Para 2024 é possível esperar, pelo menos nos primeiros meses, a
continuidade dessa política de redução das taxas gradualmente em 0,5%
(Crédito: AFP)
Os
bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos se reúnem pela última
vez em 2023 para definir suas respectivas taxas de juros na conhecida
Super-Quarta. Enquanto o norte americano vem de trajetória de aperto
monetário e manutenção do patamar, por aqui se registrou sucessão de
quedas nas taxas após cerca de 2 anos acima dos 13% pontos percentuais.
Segundo analistas, ambos países devem manter o curso e fechar 2023
conforme as expectativas, embora estejam fora das respectivas metas de
inflação.
A
boa notícia é que, passados momentos de tensão entre Roberto Campos
Neto, presidente do Banco Central, e do presidente Lula (PT), a taxa
Selic, atualmente em 12,25% a.a., termina o ano mais perto das
expectativas do mercado (último Focus registrou projeção de 11,75% a.a.).
O ciclo de queda começou em agosto, após sete reuniões consecutivas do
Comitê de Política Monetária mantendo os juros brasileiros em amargos
13,75%.
“A
queda da taxa Selic em 2023 é o início de um processo de ciclo de
baixa, esse ciclo se deu com ajustes feitos na inflação, confirmação de
determinadas expectativas que se tinha quanto a aprovação da reforma
tributária, do arcabouço fiscal e de medidas arrecadatórias tributárias.
Isso faz com que o comportamento geral macroeconômico levasse a esse
início de ciclo”, explica Gilberto Braga, economista e professor do
Ibmec Rio.
O
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro veio na mediana
esperada, com alta de 0,28%; no ano, a inflação medida pelo índice
acumula alta de 4,04% e, nos últimos 12 meses, de 4,68%, abaixo dos
4,82% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Na defesa de
Campos Neto, uma inflação em queda garantiria, entre outros elementos –
como regra fiscal, por exemplo – o ciclo de queda dos juros.
Para
2024 é possível esperar, pelo menos nos primeiros meses, a continuidade
dessa política de redução das taxas gradualmente em 0,5% pontos
percentuais a cada reunião do Copom, podendo baixar. Braga reforça o que
os economistas não são unânimes nesse caso, mas a taxa tende a ficar
entre 9,25% e 10%, com tendência para 10%.
“O
que pode falsear isso e o que faz com que os especialistas acreditem
que esse limite vai ficar mais perto de 10% ao ano é a possibilidade de
um ano com gastos, expansão da despesa pública por conta das eleições
municipais e próprias declarações do presidente da República no sentido
de que a meta fiscal não precisa ser cumprida e que é importante gastar e
fazer obras”, avalia o professor.
A véspera da Super-Quarta também trouxe o CPI dos EUA,
que mede a inflação do país: dessa vez, a alta foi de 0,1% em novembro
ante outubro; na comparação anual, houve alta de 3,1% em novembro. De
janeiro pra cá, o Federal Reserve Bank (FED) mantém a taxa entre 4,75% –
5,5%, e a expectativa é permanecer nesse patamar. O Goldman Sachs
projeta uma queda apenas para o terceiro trimestre do ano que vem.
“Acredito
que o número do CPI não impacte na decisão do FED, que deve ser sim de
manutenção dos juros nos patamares atuais. Apesar de um número dentro
das expectativas e estagnação da inflação, o FED provavelmente irá
comentar no comunicado que ainda não está próximo da meta de 2% e com
isso segurar os juros mais altos por enquanto”, avalia Marcelo Oliveira,
CFA e co-fundador da Quantzed. O FED anuncia a decisão por volta das
15h (horário de Brasília); o Copom publica a nota após as 18h.
Renda fixa ainda na mira dos investidores
Do
lado do mercado, o recuo dos juros em mais 0,5% no último Copom de 2023
não é surpresa, também é esperado. “Com isso, a renda fixa segue
atrativa na minha visão. Ainda mais em um cenário de juros altos nos
EUA, a renda fixa global tende a seguir atrativa há algum tempo. Sem
falar que qualquer taxa maior que 10% ao ano não é de se jogar fora”,
avalia Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Jorge
segue recomendando os ativos em renda fixa, os mais requisitados e
orientados de 2023. “Para o investidor pessoa física as incentivadas são
as melhores escolhas: LCI / LCA ou mesmo debêntures incentivadas. A
recomendação é escolher bem o emissor e não extrapolar o limite do Fundo
Garantidor de Crédito, porque são produtos isentos e de baixo risco.
Outro ponto é que eles geralmente pagam mais que outros investimentos
como os CDBs e títulos públicos, por isso vejo mais vantagens”, orienta.
Apesar
de estar em queda, a taxa Selic ainda segue em patamares altos e isso
ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo conforme explica
Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT
Capital. “Além disso, a renda fixa possui um acréscimo que são os
prêmios de risco e estes seguem em patamares altos. Isso segue atraindo
recursos dos investidores”, diz.
Nesse
cenário, os ativos prefixados, principalmente para o longo prazo, já
que é dada como certa a redução da Selic, já estão precificando boa
parte dessa queda, por isso para curto prazo os mais atrativos são os
pós-fixados atrelados ao CDI.
https://istoedinheiro.com.br/eua-e-brasil-ultima-super-quarta-do-ano-pode-fechar-2023-com-surpresas-nos-juros/