Rodrigo Rangel Do Platô BRi
O
presidente Lula está, de novo, investido de sua versão
caixeiro-viajante. No início da manhã desta quarta-feira, 22, em
Brasília – já noite na Ásia –, ele desembarcou em Jacarta, capital da
Indonésia, para mais um giro pela região com a missão principal de
ampliar as exportações de produtos brasileiros para um mercado que há
anos está em franca expansão.
Entre
os vários itens da pauta está, outra vez, a tentativa de destravar a
venda de carnes, que ainda sofre restrições de países como a própria
Indonésia. Como parte dessa tarefa, devem se juntar à comitiva
presidencial os irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da
gigante JBS. A dupla está em Bangcoc, na Tailândia, e é esperada nas
próximas horas em Jacarta, onde cerca de 100 empresários brasileiros de
diferentes setores se encontrarão com o próprio Lula e com
representantes de empresas e do governo da Indonésia.
Na manhã
desta quinta-feira, 23, em Jacarta, noite no Brasil, Lula será recebido
com pompa pelo presidente indonésio, Prabowo Subianto, no palácio do
governo local. Na visita de Estado, ele passará tropas em revista,
escoltado por cavalos das Forças Armadas indonésias. Ainda em Jacarta, o
presidente visita o escritório central da Asean, a Associação das
Nações do Sudeste Asiático, e discursa no encerramento do encontro
empresarial que terá os irmãos Batista como protagonistas.
A
Indonésia já é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, mas o
governo acredita que há margem para ampliar os números, especialmente
neste momento em que vários países do mundo estão sendo obrigados a
rever suas prioridades no comércio exterior em razão das tarifas
impostas pelo governo de Donald Trump.
Recentemente, a Indonésia
deu sinal verde para um conjunto de frigoríficos brasileiros exportar
carne para o país, mas ainda há pendências importantes que impedem a
ampliação das vendas. Gigantes brasileiros do setor estão de olho,
especialmente, em um programa do governo de Prabowo Subianto para a
inclusão de proteínas na merenda escolar de estudantes de escolas
públicas ao redor do território indonésio, espalhado em um arquipélago
de mais de 10 mil ilhas. Estima-se que, apenas nesse programa, a gestão
Subianto investirá a impressionante cifra de 38 milhões de dólares por
dia.
Encontro com Trump
Donald
Trump, por sinal, é também um personagem que já se tornou parte
integrante da história desta visita de Lula à Ásia. Isso porque, na
segunda parte do périplo de Lula, na vizinha Malásia, há chances
concretas de ocorrer finalmente a primeira reunião bilateral dele com o
presidente norte-americano – recentemente, na ONU, os dois se falaram
rapidamente, se abraçaram e combinaram de marcar um encontro.
Tanto
Lula quanto Trump participarão em Kuala Lumpur, a capital malaia, como
convidados especiais da 47ª reunião de cúpula dos dez países do sudeste
asiático que integram a Asean.
As tratativas entre Brasília e
Washington para que o encontro de Lula com Trump finalmente aconteça
estão avançadas. Do lado brasileiro, há grande expectativa pela
confirmação, mas o Palácio do Planalto e o Itamaraty ainda adotam
cautela para evitar que, caso a reunião não ocorra, o assunto acabe
eclipsando o que houver de positivo na viagem – nesse caso, o Planalto
teria de lidar com a narrativa de que Lula tomou um bolo do colega
norte-americano.
Auxiliares do governo trabalham para que a
reunião bilateral aconteça no domingo, 26. No mesmo dia, Lula já tem
confirmado um encontro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi,
outro convidado especial da cúpula da Asean.
Ainda na Malásia, o
presidente brasileiro discursará no encontro dos países do sudeste
asiático e se reunirá com o primeiro-ministro do país, Anwar Ibrahim,
com quem compartilha posições semelhantes sobre temas da política
internacional, como as guerra na Ucrânia e na Palestina.
Esta é a
quarta grande viagem de Lula à Ásia no atual mandato. Em outras, como a
que teve como destino o Japão e o Vietnã, tratativas para derrubar
travas para na exportação de carne brasileira também estiveram no centro
da pauta. Em uma das visitas à China, no ano retrasado, o presidente
também contou com os irmãos Batista na comitiva.
Acordado no avião
Entre
o embarque em Brasília na manhã de segunda-feira, 20, e a chegada a
Jacarta, Lula passou 22 horas dentro do avião. Desta vez, a viagem não
foi feita no chamado Aerolula, a mais conhecida aeronave da frota
presidencial. Em razão da distância, o Planalto optou por utilizar o
Airbus 330 da Força Aérea Brasileira que já serviu ao presidente em
outras oportunidades. Houve uma escala para reabastecimento em
Joanesburgo, na África do Sul.
Ao PlatôBR, auxiliares do
presidente disseram que ele passou o tempo todo acordado, de Brasília a
Jacarta, conversando com os ministros que o acompanham e foram
convidados a dividir a cabine privativa da aeronave. Integram a comitiva
os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Carlos Fávaro
(Agricultura e Pecuária), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Luciana
Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), além do presidente do Banco
Central, Gabriel Galípolo. O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei
Rodrigues, se juntará ao grupo em Kuala Lumpur.