceiro trimestre, enquanto o mercado financeiro esperava contração da atividade. Ele ponderou, contudo, que apesar do “PIB positivo”, o resultado foi “fraco”.

“Quero alertar para o seguinte: a taxa de juros real atingiu o patamar mais alto em junho. Foi o pior momento da safra de juros em termos reais e o Banco Central só começou a cortar os juros em agosto. Portanto, tivemos PIB positivo, mas fraco”, afirmou Haddad.

E complementou: “Mas com corte na taxa Selic, esperamos fechar este ano com crescimento do PIB de mais de 3% e uma expansão na faixa de 2,5% em 2024. Mas o BC precisa fazer o trabalho dele.”


Líderes do Mercosul se reúnem no Rio com acordo com UE em xeque


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala na sessão para chefes de Estado e de governo da cúpula do clima COP28, em Dubai, em 1º de dezembro de 2023 - AFP

 

 

Os líderes dos países do Mercosul se reunirão na quinta-feira (5) no Rio de Janeiro, em meio a fortes resistências para finalizar o acordo comercial com a União Europeia (UE), apesar do objetivo inicial de ambas as regiões de fechá-lo este ano.

O Brasil, presidente pro tempore do bloco sul-americano formado por Argentina, Paraguai e Uruguai, esperava fechar ainda na cúpula do Rio este acordo de livre comércio, negociado há mais de duas décadas e que criaria a maior zona de livre comércio do planeta.

Ambas as partes intensificaram as negociações nas últimas semanas, com “progressos significativos”, concordaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, quando se reuniram na última sexta-feira à margem da COP28, em Dubai.

Mas nos últimos dias as negociações não pareciam progredir: a França mostrou o seu desacordo com o texto e a Argentina afirmou que “não há condições” para a conclusão do tratado.

– Macron: um acordo “mal remendado” –

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou no sábado em Dubai que o acordo está “mal remendado”, “desmantela tarifas” como se fazia antes e não “leva em conta a biodiversidade e o clima”.

Da mesma forma, o atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, que participará de sua última cúpula do Mercosul, considerou que não há “condições” para aprovar o texto na sua versão atual e apontou “a resistência” da Europa ao tratado, especialmente da França.

Uma nova rodada de negociações planejada no Rio, às vésperas da cúpula, passou para o formato virtual, disse à AFP uma fonte do Itamaraty.

“Devido à transição em curso na Argentina, a tendência” é deixar as decisões pendentes para o próximo governo do ultraliberal Javier Milei, que assume o poder em 10 de dezembro, argumentou o informante.

Em uma visita recente a Brasília, a futura chanceler argentina, Diana Mondino, destacou a “importância de assinar o acordo com a UE o mais rápido possível”.

– Lula: “Não vou desistir” –

Mas Lula não desistirá de seus esforços para fechar o tratado no Rio. Na segunda-feira, garantiu em Berlim, junto com o chanceler alemão, Olaf Scholz, que não desistirá “enquanto não conversar com todos os presidentes e ouvir o ‘não’ de todos”.

“A França sempre foi o país mais duro para fazer acordo, porque a França é mais protecionista. Não é a mesma posição da União Europeia, que pensa outra coisa”, disse Lula no fim de semana.

Scholz, à frente da maior economia europeia, apelou ao pragmatismo para “chegar a um compromisso”.

A UE e o Mercosul estabeleceram as linhas gerais de um pacto de livre comércio em 2019, após anos de negociações para alinhar interesses e convencer setores relutantes, como os agricultores franceses.

Mas as divergências ressurgiram e os europeus acrescentaram uma seção de exigências ambientais ao bloco sul-americano, especialmente para o Brasil, que abriga a maior parte da Amazônia, fundamental para o combate à mudança climática.

O Mercosul, que em conjunto representa a quinta maior economia do mundo, rejeitou o “protecionismo verde” da Europa e respondeu com suas próprias exigências, como a criação de um fundo ambiental para apoiar os países em desenvolvimento.

– Ultimato do Paraguai –

Se um acordo não for alcançado este ano, as comportas para sua conclusão poderão se fechar em janeiro, quando o Paraguai assumir o mandato do bloco sul-americano. Seu presidente, Santiago Peña, disse que após o prazo se concentrará em outras regiões.

“O acordo está morto, mas ninguém se atreve a declará-lo morto e enterrá-lo”, disse à AFP o pesquisador da London School of Economics, Bruno Binetti.

O bloco sul-americano, ao qual a Bolívia somou-se como membro pleno, tentará pelo menos mostrar suas conquistas.

Durante a cúpula, precedida na quarta-feira por reuniões de ministros das Relações Exteriores e das Finanças, deve ser assinado um acordo comercial com Singapura, o primeiro do Mercosul em 12 anos, e o primeiro com um país asiático.

Ao mesmo tempo, surgem dúvidas sobre o futuro funcionamento do grupo fundado em 1991, especialmente a dinâmica entre os líderes das duas principais economias da sub-região: Lula e o argentino Milei, que chamou o brasileiro de “comunista” e “corrupto” durante sua campanha.

Milei também é muito crítico do atual Mercosul.

Por outro lado, o Uruguai inicia negociações comerciais com a China, contrariando um compromisso de longa data dos Estados-membros do Mercosul de negociar em conjunto com países terceiros.

O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, disse que proporá na cúpula uma reunião do Mercosul com Pequim.

 

PF faz operações para reprimir contrabando bilionário de grãos, informa Agricultura

Milho e soja, por que eles vendem no mundo todo? - Gran Milho


A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira, 5, as operações Dangerous e Paschoal, para desarticular organização criminosa responsável por esquema bilionário de contrabando de grãos, especialmente soja e milho, e agrotóxicos trazidos da Argentina para o Brasil por meio de portos clandestinos localizados às margens do Rio Uruguai. Em nota, o Ministério da Agricultura disse que a ação mobiliza 200 policiais federais para o cumprimento de 59 mandados de busca e apreensão e 16 mandados de prisão nas cidades de Palmeira das Missões , Rodeio Bonito, Cerro Grande, Três Passos, Tiradentes do Sul, Horizontina, Crissiumal, Santo Ângelo, Condor, Tuparendi, Santana do Livramento, todas no Rio Grande do Su, além de Itapema (SC), Itaí (SP), Palmas (TO) e São Luís (MA).

“O volume de mercadorias internalizadas, aliada aos valores empregados para evasão de divisas e lavagem de capitais permitiram à organização criminosa movimentar cifra superior a R$ 3,5 bilhões nos últimos cinco anos”, disse a pasta.

Durante o período de investigação, foram apreendidas 171 toneladas de soja, farelo de soja e milho, presas 11 pessoas em flagrante e apreendidos caminhões, automóveis, vinhos e agrotóxicos.

Sobre a operação deflagrada, a Agricultura disse que também são executadas medidas de bloqueio de contas bancárias vinculadas a pessoas físicas e jurídicas, num total de aproximadamente R$ 58 milhões e sequestro e arresto de automóveis e imóveis de luxo e de uma aeronave com valor estimado em R$ 3,6 milhões.

Ainda segundo a pasta, as investigações começaram em 2022 e apuraram que a organização criminosa é formada por três núcleos que atuam de forma coordenada entre os detentores dos portos clandestinos, os beneficiários e revendedores das mercadorias contrabandeadas e os operadores financeiros. “Através de doleiros, o grupo realizava diversas operações cambiais à margem do sistema legal para promoção de evasão de divisas com a finalidade de pagar fornecedores da mercadoria no exterior, sendo que duas das empresas utilizadas com esse propósito adquiriram criptoativos na ordem de R$ 1,2 bilhão.”

PIB do 3º trimestre surpreende e sobe 0,1% ante 2º trimestre, revela IBGE


PIB do 3º trimestre surpreende e sobe 0,1% ante 2º trimestre, revela IBGE

Ainda segundo o instituto, o PIB do terceiro trimestre de 2023 totalizou R$ 2,7 trilhões. (Crédito: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)

 

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou alta de 0,1% no terceiro trimestre de 2023 ante o segundo trimestre de 2023, informou nesta terça-feira, 5, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio mais forte do que a mediana das previsões de analistas consultados pelo Projeções Broadcast. Ela apontava queda de 0,2%, com o intervalo das estimativas indo desde uma queda de 0,6% a uma alta de 0,9%.

 Na comparação com o terceiro trimestre de 2022, o PIB apresentou alta de 2,0% no terceiro trimestre de 2023, também superando a mediana das previsões, de alta de 1,8%, com intervalo de projeções que ia de elevação de 0,8% a 2,8%.

Ainda segundo o instituto, o PIB do terceiro trimestre de 2023 totalizou R$ 2,7 trilhões.

 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Safra entra na Justiça com petição contra plano de recuperação judicial da Americanas

Americanas S.A. – brand center americanas

O Banco Safra, que não assinou o acordo firmado entre Americanas e banco credores em novembro, partiu novamente ao ataque e questiona a legalidade do plano de recuperação judicial (PRJ) da rede de varejo. Em petição de 44 páginas nesta segunda-feira, 4, na Justiça, obtida pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), pede a anulação do plano e fala que o acordo com credores tem cinco tentativas de fraude.

O PRJ “encobre ilícitos civis, contábeis e criminais”, destaca a petição dos advogados do Safra, que tem R$ 2,5 bilhões a receber do grupo varejista. Para os advogados, o objetivo claro da Americanas, ao fazer uma “corrida” e tentar aprovar “à fórceps” o plano no “encerrar das luzes de 2023” se dá por conta da busca de benefícios tributários exclusivos, para a própria rede de varejo e “instituições financeiras coniventes com a fraude”. A assembleia de credores está marcada para o dia 19 deste mês.

Na petição, os advogados do Safra questionam “graves ilegalidades” e argumentam que elas podem anular todo o PRJ da Americanas. Neste ponto, mencionam cinco tentativa de fraudes encobertas no acordo firmado entre os credores – Bradesco, Santander, BTG Pactual e Itaú Unibanco.

Uma das tentativas de fraude é o compromisso que os bancos firmaram no acordo de não litigar contra a Americanas e os acionistas de referência – Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Os advogados do Safra argumentam que os credores precisaram renunciar aos seus direitos constitucionais para fazerem jus à opção de pagamento, o que, além de ser uma “coação”, é ilegal, pois é garantido pela Constituição o direito à ação na Justiça. “Nada mais absurdo”, conclui o texto.

Os advogados do Safra questionam como é possível renunciar ao direito de litigar sem o devido acesso à informação sobre o que aconteceu com a Americanas, como as informações que estão sendo apuradas pelo Comitê Independente, criado para apurar a fraude, e investigações pendentes.

“Lemann, Telles e Sicupira, como se estivessem acima da lei, tentam impedir que os credores continuem as investigações para tentar apurar as verdadeiras causas da fraude”, argumenta o banco.

Uma outra tentativa de fraude, segundo o Safra, é o tratamento diferenciado entre os credores de uma mesma classe. A petição argumenta que certos credores quirografários – no caso os bancos – para receberem o mesmo valor de recuperação que os demais credores quirografários – como gestoras de recursos – são obrigados a conceder novas fianças para a Americanas. Se não concederem, receberão menos que os demais credores quirografários, o que configura tratamento diferenciado.

Também como mais uma tentativa de fraude, o banco menciona que o PRJ reconhece que a data-base de apuração dos créditos é em 19 de janeiro, enquanto a lista de credores do administrador judicial considera a data-base de 12 daquele mês. Por isso, é necessária a apresentação desta última lista de credores para a data do dia 19.

 

‘Ainda esperamos fechar acordo Mercosul-UE’, afirma ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira


O Brasil ainda pretende direcionar esforços para um impulso decisivo para concluir o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), mesmo após o “não” expressado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, no último sábado (02/12). Em entrevista exclusiva à DW em Berlim, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que não considera que a oposição de Macron tenha sido um balde de água fria num momento em que as negociações pareciam caminhar para um desfecho decisivo.

Macron voltou a expressar oposição ao tratado, classificando o texto como “antiquado” e “incoerente” e afirmando que ele não “é bom para ninguém”, depois de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, às margens da COP28. Após as falas do líder francês, Lula disse que, se não houver acordo, não terá sido por falta de vontade do bloco sul-americano.

“Ainda estamos trabalhando com uma perspectiva [de fechar o acordo]. Vamos ver se é possível superar os últimos pontos ainda pendentes”, disse Vieira, que acompanha Lula em visita oficial. Na capital alemã, a viagem de Lula inclui a segunda edição das Consultas Intergovenamentais de Alto Nível, mecanismo de diálogo com o governo alemão que foi retomado após um hiato de oito anos.

Além de abordar o acordo entre Mercosul e UE, Vieira defendeu uma ampliação do Conselho de Segurança da ONU – também uma demanda da Alemanha – e afirmou que o Brasil espera uma solução pacífica na crise entre a Venezuela e a Guiana. Segundo o ministro, Brasília avalia que a questão está nas mãos da Corte Internacional de Justiça, em Haia, que na semana passada deu uma vitória à Guiana, determinado que a Venezuela não interfira no status territorial do país vizinho.

DW: No sábado, durante a COP28, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que é contra os atuais termos do acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia, isso num momento em que as negociações finais pareciam avançar. É um balde de água fria de Macron no acordo? 

Mauro Vieira: Não. Não foi. Inclusive porque já conhecíamos as posições francesas. Nós temos negociado com a Comissão Europeia, diretamente com a estrutura da presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Nossos negociadores têm feito muito progresso ultimamente. Nós esperamos que se possa concluir ainda um acordo a nível técnico, e fechar essas negociações agora um pouco antes da cúpula do Mercosul, nesta semana, no Rio de Janeiro.

As posições dos países do lado europeu são levadas pela Comissão e no nível político está o chefe de gabinete da presidente da Comissão, que é o interlocutor de nível político. Com ele nós temos falado, inclusive nesses dias em Dubai, durante a COP28, e ainda estamos trabalhando com uma perspectiva. Vamos ver se é possível superar os últimos pontos ainda pendentes. Eu acho que é um acordo de interesse, que será estratégico para não só para o Mercosul, mas também para a União Europeia, como já foi declarado mais de uma vez por vários comissários e pela própria presidente Ursula von der Leyen.

Se o “não” francês não é determinante, qual seria o impulso decisivo que ainda falta?

 O governo francês expressou sua posição. O presidente Macron tem evidentemente dificuldades internas, tem oposição ao acordo, mas nós estamos negociando, estamos ainda conversando com a direção mais alta da União Europeia. Havia questões complexas que já foram superadas, como as compras governamentais e agora faltam alguns detalhes, algo que é parte da negociação e que esperamos concluir até o dia da cúpula.

Em 2023, com a volta de Lula ao poder, a Alemanha e o Brasil fizeram diversos esforços de reaproximação após a turbulência dos anos Temer e Bolsonaro. Quais seriam os resultados concretos dessa reaproximação?

É mais do que reaproximação. A relação entre a Alemanha com o Brasil, e do Brasil com a Alemanha, ela é tradicional, é antiga. Em 2024, nós vamos celebrar os 200 anos do início da imigração alemã ao Brasil. Nós temos relações antigas, estáveis, férteis e profundas.

A Alemanha tem enormes investimentos na área industrial do Brasil. Houve uma retomada do diálogo a nível político, que infelizmente tinha sido paralisado pelo governo anterior, mas, como o presidente Lula declarou, ‘o Brasil voltou’. Imediatamente retomamos os contatos. O presidente Lula já se encontrou com o chanceler Scholz pelo menos três vezes, em Brasília, em Nova York, e às margens do G7, em Hiroshima. O diálogo é muito fluído, muito próximo. E o nível do diálogo inclusive é mais aberto, mais próximo e mais natural que se poderia ter.

Tanto a Alemanha quanto o Brasil pleiteiam uma reforma e vagas no Conselho de Segurança da ONU. Nos anos 2000, os dois países chegaram a propor uma resolução conjunta com Índia e Japão para pedir uma ampliação do organismo. Neste momento, como a Alemanha e o Brasil podem se apoiar para avançar essa demanda?

Nós criamos 20 anos atrás o G4, que une o Japão, a Índia, o Brasil e a Alemanha justamente para discutir e promover a reforma do Conselho de Segurança. São quatro países que têm a mesma posição: a reforma do Conselho nas duas categorias de membros, dos membros permanentes e dos membros não permanentes, e também uma reforma dos métodos de trabalho do Conselho. Não é uma tarefa simples.

O Conselho de Segurança é um órgão desigual. Há cinco membros permanentes com direito a veto e dez membros eleitos. O G4 está por enquanto neste grupo dos dez membros eleitos. O Brasil está neste momento terminando um mandato como membro eleito. Começou no ano passado e terminará esse mandato no dia 31 de dezembro.

Os países do G4 têm uma visão muito clara de que é preciso reformar o Conselho, fazê-lo mais representativo, inclusive com uma representação africana. Existe o projeto de que ele tenha pelo menos dois países africanos como membros permanentes, além de ampliar o número de membros eleitos. Junto com a África, a América Latina é outra região que não tem nenhuma representação. São dois continentes que estão ausentes da representação permanente.

E tanto a Alemanha quanto o Japão se unem nessa discussão apoiando esses princípios enunciados como comuns para a reforma. E continuamos lutando. Não é fácil. Qualquer reforma que mexa em privilégios estabelecidos – ainda mais desde 1945 – não é fácil. Mas nós temos esperança de que vamos avançar os quatro em conjunto bastante, e em breve. Basta ver a situação em que estamos com guerras em que há uma ausência de ação do Conselho de Segurança, que reflete esse desequilíbrio de representatividade.

A paralisia do Conselho de Segurança reforça então a necessidade de reforma?

Não tenho dúvida. Se o Conselho fosse mais democrático e representativo, outras vozes se uniriam ao debate e seria mais fácil encontrar uma solução.

Qual pode ser o papel do Brasil na atual crise entre Venezuela e Guiana? Como o Brasil enxerga os planos do regime venezuelano de reclamar uma fatia considerável do país vizinho e organizar um referendo popular sobre o tema?

O papel do Brasil é dar o exemplo de que nós sempre valorizamos e sempre adotamos um princípio que, inclusive, é constitucional, de solução pacífica de controvérsias. O Brasil teve nove questões de limites com nove dos seus dez vizinhos imediatos na América do Sul e todas foram resolvidas por negociação pacífica e pela arbitragem internacional. Portanto, esse é o melhor exemplo.

E já expressamos para ambos os lados essa nossa posição, o apoio e o estímulo que a questão seja resolvida pela negociação, pela solução pacífica. E, no momento, a questão está nas mãos da Corte Internacional de Justiça em Haia, que, inclusive se manifestou nos últimos dias, já preliminarmente e é o que nós esperamos que aconteça e que possa solucionar essa questão de fronteiras entre os dois países, ambos vizinhos imediatos do Brasil, com os quais mantemos excelentes e importantes relações.O Brasil assumiu a presidência do G20. Nesse papel de liderança, o que o Brasil pretende realizar? O que seria uma vitória do Brasil na presidência do G20?

Uma vitória no G20 é conseguir promover uma discussão profunda e de qualidade que mostre alguns resultados sobre os temas básicos que orientam a nossa presidência do G20, como o combate à desigualdade, combate à fome, a promoção do desenvolvimento sustentável e a questão climática.