sábado, 21 de dezembro de 2013

Mães com mais de 30 anos vão dominar o país?


Se o padrão observado nos últimos 10 anos no país continuar, é provável. Do total de mulheres que se tornam mães anualmente, apenas o grupo daquelas com mais de 30 cresce


SXC
Mãe e filha

Mãe e filha: o único grupo em ascensão são das mães com mais de 30 anos

São Paulo – Em 2012, nasceram no Brasil 2,8 milhões de bebês, número praticamente estável em relação ao de 2011. O que mudou – e não para de mudar há uma década – é a idade das mães dessas crianças. O único grupo que vem ficando maior e mais representativo a cada ano são das mulheres com mais de 30, mostra o IBGE nas Estatísticas do Registro Civil 2012, divulgadas hoje.

Entre 2007 e 2012, as mães com menos de 30 anos perderam participação no total de nascimentos, enquanto cresceu quem decide ter filhos acima dessa idade (veja primeira tabela abaixo).

Em 2002, 14,4% das mães tinham entre 30 e 34 anos. Em 2012, elas passaram a representar 19% do total.
Enquanto isso, o grupo entre 15 e 19 anos diminuiu de 20,4% para 17,7%.

Essa reversão foi observada em todo o país, mas no Norte e Nordeste mães adolescentes ainda são mais numerosas (veja segunda tabela).

O Distrito Federal está entre as unidades da federação onde se tem filhos mais tarde. Lá, 11,9% das mães tem entre 35 e 39 anos (índice mais alto do Brasil) e 2,9%, entre 40 e 44 anos (2º maior). Faz dobradinha com o Rio Grande do Sul, com 11,3% e 3%, respectivamente.

Apesar de todo o crescimento, ainda é mais comum ser mãe entre 20 e 24 anos no país. Mas o futuro, dado o aprofundamento do processo em questão, pode trazer surpresas. 

Veja, a seguir, as tabelas que mostram a evolução nacional da maternidade.

Idade das mães 2002 (em %) 2007 (em %) 2012 (em %)
Menores de 15 anos 0,7 0,8 0,8
15 a 19 anos 20,4 19,3 17,7
20 a 24 anos 31,1 29 26
25 a 29 anos 23,3 24,8 24,6
30 a 34 anos 14,4 15,7 19
35 a 39 anos 7,1 7,6 9
40 a 44 anos 1,9 2 2,2

Bematech traça planos para 2014 e se prepara para a Copa


Empresa de soluções de tecnologia comemora o ano e pensa em estratégias para receber o campeonato da Fifa

A Magazine Luiza melhorou, mas não resolveu tudo


Após anos de expansão alucinada e maus resultados, o Magazine Luiza voltou a dar lucro em 2013. A má notícia é que a concorrência está mais forte do que nunca

Vicente Vilardaga, de
Germano Lüders/EXAME.com
Luiza Trajano, do Magazine Luiza

Luiza Trajano, do Magazine Luiza: lucro depois do crescimento acelerado

São Paulo - No início de dezembro, a varejista Magazine Luiza reuniu 160 analistas e investidores em sua sede, na zona norte de São Paulo, para um balanço de 2013. Luiza Helena Trajano, principal acionista e presidente do conselho de administração da empresa, era só sorrisos.

No meio da conferência, decidiu até sortear um televisor de 50 polegadas para a plateia. “É um produto que a gente vai vender muito por causa da Copa”, disse. A alegria tinha motivo. Após muito tempo precisando explicar maus resultados a seus investidores, o Magazine Luiza tinha, enfim, números favoráveis a apresentar.

Depois de fechar no prejuízo em 2012, voltou a dar lucro. Foram 80 milhões de reais até setembro — o melhor resultado desde a abertura de capital em 2011. As ações também estavam em alta — chegaram a 8 reais, depois de custar 5 reais no fim de julho, em sua mínima histórica. 

Esses números são resultado de uma transformação que se seguiu a um período de crescimento alucinante. De 2007 a 2010, o Magazine Luiza dobrou de tamanho. No início de 2011, levantou 880 milhões de reais na abertura de capital e acelerou ainda mais o ritmo.

Na sequência, pagou 383 milhões de reais por duas redes regionais, que aumentaram seu número de lojas em mais 50%: a Lojas Maia, no Nordeste, e o Baú da Felicidade, nas regiões Sul e Sudeste. Parecia o jogo a ser jogado na bolsa, repleta de investidores ansiosos por belas histórias de crescimento — mas essa pressa toda cobrou seu preço, e não foi barato.

A integração demorou mais do que o previsto, e a apertada margem de lucro, que não passava de 1% ao ano, virou prejuízo de 16 milhões de reais em 2012. Os investidores, como de costume, foram impiedosos. As ações da empresa chegaram a cair 68% até o piso. Mesmo com a alta recente, ainda estão valendo metade do que valiam na estreia na bolsa. 

As coisas começaram a melhorar quando a empresa pisou no freio. Pela primeira vez em oito anos, o Magazine Luiza vai terminar um ano sem aumentar o número de lojas — são 740. Em 2013, foram inauguradas 17 unidades, mas outras 17 foram fechadas. A empresa também organizou seus estoques, que eram separados para as vendas nas lojas e pela internet.

Os produtos foram agrupados em oito centros regionais, que atendem todos os canais. O custo com logística caiu, e a entrega dos produtos ficou 30% mais rápida. A empresa também conseguiu, finalmente, terminar a reforma das 240 unidades da Maia e do Baú. “As dificuldades foram maiores do que a gente esperava”, diz Luiza. “Agora, vamos continuar a crescer.” 

O otimismo de Luiza — bem a seu estilo — é parte do jogo. Mas, mesmo com todos os avanços, ainda há muito espaço para melhorar. Sua margem de lucro, de 1,3%, é 50% menor do que a da Viavarejo, líder no varejo nacional  (com as marcas Casas Bahia, Ponto Frio e Nova Pontocom).

Redes regionais de capital fechado conseguem margens superiores a 3%. Pode parecer pouco, mas num mercado com margens apertadíssimas, como o varejo, qualquer décimo pode ser a diferença entre sorrisos e lágrimas — e entre quem tem mais ou menos capacidade financeira para investir.
Azul
 
Um dos maiores entraves ainda está no desempenho das lojas adquiridas. Maia e Baú não alcançaram o nível de eficiência obtido nas lojas do interior de São Paulo, principal mercado da empresa. Após dois anos de reestruturação, a Viavarejo deu um salto e hoje alia crescimento acelerado (quase 14% ao ano) a lucros altos (a margem no terceiro trimestre foi recorde).

Olhado isoladamente, o trabalho do Magazine Luiza é motivo de celebração. Mas basta virar para o lado para concluir que a concorrência se mexeu mais depressa — e está mais forte do que nunca. 

Concorrente na bolsa

Os anos de crescimento acelerado deixaram o Magazine Luiza com menos dinheiro em caixa do que seu principal concorrente. São 260 milhões de reais, sem contar aplicações financeiras. A Viavarejo, pelo mesmo critério, tem 1,3 bilhão em caixa. E isso faz muita diferença no dia a dia: a Via Varejo ganha flexibilidade ao negociar prazos com fornecedores.

Quem tem menos caixa é forçado a comprar financiado pela indústria, com juros que chegam a 1% ao mês. Para o Magazine Luiza, em 2014 não será fácil recuperar o caixa. Pelo contrário. A empresa fará o maior investimento em marketing de sua história — que inclui uma cota de patrocínio para a Copa do Mundo na Rede Globo, avaliada em 180 milhões de reais.

Para quem comprou ações da empresa, a situação se complicou com a abertura de capital da Viavarejo em 16 de dezembro. Os investidores, que até 2013 não tinham outra varejista de móveis e eletrodomésticos para escolher, ganharam uma opção tentadora. A Viavarejo levantou 2,8 bilhões de reais ao ofertar suas ações.

Faturando três vezes mais do que o Magazine Luiza, a novata vale dez vezes mais. É uma evidência de como o mercado avalia o desempenho de cada empresa. O lucro da Via Varejo, que até setembro chegou a 375 milhões de reais, é quatro vezes superior. Um investidor presente no evento do Magazine Luiza, no início de dezembro, admitiu que considera trocar suas ações pelas da Viavarejo.

A maior ameaça, porém, está no mundo real. Endinheirada e vivendo um excelente momento, a Viavarejo prevê abrir 70 lojas em 2014, e elegeu o Nordeste como alvo. É a mesma região que o Magazine escolheu como prioridade. Outra empresa que deve dificultar as coisas por lá é a Máquina de Vendas, terceira maior do setor, com faturamento estimado em 7,5 bilhões de reais.

A empresa também passou por uma reestruturação em 2013 e, após um prejuízo de 68 milhões de reais em 2012, lucrou 40 milhões de reais no primeiro semestre. O ano de 2013 é de justa celebração no Magazine Luiza. Mas a partir de janeiro o trabalho vai ter de ser dobrado.

Diretora da dona do Vimeo cria polêmica com tuíte racista


Funcionária da IAC, empresa de internet dona de marcas como Vimeo e OkCupid, virou manchete internacional com comentário preconceituoso no Twitter

Recusa do Brasil a jato da Boeing abala fabricantes nos EUA


A recusa brasileira do Super Hornet e a perda de um grande contrato de F-15s com a Coreia do Sul no mês passado ameaçam as linhas de produção

Charles Crowell/Bloomberg News
Caça F-18 Super Hornet, da Boeing, em um porta-aviões dos Estados Unidos

Caça F-18 Super Hornet: modelo da Boeing era um dos favoritos para renovar a frota da FAB

A decisão do Brasil de não comprar o jato de combate norte-americano F/A-18 Super Hornet, e sim o projeto de seu rival sueco, atingiu nesta semana a cidade rural de Alton, no Missouri, onde a empresa familiar de Chet Sisco fabrica peças para aviões da Boeing há quase quatro décadas.

O Super Hornet, fornecido por vendedores de todo o Missouri, parecia prestes a obter o contrato de mais de 4 bilhões de dólares do Brasil. Mas as revelações de que a NSA (Agência Nacional de Segurança) espionou a presidente Dilma Rousseff ajudaram a matar o acordo no último minuto.

A recusa brasileira do Super Hornet e a perda de um grande contrato de F-15s com a Coreia do Sul no mês passado ameaçam as linhas de produção na área de St. Louis que empregam funcionários da Boeing, fornecedores e a qualidade do crédito do município.

Nos níveis de produção atuais, o Super Hornet sairia de linha em 2016, e os F-15 dois anos depois. A Boeing e seus fornecedores vinham contando com acordos militares no exterior para ampliar a vida dos dois aviões, mas as pressões orçamentárias estão atrasando os fechamentos de contrato em alguns mercados cruciais, além de reduzir compras nos Estados Unidos.

"Certamente estamos preocupados com o desfecho disso", declarou Chet Sisco, gerente-geral da Central Ozark Machine Inc., que emprega 25 pessoas e obtém cerca de 85 por cento de seu trabalho fabricando peças de alumínio e titânio para Super Hornets e F-15s.

O Super Hornet, cujo maior cliente é a Marinha dos EUA, sustenta cerca de um terço dos 15 mil empregados da Boieng no Missouri. O avião e outros negócios da empresa fornecem cerca de um bilhão de dólares em encomendas anuais para quase 700 fornecedores no Missouri.

Cade afirma que pode abrir novos processos sobre cartel


FERNANDO RODRIGUES
RENATA AGOSTINI
DE BRASÍLIA

Sob forte pressão política, o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinicius Carvalho, afirma que podem ser abertos novos processos para investigar a possível formação de cartéis para a venda de trens em outros Estados além do caso que já está sendo analisado relacionado a São Paulo e ao Distrito Federal.





Como a Siemens participou de licitações para fornecer a governos de vários Estados e também para a administração federal, tucanos alegam que no atual episódio há um direcionamento político apenas contra o PSDB –conduta negada pelo Cade. 

Esta foi a primeira longa entrevista de Carvalho após a politização do caso dos cartéis dos trens. Ele relata que "existem outros processos no Cade envolvendo a Siemens". Pelo menos mais um "em outro setor, também de cartel". Não quis fornecer detalhes. "É só isso que eu posso dizer por enquanto". 

Carvalho estava disposto a sempre passar a mesma mensagem em suas respostas: há possibilidade real de mais investigações serem abertas. "O que eu estou dizendo é: se amanhã aparecer uma denúncia de um contrato em outro Estado da Federação, envolvendo essas empresas ou outras empresas, isso vai ser apurado. É nossa tarefa". 

O presidente do Cade tem 36 anos, é advogado formado pela USP e doutor em direito comercial pela Universidade Paris I, na França. No início da carreira, trabalhou no gabinete do deputado estadual Simão Pedro (PT), na Assembleia Legislativa paulista. Os dois mantêm contato até hoje.
"É minha função, como presidente do Cade, receber parlamentares. Ano passado, recebi uns quinze. Alguns vão fazer denúncias, outros vão perguntar sobre alguma questão específica. É natural, faz parte do processo democrático", afirma.
Carvalho nega ter vazado documentos do caso Siemens. Usa como argumento o fato de as reportagens com documentos terem sido publicadas depois que um juiz de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, ter retirado o sigilo do processo. 

Diz também não ter omitido de forma deliberada ou por razões políticas sua filiação ao PT quando foi nomeado para o cargo, em agosto do ano passado. Ele declara ter saído da legenda em 2008. Reclama dos ataques que sofreu de políticos de oposição. "Esse é o primeiro caso em que eu vejo a vítima se voltar contra o investigador". 

Quando vai terminar a análise dos documentos apreendidos no caso Siemens? "Acho que para o final de fevereiro. Fevereiro, talvez", responde Carvalho. Aí será o momento de instauração formal dos processos.
E se a Siemens não tiver contado tudo a respeito de conluio com outras empresas? "Ela corre o risco de não ter o benefício integral do acordo de leniência, que é a extinção da punibilidade. Ela tem, e estou falando em tese, uma redução disso. Isso valeria para qualquer empresa", responde o presidente do Cade. 

A autarquia tem aumentado sua atuação em casos de conduta anticompetitiva entre empresas. Em 2012, diz Carvalho, foram julgados 13 processos administrativos, com duas condenações. Neste ano, já houve 36 julgamentos, com 22 condenações. "Um salto bastante razoável e eu acho que vai aumentar de ano a ano", sugere Carvalho.

A seguir, trechos da entrevista concedida na última quinta-feira (19):
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Folha/UOL - Políticos da oposição acusam o Cade de "vazamento seletivo" de documentos no caso Siemens. Isso aconteceu?

Vinicius Carvalho - Não. A primeira matéria em que apareceram documentos do acordo de leniência [delação premiada] foi na Folha do dia 2 de agosto. Foi quando houve reação do governo de São Paulo e o secretário da Casa Civil acusou o Cade de vazamento seletivo e de polícia política. No dia 16 de julho, ou seja, 15 dias antes, o juiz da 3ª Vara da Justiça Federal de São Bernardo do Campo decretou a publicidade do processo. 

O juiz errou ao fazer isso?

Fomos notificados disso no dia 6 de agosto e pedimos imediatamente que ele voltasse atrás [o que não aconteceu]. Então, não faz sentido falar em vazamento. Juiz não vaza, ainda mais de forma seletiva. Acusar o Cade de vazamento é politizar uma investigação que estava sendo feita da maneira mais rigorosa possível do ponto de vista técnico.

Até que ponto um processo como esse tem de ficar sob sigilo?

Estamos falando de uma situação de delação premiada. As empresas têm um custo de imagem e cartel é crime. As pessoas que trabalhavam na empresa também têm de ser protegidas. Transparência é um valor constitucional importante, mas não é um valor absoluto. Há a defesa da integridade de um processo investigativo que pode ou não levar à condenação de empresas e pessoas. Você tem de criar incentivos para que as empresas venham e um deles é a manutenção do sigilo até o julgamento. 

Houve uma politização desse processo. Por que isso ocorreu?

A politização não veio do Cade. A atuação do Cade começou quando uma empresa, uma das maiores do mundo, nos procurou para fazer um acordo de leniência. Nesse contexto, quem é a vítima do cartel? É o Estado. Nesse caso específico, pelo menos no que apareceu no acordo de leniência, [as vítimas] são o Estado de São Paulo e o Distrito Federal. Esse é o primeiro caso em que eu vejo a vítima se voltar contra o investigador. 

O fato de o senhor ter sido filiado ao PT e ter trabalho com o deputado estadual Simão Pedro, do PT paulista, não contribuiu para que políticos de São Paulo tenham desconfiança?

Acho que contribuiu para esses sucessivos mal entendidos. Mas não vejo relação entre uma coisa e outra. 

Por que o senhor omitiu em sua sabatina no Senado essas informações?

Me desfilei do partido em 2008. Nem me passou pela cabeça que eu tivesse de colocar em um currículo profissional filiação. Fiz três sabatinas no Senado em quatro anos. Conselheiro, recondução para conselheiro e depois presidente. Na minha primeira sabatina havia menção ao meu trabalho na Assembleia Legislativa de São Paulo por dez meses. O deputado Simão Pedro não tinha, na época, nenhuma denúncia ou coisa parecida sobre Metrô ou trens. A minha relação com o PT apareceu na imprensa na época. Isso não foi omitido. É uma tentativa de contaminar uma investigação que o Cade tem feito de maneira técnica. 

O fato de o Cade receber ajuda por intermédio de um deputado estadual que é adversário de uma das partes do processo não revela uma imprudência no procedimento?

Não foi assim que aconteceu. A Siemens veio ao Cade e trouxe pessoas que achava necessárias para esclarecer a conduta. É minha função, como presidente do Cade, receber parlamentares. Ano passado, recebi uns quinze. Alguns vão fazer denúncias, outros vão perguntar sobre alguma questão específica. É natural, faz parte do processo democrático. 

O senhor acha que a Siemens contou tudo que sabe?

A empresa tem todos os incentivos para contar tudo que sabe, porque ela corre o risco, que não é pequeno, de perder parte da sua proteção caso o Cade, o Ministério Público ou a polícia ache no material apreendido outros contratos em que tenha participado. 

Mas tem de ser especificamente no caso apurado?

Não. Essas empresas atuam em vários setores da economia. Você pode achar material que possa ser indício ou prova de cartel nesses mercados e em outros. Se isso for encontrado, vai para o escopo da investigação. Mas não tenha dúvida de que será investigado. Até porque esse material está com outros órgãos [Ministério Público e Polícia Federal]. Então todo mundo vai ter o interesse de investigar. 

Quando a análise terminará e o processo será aberto?

A Superintendência-Geral do Cade está fazendo todo o esforço para tentar instaurar o quanto antes, porque processos que envolvem leniência são sempre prioritários. Mas não tenho como dar um prazo específico, até porque eu não sei. Há um prazo de seis meses do inquérito administrativo que pode ser renovado por 60 dias em 60 dias. 

Fica a impressão de que o processo foi todo direcionado contra governos que não são ligados à administração federal. Mas a Siemens também vende ao governo federal...

O Cade investiga empresa, não investiga governo. O governo é vítima. Se há envolvimento de agentes públicos específicos, o governo continua sendo vítima e o envolvimento desses agentes tem de ser avaliado pelos órgãos que avaliam isso: o Ministério Público, a polícia. Outra observação é: por que achar que uma empresa do porte da Siemens iria direcionar a sua denúncia para esses contratos específicos? Se ela deixou de denunciar cartéis ao Cade em outros lugares em que ela supostamente teria feito, o risco é todo dela. 

Em que momento o Cade poderá dizer "vamos investigar também contratos no plano federal e em outros Estados"?

Essa avaliação está sendo feita com base no material recolhido em todas essas empresas. O que tiver lá, se tiver, envolvendo contratos com o governo federal, ou com outros contratos, ou mais contratos em São Paulo ou no Distrito Federal, tudo vai entrar no escopo da instauração do processo. 

Se ficar comprovado que a Siemens não contou, eventualmente, tudo que poderia ter contado, o que acontece?

Ela corre o risco de não ter o benefício integral do acordo de leniência, que é a extinção da punibilidade. Ela tem, e estou falando em tese, uma redução disso. Isso valeria para qualquer empresa.
A análise do caso da Siemens deve terminar quando?
Acho que para o final de fevereiro. Fevereiro, talvez. 

É no final dessa fase, quando se instaura o processo, que se tomará a decisão de ficar só nos contratos citados pela Siemens ou se será ampliado para outros contratos?

Nessa investigação sim. Porque nada impede que se abram outras com base em novas denúncias ou em novos acordos de leniência. Existem outros processos no Cade envolvendo a Siemens, por exemplo. Que eu lembre, pelo menos mais um, em outro setor. 

Também de cartel?

Também de cartel. É só isso que eu posso dizer por enquanto. O que eu estou dizendo é: se amanhã aparecer uma denúncia de um contrato em outro Estado da Federação, envolvendo essas empresas ou outras empresas, isso vai ser apurado. É nossa tarefa. 

Com o governo federal, com qualquer governo?

Claro. O Cade é um órgão em que as pessoas trabalham com completa autonomia. A gente tem três coordenações de cartel lá. Todos os três coordenadores são gestores públicos, que fazem as suas investigações na medida em que eles acham que as investigações estão maduras, que cabe busca e apreensão. Não tem nenhum tipo de direcionamento político. Não existe isso, posso garantir. 

Ao assumir, o sr. estabeleceu como uma das metas do Cade zerar o estoque de casos de fusão e aquisição. Mas há ainda cerca de 300 casos de conduta, onde estão as infrações. Como resolver esse passivo?

As empresas têm direito de fazer fusões e aquisições e há essa cobrança sobre o Estado na aprovação delas. Elas estão só esperando a decisão para efetivar o negócio. Enquanto que, nas condutas anticompetitivas, depende muito mais de uma atuação investigativa do próprio Estado. Os processos são mais complexos, são mais densos. Muitas condutas envolvem buscas e apreensões ou investigações um pouco mais complexas. Até 2012 julgamos 13 processos administrativos somente. Condenamos dois. Esse ano conseguimos julgar 36, com 22 condenações. Um salto bastante razoável e eu acho que vai aumentar de ano a ano. 

O governo falou em investigar o cartel na venda de pacotes de hotéis e serviços para a Copa do Mundo. Essa investigação avançou?

Uma das coisas que foram detectadas foi uma situação específica de um contrato que a Match, que é a empresa contratada pela Fifa para fazer a venda dos hotéis, havia feito. Ela reservava uma parcela dos quartos e havia uma cláusula que estabelecia que o preço que o hotel venderia os 80% restantes seria o mesmo preço que ela venderia para o consumidor final. Pedimos explicações sobre isso e a Match abriu mão da cláusula imediatamente. O que se tem hoje é um monitoramento e um acompanhamento do que está acontecendo.
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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Desigualdade no saneamento básico no Brasil impressiona relatora especial da ONU


O Brasil está entre os dez países onde mais faltam banheiros, segundo a especialista Catarina de Albuquerque

Ana Cristina Campos, Agência Brasil,
 
 
Elza Fiúza / Agência Brasil


Após dez dias de visita ao Brasil, a relatora especial das Nações Unidas sobre Água e Saneamento, Catarina de Albuquerque, apresentou hoje suas conclusões preliminares e as recomendações iniciais ao governo brasileiro sobre as condições sanitárias do país. A relatora disse que ficou chocada com as desigualdades regionais no acesso ao saneamento básico, sendo a Região Norte a mais afetada.

“Vi muitos contrastes. Há regiões com nível de primeiro mundo, como os estados de São Paulo e do Rio, com cidades com taxa de tratamento de esgoto superior a 93%, e vi outras regiões, como Belém, em que essa taxa é 7,7%, e Macapá, 5,5%. São diferenças assustadoras. Também vi diferenças entre ricos e pobres. O que uma pessoa rica paga pela água e pelo esgoto não é significativo, mas, para uma pessoa pobre, essa conta é muito alta”, disse a relatora.

Catarina se reuniu com representantes do governo e de organizações internacionais, da sociedade civil e com membros de comunidades em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo, Fortaleza e Belém. Em suas visitas, a relatora deu atenção especial aos moradores de favelas, de assentamentos informais e de áreas rurais, incluindo aquelas afetadas pela seca.

Segundo a especialista, o Brasil está entre os dez países onde mais faltam banheiros – 7 milhões de brasileiros estão nessa situação. Cinquenta e dois por cento da população não têm coleta de esgoto e somente 38% do esgoto é tratado. “A situação de falta de acesso a esgoto é particularmente grave na Região Norte, onde menos de 10% da população têm coleta de esgoto”, disse Catarina.

Ao visitar comunidades carentes no Rio de Janeiro e em São Paulo, a perita da ONU observou que as populações pobres se sentem invisíveis e esquecidas pelo Poder Público. “Fiquei chocada com a miséria e com a falta de acesso ao saneamento de pessoas que vivem em favelas e em assentamentos informais. Isto é inaceitável de uma perspectiva de direitos humanos. Ninguém pode excluir determinados segmentos da população porque não têm a titularidade da terra”, destacou.

Catarina visitou o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e ouviu reclamações dos moradores sobre a falta de continuidade nos serviços de abastecimento e da qualidade da água. “O Complexo do Alemão é uma preocupação enquanto houver pessoas que não têm acesso a esgoto e água.”

Segundo ela, os problemas criados pela falta de esgoto acentuam-se durante a temporada de chuvas, como a que ela presenciou na Baixada Fluminense, no Rio, na semana passada. “Pude observar a inundação de ruas e canais de dragagem e vi o esgoto inundando as casas das pessoas”, acrescentou.

Para a especialista, o baixo investimento em saneamento resulta em alto custo para a saúde pública, com 400 mil internados por diarreia, a um custo de R$ 140 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente entre as crianças até 5 anos. “As pessoas não associam a diarreia à falta de esgoto e de água potável. Em termos econômicos, investir na água e no esgoto é um ótimo negócio. Para cada R$ 1 investido, os custos evitados [com gastos em saúde] são da ordem de R$ 4”, estimou.

Outro ponto apontado pela relatora da ONU é a questão do alto custo das tarifas de água e esgoto para a população de baixa renda. “É um sufoco para essas pessoas pagar as tarifas. Essa conta não deveria ultrapassar 5% do orçamento familiar. As companhias estaduais decidem ter tarifas muito altas e dividem os lucros entre os acionistas. Deve haver mais pressão dos municípios e dos estados sobre as companhias para que elas reinvistam os lucros no setor.”

Catarina reconhece os avanços no setor e comemora a recente aprovação do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). “O Plansab é um avanço enorme, mostra que o país tem visão para o setor nos próximos 20 anos, com recursos financeiros muito significativos.” O plano, com investimentos estimados de R$ 508 bilhões entre 2013 e 2033, prevê metas nacionais e regionalizadas de curto, médio e longo prazos, para a universalização dos serviços de saneamento básico.

O relatório final será apresentado em setembro na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.