quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Sabesp supera metas de novas ligações e reforça plano de universalizar até 2029

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A Sabesp superou as metas de novas ligações de água e esgoto previstas para o ciclo 2024-2025, segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira, 10. Com isso, a empresa reforça o plano de universalizar os serviços até 2029, quatro anos antes do prazo nacional. A mudança de cronograma foi uma das premissas centrais da privatização da companhia, concluída em julho do ano passado.

Até novembro, foram 645,7 mil novos acessos à rede de água e 762,6 mil à de esgoto, acima das metas de 435,8 mil e 588,4 mil, respectivamente. Os parâmetros estão estipulados no novo contrato firmado pelo governo paulista, por meio da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp).

“Esse resultado nos dá confiança de que entregaremos a universalização conforme pactuado um ano atrás”, afirmou o CEO da Sabesp, Carlos Piani, em entrevista à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. “Sabemos que temos muito a melhorar e o final sempre vai ficando mais difícil, mas, se mantivermos esse ritmo, estaremos bem encaminhados”, complementou.

Para atingir a universalização, a Sabesp mira investir cerca de R$ 70 bilhões em obras. O montante inclui a instalação de mais de 10 mil quilômetros de novas tubulações para o abastecimento e outros 12 mil quilômetros de tubulações para a rede de esgoto.

Investimentos e oportunidades

Entre janeiro e setembro de 2025, foram R$ 10,4 bilhões aportados, alta de 150% ante igual período de 2024. O valor faz da companhia a quarta maior investidora da Bolsa, atrás de Petrobras, Vale e Localiza, segundo Piani.

Nesse cenário, o executivo destaca que, embora a empresa seja “extremamente rentável”, a geração de caixa operacional e a receita tarifária ainda não são suficientes para bancar sozinhas o atual ciclo de obras, o que tem aumentado a procura da empresa por instrumentos de crédito.

No mês passado, a Sabesp oficializou a liquidação de uma debênture corporativa no montante de R$ 5 bilhões, a maior já emitida pela companhia. Com essa captação, ultrapassou R$ 18 bilhões movimentados junto ao mercado em 2025, por meio de diferentes mecanismos de financiamento.

“Quando precisamos captar nessa magnitude, não podemos escolher um único instrumento. Abrimos todas as portas para usar o que estiver disponível no momento mais favorável”, disse. Entre os instrumentos, citou debêntures no mercado local, debêntures incentivadas, linhas setoriais como o Saneamento para Todos e emissões de bonds no exterior.

Piani afirmou ainda que os resultados do primeiro ano pós-privatização abrem espaço para avaliar oportunidades em outros estados, além de São Paulo. “Não temos nenhuma restrição, podemos olhar para fora se acharmos adequado. Mas nossa licença para isso é fazer um bom trabalho aqui”, disse.

Aumento tarifário

O avanço acelerado das obras também repercute na discussão tarifária. O tema ganhou força após a Sabesp anunciar, no início de dezembro, o primeiro reajuste desde a privatização. O aumento de 6,11%, válido a partir de 1º de janeiro de 2026, gerou críticas porque o governo estadual havia defendido, durante o processo de venda da companhia, que a operação não resultaria em alta de preços no curto prazo.

Piani lembra que, no ato da privatização, as tarifas foram reduzidas, cerca de 10% na tarifa social, 1% na residencial padrão e aproximadamente 0,5% nas demais categorias. Segundo ele, o reajuste agora anunciado ocorre em um momento em que os investimentos cresceram de forma acelerada para cumprir a meta de universalização antecipada, enquanto o reconhecimento desse custo na tarifa é gradual, como previsto nas regras regulatórias.

Para mitigar esse descompasso, ele destaca a criação, pelo governo paulista, do Fundo de Apoio à Universalização (FAUSP), abastecido com parte dos recursos obtidos na venda da companhia e com os dividendos da participação remanescente do Estado. O fundo, diz Piani, foi estruturado justamente para evitar um aumento maior neste período de obras intensificadas.

“O objetivo é garantir que a tarifa não suba mais do que se a Sabesp ainda fosse pública, mesmo com o aumento dos investimentos. Essa é a lógica do mecanismo”, explicou.

Quem é Henrique Braun, brasileiro que será o novo CEO da Coca-Cola global

 

Nesta quarta-feira, a Coca-Cola anunciou a nomeação do brasileiro Henrique Braun, executivo interno, como seu novo presidente-executivo, substituindo James Quincey, enquanto as empresas de alimentos tentam ajustar suas estratégias para consumidores que buscam bebidas e lanches mais saudáveis e acessíveis.

Braun, de 57 anos, assumirá o cargo de CEO da gigante de bebidas em 31 de março. Veja a íntegra do comunicado global da Coca-Cola.

O portfólio de bebidas sem açúcar da Coca-Cola, bem como suas linhas de produtos mais premium, como o leite Fairlife, tem mantido a empresa em melhor situação em um cenário de consumo instável, ao contrário de rivais como a PepsiCo.

Tanto Quincey quanto Braun ingressaram na empresa em 1996 e ocuparam cargos de liderança em todo o mundo na Coca-Cola.

Braun foi nomeado diretor de operações da Coca-Cola em janeiro, trazendo consigo experiência na empresa em áreas como cadeia de suprimentos, desenvolvimento de novos negócios e operações de engarrafamento.

Ele nasceu na Califórnia, mas foi criado no Brasil. Formado em engenharia agronômica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem mestrado em ciências pela Michigan State University e MBA pela Georgia State University. O executivo foi presidente da Coca-Cola Brasil entre 2016 e 2020 e progrediu em funções de crescente responsabilidade na América do Norte, Europa, América Latina e Ásia. Veja aqui o currículo.

“Vou me concentrar em dar continuidade ao impulso que construímos com nosso sistema. Trabalharemos para desbloquear o crescimento futuro em parceria com nossos engarrafadores”, disse Braun em comunicado.

Desafios

O preço das ações da Coca-Cola subiu quase 63% desde que Quincey, de 60 anos, assumiu o cargo de presidente-executivo em maio de 2017.

Quincey esteve à frente da empresa durante um período em que a fabricante de refrigerantes intensificou seu foco em bebidas sem açúcar e com baixas calorias, além de adicionar linhas de produtos como leite, água com gás, café e bebidas energéticas por meio de aquisições.

“Quincey estabeleceu um padrão elevado. Os investidores podem esperar que o novo presidente-executivo continue a renovar o portfólio de marcas”, disse Kimberly Forrest, diretora de investimentos da Bokeh Capital Partners.

O setor de bens de consumo passou por uma série de mudanças em cargos de alta direção este ano, à medida que as empresas se adaptam a um ambiente de consumo dividido, além de desafios operacionais e na cadeia de suprimentos devido às tarifas.

A Coca-Cola enfrenta vários desafios, incluindo a demanda morna por seus produtos nos Estados Unidos e na Europa, além do aumento do escrutínio dos clientes sobre seus ingredientes. Neste verão, após um incentivo do presidente americano, Donald Trump, a empresa declarou que lançaria uma versão de seu refrigerante tradicional com açúcar de cana-de-açúcar em vez de xarope de milho rico em frutose.

Por que mercado já não espera corte na Selic em janeiro mesmo com a inflação em queda

 

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) de manter a taxa de juros em 15% ao ano na quarta-feira, 9, veio, mais uma vez, acompanhada do comentário de que o cenário uma política monetária “em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.

Uma parte do mercado apostava em um corte já na próxima reunião, no final de janeiro do ano que vem, expectativa que foi reforçada após o presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmar em um evento que a expressão não é “zerada” a cada nova reunião, já que ela aparece nos últimos comunicados, dando margem ao entendimento de que o ‘período bastante prolongado’ poderia estar chegando ao fim.

Essa aposta em janeiro também ganhou reforço com os dados mais recentes do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo), índice que mede a inflação oficial do país. Na própria quarta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o IPCA acumulou nos 12 meses até novembro alta de 4,46%. A taxa em 12 meses foi abaixo do teto da meta pela primeira vez em pouco mais de um ano.

Na medição anterior, o IPCA marcava 4,15% no ano e a 4,50% em 12 meses. Além disso, a mais recente pesquisa Focus do BC apontava a expectativa do mercado para a inflação diminuindo, com projeção de que o índice encerre este ano com alta de 4,40%. A meta é de 3% ao ano, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

A taxa de juros é a principal ferramenta de política monetária para controle da inflação. Em geral, patamar mais alto dos juros esfria a atividade econômica e reduz a trajetória de alta dos preços.

Mas o comunicado que acompanhou a decisão dessa quarta-feira reforça agora a aposta daqueles que apostavam no início do afrouxamento nos juros só partir da segunda reunião de 2026, em março. Em geral, analistas consideraram que o tom do Copom foi mais duro (hawkish) do que se esperava, já que a expectativa era de que o Copom deixasse já aberta a possibilidade de corte de juros para os próximos meses.

“Mas ele não fez isso. Pelo contrário. Esse tom duro joga para março a possibilidade de corte. Isso faz com que aquela chance de cortar os juros na próxima reunião de janeiro, fique descartada. Primeiro o Comitê vai ter que, na reunião de janeiro, precisar ajustar o discurso, e vai ter que justificar essa possibilidade de corte de juros para mais para frente, para março”, afirma Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

Outro ponto está na avaliação do Comitê sobre o cenário doméstico, principalmente a inflação, que ainda segue resiliente no setor de serviços. Apesar de reconhecer que a inflação cheia recuou, o grupo pontua que o IPCA, índice oficial que mede a inflação do país, ainda segue acima do centro da meta, que é de 3%, podendo atingir até 4,5% em 12 meses.

“A meta não é a banda superior. A banda foi feita para que, dado que (a inflação) oferece flutuações… criou-se um ‘buffer’ para amortecer eventuais flutuações. Mas de maneira nenhuma a meta é de 4,5%”, afirmou Galípolo durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado no final de novembro. “Tenho que perseguir uma meta de inflação de 3%”, reforçou o chefe do BC.

“Por mais que exista o reconhecimento de um avanço no arrefecimento da atividade, na queda da inflação, a estratégia do Banco Central permanece a mesma. Existe um reconhecimento de que as coisas estão acontecendo na direção necessária. A nossa conclusão é de que a comunicação do BC vai na direção de que cortes de juros somente a partir de março de 2026”, diz Rafael Cardoso, economista-chefe do Daycoval.

Detalhes da comunicação

Os analistas também apontaram para ‘ajustes marginais’ no texto do comunicado em relação ao anterior, mas que, apesar de mudanças sutis, passam informações importantes para a leitura sobre as considerações do Comitê.

“Houve ajustes marginais na sinalização, com a introdução da noção de ‘integral’ ao falar em ‘estratégia em curso’, e a troca de ‘suficiente’ por ‘adequada’, o que sugere maior confiança na estratégia [de juros mais elevados]”, aponta Natalie Victal, economista-chefe da SulAmerica Investimentos.

“A substituição do termo ‘suficiente’ por ‘adequada’ não é trivial, reforça José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos. “Na reunião anterior, o Comitê entendia que 15% era suficiente. Agora, considera que este é o nível que deve ser mantido — o patamar adequado — sem sugerir a necessidade de elevação adicional. O balanço de riscos foi reiterado integralmente, sem qualquer alteração, mantendo a avaliação que sustenta a taxa de juros em 15% ao ano”, afirma.

Para Camargo, o tom geral do comunicado é firme e indica, “com clareza”, que é muito pouco provável que o processo de redução da taxa de juros tenha início em janeiro. “Como não houve qualquer indicação nesse sentido, o cenário mais provável é de que o ciclo possa começar em março — desde que, em janeiro, o Comitê dê sinais de que essa será a data adequada”.

O que diz quem pensa diferente

A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, diverge dos pares quando podem começar os cortes, assim como a economista do BTG Pactual, Iana Ferrão, e veem a possibilidade já na próxima reunião em janeiro.

“O Comitê tem reiterado que a decisão de janeiro será orientada pelo conjunto de dados a ser divulgado até lá. Nosso cenário prospectivo contempla continuidade da desaceleração da atividade [econômica], já evidente nos segmentos mais cíclicos, bem como moderação adicional do mercado de trabalho e dos núcleos de inflação. Nesse contexto, entendemos que as condições para o início da flexibilização estarão dadas em janeiro de 2026”, diz Ferrão.

Rafaela Vitoria, do Inter, também mantém a expectativa de início da flexibilização a partir de janeiro de 2026, mas condicionada a uma evolução positiva do cenário, que seria de nova queda da inflação nos próximos meses. “Com a atividade desacelerando, deve resultar em novas revisões de baixa das expectativas e abrir espaço para o início dos cortes no começo de 2026.”

Leia a íntegra do comunicado do Copom

O ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores segue apresentando, conforme esperado, trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, como observado na última divulgação do PIB, enquanto o mercado de trabalho mostra resiliência. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes seguiram apresentando algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,4% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,2% no cenário de referência (Tabela 1).

Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.

O Comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.

O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que, como usual, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Trump quer América Latina controlada pelos EUA

 

Com sua nova Estratégia de Segurança, apelidada de “Doutrina Donroe”, Trump volta a definir a América Latina como área de influência dos EUA – nem que seja à força. E o Brasil está sob pressão, como durante a Guerra FriaO que se tornava evidente já havia alguns meses com a postura agressiva dos EUA perante a América Latina agora é oficial: o presidente Donald Trump deu ao “Hemisfério Ocidental” a mais alta prioridade geopolítica dos Estados Unidos.

“Após anos de negligência, os Estados Unidos reafirmarão e farão cumprir a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental”, afirma a nova Estratégia de Segurança Nacional que os EUA divulgaram na semana passada.

É revelador que o termo América Latina apareça apenas duas vezes no documento de 33 páginas. Mas, para Trump, os 33 Estados da América do Sul, da América Central e do Caribe fazem parte do que ele chama de Hemisfério Ocidental – e este, fica claro, é dominado pelos EUA.

A Doutrina Monroe foi anunciada há 200 anos como estratégia de política externa e recebeu o nome do então presidente dos EUA, James Monroe. Pela doutrina, os Estados da América Latina, recém-independentes, deveriam ser protegidos de uma recolonização pela Europa. Mais tarde, essa doutrina foi repetidamente usada para justificar intervenções militares dos EUA.

Recentemente, o jornal The New York Post apelidou a estratégia de Trump de “Doutrina Donroe”, um neologismo combinando Donald e Monroe.

Pois Trump ampliou a doutrina com um acréscimo importante: “Vamos negar a concorrentes não hemisféricos a capacidade de posicionar forças ou outros recursos ameaçadores ou de possuir ou controlar ativos estrategicamente vitais em nosso hemisfério”.

Além disso, os Estados Unidos vão ampliar sua presença militar no Hemisfério Ocidental e se dar o direito de conduzir “operações direcionadas incluindo, quando necessário, o uso de força letal”, com o objetivo de controlar rotas marítimas e o acesso a locais estratégicos.

Trump está, assim, justificando suas ações contra a Venezuela. Há semanas que ele mantém a Marinha dos EUA patrulhando a costa do país, supostamente para combater o narcotráfico. O governo americano diz que mais de 80 pessoas já foram mortas.

Mas Trump também quer aproximar os países latino-americanos dos EUA por meio de estreitos laços econômicos. Empresas americanas deverão receber acesso privilegiado aos mercados internos por meio de acordos comerciais. Assim Trump quer recompensar os governos que se alinham aos valores e estratégias de Washington.

Trump já mostrou como isso funcionará com o caso da Argentina. Ele primeiramente apoiou o presidente Javier Milei com empréstimos de 40 bilhões de dólares. A isso seguiu-se um amplo acordo de cooperação em comércio e investimentos que supera em muito os acordos tradicionais dos EUA com países da América Latina e que facilitou o acesso ao mercado argentino a empresas americanas.

O acordo também visa validar normas norte-americanas, padrões de segurança e a legislação de patentes dos EUA na Argentina, bem como facilitar a transferência de grandes quantidades de dados. Os EUA terão acesso garantido a terras raras e outros minerais importantes.

Trump também anunciou acordos semelhantes com Equador, Guatemala e El Salvador. Bolívia e Chile, onde houve trocas de governo, poderão se tornar os próximos países parceiros de Trump na América do Sul.

Por trás da doutrina de segurança agressiva de Trump está a crescente influência da China na América Latina. Embora a China não seja mencionada explicitamente como um ator no documento estratégico, fica claro nas entrelinhas que ela é o principal alvo.

Por isso Washington quer impor, a novos acordos com países latino-americanos, condições para frear a influência da China – desde o controle de instalações militares e portos até a aquisição de ativos estratégicos. Empresas estrangeiras de infraestrutura serão “contidas”, e haverá pressão por meio de “influência dos EUA nas áreas de finanças e e tecnologia”.

Para o Brasil, o maior país da América Latina e a segunda maior economia do “Hemisfério Ocidental”, essa nova postura agressiva de Washington é uma realidade diária desde meados do ano.

O governo brasileiro e sua diplomacia enfrentam um desafio sem igual desde a Guerra Fria.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

Com Selic a 15%, Brasil segue com o segundo juro real mais alto do mundo

 

O Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira, 9, pela manutenção da taxa básica de juros em 15% ao ano. Com isso, o Brasil segue na  2ª posição no ranking dos países com o maior juro real do mundo, atrás da Turquia e à frente da Rússia e da Argentina.

A Selic atualmente está no patamar mais alto desde julho de 2006, quando passou de 15,25% para 14,75%.

O ranking é um levantamento feito pela consultoria MoneyYou, que considera os 40 países mais relevantes do mercado de renda fixa mundial nos últimos 25 anos.

A taxa de juro real do Brasil, que é o resultado do juro nominal descontada a inflação, está em 9,44% ao ano. A da Turquia alcança 10,33% e a Rússia em 7,89% ao ano.

Já no ranking nominal de juros, o Brasil ocupa a 4ª colocação. Com 15% ao ano, o país está atrás da líder Turquia, com 40,50%, da Argentina, com 29,00% e da Rússia, com 17,00% ao ano.

Ranking de países com as maiores taxas de juros reais

1. Turquia 10,33%
2. Brasil 9,44%
3. Rússia 7,89%
4. Argentina 7,14%
5. México 4,21%
6. Indonésia 2,44%
7. Hungria 2,14%
8. África do Sul 2,07%
9. Israel 1,91%
10. Filipinas 1,79%
11. Reino Unido 1,43%
12. Índia 1,27%
13. Austrália 1,09%
14. Hong Kong 0,69%
15. Chile 0,58%
16. República Tcheca 0,58%
17. Malásia 0,51%
18. Coreia do Sul 0,48%
19. Estados Unidos 0,40%
20. Grécia 0,39%
21. Itália 0,35%
22. Bélgica 0,30%
23. França 0,19%
24. Alemanha 0,03%
25. Espanha 0,02%
26. Portugal-0,06%
27. Áustria-0,08%
28. Nova Zelândia-0,08%
29. Polônia-0,10%
30. Tailândia-0,26%
31. China-0,47%
32. Taiwan-0,50%
33. Cingapura-0,79%
34. Colômbia-0,86%
35. Suíça-0,96%
36. Japão-1,09%
37. Suécia-1,15%
38. Canadá-1,53%
39. Holanda-1,96%
40. Dinamarca-2,29%

Ranking de países com as maiores taxas de juro nominal

1. Turquia – 39,50%
2. Argentina – 29,00%
3. Rússia – 16,50%
4. Brasil – 15,00%
5. Colômbia – 9,25%
6. México – 7,25%
7. África do Sul – 6,75%
8. Hungria – 6,50%
9. Índia – 5,25%
10. Indonésia – 4,75%
11. Filipinas – 4,75%
12. Chile – 4,75%
13. Israel – 4,25%
14. Hong Kong – 4,25%
15. Polônia – 4,00%
16. Reino Unido – 4,00%
17. Estados Unidos – 3,75%
18. Austrália – 3,60%
23. República Tcheca – 3,50%
19. China – 3,00%
20. Malásia – 2,75%
21. Coreia do Sul – 2,50%
22. Nova Zelândia – 2,25%
24. Canadá – 2,25%
25. Alemanha – 2,15%
26. Áustria – 2,15%
27. Espanha – 2,15%
28. Grécia – 2,15%
29. Holanda – 2,15%
30. Portugal – 2,15%
31. Bélgica – 2,15%
32. França – 2,15%
33. Itália – 2,15%
34. Taiwan – 2,00%
35. Suécia – 1,75%
36. Dinamarca – 1,60%
37. Tailândia – 1,50%
38. Cingapura – 1,15%
39. Japão – 0,50%
40. Suíça – 0,00%

Cade questiona fundos de investimentos em ligas de futebol

 

Os cartolas brasileiros se dizem dispostos a pôr em campo, a partir de 2026, uma série de medidas capazes de elevar a organização do futebol nacional ao nível da qualidade de seus jogadores, ainda que a maioria deles prefira exercer seu talento nas principais ligas europeias, em busca de fama e dinheiro escassos por aqui, sobretudo o segundo item.

Entre as medidas, elencam-se um calendário minimamente exequível, o início da profissionalização da arbitragem e fair play financeiro, um conjunto de medidas para, basicamente, impedir os clubes de gastarem mais do que arrecadam e conquistarem triunfos à custa de impagáveis endividamentos.

As proposições foram feitas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas, por falta de uma, os cartolas decidiram criar duas ligas no Brasil e uma delas acabou contestada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O órgão que zela pela livre concorrência no país recebeu um parecer jurídico sobre a legalidade e os efeitos econômicos da operação que envolve a Liga Forte União (LFU) e investidores privados para a exploração, por 50 anos, dos direitos de transmissão das Séries A e B do Campeonato Brasileiro.

O documento, assinado pelo jurista e professor Wladimyr Camargos — especialista em direito esportivo —, aponta violação constitucional, risco concorrencial severo, possibilidade de nulidade de contratos e até ameaça à soberania esportiva nacional.

Em seu parecer, Camargos afirma que a cessão realizada por clubes ao chamado Condomínio LFU, estrutura que incorpora investidores financeiros externos ao Sistema Nacional do Esporte, é nula de pleno direito.

Segundo o jurista, o artigo 160, §3º, da Lei Geral do Esporte estabelece que direitos de arena só podem ser cedidos a organizações esportivas que regulam a modalidade e organizam competições — ou seja, entidades como a CBF ou ligas formalmente reconhecidas. Um condomínio privado com participação de fundos, diz o documento, não se enquadra nessa definição.

O parecer sustenta que a operação compromete o núcleo essencial da autonomia esportiva, princípio constitucional que protege o esporte de interferências políticas e econômicas externas capazes de desequilibrar a competição ou capturar seu funcionamento.

Para o jurista, embora os clubes tenham o direito de negociar a transmissão de suas partidas, a titularidade e a integridade da competição pertencem à CBF, nos termos do estatuto da entidade e das normas da Fifa e da Conmebol (federação internacional e confederação sul-americana de futebol, respectivamente).

Ao ceder poderes estruturais por meio século a um investidor financeiro, a LFU estaria expropriando competências regulatórias da confederação. O parecer alerta ainda que o modelo pode levar o Brasil a desalinhamento com o sistema mundial do futebol, sujeito a medidas corretivas internacionais.

O documento lembra casos internacionais — como o da Superliga Europeia, discutido pelo Tribunal de Justiça da União Europeia — para reforçar que federações esportivas só preservam sua legitimidade se mantêm autoridade plena sobre seus campeonatos.

Ao entregar influência decisória a fundos de investimento, diz Camargos, cria-se uma forma de “interferência econômica indevida”, expressamente vedada pela Lei Geral do Esporte.

A duração contratual também é alvo de críticas duras. O parecer afirma que nenhum sistema regulado admite vinculação comercial por horizonte equivalente a meio século, já que isso impede que gerações futuras de dirigentes decidam autonomamente o futuro do esporte no país.

Gun jumping

No plano concorrencial, o parecer menciona decisão recente do Cade que identifica indícios robustos de gun jumping, quando uma operação de concentração econômica é consumada antes da aprovação da autoridade reguladora.

A investigação já levou o Cade a impor medida preventiva para proibir a entrada de novos clubes na estrutura da LFU até a conclusão do processo. Os contratos firmados antes da autorização podem ser declarados nulos de pleno direito, nos termos da Lei 12.529/2011.

O parecer enfatiza que, se houver nulidade, haveria risco de apagão jurídico e televisivo, pois acordos de transmissão celebrados pela LFU poderiam perder eficácia, afetando torcedores, patrocinadores e a própria realização das competições.

O texto conclui que a manutenção da operação como estruturada viola a autonomia esportiva protegida pelo art. 217 da Constituição. Rompe a cadeia federativa que conecta clubes à CBF, Conmebol e Fifa. Cria vulnerabilidade sistêmica ao permitir eventual alienação futura das cotas do investidor a fundos internacionais ou plataformas de apostas. E ameaça a segurança jurídica necessária para a organização das competições nacionais.

O parecer recomenda que a cessão seja considerada juridicamente impossível e que a CBF aja para evitar que contratos contaminados por vícios concorrenciais repercutam sobre o campeonato.

BTG projeta alta de 17% nos lucros das empresas brasileiras listadas na Bolsa em 2026,

 

Estrategistas do BTG Pactual calculam que o somatório dos lucros das empresas brasileiras listadas, excluindo Petrobras e Vale, deve crescer 17% em 2026 ante 2025, para R$339,7 bilhões, conforme relatório a clientes.

O prognóstico supera expansão de 14% estimada para os resultados de 2025 ante 2024, mesmo com previsão do BTG de desaceleração do PIB do país no próximo ano, para expansão de 1,5%, ante projeção de crescimento de 2% para este ano.

Carlos Sequeira e equipe avaliam que a queda dos juros de curto prazo deve ajudar os resultados, reduzindo despesas financeiras e reacelerando a economia no final de 2026. O BTG vê a Selic caindo 3 pontos percentuais no próximo ano.

Quando incluídos os números de Petrobras e Vale, o cálculo para os lucros consolidados sobe a R$475,6 bilhões, alta de 8,2% ano a ano.

Para as empresas focadas no mercado interno, o BTG calcula expansão de 12,5% em 2026, após alta de apenas 5,1% em 2025, enquanto, no caso das companhias de commodities, a expectativa é de alta de apenas 1,2%, após salto de 157,1% estimado para 2025.