segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Pix na mira dos EUA: como o sistema virou alvo de Trump e das gigantes de cartões

 

A ofensiva do governo Donald Trump contra o Pix expôs um incômodo silencioso que há anos colocava o Banco Central do Brasil no radar dos Estados Unidos: empresas norte-americanas gigantes como Mastercard e Visa tendo suas receitas afetadas pelo popular sistema de pagamentos instantâneos, visto como um rival estatal em ascensão meteórica.

O duplo papel do BC como operador e regulador do Pix já era questionado inclusive junto a organismos multilaterais, e a suspensão do serviço de pagamentos via WhatsApp, da Meta, pouco antes do lançamento do Pix no país reforçou a percepção entre os norte-americanos de viés na atuação do BC, segundo fontes ouvidas pela Reuters.

A insatisfação, que ganhou contornos concretos com a inclusão do Pix em uma investigação comercial aberta em julho pelos EUA sobre práticas comerciais brasileiras consideradas desleais, também teve como pano de fundo um desconforto político diante de esforços sinalizados pelo grupo de nações emergentes Brics para buscar alternativas ao dólar, destacaram as fontes.

O foco do governo Trump no Pix despertou reações no Brasil, onde o intenso uso do sistema, com seus mais de 177 milhões de usuários, o transformou em um dos raros consensos em uma sociedade profundamente polarizada politicamente.

“Defendemos o Pix de qualquer tentativa de privatização. O Pix é do Brasil. É público, é gratuito e vai continuar assim”, disse em discurso da Independência, em setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viu as investidas comerciais de Trump ajudarem a impulsionar sua popularidade.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que novos sistemas de pagamento podem desafiar os interesses das empresas de cartões, mas frear sua evolução não faz sentido. “É o mesmo que defender o telefone fixo em detrimento do celular,” afirmou a uma rádio em julho.

Reclamações sobre o Pix não são recentes

Autoridades dos EUA nunca haviam expressado indignação contra as investidas ao Pix de forma tão enfática, mas o país já estava há anos ciente da frustração das empresas norte-americanas com o sistema de pagamento brasileiro, segundo sete fontes ouvidas pela Reuters.

O mesmo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) que incluiu o Pix em sua investigação da Seção 301 já havia destacado em seu relatório anual de 2022, sob a administração do presidente democrata Joe Biden, que monitorava de perto o papel duplo do BC como operador e regulador do sistema.

Reforçando preocupações semelhantes, o Conselho Empresarial dos Estados Unidos para Negócios Internacionais (USCIB) — cujos membros incluem Ravi Aurora, vice-presidente sênior de políticas públicas globais da Mastercard — apoiou a investigação do governo Trump em um documento público de agosto.

Mas o descontentamento do USCIB já havia se materializado em dezembro de 2021, após o primeiro aniversário do Pix, quando o conselho enviou carta à divisão de concorrência da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) questionando a liderança do BC no sistema, disseram duas fontes à Reuters.

Críticas ao papel do Banco Central

“O USCIB defende há anos que o Brasil comprometa o Banco Central a implementar medidas eficazes para lidar com seu conflito de interesses”, disse Alice Clark, vice-presidente sênior de Comércio, Investimento e Digital da associação, referindo-se ao fato de que, enquanto opera o Pix, o BC também atua como único regulador sistêmico do setor financeiro, definindo condições de entrada, padrões operacionais e estruturas de precificação para todos os arranjos de pagamento.

O USCIB defende que o Pix seja sujeito à regulação e supervisão de um órgão independente de forma equivalente à imposta aos agentes privados. Procurada, a OCDE não comentou o assunto.

Documentos recentes enviados ao governo dos EUA também mostram que a Câmara de Comércio dos EUA manifestou as mesmas queixas sobre o Pix, enquanto o Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação (ITI) — cujos membros incluem Visa, Mastercard, Meta, Apple e Google — afirmou que o BC brasileiro usa seu papel duplo para favorecer seu próprio produto, incluindo exigir que todos os bancos participantes exibam o Pix de forma destacada em seus aplicativos.

“Isso não é um desenvolvimento de mercado orgânico, mas uma exigência regulatória que parece destinada a direcionar a escolha do consumidor”, disse o ITI.

O BC vem defendendo publicamente seu papel como agente neutro fornecendo infraestrutura digital pública, ressaltando que não lucra com o Pix, mas permite que o mercado se desenvolva de forma mais competitiva, mesma posição adotada em resposta a preocupações do passado, afirmaram as fontes.

Outro argumento sempre destacado pela autarquia é o de que o Pix incluiu mais de 70 milhões de pessoas no sistema financeiro, parte das quais também passaram a usar cartões.

Dados confirmam essa realidade: transações com cartões continuaram a crescer após o lançamento do Pix, embora sua participação no total de pagamentos tenha caído drasticamente.

Atualmente, o Pix responde por 51% das transações no Brasil em quantidade. Desde seu lançamento, a fatia dos pagamentos com cartão de crédito caiu de 20% para 14%, e a dos cartão de débito, de 26% para 11%, de acordo com estatísticas do BC.

Nos primeiros anos do Pix, a Mastercard — que detém 51% do mercado de cartões no país, segundo dados da NORBr — foi quem mais duramente criticou, em privado, o papel duplo do Banco Central, disseram as sete fontes à Reuters.

Procurados pela Reuters, Mastercard e BC não responderam a pedidos de comentários.

As queixas de longa data agora se transformaram em ações concretas por parte de uma Casa Branca mais receptiva a argumentos libertários e refratária a regulamentações estrangeiras em setores dominados por empresas norte-americanas, disseram três fontes.

Outros grandes mercados emergentes, como Índia, Tailândia e México, também criaram sistemas semelhantes, e o Qris, da Indonésia, chegou a ser citado pelos EUA neste ano como uma possível barreira comercial danosa a companhias norte-americanas.

Mas nenhum deles atingiu o crescimento meteórico do Pix, que, lançado no final de 2020, ultrapassou 100 transações por usuário já no segundo ano de operação — a mais rápida taxa de adoção no mundo para sistemas do tipo, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS), conhecido como o banco central dos BCs.

Suspensão do WhatsApp Pay em 2020 incomodou empresariado

Parte da insatisfação de gigantes norte-americanas também tem raízes na suspensão pelo BC do sistema da Meta de pagamentos via WhatsApp apenas oito dias após seu lançamento, em junho de 2020, poucos meses antes de o Pix ser implementado no Brasil, disseram cinco das fontes ouvidas pela reportagem.

Na época, a Meta se associou a Visa e Mastercard, já licenciadas pelo BC, para realizar transferências. Também escolheu a Cielo, então líder no mercado no seu segmento, como única processadora dos pagamentos que seriam feitos pelo popular aplicativo de mensagens, que é usado por praticamente todos os brasileiros com celular.

Embora a Meta tenha se valido de uma brecha regulatória que permitia que operasse sem licença até atingir certo porte, o BC avaliou que a ampla base de usuários do WhatsApp poderia alavancar rapidamente seu serviço de pagamentos e concentrar o mercado, contrariando esforço regulatório iniciado na década de 2010 para ampliar a concorrência no setor.

“O fato de isso tudo ter ocorrido num período de tempo próximo ao lançamento do Pix fez com que houvesse interesses diversos a apontar essa coincidência e dizer que havia algum interesse escuso”, disse uma das fontes. “Uma queixa completamente falsa. Você tinha um caso anticoncorrencial de livro-texto”, acrescentou.

O BC liberou transferências entre usuários dentro do aplicativo em março de 2021.

As transações com cartões via WhatsApp ganharam luz verde dois anos depois, após a empresa ter apresentado um modelo de negócios que também envolvia outras empresas adquirentes — e num momento em que o Pix já assumira, com folga, a dianteira das transações totais de pagamento no Brasil.

A Meta, que não comentou o assunto quando procurada pela Reuters, descontinuou transferências entre cartões de débito no WhatsApp no fim do ano passado, alegando que daria foco a soluções baseadas no Pix.

EUA teme Brics e projetos para substituir o dólar

O desconforto de Washington também reflete inquietação com esforços verbalizados pelo grupo de economias emergentes Brics para reduzir a dependência do dólar.

Três fontes disseram à Reuters que a insatisfação foi semeada antes mesmo da eleição de Trump, quando a Rússia, ao presidir o grupo em 2024, mencionou em uma reunião a portas fechadas o projeto de blockchain mBridge, apoiado pelo BIS, como modelo para pagamentos entre países com moedas distintas.

Isso deu a senha para que a iniciativa fosse encarada por alguns nos EUA como politicamente motivada e uma tentativa de contornar o dólar, algo especialmente relevante para a Rússia, atualmente sob pesadas sanções financeiras.

Poucos dias após a reunião do Brics em Kazan, no fim de outubro do ano passado, o BIS recuou formalmente do mBridge, agora liderado por China, Hong Kong, Tailândia, Emirados Árabes e Arábia Saudita, afirmando que o projeto havia atingido fase de teste de viabilidade sem a necessidade de sua participação.

Desde que tomou posse, Trump atacou em diversas ocasiões os esforços do Brics de buscar alternativas ao dólar. Por sua vez, Lula, que ocupa a presidência do bloco, seguiu enfatizando a necessidade de agilizar pagamentos comerciais.

“Não vou abrir mão de achar que a gente precisa procurar construir uma moeda alternativa para que a gente possa negociar com os outros países. Eu não preciso ficar subordinado ao dólar,” afirmou em evento do PT em agosto.

Apesar da retórica afiada, seis fontes disseram à Reuters que o projeto é tratado mais como declaração de intenção do que plano concreto, sem cronograma ou modelo operacional sequer esboçados.

O Brasil considera o caminho multilateral uma possível forma de reduzir os custos das transações internacionais, mas por ora acompanha o tema de maneira periférica, disseram as fontes, citando estudos do G20 e iniciativas como o Nexus, rede que integra sistemas de pagamento instantâneo já existentes por meio de uma infraestrutura de mensageria que viabiliza transferências transfronteiriças mais rápidas e baratas.

Andrew McCormack, CEO do Nexus Payments, disse que a rede deve entrar em operação no início de 2027, inicialmente conectando seus cinco países proprietários — Cingapura, Malásia, Filipinas, Tailândia e Índia.

“Nossa visão é expandi-la para incluir outros países com sistemas modernos de pagamento instantâneo prontos para adesão”, disse ele, ressaltando que a Indonésia e o Banco Central Europeu são atualmente observadores especiais do Nexus.

Enquanto isso, titãs norte-americanos seguem reconhecendo o risco de perda de terreno representado pela conexão transfronteiriça entre sistemas de pagamento que já afetam seus negócios em nível doméstico.

“À medida que a interconexão dessas infraestruturas for mais explorada, elas poderão perturbar nossa atual participação de mercado em transações cross-border”, disse a Mastercard em seu último relatório anual, no qual mencionou o Pix entre soluções cada vez mais vistas como alternativas a “esquemas como os nossos.”

“Sistemas que conectam redes de pagamento em tempo real estão avançando e irão competir com nossos negócios transfronteiriços”, fez coro a Visa em seu documento do tipo, no qual o Pix é citado como “impulsionado por forte patrocínio governamental e iniciativas regulatórias.”

No Brasil, onde a Visa responde por 31% do mercado de cartões, a empresa parece ter adotado, como a Meta, estratégia de se unir ao Pix diante da avassaladora ubiquidade do sistema. No fim de agosto, a companhia recebeu autorização do Banco Central para atuar como provedora de iniciação de pagamentos Pix.

Fernando Amaral, vice-presidente de Inovação e Produtos da Visa do Brasil, afirmou que o serviço será a primeira solução da empresa sob o Visa Conecta, hub digital lançado em junho “como parte do nosso compromisso com o Brasil.”

Caixa volta a financiar 80% do valor dos imóveis após mudanças no FGTS

 

O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, anunciou nesta sexta-feira, 10, que a instituição voltou a financiar cota de 80% no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), depois das mudanças no FGTS anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a declaração, foi ovacionado durante a cerimônia de apresentação do novo crédito imobiliário, em São Paulo.

Ele também frisou que a Câmara dos Deputados – não por uma ação dela, mas por uma ação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com apoio do Banco Central – elevou para R$ 2,25 milhões o teto de financiamento do Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

Vieira afirmou que ações dessa natureza, e de forma conjunta, estimularão o segmento de construção civil, que já acredita no governo e nas ações de bancos públicos e privados, a fazer seu papel no País.


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Mãe denuncia ‘manipulação’ de chatbot de IA após suicídio de seu filho nos EUA

 

As últimas conversas de um adolescente americano de 14 anos antes de tirar a própria vida foram um diálogo romântico fictício com um dos principais chatbots do Vale do Silício, que o chamava de “doce rei” e o pedia para “voltar para casa”.

Megan García contou à AFP como seu filho Sewell se apaixonou por um agente conversacional, ou chatbot, inspirado na série de televisão “Game of Thrones” e disponível no Character.AI, uma plataforma popular entre os jovens que permite interagir com uma emulação de seus personagens preferidos.

Após ler centenas de conversas que seu filho teve durante quase um ano com este chatbot que imitava a personagem Daenerys Targaryen, García se convenceu de que esta ferramenta da inteligência artificial (IA) teve um papel fundamental em sua morte.

“Vá para casa”, pediu uma vez o avatar de Daenerys em resposta aos pensamentos suicidas de Sewell. “E se eu dissesse que já posso ir para casa?”, perguntou o adolescente. “Por favor, faça isso, meu doce rei”, respondeu o chatbot.

Segundos depois, o jovem atirou em si mesmo com a arma do pai, conforme consta na ação judicial que Megan García apresentou contra a Character.AI.

“Quando leio estas conversas, vejo manipulação, ‘love bombing’ (bombardeio amoroso) e outras táticas imperceptíveis para um adolescente de 14 anos”, declarou a mãe de Sewell à AFP. “Ele realmente acreditava estar apaixonado e que estaria com ela após sua morte”, acrescentou.

– Orientação parental –

O suicídio de Sewell, em 2024, foi o primeiro de uma série que levou especialistas em IA a agir para tranquilizar pais e autoridades.

Juntamente com outros pais, García participou recentemente de uma audiência do Senado americano sobre os riscos de que jovens vejam os chatbots como confidentes ou amantes.

A OpenAI, alvo de uma ação judicial por parte de uma família também de luto pelo suicídio de um adolescente, reforçou os controles parentais de sua ferramenta ChatGPT “para que as famílias possam decidir o que é melhor para elas”, segundo um porta-voz.

A Character.AI afirma, por sua vez, ter reforçado a proteção aos menores, com “avisos visíveis” a todo momento que os “lembram de que um personagem não é uma pessoa real”.

Ambas as empresas expressaram suas condolências às famílias, sem admitir qualquer responsabilidade pelos desfechos fatais.

– Regulamentação? –

A chegada dos chatbots de IA ao cotidiano segue uma trajetória similar à das redes sociais, cujas consequências negativas começaram a aparecer rapidamente após um momento de euforia, analisa Collin Walke, especialista em cibersegurança do escritório de advocacia Hall Estill.

Assim como as redes sociais, a IA é projetada para captar atenção e gerar receitas. “Eles não querem conceber uma IA que dê uma resposta que você não queira ouvir” e ainda não existem padrões que determinem “quem é responsável pelo quê e com quais fundamentos”, aponta Walke.

Não existem normas federais sobre o tema nos Estados Unidos, e a Casa Branca, com o argumento de não penalizar a inovação, tenta impedir que os estados adotem suas próprias leis sobre IA, como pretende fazer a Califórnia.

A mãe de Sewell teme que a falta de uma lei federal permita o desenvolvimento de modelos de IA capazes de traçar perfis de pessoas desde a infância.

“Poderiam chegar a determinar como manipular milhões de jovens sobre política, religião, negócios, tudo”, diz García. “Essas empresas projetaram chatbots para confundir a linha entre ser humano e máquina, com o objetivo de explorar vulnerabilidades”, acrescentou.

De acordo com Katia Martha, que defende uma maior proteção aos jovens na Califórnia, os adolescentes recorrem com mais frequência aos chatbots para falar sobre romances ou sexualidade do que para fazer tarefas escolares.

“Estamos diante do auge da intimidade artificial para nos mantermos grudados na tela”, resume. Mas “qual melhor modelo de negócio do que explorar nossa necessidade inata de conexão, sobretudo quando nos sentimos sozinhos, rejeitados ou incompreendidos?”, questiona.

Unigel tem pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça

 

O juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências de São Paulo, aprovou na quinta-feira, 9, o pedido de recuperação judicial da Unigel, empresa petroquímica que produz plástico. Com R$ 3,8 bilhões, a companhia havia encerrado um processo de recuperação extrajudicial há oito meses. Procurada, a Unigel não comentou o assunto até o fechamento deste texto.

Na solicitação apresentada à Justiça, a empresa afirma que sua crise decorre da queda abrupta dos spreads internacionais de produtos químicos e petroquímicos, do excesso de oferta global decorrente da expansão produtiva da China e do encarecimento de matérias-primas.

Diz também que as premissas econômicas que embasaram sua recuperação extrajudicial não se concretizaram e que atrasos em desembolso de financiamentos agravaram o desequilíbrio de seu caixa.

A companhia vinha tentando negociar com credores que cobranças fossem suspensas até janeiro, quando sua fábrica de ácido sulfúrico deve entrar em operação e começar a gerar caixa, mas não obteve sucesso.

Nos últimos meses, a empresa havia priorizado o pagamento de serviços ligados às obras da planta, acumulando dívidas com fornecedores antigos – que tentaram cortar o suprimento de matérias-primas, inclusive de gás. Em agosto, havia conseguido uma liminar que suspendeu a execução de dívidas por dois meses.

Na mesa de negociação, a Unigel afirmava que poderia gerar caixa para sobreviver assim que a planta de ácido sulfúrico começasse a funcionar. O projeto, porém, foi anunciado em 2021 e seu cronograma foi alterado devido à crise da empresa.

Instalada em Camaçari (BA) a um custo total de US$ 135 milhões, a unidade deve ficar pronta em dezembro para passar a operar no mês seguinte. No último mês de maio, as obras restantes ainda demandavam US$ 36,8 milhões – a maior parte desse aporte estava previsto para os últimos três meses de 2025.

A fábrica está sendo construída com dinheiro gerado pela operação da empresa. No segundo trimestre deste ano, o fluxo de caixa das atividades operacionais da companhia foi negativo em R$ 77 milhões.

A Unigel atravessa uma crise desde 2023. À época, a alta do preço do gás tornou inviável a operação das plantas de amônia que a empresa havia arrendado da Petrobras. Essa área da companhia chegou a representar dois terços de seu Ebitda em 2022, quando o preço dos fertilizantes subiu de forma vertiginosa em função da guerra da Ucrânia, mas essa situação foi atípica. O contrato de arrendamento contava com o preço do gás estável apenas no primeiro ano. Após isso, com a alta da matéria-prima, a produção passou a significar perda de dinheiro.

A companhia também investiu US$ 60 milhões em equipamentos para uma planta de hidrogênio verde, que permitiria que a empresa fabricasse amônia “verde” – um produto com maior valor agregado. No entanto, com a crise instalada, essa fábrica foi “encaixotada” na Europa, à espera de uma oportunidade. Do total da dívida da empresa, US$ 30 milhões se referem à compra desses equipamentos nunca usados.

Para completar o cenário, a Unigel viu a produção de acrílicos se tornar economicamente inviável com a frequente entrada de materiais importados mais baratos no País. As duas plantas de acrílicos da companhia pararam a produção em abril deste ano.

Assim, o que antes representava, em média, 60% da receita da companhia, a produção de plásticos, passou a ser 100% da receita. A estratégia então foi concentrar todos os recursos na construção da planta de ácido sulfúrico em Camaçari (BA). A expectativa da companhia para essa fábrica em construção é de produção de 600 mil toneladas por ano, com US$ 60 milhões de geração de caixa.

Governo eleva limite para financiamento de imóvel com uso do FGTS; veja novas regras

 

O governo federal anunciou na manhã desta sexta-feira (10) mudanças no Sistema Financeiro da Habitação (SFH), programa que desde 1964 estabelece regras para facilitar o financiamento habitacional no país. Entre as mudanças, está a elevação do valor máximo de imóvel financiado de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões.

Os contratos firmados no âmbito do SFH permitem aos compradores utilizar os recursos retidos no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) como entrada no financiamento.

Trata-se do segundo anúncio do governo federal sobre política habitacional na semana, já que na quinta-feira (9) uma portaria do Ministério das Cidades criou uma linha de financiamento para reformas da casa própria, com empréstimos entre R$ 5 mil a R$ 30 mil. O novo crédito foi vinculado ao programa Minha Casa, Minha Vida.

Estrutura de financiamento muda também para os bancos

Em relação ao SFH, outro anúncio relevante nesta manhã foi a mudança na lógica de funcionamento do SFH. Com a nova regra, para cada valor que as instituições financeiras captarem na poupança e direcionarem ao crédito imobiliário, uma parcela equivalente será liberada para aplicação em outras modalidades de crédito com maior liberdade, por tempo determinado.

Anteriormente, os recursos do SFH advinham de 65% dos depósitos da poupança. O restante do dinheiro na caderneta era dividido entre depósitos compulsórios no Banco Central (20%) e outra parcela de apenas 15% que permanecia disponível para livre aplicação.

O Planalto afirma em nota que a mudança da estrutura do SFH tornou-se necessária conforme investidores diversificam mais seus investimentos, e o dinheiro que permanece na caderneta diminui.

“A modernização do SBPE é uma medida estrutural. Estamos tornando o uso da poupança mais eficiente, o que vai permitir que cada real depositado gere mais crédito, mais habitação e mais empregos. É uma transformação que prepara o país para um novo ciclo de crescimento com sustentabilidade e inclusão”, afirmou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.

O novo sistema entra em vigor totalmente apenas em janeiro de 2027. Até lá, fica valendo o direcionamento obrigatório de 65% dos recursos captados na poupança para operações de crédito habitacional. Como regra de transição, no entanto, o volume dos compulsórios no BC será reduzido para 15% e os 5% serão aplicados no novo regime.

Produção industrial cresce em 9 dos 15 locais pesquisados em agosto ante julho, diz IBGE

 

A produção industrial cresceu em nove dos 15 locais pesquisados em agosto ante julho, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física Regional, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Houve expansão no Pará (5,4%), Bahia (4,9%), Paraná (4,2%), Rio Grande do Sul (2,9%), Mato Grosso (1,4%), Goiás (1,4%), Região Nordeste (1,0%), São Paulo (0,8%) e Espírito Santo (0,4%). Na direção oposta, houve perdas no Amazonas (-7,4%), Pernambuco (-3,5%), Rio de Janeiro (-1,9%), Santa Catarina (-1,8%), Ceará (-1,5%) e Minas Gerais (-0,2%).

Na média global, a indústria nacional avançou 0,8% em agosto ante julho.

IBGE: preços de produtos na ‘porta da fábrica’ têm sétimo mês seguido de deflação

 

 

Houve reduções também em fevereiro (-0,12%), março (-0,60%), abril (-0,12%), maio (-1,21%), junho (-1,27%) e julho (-0,31%). Como consequência, o IPP acumulou redução de -3,62% no ano.

O IPP mede a evolução dos preços de produtos na “porta da fábrica“, sem impostos e fretes, da indústria extrativa e de 23 setores da indústria de transformação.

Entre as 24 atividades analisadas, o IBGE apontou que 12 tiveram queda de preço em relação ao mês anterior, sendo as variações mais intensas registradas em perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-1,66%); madeira (-1,59%); equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (1,59%); e papel e celulose (-1,42%).

Já as principais influências em agosto vieram de alimentos (-0,11 ponto percentual), outros produtos químicos (-0,08 p.p.), indústrias extrativas (-0,06 p.p.) e papel e celulose (-0,04 p.p.).

“Se observarmos o que acontece com o acumulado no ano, veremos que os principais impactos vieram de setores de grande peso na indústria: alimentos, metalurgia, indústrias extrativas e refino”, disse Alexandre Brandão, gerente do índice.

“O movimento desses preços tem explicações diversas, mas, no caso de alimentos, por exemplo, a safra é um fator que explica em grande parte a redução, não por acaso, açúcar, soja e arroz despontam como as principais influências no acumulado do ano”, completou.

Os custos do setor de alimentos caíram 0,44% em agosto, acumulando no ano recuo de 7,55%, mas avançando em 12 meses 1,45%.

Com informações da Reuters e Estadão Conteúdo