Cinco
anos após perder o certificado de eliminação do sarampo, em 2019, o
Brasil voltou a receber da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o status
de país livre da doença. O último registro de sarampo no Brasil, de
acordo com o Ministério da Saúde, aconteceu em junho de 2022, no Amapá.
Durante
cerimônia em Brasília nesta terça-feira (12), o diretor da Opas, Jarbas
Barbosa, avaliou que, quando se consegue reunir capacidade técnica e
liderança política comprometida com a causa, “as coisas acontecem”. “Ver
um presidente liderando uma retomada do programa de imunização, usando
broche do Zé Gotinha, sendo vacinado e dizendo às pessoas que se vacinem
faz uma diferença tremenda”.
Antes
do evento, Jarbas Barbosa se encontrou com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, no Palácio do Planalto, e entregou o certificado
pessoalmente a Lula. “Esse diploma é resultado da força da retomada e da
competência do sistema de vacinação brasileiro”, destacou o presidente
em comunicado.
“É
muito importante que se reconheça isso, até para que sirva de exemplo a
outros chefes de Estado da região para terem o mesmo compromisso e
darem o impulso que os programa de imunização precisam”, disse
presidente da Opas.
Em seu discurso, Jarbas lembrou que as
Américas figuram, atualmente, como a região do mundo que mais recuperou a
cobertura vacinal após a pandemia de covid-19. “Isso é importante
porque a pandemia foi um golpe. A gente estima que 23% ou 24% das
crianças deixaram de se vacinar durante a pandemia”.
“Mas
a verdade é que, nas Américas, por vários fatores, desde 2015, as
coberturas vacinais já vinham num processo de declínio – lento, mas
extremamente preocupante. Então, o fato de ter não só recuperado
[coberturas vacinais], mas ter sido a região que recuperou com mais
força nos dá um alento muito grande. Em breve, estaremos com os 95% [de
cobertura vacinal] que a gente precisa.”
“Não nos esqueçamos de
que o sarampo continua a existir no mundo – na Europa, na Ásia, na
África, em todos os outros continentes. Teremos casos importados de
sarampo. O preocupante é quando não tivermos esses casos – provavelmente
porque a vigilância não teve capacidade de detectar. Precisamos manter o
binômio vacinação elevada e homogênea e vigilância sensível.”
Ao receber o certificado, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, classificou o status
de país livre do sarampo como uma conquista importante. “Uma conquista
que vem do compromisso da capacidade técnica, sem dúvida, mas essa
capacidade está no nosso país. Ela precisava ser mobilizada junto com a
sociedade, com a excelente cooperação com a Opas”.
“É um movimento
que se traduz em um movimento nacional, de gestores, da comunidade
científica, da comunidade de vigilância, do Parlamento”, disse. “É uma
conquista, mas não podemos descansar. A luta continua”, completou.
Para
o presidente da Câmara Técnica Nacional de Especialistas, Renato
Kfouri, a recertificação brasileira é resultado da retomada dos
investimentos em vacinação e na vigilância epidemiológica. “Tive a
oportunidade de presidir essa câmara técnica e vi um trabalho sendo
feito neste Brasil afora com propósito e compromisso – duas palavras que
têm todo significado nesse dia de hoje”.
Análise
Em nota,
a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica
Levi, comemorou a recertificação, mas alertou que a manutenção do status
depende de mobilização constante, já que o vírus continua a circular.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, em 2023, mais
de 320 mil casos foram confirmados em todo o planeta.
“Perder o
certificado, algo que o histórico recente mostra não ser impossível,
seria um grande retrocesso. Estamos no caminho certo, mas precisamos
estar atentos e redobrar os nossos esforços, até porque o sarampo não é a
única doença com a qual devemos nos preocupar”, disse. “Evoluímos
bastante, mas boa parte das vacinas, a exemplo da que previne a pólio,
permanece com a cobertura aquém do desejado.”
Linha do tempo
Após
o registro dos últimos casos de sarampo no ano de 2015, o Brasil
recebeu, em 2016, a certificação da eliminação do vírus. Nos anos de
2016 e 2017, não foram confirmados casos da doença no país. Em 2018,
entretanto, com o grande fluxo migratório associado às baixas coberturas
vacinais, o vírus voltou a circular e, em 2019, após um ano de franca
circulação do sarampo por mais de 12 meses, o Brasil perdeu o status.
Dados
do ministério indica que, entre 2018 a 2022, foram confirmados 9.329,
21.704, 8.035, 670 e 41 casos de sarampo, respectivamente. Em 2022, os
estados que confirmaram casos foram: Rio de Janeiro, Pará, São Paulo e
Amapá, sendo que o último caso confirmado foi registrado no Amapá, com
data de início do exantema (erupções cutâneas) em 05 de junho.
Em
2024, o Brasil chegou a registrar dois casos confirmados, mas
importados, sendo um em janeiro, no Rio Grande do Sul, proveniente do
Paquistão; e um em agosto, em Minas Gerais, proveniente da Inglaterra.
Sarampo
A
pasta define o sarampo como uma doença viral altamente contagiosa que
afeta principalmente crianças e pode causar complicações graves, como
diarreias intensas, cegueira, pneumonia e encefalite (inflamação do
cérebro). “A maneira mais efetiva de evitar o sarampo é por meio da
vacinação”, ressaltou o ministério.
Colaborou Andreia Verdélio