A preocupação ambiental, a gestão de custos e a pauta ESG fizeram com que as
Guilherme
Arruda, da Vertown: "No Brasil hoje, ainda mais de 40% dos resíduos são
destinados de forma incorreta" (Rafael Motta / Vertown/Divulgação)
A preocupação ambiental, a gestão de custos e a pauta ESG fizeram com que as empresas se movimentassem para entender o que produzem de resíduo - e para onde ele vai.
Se
até há poucos anos, algumas gigantes listadas em bolsas sequer sabiam
quanto lixo produziam, agora quase toda grande (e, por que não, média e
pequena) empresa tem uma gestão mais consciente dos seus resíduos.
Isso
pode ser atestado pelos números de mercado em constante crescimento.
Mundialmente, o mercado de gestão de resíduos deve crescer de 1,3
trilhão de dólares em 2023 para cerca de 2 trilhões de dólares em 2030 -- numa escalada anual de 5%.
Foi
essa oportunidade que o mineiro Guilherme Arruda identificou em 2017
para criar a Vertown, startup que oferece uma plataforma para indústrias
fazerem gestão de resíduos.
Pelo dashboard da Vertown, é possível ver quantas toneladas cada
indústria produz de resíduo, para onde ele é destinado e se tudo está
sendo feito conforme a legislação.
Hoje,
a Vertown atende 100 empresas que, juntas, possuem mais de 2.000
unidades fabris. Mas quer crescer mais, e multiplicar por dez o
faturamento em três anos. Para isso, acaba de receber um aporte de 7
milhões de reais com os fundos de Corporate Venture Capital (CVC) Açolab
Ventures, da indústria de aços ArcelorMittal, e Irani Ventures, da indústria de embalagem Irani.
"No
Brasil hoje, ainda mais de 40% dos resíduos são destinados de forma
incorreta e a legislação, apesar de estar melhorando e ficando cada vez
mais restritiva, ainda não é tão aplicada”, diz Arruda. “Hoje o gerador é
responsável pelo resíduo em todo o seu ciclo de vida, e a nossa
tecnologia garante toda a rastreabilidade do processo, incluindo
indicadores e gráficos para que as empresas consigam acompanhar e
melhorar seu processo desde a geração até a destinação do resíduo",
destaca o CEO, Guilherme Arruda.
Ele
cita como exemplo uma indústria alimentícia que pagava para descartar
em aterro parte de seus resíduos animais. Com a Vertown, conseguiram
quantificar isso, dar valor e substituir o descarte para a venda a
indústrias de rações.
Somente em 2023, a Vertown fez a gestão de mais de 6,7 milhões de toneladas de resíduos. O faturamento, porém, não é divulgado.
Como o aporte será usado
Esse é o segundo aporte que a mineira Vertown recebe. O primeiro foi no início da operação, por um investidor-anjo.
Com os 7 milhões de reais de agora, a startup
irá acelerar sua estratégia de crescimento e criar novos produtos para
auxiliar na redução de emissões de CO2 e custos em todo o processo de
gestão de resíduos. Também vão investir em marketing para ficarem mais
conhecidos e numa máquina de vendas. A meta é crescer 10 vezes em três
anos.
Para
a Açolab Ventures, fundo da produtora de aço que liderou a rodada, o
investimento na Vertown está alinhado com a ideia da criação do CVC, que
é destinar recursos a startups com visões semelhantes de futuro do que
as das ArcelorMittal, e com solução validada que, de alguma maneira,
enriqueça a cadeia de valor do aço.
Até o momento, o Açolab Ventures, que é gerido pela Valetec Capital, investiu em outras quatro startups:
- Agilean (construção)
- Modularis Offsite Building (construção)
- Sirros (focada em IoT)
- Beenx (energia)
“No
total, mais de 1.400 startups e empresas pequenas já foram avaliadas”,
diz Rodrigo Carazolli, gerente geral de inovação e Açolab da
ArcelorMittal. “Ao todo, serão desembolsados, até 2025, mais de 100
milhões de reais e a meta da companhia é chegar em 10 a 15 startups e
empresas investidas”.
Já
para a Irani, o aporte foi motivado pelos pilares de sustentabilidade e
inovação. Segundo o diretor de Pessoas, Estratégia e Gestão da Irani,
Fabiano Alves de Oliveira, os motivos práticos que levaram a empresa a
receber o aporte foram:
- promover a economia circular
- ampliar geração de renda
- reduzir ao máximo de danos ambientais
Qual a história da Vertown
Por
trás da Vertown está o mineiro Guilherme Arruda. Formado na área de
tecnologia, ele abriu a primeira startup em 2010, desenvolvendo livros
infantis digitais.
“Fazíamos livros interativos, e o negócio deu certo, conseguimos licença até de grandes personagens, como o Scooby Doo”, diz.
Mas
o que funcionava na criatividade, não dava certo na ponta do lápis. As
contas não fechavam e o pouco conhecimento administrativo fizeram com
que a empresa fechasse. “Nós gastávamos 30.000 dólares para fazer um
livro e vendíamos por 5.000 reais, não conseguimos manter a operação”.
O
mosquito do empreendedorismo, porém, já tinha picado o empreendedor.
Depois da empreitada com livros infantis, fez um aplicativo de
contabilidade e outro para ajudar psicólogos a trabalharem com
crianças.
Entre
2016 e 2017, conheceu uma consultoria na área ambiental que ajudava as
empresas a ganharem a certificação ISO 14001, que atestava as boas
práticas na gestão de resíduos. Foi quando teve a ideia de fazer essa
plataforma para facilitar a vida das companhias.
“Meu
pai trabalha já trabalhava com resíduo há 30 anos”, diz. “Foi a ideia
inicial e de lá para cá, escalamos o produto e demos novas
funcionalidades”.
Hoje
é possível fazer toda rastreabilidade desse resíduo pelo dashboard da
Vertown, garantindo que ele terá a destinação correta. No mundo das
ideias, o plano da startup é deixar o “mundo sem nenhum lixo”. Com esse
aporte de agora, dão mais um passo nesse caminho.