A
Intel, uma das gigantes do Vale do Silício, está com duas propostas
bilionárias, uma de venda e outra de investimento. A fabricante de chips
vem enfrentando dificuldades no meio do boom da inteligência artificial
(IA) e as negociações surgem como uma possível saída para a marca que
ajudou a construir a história da computação pessoal.
Segundo
informações da Bloomberg, a Apollo Global Management ofereceu um
investimento de até US$ 5 bilhões. A proposta bilionária veio após os
rumores divulgados pelo The Wall Street Journal de que a
Qualcomm, gigante dos chips para dispositivos móveis, estaria disposta a
adquirir a Intel por outros bilhões de dólares.
Os
rumores movimentaram o mercado financeiro, fazendo com que as ações da
Intel fechassem esta segunda-feira, 23, em alta, com um crescimento de
3,3%. Embora o mercado tenha se empolgado, nem todo o mercado acredita
na concretização do negócio. Para o site Investors, o analista Jordan
Klein, disse que a possível aquisição da Intel pela Qualcomm seria um
‘delírio’ por conta dos obstáculos regulatórios.
Situação atual da Intel
A
Intel já foi considerada uma das maiores empresas do setor da
tecnologia, entretanto, atualmente não enfrenta um cenário muito
positivo. Em 2024, a empresa perdeu cerca de US$ 100 bilhões em
capitalização de mercado, com uma queda de 50% no valor de suas ações.
Em
um passado não tão distante, a empresa já foi considerada a maior
fabricante de chips do mundo. Hoje em dia, seu valor de mercado é de US$
93 bilhões, metade da cifra da Qualcomm, empresa interessada na compra.
Apenas
no segundo trimestre de 2024, as ações da Intel caíram em 27%. Nesse
período, a receita da fabricante de chips foi de US$ 12,8 bilhões,
ficando atrás dos números de US$ 12,9 bilhões esperados por
investidores.
A decadência da gigante tem diversas razões
mas, principalmente, por não ter conseguido acompanhar o boom do
crescimento de IA de empresas concorrentes como a Nvidia, por exemplo.
Nada do que a empresa conseguiu fabricar foi comparável às GPUs criadas
pela Nvidia, que são essenciais para o treinamento de novas IAs.
A
principal área da Intel sempre foi o mercado de chips tradicionais para
PCs ou CPUs, mas, atualmente, esse mercado sofre com os avanços dos
Advanced Micro Devices (AMD), que são mais baratos e eficientes. As
derrotas acontecem após a companhia também ter perdido a corrida dos
smartphones na década passada justamente para a Qualcomm. Além disso, a
Apple decidiu substituir os processadores Intel por chips próprios em
seus computadores a partir de 2020.
Para lidar com as
perdas financeiras, a empresa californiana anunciou, no mês passado, um
plano de economia de US$ 10 bilhões para 2025. Entre os cortes de gastos
estão a demissão de 15% de sua força de trabalho. Segundo o CEO, Pet
Gelsinger, essas foram as mudanças mais importantes da história da
Intel.
Como as empresas interessadas se beneficiam com a compra?
Apesar
do cenário da empresa não ser dos mais atrativos, na semana passada, o
presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que continua ao lado da Intel. O
governo estaria disposto a conceder até US$ 3 bilhões para
financiamento de Chips ACT, como parte de um negócio chamado Secure
Enclave, que precisa, constantemente, de chips para fins de defesa e
inteligência governamentais. Em fevereiro, a empresa já havia recebido
um subsídio de US$ 8,5 bilhões para construção de fábricas.
Na
semana passada, a Intel e a Amazon Web Services anunciaram também uma
colaboração multibilionária para a fabricação de chips no estado de
Ohio. Essas grandes movimentações podem ser o que explica o interesse de
empresas como a Apollo e a Qualcomm em direção a Intel.
A
Apollo tem cerca de US$ 700 bilhões em ativos sob gestão e pode estar
apostando em uma reviravolta da Intel. No início desse ano, a empresa
afirmou que compraria uma participação de US$ 11 bilhões para controlar
parte da nova fábrica da Intel na Irlanda.
Já a Qualcomm,
empresa que fornece chips usados para gigantes como a Apple e a Samsung,
nunca operou fábricas. Assim, o interesse pela Intel pode estar nas
operações de projeção de chips e na experiência que a empresa possui com
softwares. Além disso, ela pode estar mirando o mercado de PCs,
território ainda pouco explorado pela companhia.
*Mariana Cury é estagiária sob supervisão de Bruno Romani