terça-feira, 14 de outubro de 2025

FMI eleva crescimento global para 2025 graças ao ‘modesto’ impacto comercial nos EUA

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou sua projeção para o crescimento global deste ano nesta terça-feira (14), reconhecendo um impacto econômico mais brando do que o esperado da política tarifária do presidente americano, Donald Trump.

O Fundo aumentou sua projeção de crescimento global para 2025 para 3,2%, ante 3% em julho, mantendo sua projeção para 2026 inalterada em 3,1%, segundo seu relatório de Perspectivas da Economia Mundial (WEO, na sigla em inglês).

“A boa notícia é que o impacto do choque comercial sobre o crescimento tem sido moderado até agora”, disse Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, a repórteres antes da divulgação do relatório.

O setor privado também sustentou o crescimento ao responder rapidamente às tarifas de Trump.

Outros fatores, incluindo a ascensão da inteligência artificial e das políticas fiscais na Europa e na China, também ajudaram a sustentar a economia global, observou, embora o FMI continue enxergando riscos de queda no crescimento devido à incerteza comercial.

– “Tudo é muito fluido” –

Desde que retornou ao poder, Trump impôs tarifas generalizadas aos produtos de importantes parceiros comerciais, como China e União Europeia, na tentativa de remodelar as relações comerciais dos Estados Unidos e incentivar a produção local.

No fim de semana, o presidente americano ameaçou aplicar novas tarifas de 100% sobre produtos da China, além das atuais taxas elevadas.

Trump criticou a recente decisão de Pequim de reforçar os controles de exportação de minerais de terras raras, cruciais para os setores de defesa e alta tecnologia.

“Tudo é muito fluido”, disse Gourinchas à AFP em entrevista. “Mas acho que é um lembrete muito útil de que vivemos em um mundo onde esse tipo de escalada de tensões comerciais e incerteza política pode surgir a qualquer momento”, acrescentou.

O FMI espera que a taxa de inflação global permaneça elevada, em 4,2% este ano e 3,7% em 2026, impulsionada pela inflação elevada em vários países, incluindo Estados Unidos e México.

– Melhora nos EUA, China sem mudanças –

O FMI aumentou suas perspectivas de crescimento para a maior economia do mundo em 0,1% este ano e no próximo, para 2% em 2025 e 2,1% em 2026. No entanto, isso ainda representa uma desaceleração acentuada em relação a 2024, quando o crescimento dos EUA atingiu 2,8%.

Apesar das tensões comerciais em curso entre as duas maiores economias do mundo, o Fundo ainda espera que a economia chinesa desacelere de 5% em 2024 para 4,8% este ano, antes de desacelerar drasticamente para apenas 4,2% em 2026, em linha com estimativas anteriores.

A desaceleração na China foi impulsionada por uma redução nas exportações líquidas, que foram parcialmente compensadas pela crescente demanda interna impulsionada por “estímulos políticos”, afirmou o Fundo.

A América Latina permanece inalterada em 2,4%.

O México se destaca com 1%, o que representa uma melhora em relação às previsões anteriores (+1,3 ponto percentual). O Brasil crescerá 2,4%.

Para a Índia, a projeção é de 6,6% e para o Japão, 1,1%.

A economia alemã deve se recuperar da recessão e registrar um crescimento de 0,2% este ano.

A França, que se encontra em meio a uma crise política prolongada, deve ver seu crescimento desacelerar para 0,7%.

A única exceção na zona do euro é a Espanha, que apresentou melhora e agora deve manter seu crescimento: 2,9% este ano e 2% em 2026.

Com a continuação da guerra na Ucrânia, a economia russa provavelmente registrará uma desaceleração acentuada no crescimento este ano, para apenas 0,6% (4,3% em 2024).

China pede que EUA corrijam erros e resolvam questões por meio de diálogo

 

Um porta-voz do Ministério do Comércio da China pediu que os EUA corrijam seus erros, cheguem a um acordo com Pequim e resolvam questões de “interesse mútuo” por meio de diálogo e consultas igualitárias, em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 14.

Segundo o representante chinês, as tarifas de Washington não apenas impactarão a estabilidade da cadeia de suprimentos global e aumentarão significativamente os custos do comércio internacional, como também aumentarão a inflação doméstica, prejudicarão a competitividade dos portos e o emprego nos EUA e minarão a segurança e a resiliência da cadeia de suprimentos americana.

O porta-voz também sinalizou que a própria indústria norte-americana tem se oposto amplamente às medidas dos EUA, demonstrando que a abordagem dos EUA prejudica os outros e a si mesmo, e “não é propícia ao desenvolvimento de sua indústria de construção naval”.


FMI eleva projeção para PIB do Brasil em 2025, mas vê desaceleração maior da economia em 2026

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou a projeção de crescimento do Brasil este ano, mas passou a ver uma desaceleração mais intensa em 2026, citando o impacto das tarifas dos Estados Unidos e apontando sinais de moderação da atividade, mostrou relatório divulgado nesta terça-feira, 14.

O relatório Perspectiva Econômica Global mostrou que o FMI prevê agora expansão de 2,4% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) este ano, 0,1 ponto percentual a mais do que na projeção feita em julho. Mas para 2026 a conta foi reduzida em 0,2 ponto, a 1,9%.

“No Brasil, sinais de moderação estão aparecendo em meio às políticas monetária e fiscal apertadas”, ressaltou o FMI.

A projeção do FMI para a economia brasileira este ano é ligeiramente melhor do que a do governo, que prevê uma expansão de 2,3%. Para 2026, entretanto, o Ministério da Fazenda está mais otimista, com uma estimativa de crescimento de 2,4%.

No segundo trimestre, a atividade econômica do Brasil cresceu 0,4% sobre os primeiros três meses do ano, de acordo com dados do IBGE, um resultado que confirmou as expectativas de enfraquecimento em meio à política monetária restritiva. O IBGE divulgará os dados do PIB no terceiro trimestre em 4 de dezembro.

Em agosto, Trump impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, justificando a medida em parte pelo que chamou de “caça às bruxas” do governo brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no processo por tentativa de golpe de Estado.

Posteriormente, alguns produtos ficaram isentos dessa super tarifa e o governo brasileiro vem buscando negociar com os EUA. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump conversaram por telefone no início do mês e a expectativa é de haja um encontro entre os dois.

Vem pesando sobre a atividade econômica brasileira a taxa básica de juros em um nível restritivo de 15%, e o Banco Central disse que entrou agora em um novo estágio da política monetária que prevê a Selic inalterada por longo período para buscar a meta de inflação.

No relatório, o FMI calculou uma inflação média anual no Brasil de 5,2% este ano e de 4,0% — o centro da meta oficial para a inflação é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

O Fundo também inclui o Brasil entre os países que devem apresentar um aumento “significativo” da dívida como proporção do PIB em 2025, ao lado de China, França e Estados Unidos, considerando os resultados dos saldos primários projetados para o ano para essas economias.

O FMI ajustou a perspectiva de crescimento para as Economias de Mercados Emergentes e em Desenvolvimento, dos quais o Brasil faz parte, passando a ver crescimento de 4,2% este ano, contra 4,1% antes, e mantendo a perspectiva para 2026 em 4,0%.

O Fundo ponderou que a atividade nesse grupo, excluindo a China, foi mais forte do que o esperado no primeiro semestre deste ano, graças em parte a uma produção agrícola recorde no Brasil, forte expansão do setor de serviços na Índia e demanda doméstica resiliente na Turquia.

“No entanto, condições externas estão se tornando mais desafiadoras e, em alguns casos, o ímpeto doméstico está desacelerando”, ponderou o relatório.

“Tarifas mais altas impostas pelos Estados Unidos estão reduzindo a demanda externa, com profundas implicações para várias grandes economias orientadas para a exportação, enquanto a incerteza na política comercial está afetando o apetite das empresas por investimentos”, completou.

“Ao mesmo tempo, o espaço fiscal restrito está reduzindo a capacidade do governo de estimular a demanda doméstica onde necessário.”

Na América Latina e Caribe, o FMI vê crescimento de 2,4% em 2025 e de 2,3% em 2026, ajustes respectivamente de 0,2 ponto percentual para cima e de 0,1 ponto para baixo em relação a julho.

A melhora na projeção deve-se principalmente ao México, cuja estimativa de expansão este ano foi elevada em 0,8 ponto percentual em relação a julho, a 1,0%.

Focus

A melhora na projeção para o crescimento da economia brasileira também vem sendo apontada pelo Boletim Focus, documento semanal do Banco Central do Brasil (BCB) com levantamento de projeções feitas pelos agentes de mercado. Para o Produto Interno Bruto, a mais recente projeção do Focus projeta crescimento de 2,16% em 2025 e de 1,80% em 2026.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Pré-COP começa com contribuições dos círculos para ação climática

 

A Pré-COP, evento preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), começou nesta segunda-feira (13) em Brasília, com a participação de negociadores de 67 países. Durante a cerimônia de abertura, representantes dos quatros ciclos de liderança apresentaram contribuições para orientar os debates sobre os desafios da agenda climática global.

Ao abrir a rodada de discursos, o presidente em exercício, Gerado Alckmin, destacou a importância do esforço entre os países para avançar a uma etapa de implementação das ações climáticas.

“Convoco a todas e a todos a compartilharmos essa preocupação ambiental e esse amor ao próximo não apenas em nossos discursos, mas em ações concretas, em benefício de toda a comunidade internacional e como legado para as gerações futuras”.

Alckmin também propôs às delegações que orientem seus esforços em torno de três objetivos centrais: o reforço do multilateralismo, a conexão do regime climático à vida real das pessoas e a aceleração da implementação do Acordo de Paris.

Geraldo Alckmin destacou a importância do esforço entre os países para avançar a uma etapa de implementação das ações climáticas.- Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Além de Alckmin, o secretário executivo da Convenção do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), Simon Stiell, reforçou a necessidade de união entre os países independentemente de posições políticas e das pressões específicas, em benefício comum da humanidade. “A estrada para Belém é curta, mas com vastas possibilidades. Então, vamos fazer cada hora de trabalho contar”, reforçou.

Líderes dos círculos de ministros das Finanças, dos Povos, de Presidentes da COP e do Balanço Ético Global também fizeram um balanço na abertura da Pré-COP sobre os avanços nos debates ocorridos na etapa de mobilização. Os quatro círculos são estruturas da arquitetura pensada pela presidência da COP30 para dar suporte às negociações globais desde a etapa de mobilização até a conferência, em novembro.

Governança

O líder do Círculo de Presidentes da COP, Laurent Fabius, trouxe um balanço da etapa de mobilização ocorrida nas reuniões entre os presidentes de COP desde a que criou o Acordo de Paris, em 2015. Com o objetivo de fortalecer a governança climática global e buscar soluções para a implementação do Acordo de Paris, o grupo apontou quatro caminhos a serem seguidos inspirados por palavras iniciadas com a letra ‘i’: inspiração, implementação, inclusão e inovação.

De acordo Laurent Fabius, que presidiu a COP21 em Paris, a inspiração no Acordo de Paris conduzirá a implementação de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs na sigla em inglês) da Missão 1.5, de não permitir o aumento do aquecimento global e do Balanço Global (GST, na sigla em inglês), de acordo com um planeta carbono zero.

Para Fabius, tudo isso deve ocorrer de forma inclusiva com o aumento da participação de indígenas, afrodescendentes e povos tradicionais, missões religiosas, autoridades políticas, setor empresarial e organizações sociais. Tudo por meio de inovações. “É de grande importância que a ciência e a educação trabalhem a favor da justiça climática e de forma a enfrentar a desinformação”, destacou.

Povos

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que também lidera o Círculo dos Povos da COP30, destacou o avanço dos trabalhos nas duas comissões constituídas para mobilização. Na comissão dos povos indígenas, o principal avanço ocorreu na inclusão alcançada no processo de negociação climática.

Sônia Guajajara ressaltou os avanços do Círculo dos Povos – Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

“Nós, enquanto povos indígenas, teremos a maior e melhor participação da história das COPs na Zona Azul [onde ocorrem as negociações] e uma expectativa de recebermos mais de 3 mil indígenas na Aldeia COP, aumentando a participação com reforço das nossas mensagens centrais de reconhecimento dos territórios indígenas como política climática e o financiamento direto, trazendo os povos indígenas para o protagonismo das ações climáticas”, diz.

Sônia Guajajara também ressaltou que o círculo avançou também nas atividades desempenhadas pela comissão de afrodescendentes, povos e comunidades tradicionais e agricultura familiar no sentido de aumentar o engajamento e participação das comunidades tradicionais no regime climático.

Finanças

Fernando Haddad e o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, participam da abertura da Pré-COP30 – Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, líder do Círculo dos Ministros das Finanças, destacou a continuidade dos debates acerca da ampliação do financiamento climático nos países em desenvolvimento como um dos principais esforços do círculo. Cinco prioridades foram apontadas pelos trabalhos desenvolvidos no grupo: aumento dos fluxos de financiamento e de fundos climáticos, reforma de bancos multilaterais de desenvolvimento, aumento da capacidade doméstica de investimentos sustentáveis, inovações para mobilizar o setor privado e melhoria do marco regulatório do financiamento climático global.

De acordo com Haddad, algumas das iniciativas em resposta às prioridades foram o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a criação de uma coalizão aberta para integração dos Mercados de Carbono e a sugestão de uma supertaxonomia que reúna de forma global as vocações regionais para orientar investimentos sustentáveis.

Segundo o ministro da Fazenda, um relatório final será apresentado nesta semana em Washington, durante os Encontros Anuais do Banco Mundial e do FMI. Posteriormente o relatório será encaminhado com a Agenda de Ação para debate em São Paulo, no mês de novembro.

“Por fim, o documento será formalmente entregue ao Presidente da COP em Belém, como contribuição à construção do Mapa do Caminho de Baku a Belém para 1,3 trilhão de dólares”, destaca.

Balanço Ético Global

Marina Silva destacou os diálogos do círculo de participação social ocorridos em cada um dos continentes do mundo – Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima e líder do Balanço Ético Global – o quarto círculo da COP30 – Marina Silva destacou que o círculo de participação social realizou seis diálogos regionais ocorridos em cada um dos continentes do mundo, além de 56 diálogos que alcançaram 15 países de 20 nacionalidades, reunindo mais de 3,7 mil pessoas em torno de reflexões éticas sobre as decisões políticas e implementações das ações climáticas.

“Ele [o Balanço Ético Global] amplia a agenda climática para incorporar dimensões culturais, raciais, intergeracionais e territoriais — reconhecendo que a transição necessária é tanto técnica quanto dos princípios e valores humanos”, destacou Marina Silva.

Após apresentar o resumo sobre os trabalhos do BEG, Marina Silva reforçou a ideia de mutirão lançada pela presidência designada da COP30 como a ferramenta mais capaz de viabilizar a implementação dos acordos já alcançados pelo multilateralismo climático. “Que o BEG e os demais círculos de mobilização da COP30 possam contribuir para que ela [a COP30] entre para a história das COPs como a base fundante de um novo marco referencial.  O marco referencial que ajudou a evitar os pontos de não retorno: tanto do clima quanto do multilateralismo climático”, conclui.

Balança comercial tem superávit de US$ 1,523 bilhão na 2ª semana de outubro

 

Brasília, 13 – A balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 1,523 bilhão na segunda semana de outubro. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgados nesta segunda-feira, 13, o valor foi alcançado com exportações de US$ 6,928 bilhões e importações de US$ 5,404 bilhões.

No ano, de janeiro a outubro de 2025, o superávit soma um total de US$ 47,977 bilhões, resultado de US$ 269,363 bilhões em exportações e US$ 221,386 bilhões, bilhões em importações.

O superávit do acumulado deste ano é 17,4% menor que o do mesmo período de 2024 (quando estava em US$ 62,794 bilhões).

Outubro

Nas duas primeiras semanas de outubro, o superávit na balança foi de US$ 2,498 bilhões, crescimento de 68% na comparação com o mesmo período de 2024.

Até a segunda semana de outubro, comparado ao mesmo período de outubro do ano passado, as exportações cresceram 8,6% e somaram US$ 11,571 bilhões. O resultado se deu devido ao crescimento nos três setores: de 15% em Agropecuária, que somou US$ 2,350 bilhões; de 17,4% em Indústria Extrativa, que chegou a US$ 2,697 bilhões e de 3,7% em Indústria de Transformação, que alcançou US$ 6,475 bilhões.

Por outro lado, as importações caíram 1% nas primeiras duas semanas de outubro e totalizaram US$ 9,073 bilhões na mesma comparação, com queda de 4,8% em Agropecuária, que somou US$ 161,63 milhões; queda de 30,5% em Indústria Extrativa, que chegou a US$ 388,51 milhões e, por fim, crescimento de 1% em Indústria de Transformação, que alcançou US$ 8,467 bilhões.

Nobel de Economia diz que UE precisa enfrentar Trump e seguir o exemplo de Lula

 

O economista estadunidense e vencedor do prêmio Nobel Joseph Stiglitz publicou um artigo de opinião no jornal online Project Syndicate sobre como a União Europeia (UE) deveria conduzir as negociações com Donald Trump. Ele encerra o texto com um conselho para que o bloco econômico imite a postura do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do chinês Xi Jinping.


“Quando o presidente chinês Xi Jinping enfrentou Trump, o americano recuou. Mas recentemente, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que algumas coisas não são negociáveis: a soberania de seu país, a dignidade, o Estado de Direito e a democracia. A UE deveria fazer o mesmo”, escreve Stiglitz.

O economista acusa o presidente Donald Trump de não cumprir acordos, recordando como ele assinou documentos com o Canadá e o México durante seu primeiro mandato que, rapidamente, foram descartados no começo do mandato atual. “Qualquer acordo com Trump deve ser considerado, na melhor das hipóteses, uma trégua temporária”, escreve.

Stiglitz critica ainda as tentativas de acordo entre UE e os Estados Unidos por colocarem os países europeus em uma desvantagem que não condiz com sua importância econômica. Ele cita o fato de que a Europa tem uma população 30% maior  e uma economia menor por uma pequena margem, o que deveria garantir simetria.

O que UE e Trump estão discutindo

No texto, Joseph Stiglitz rememora o acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia anunciado em 27 de julho na cidade de Turnberry, Escócia. O documento não foi assinado.

Stiglitz critica o projeto de acordo por manter “tarifas injustas sobre importações europeias” e por conter um compromisso de que a UE “investiria nos EUA e na compra de energia estadunidense”. A UE é um bloco econômico, e não uma economia de planejamento central como ocorre com um país. Assim, seus acordos não podem forçar investimentos por parte dos países membros.

“Os números de Turnberry foram oferecidos meramente para aplacar Trump, permitindo que ele se vanglorie por usar o poder americano para colecionar outro troféu e extrair mais valor das cadeias produtivas globais. Quem se importa se a lei internacional foi pisoteada? Isto é simplesmente o que grandes potências fazem. Veja a Rússia, com sua guerra de conquista contra um vizinho pacífico”, ironiza Stiglitz.

A escrita do texto ocorre no momento em que outro desafio impõe-se entre a UE e os EUA. O bloco europeu discute no momento uma regulamentação para o setor digital, que deve impor regras sobre todas as redes sociais em operação no bloco, inclusive as americanas. Apesar de o texto não estar concluído, Trump já acusa a proposta de ser uma tentativa de sabotar as empresas estadunidenses.

“Esta regulamentação não é discriminatória contra os Estados Unidos e suas gigantes de tecnologia. Elas são aplicadas uniformemente sobre todas as empresas operando na UE”, afirma Stiglitz. “Eu e muitos outros nos preocupamos que essas regras não sejam duras o suficiente. As gigantes de tecnologia ainda exercem poder demais, fazem pouquíssima moderação e continuam a abusar dos direitos à privacidade.”

Quem é o Nobel de economia Joseph Stiglitz

Laureado com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2001, Joseph E. Stiglitz tem uma carreira dupla como  pesquisador de ponta e conselheiro político. Já ocupou cargos de grande influência, como economista-chefe do Banco Mundial (1997-2000) e presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Bill Clinton (1995-1997).

A principal contribuição teórica de Stiglitz foi sua análise dos mercados com informação assimétrica. Ele demonstrou que, ao contrário dos modelos econômicos clássicos que pressupõem que todos os agentes têm acesso à mesma informação, na realidade uma das partes em uma transação (como um vendedor de carros usados ou um banco que concede um empréstimo) frequentemente sabe muito mais do que a outra.

Essa assimetria leva a “falhas de mercado”, provando que os mercados, deixados por si sós, não são necessariamente eficientes ou estáveis. Com base nisso, Stiglitz tornou-se um defensor da necessidade de regulação governamental para corrigir essas falhas, especialmente no setor financeiro.

Petrobras: Supercomputador Harpia entra em ação e eleva em 60% capacidade computacional

A Petrobras colocou em operação o supercomputador Harpia, o maior de um pacote de cinco supercomputadores que custaram R$ 500 milhões à estatal. Equivalente a 10 milhões de celulares ou 200 mil notebooks, apenas o Harpia custou R$ 435 milhões e, junto com os outros, vai aumentar em mais de 60% a capacidade computacional da empresa.

Sozinho, o Harpia será responsável por aposentar antigos supercomputadores de alta performance (HPCs, na sigla em inglês) da companhia, como Fênix, Atlas e Dragão, que serão desligados, em um processo normal na indústria cibernética.

Segundo a Petrobras, os novos computadores contribuirão para que a companhia mantenha a liderança em capacidade de processamento na América Latina. A Petrobras foi campeã da América Latina, nos últimos cinco anos, do ranking Top500.org, que avalia os maiores supercomputadores do mundo.

O objetivo dos supercomputadores é obter resultados mais rápidos e precisos, explica a companhia, para os desafios de operação em águas ultraprofundas e novas áreas exploratórias, como o pré-sal e a Margem Equatorial brasileira, cuja licença para exploração é esperada para este ano.

O Harpia será utilizado pelos geofísicos da Petrobras para processar dados sísmicos brutos e transformá-los em imagens detalhadas do subsolo.

“É como criar um mapa 3D das camadas rochosas abaixo da superfície, com imagens muito mais nítidas e precisas das estruturas geológicas, essenciais para identificar o sistema petrolífero e potenciais reservatórios de petróleo e gás”, explicou em nota a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos.

De acordo com a diretora de Assuntos Corporativos, Clarice Coppetti, só em projetos de PD&I, entre 2025 e 2029, estão previstos US$ 4,2 bilhões, um crescimento de 17% em relação ao plano anterior.

“Obter imagens sísmicas mais detalhadas da subsuperfície nos permite refinar a simulação do comportamento dos reservatórios, possibilitando uma produção mais eficiente. Além disso, grandes capacidades computacionais permitem à Petrobras competir globalmente, atrair parcerias e oportunidades de negócios”, disse a diretora.

Gigante

A renovação dos supercomputadores faz parte da estratégia da empresa para manter o parque tecnológico atualizado. O HPC Harpia pesa cerca de 50 toneladas e mede 50 metros de comprimento, considerando-se todas as partes em linha reta. Ele terá cerca de 146 PFlops Rpeak, sendo que um Petaflop (PFlop) equivale a 1 quatrilhão de Flops, ou operações por segundo, na sigla em inglês.

Os outros supercomputadores do mesmo lote do Harpia, como o Ada Lovelace, dedicado à geoestatística, e o Capivara, às imagens sísmicas, já estão em operação no Centro de Processamento de Dados do Centro de Pesquisas da Petrobras, o Cenpes. O Quati, em fase de testes, deve iniciar os trabalhos este mês e também será voltado para análise sísmica.

O Tupã 2, previsto para o primeiro trimestre do ano que vem, será dedicado aos métodos geofísicos de multifísica, tecnologia que permite o estudo simultâneo de diferentes propriedades de rochas e fluidos em subsuperfície como densidade e resistência elétrica.

Os cinco supercomputadores foram comprados da Lenovo, empresa vencedora da licitação.