Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
A
comissão mista da Medida Provisória que limita a compensação de
créditos tributários obtidos na Justiça aprovou nesta terça-feira, 16,
de forma simbólica, o parecer do relator, o deputado Rubens Pereira Jr.
(PT-MA). A próxima etapa é a votação nos plenários da Câmara e do
Senado.
O parlamentar manteve o texto original proposto pelo governo, conforme antecipou o Broadcast Político
(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). O texto elaborado
pela equipe econômica prevê um parcelamento para empresas compensarem
créditos tributários junto ao Fisco, com valor a partir de R$ 10
milhões. A regra vale para montantes devidos pela União que foram
reconhecidos por decisões judiciais. A Fazenda defende que essa norma
traz previsibilidade ao orçamento público.
O Broadcast
antecipou que havia um alinhamento entre o deputado e a equipe
econômica, que recebeu bem as sinalizações dadas mais cedo por Pereira
Jr. durante audiência pública sobre a MP. Os números apresentados hoje
pelo secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas,
reforçaram a avaliação positiva do relator sobre a medida proposta pelo
Ministério da Fazenda.
De acordo com Barreirinhas, de um
universo de compensações tributárias que gira em torno de R$ 70 bilhões,
metade – R$ 35 bilhões – é afetado pela nova regra do Fisco. Dentro
desse grupo, 87% das 495 empresas impactadas conseguirão abater o valor
no menor prazo, de 12 meses – aplicado a quem tem créditos entre R$ 10
milhões a R$ 100 milhões.
O entendimento do relator é de
que o universo amplo de contribuintes que continuarão podendo compensar
seus créditos à vista ou num prazo de doze meses dá força para os
valores propostos pela equipe econômica.
“A compensação
tributária entrará no orçamento, tal como precatório. Eu tenho convicção
que o parcelamento veio para ficar. Ele garante a correção e a
segurança jurídica”, disse Pereira Jr. ao divulgar seu relatório.
Perse
O
deputado disse que, por um acordo político fechado minutos antes do
início da reunião da comissão, seu relatório irá retirar da MP a
revogação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos
(Perse).
“Não é interesse do governo trazer discussão do
Perse nessa MP. Recebi várias manifestações de que manter a revogação
pode prejudicar projeto que trata do Perse”, disse o relator, que teve a
posição confirmada pelo líder do governo no Congresso, Randolfe
Rodrigues (sem partido-AP).
Alguns integrantes do Congresso
argumentaram que não se poderia aprovar a revogação do atual modelo do
Perse antes da votação do novo projeto de lei que trata do programa,
apresentado pelo líder do governo do governo na Câmara, José Guimarães
(PT-CE). A proposta é um meio-termo negociado com a Fazenda, que prevê o
fim gradual dos benefícios ao setor de eventos, com a extinção somente
em 2027.
Após o Banco Central lançar uma nova moeda de R$ 5
em comemoração aos 200 anos da Primeira Constituição, a Casa da Moeda
informou que há previsão de uma nova tiragem. Isso porque a primeira
leva, de 3 mil unidades, foi totalmente vendida em apenas 6 horas.
O
item foi lançado na última quinta-feira (11) e, assim como a moeda de
R$ 5 comemorativa do bicentenário da Independência, foi colocado à venda
no site da Casa da Moeda.
A
quantidade da nova tiragem é definida pelo Banco Central, que, no caso
da moeda lançada na última semana, tem permissão para colocar até 10 mil
unidades em circulação. Procurado pela IstoÉ Dinheiro, o BC não retornou sobre a previsão da nova tiragem.
Por que a moeda de R$ 5 custa mais de R$ 400?
Enquanto a moeda da Constituição foi vendida por R$ 440 cada, a da Independência segue à venda por R$ 420.
Segundo
a Casa da Moeda, elas “foram produzidas com metal nobre (em prata pura
com elevado grau de pureza). Porém, a precificação do produto é de
responsabilidade do Banco Central Brasil, com base nos custos de
produção, assim como a tiragem”.
“A
valoração das moedas e medalhas comemorativas após a venda da Casa da
Moeda do Brasil é feita pelo mercado de colecionismo regulado na oferta e
demanda”, complementou em nota.
O
Magazine Luiza anunciou nesta terça-feira, 16, três serviços públicos
de seu sistema de nuvem. O primeiro deles é o Object Storage, que
oferece armazenamento para atender à demanda de armazenamento de dados
de empresas e usuários individuais. O segundo é o Turia IAM, que permite
gerenciar contas de funcionários, fornecedores ou terceiros. Ele
controla o acesso a sistemas corporativos como Google Workspace, Office
365, TOTVS e SAP. Por fim, o terceiro lançamento se trata do ID Magalu,
que permite que um usuário acesse diversos serviços online por meio de
uma conta única, sem a necessidade de ter múltiplos cadastros.
A
empresa anunciou ainda parcerias com a Dell Technologies e Bacula,
empresas de de proteção de dados. “As parcerias que anunciamos em
conjunto com o Object Storage da Magalu Cloud garantem continuidade de
negócio para clientes de todos os perfis, e comprovam nossa intenção de
entregar soluções completas para operações digitais de missão crítica”,
diz Christian ‘Kiko’ Reis, diretor da Magalu Cloud.
A
parceria com a Dell visa aproximar os clientes corporativos da Dell
Technologies que já utilizam as soluções de proteção e armazenamento de
dados (Data Domain) e queiram movimentar suas informações para o
ambiente de armazenamento (Object Storage) de nuvem pública oferecido
pela Magalu Cloud. Isso se dará por duas ofertas principais: longa
retenção de dados e réplica de dados em ambiente virtual.
“A
parceria com a Magalu Cloud tem por objetivo oferecer aos nossos
clientes a possibilidade de que eles possam mover e proteger seus dados
para a nuvem pública com um custo mais competitivo em relação à média do
mercado, sempre assegurando desempenho, agilidade e, sobretudo,
segurança”, afirma Dante Machado, diretor de Vendas Enterprise da Dell
Technologies.
Tadeu Schmidt, apresentador do BBB 24 (Crédito: Globo/Manoella Mello)
Karina Trevizani
O “BBB24” chega ao fim nesta terça-feira,
15, com um recorde para a Globo: o maior número de patrocinadores já
registrado. Foram 16 no total, em uma edição que, ao contrário da
anterior, teve aumento de audiência. As empresas agora contabilizam os
resultados nas vendas enquanto avaliam renovação do patrocínio para
2025.
A edição do ano
anterior já havia sido anunciada como um marco no número de
patrocinadores, com 13 até então. Um ano depois, o sucesso comercial do
“BBB24” seria anunciado pela emissora antes mesmo de sua estreia: ainda
que a audiência tenha ficado em baixa na edição de 2023, a temporada de 2024 teve todas as cotas comerciais vendidas dois meses antes do primeiro dia do programa.
Quanto a Globo fatura com o BBB?
A
Globo não revela o faturamento total com o Big Brother Brasil, mas o
mercado faz suas estimativas. Antes da estreia, o portal Meio e Mensagem
contabilizava faturamento de R$ 1,2 bilhão somente com cotas de
patrocínio – uma das modalidades possíveis para as marcas aparecerem no
programa. Mas há outras ações possíveis além de ser um patrocinador. Ao todo, foram 31 marcas presentes no programa. Veja abaixo:
Outras marcas presentes nas dinâmicas e ações de conteúdo:
Kwai, Electrolux, Delícia, Nestlé, Ajinomoto e Estácio, em dinâmicas de
segmento, além de Disney, Yoki, SBP, Ministério da Saúde, Centrum,
Hellman’s, Kibon, Niely e Pepsi.
A IstoÉ Dinheiro
apurou que, apesar do recorde no número de patrocinadores, a quantidade
total de 31 marcas anunciando no “BBB24” caiu em relação às 40 do ano
passado. A reportagem questionou a Globo se houve crescimento do número
de anunciantes e do valor faturado com publicidade na comparação com o
“BBB23”. Até a última atualização desta reportagem, não havia retorno
sobre essas questões.
Segundo
a Globo, somente no Rio de Janeiro, a audiência cresceu 9% e em São
Paulo, 5%. Em Salvador (cidade de um dos finalistas, Davi), os números
superaram a audiência de quatro das cinco últimas edições. No Painel
Nacional de Televisão (PNT), o avanço da audiência foi de 5%.
Enquanto
isso, no Globoplay (que tem sido apontado como uma das principais
estratégias de negócios da Globo atualmente), o ‘BBB24’ foi a melhor
edição do reality, ainda de acordo com a emissora.
Resultados para as marcas
As aparições no “BBB24” renderam resultados para as vendas de diversas marcas que estiveram presentes no programa. Para
a Latam, por exemplo, o investimento mais do que se pagou logo na
primeira inserção. “Apenas na Prova do Anjo, que integramos à primeira
Mega Promo de passagens de 2024, tivemos retorno financeiro 20 vezes
superior ao investimento que fizemos para estar no programa, com picos
de 90 mil acessos simultâneos em nosso site”, disse Aline Mafra,
diretora de vendas e marketing da companhia no Brasil, à IstoÉ Dinheiro.
Já
a diretora de comunicação e mídia da Oi, Lívia Marquez, comemora um
aumento de 35% nas vendas do e-commerce em meio à participação da
operadora no programa – um feito diante do “contexto desafiador após a
venda da mobilidade”, reconhece ela.
“Conseguimos
crescer a consideração da marca Oi Fibra e a favorabilidade da marca
nas redes sociais durante os 3 meses de programa”, diz ela. “A intenção
de compra da nossa fibra cresceu quase 20 pontos percentuais desde o
início do programa”, diz Marquez.
Também
celebrando aumento nas vendas, Cesar Hiraoka, diretor de marketing do
Mercado Livre, conta que durante a primeira Prova do Líder da marca no
programa houve “um aumento de 99% no GMV (vendas brutas)”. “Registramos
um crescimento expressivo de 36% no uso de cupons em comparação com a
média do último ano”, acrescenta.
A
varejista também surfou na onda da procura por itens usados pelos
participantes que, inicialmente, nada tinham a ver com a empresa. A
procura pelo “brinco de pena” utilizado por uma participante cresceu
356% em buscas da plataforma, seguida por “brinco hippie” como o usado
pela Wanessa Camargo, com alta de 238%, e “boina gaúcha” de Matteus, com
216%.
A Electrolux também “colheu resultados positivos
durante o reality show”, segundo Ana Peretti, vice presidente de
marketing. “Atingimos 80% dos acessos ao site via QR Code que vieram de
novos usuários que estavam acompanhando o programa ao vivo.”
Já
para a Stone, o objetivo de estar no programa mais uma vez era se
tornar uma marca mais conhecida. “Ultrapassamos nossas metas de
crescimento de awareness, chegando à máxima histórica, e batemos
recordes também de acesso aos nossos sites”, disse o head de marketing
da empresa, Rodolfo Luz. “Esse tipo de reconhecimento de marca não tem
preço.”
Quem saiu, quem entrou e quem vai ficar?
O
BBB 24 teve baixas de anunciantes da edição anterior, como Pague Menos,
TikTok e QuintoAndar. Mas houve também estreantes como Delícia, que
agora avalia se deve permanecer entre as marcas do BBB em 2025.
“Estamos
muito satisfeitos com os resultados e objetivos atingidos nesta estreia
como patrocinadora do BBB24. No entanto, entendemos que ainda temos
alguns meses à frente até as definições estratégicas para 2025. Por
isso, ainda não podemos afirmar”, disse Camille Lau, diretora de
marketing da marca.
Já a
Latam aumentou o investimento neste ano após estrear em 2023 realizando
uma ação pontual numa prova, e em 2024 foi patrocinadora oficial. Vamos
aguardar o fim dessa edição do BBB, a realização de outras grandes ações
que temos planejadas para 2024, como o Rock in Rio, e voltaremos a
avaliar em breve”, disse Mafra sobre os possíveis planos para o BBB 25.
Luz,
da Stone, também evita “spoilers”, mas afirma: “o patrocínio do BBB 25 é
uma decisão estratégica sempre alinhada com nossos objetivos de negócio
e com a Globo. Nossa parceria tem sido de muito sucesso.”
No
Mercado Livre, o momento também é de análise. “Com a finalização do
programa, vamos olhar para dentro e analisar a eficácia da parceria para
entender os próximos passos”, diz Hiraoka.
Na Electrolux o
cenário é parecido. “Os patrocínios a eventos e conexão com o público
em canais de entretenimento fazem parte da nossa estratégia e daremos
continuidade aos que fizerem sentido para a marca”, diz Peretti.
Já
Marquez, da Oi, indica que a decisão sobre o BBB 25 não está tomada
porque a marca ainda não terminou de colher os efeitos do BBB 24. “No
momento estamos avaliando os resultados do BBB 24, que foram bastante
positivos e estamos aproveitando ao máximo as entregas que ainda estão
previstas até o final do patrocínio.”
A
Tesla confirmou nesta terça-feira, 16, que está reduzindo seu quadro
global de funcionários em 10%, segundo comunicado enviado à Securities
and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos
EUA), mas a montadora de veículos elétricos não especificou quantos
trabalhadores serão afetados.
A empresa disse que seu rápido
crescimento ao longo dos anos, com múltiplas fábricas expandindo, levou a
uma duplicação de cargos e funções em determinadas áreas.
Os
cortes permitirão que a montadora se posicione para sua próxima fase de
crescimento à medida que desenvolver novas tecnologias nos setores
automotivo, de energia e de inteligência artificial, justificou a Tesla,
no comunicado.
A
ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, voltou a defender
nesta terça-feira, 16, em entrevista à Globonews, que a mudança das
metas fiscais a partir de 2025 não significam uma alteração da lei do
novo arcabouço fiscal. Ela reforçou que “não passa pela cabeça” da
equipe econômica alterar o que ela considera como “as duas travas
principais” e o “mantra” do arcabouço: as definições de que o governo
poderá aumentar o gastos na proporção de até 70% do crescimento das
receitas, mas desde que seja respeitado o limite de 2,5% de alta real
dos gastos.
“Ainda que a PLDO [Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias]
faça parte do arcabouço, nós não mudamos a lei do arcabouço e nem vamos
mudar. Porque sabemos do impacto nocivo disso e, aí sim, teríamos
problema na curva de juro e de sustentabilidade da dívida”, explicou a
ministra.
Para ela, essas duas travas valem muito mais, sob a ótica das despesas, do que a meta de resultado primário em si.
“O
Brasil não pode gastar mais do que arrecada, o Brasil não pode gastar
tudo que arrecada e tem que gastar bem”, frisou a ministra.
Em
seguida, Tebet destacou que a inflação tem sido controlada e que a
previsão é que o PIB do Brasil possa crescer cerca de 2,5% neste ano. “É
um crescimento que nos garante a sustentabilidade da dívida a partir de
2027.”
Revisão de gastos
A
ministra afirmou que ela e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
garantem que o arcabouço veio para ficar. Para a ministra, a fim de
sustentar a credibilidade da regra fiscal diante do mercado, do sistema
financeiro e dos investidores, é necessário acelerar a roda da revisão
de gastos.
Tebet defendeu que em um momento inicial foi
necessário recompor as receitas para recuperar as políticas públicas
destruídas no governo anterior, mas que isso é passado. “O governo Lula
não sucedeu qualquer governo, não sucedeu um Fernando Henrique Cardoso”,
disse. “Nós sucedemos um governo disfuncional e disruptivo”,
acrescentou a ministra, que afirmou que o governo anterior, do
ex-presidente Jair Bolsonaro, registrou um aumento descontrolado dos
gastos com destruição de grandes políticas públicas.
O
grande foco agora, frisou, é tratar com responsabilidade a revisão de
gastos. “Quem foi eleito tem a missão de fazer o que for melhor para o
País, doa a quem doer”, salientou.
Na entrevista à
GloboNews, Tebet defendeu que é necessário que o governo e Congresso
assumam o compromisso de rever políticas públicas ineficientes,
extinguir as que não têm condições de serem aperfeiçoadas e fazer
economia de forma inteligente, para realocar bem esses recursos.
Políticas públicas e gastos tributários
A
ministra do Planejamento e Orçamento frisou que o objetivo do governo
não é acabar com políticas públicas, e sim olhar com lupa os gastos
tributários. Reiterou ainda que não há timidez na revisão de gastos.
“Não queremos anunciar antes da hora para evitar qualquer tipo de
pressão, qualquer tipo de recuo em função de pressões.”
Ao
comentar a inclusão do Proagro no anexo para tratar de revisão de
gastos, presente no PLDO de 2025, Tebet disse que o processo ocorreu
“quietinho”. “Nós fomos ao CMN, fizemos a resolução, eles entenderam e
conversamos com parte da frente parlamentar”, detalhou a ministra, que
disse que não houve tempo para conversar com toda a frente. “Eu sou do
agronegócio, vi ali um caminho.”
A ministra retomou ainda
ideia de que o seguro defeso deve entrar na mira da revisão de gastos.
“A Pnad fala que temos 250 mil pescadores artesanais, mas temos mais 800
mil recebendo, tem alguma coisa errada.”
Receitas
Questionada
sobre os esforços para atingir as metas fiscais deste e dos próximos
anos, Simone Tebet disse que ainda existe “uma ou outra questão” em que o
governo “pode sim avançar” sob o ponto de vista das receitas. Ela não
detalhou, no entanto, quais seriam essas medidas.
“Em
relação ao Projeto de Lei Orçamentária Anual, ainda não posso adiantar. É
nossa responsabilidade preparar, levarmos para a Junta Orçamentária e
primeiro para o ministro Haddad ratificar. Está longe ainda, temos que
aguardar e peço paciência”, disse ela.
A ministra frisou,
porém, que essas eventuais novas medidas de aumento de receita visam
diminuir a injustiça tributária e não o aumento da carga de impostos
paga pela população.
Economista
lança livro sobre as desigualdades extremas do país e como todos perdem
nesse cenário. Em tom otimista, ele vê parte da burocracia e da classe
política buscando formas para enfrentar o problema.”Temos toda a riqueza
e toda a pobreza no mundo no Brasil. Esse é o tamanho de nossa
desigualdade”. Essa frase está no livro Extremos – Um Mapa para Entender
as Desigualdades no Brasil, que o economista Pedro Fernando Nery lançou
nesta terça-feira (16/04). De cunho ensaístico, a obra apresenta
diversas facetas extremamente desiguais do país, como o lugar mais
desenvolvido (o bairro de Pinheiros, em São Paulo) e o menos
desenvolvido (o município de Ipixuna, no Amazonas), e as rendas altas do
Distrito Federal em contraposição à pobreza do Maranhão.
Servidor
federal que atualmente ocupa o posto de diretor de assuntos econômicos e
sociais da Vice-Presidência da República, Nery também é professor no
Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e já
foi consultor legislativo do Senado. A proximidade com as altas esferas
do poder faz dele um analista privilegiado. “Acho que dá para trazer uma
mensagem de otimismo: vejo muita gente comprometida com a questão da
desigualdade, não apenas dentro da burocracia estatal, mas na própria
classe política”, diz.
No
livro, ele defende a necessidade de amplas reformas para atenuar o
problema das desigualdades, elencando como prioritárias a tributária, a
administrativa e a previdenciária. “O Brasil tributa muito mal, mas
gasta mal também”, avalia o economista.
“Desigualdade significa
desperdício”, afirma Nery. “A ideia de que a desigualdade se manifesta
de diferentes formas já é bem conhecida, mas uma mensagem importante que
quero trazer com meu livro é que a desigualdade prejudica também quem
está em cima, também quem não é pobre. Porque ela prejudica o
crescimento econômico.”
Leia abaixo trechos de sua entrevista à DW:
DW:
Ao apresentar um panorama das desigualdades brasileiras, você advoga
pela necessidade de reformas. Pensando nas três principais delas, como
uma reforma tributária precisaria ser feita para diminuir as
desigualdades?
Pedro
Fernando Nery: Não existe nenhuma justificativa razoável para que os
mais ricos paguem menos impostos do que o restante da população. O que a
gente está falando não é nem necessariamente uma situação em que os
mais ricos paguem mais do que os outros, mas pelo menos que paguem igual
[aos outros] ou mais do que pagam hoje. Nossa Constituição, ao
determinar que todo mundo é igual perante a lei, exige que o imposto de
renda seja progressivo, quer dizer, que se cobre mais de quem ganha
mais. Na verdade estamos distantes disso. Reformar a tributação de renda
se trata somente de fazer cumprir a Constituição. E isso não é um tema
novo: o imposto de renda é um tema do século 19. Isso não deveria ser
polêmico. O próprio ministro [da Economia no governo de Jair Bolsonaro]
Paulo Guedes, no governo anterior, chegou a sintetizar que o Brasil é um
país desigual porque a gente tributa errado. Quer dizer: não é possível
nem ver em qualquer ponto do espectro político uma defesa aberta do
sistema atual.
E a reforma administrativa, como melhorar esse cenário?
O
Brasil tributa muito mal, mas gasta mal também. A evidência é que o
Estado até desconcentra a desigualdade de renda, mas desconcentra pouco
quando a gente olha a comparação com outros países ou o nosso nível de
carga tributária. No gasto público, a gente mobiliza uma quantidade
enorme de recursos, via tributação, sem que haja uma distribuição
efetiva de renda. Então, uma reforma administrativa deve ser pensada
nesse sentido, tanto a fim de melhorar os serviços públicos que são
essenciais para os mais pobres, como educação e saúde, quanto também de
desconcentrar a renda, por exemplo combatendo supersalários e outros
excessos.
Por fim, e a reforma da Previdência?
A reforma que
já foi feita em 2019 atendeu em parte à situação da desigualdade em
relação a esse tema, à medida que não se gasta mais tanto com a parte
mais rica do país e há espaço para gastar mais com partes mais pobres. A
reforma afeta mais áreas prósperas, como partes do Rio Grande do sul,
enquanto o gasto assistencial, como Bolsa Família, chega melhor em
partes mais pobres, no Rio Grande do Norte, por exemplo. Esses são dois
extremos no que diz respeito à apropriação do gasto público. E é
plausível que esse tema continue com a gente por um bom tempo, por um
bom motivo: a elevação da expectativa de vida dos idosos. No mundo todo
há uma preocupação com esse processo, porque ele pode absorver uma
quantidade crescente de recursos públicos que poderiam estar indo para
famílias mais pobres, como as famílias com crianças que têm inserção
mínima no mercado de trabalho. A Previdência, em um país como o Brasil, é
um tipo de benefício mais voltado para famílias com inserção melhor no
mercado de trabalho, menos vulneráveis, tipicamente mais brancas e mais
bem posicionadas na distribuição de renda.
Você atua próximo à
cúpula do poder no Brasil. Como tem percebido a recepção a essas ideias
pelas autoridades que “têm a caneta na mão” para fazer alguma coisa?
Tenho
experiência como servidor federal e acho que dá para trazer uma
mensagem de otimismo: vejo muita gente comprometida com a questão da
desigualdade, não apenas dentro da burocracia estatal, mas na própria
classe política. Acho que muito do que não funciona bem no Brasil vem da
letargia, de algum erro, de incompetências do passado, e não
necessariamente de lobby e forças ocultas agindo para manter o status
quo. Existe muita vontade de acertar. É claro que o processo decisório é
muito congestionado e existem muitas demandas e exigências, mas reitero
que a vontade de acertar existe. Existe espaço para ação e o
engajamento não é só dentro do Estado, mas fora dele. Muita coisa
melhora no Brasil com gente bem-intencionada.
Nos primeiros
governos de Lula e nos de Dilma houve críticas por eles não terem atuado
de forma decisiva na redução da desigualdade por meio de reformas
tributárias, apesar de sua orientação à esquerda. Isso mudou no atual
governo?
É verdade, embora seja também verdade que não havia
[naquele período] tanta clareza sobre o problema da concentração de
renda no topo, porque ainda havia naquele período muita opacidade em
relação aos dados do imposto de renda. Seja como for, vejo que neste
século a gente observou uma queda da desigualdade muito importante,
tanto no consumo quanto no acesso a serviços como educação e saúde.
Agora, incluir o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda é um
compromisso claro do presidente Lula no novo governo.
E como estão os ânimos do Congresso quanto a esse tema?
Alguns
analistas têm dúvidas de que a atual composição do Parlamento permita
isso [avançar em reformas]. Mas a tributação da renda já foi discutida
no governo Bolsonaro, ainda que de forma insatisfatória, e esse
Congresso já aprovou mudanças neste novo governo, nos fundos fechados,
nas offshores, na questão dos juros sobre o capital próprio. São medidas
que incluem o rico no imposto de renda. Claro que fica faltando uma
reforma mais ampla, incluindo lucros e dividendos, mas o próprio
Congresso já aprovou a determinação para que o governo envie uma
proposta de tributação da renda… Então acho que existe espaço para
buscar uma construção, sim, e a mobilização da sociedade importa. Espero
que, com meu livro, eu consiga trazer uma mensagem não só de
inconformismo para uma realidade tão dura, mas também de otimismo diante
das possibilidades de mudança.
É corrente o discurso de que a
desigualdade é o maior problema do país. De que forma essa questão,
histórica e estrutural, acaba impactando em todas as áreas?
Desigualdade
significa desperdício. A ideia de que a desigualdade se manifesta de
diferentes formas já é bem conhecida, mas uma mensagem importante que
quero trazer com meu livro é que a desigualdade prejudica também quem
está em cima, também quem não é pobre. Porque ela prejudica o
crescimento econômico. Quando os recursos da sociedade estão
desorganizados, como no Brasil, todo mundo perde.
A gente pode
imaginar uma menina inteligente, que tem vocação para ser uma pessoa
determinada, aguerrida, mas que nasce em uma família pobre. Ela vai ter
uma primeira infância exposta a violência, a estresse, a doenças, a
desnutrição, sem desenvolver todo o potencial do seu cérebro. Vai ter
dificuldades para estudar, seja porque o sistema educacional não é o
ideal, seja porque o transporte público é ruim, ou porque ela mora em
uma habitação precária. Se ela tivesse nascido em uma família rica ou de
classe média, poderia se tornar, por exemplo, uma grande médica. Por
conta de todas as dificuldades que a vida lhe impôs ela não conseguiu
chegar nem perto disso. E todos perdem. Todos poderiam ser pacientes de
uma grande profissional. E a gente poderia fazer o mesmo exercício para
uma cientista, uma inventora, uma programadora, uma artista. Se a gente
aplica esse raciocínio a milhões de crianças, fica claro como nós
perdemos. Essas pessoas que não se desenvolvem como deveriam poderiam
estar nos ajudando em diversos problemas. Isso é a desigualdade afetando
o PIB.