segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ANOMIA, O CASO BRASILEIRO.

Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
 
O sociólogo Emile Durkeim (1858-1917) viveu as turbulências do início da sociedade industrial e isto influenciou sua preocupação com a ordem e com novas ideias morais capazes de guiar o comportamento das pessoas. Ele observou os conflitos resultantes das transformações socioeconômicas nas sociedades europeias e concluiu que havia um estado de anomia, ou seja, a ausência de leis, de normas, de regras de comportamento claramente estabelecidas.
 
Na atualidade o rápido desenvolvimento dos meios de transporte, de comunicação, da tecnologia, da ciência indica a transição para um mundo mais complexo onde o conhecimento de hoje é rapidamente ultrapassado amanhã. Nesse contexto valores são perdidos, instituições se desagregam, percepções entre o certo e o errado desaparecem e o indivíduo parece uma mosca tonta na janela de um trem-bala. Prevalece o individualismo, o hedonismo, a vulgaridade, a mediocridade, a imoralidade.
 
Como as sociedades são dinâmicas e não dá para permanecer nesse estado indefinidamente aos poucos vai se construindo uma nova ordem. 
 
Paralelamente começam a surgir novas representações coletivas, outro conceito de Durkeim a significar experiências advindas da influência grupal – família, partido político, religião, etc.- que suprem os indivíduos com ideias e atitudes que ele aceita como se fossem pessoais.
 
No Brasil, país da impunidade, do jeitinho, da malandragem sempre houve certa anomia. Um salvo-conduto para o desfrute impune de atos de corrupção. Uma largueza moral que encanta os estrangeiros que aqui vêm usufruí-la sem jamais ousarem repeti-la em seu país. Características essas culturais originadas historicamente e aprimoradas ao longo do tempo.
 
Contudo, foi com a entrada do PT na presidência da República que acentuou nossa anomia. Isso se deu através dos sucessivos e impunes escândalos de corrupção do partido que se dizia o único ético, o puro, aquele que vinha para mudar o que estava errado. No poder o PT se tornou não um partido não igual aos outros, mas pior.
Por isso mesmo foi marcante o julgamento do mensalão quando, pela primeira vez, poderosos e seus coadjuvantes foram parar na cadeia por conta da coragem e da firmeza do ministro Joaquim Barbosa auxiliado por alguns ministros do STF.
Lula da Silva sempre foi um homem de muita sorte ajudada por sua verborragia. Herdou um país sem inflação, além de políticas públicas as quais de certo modo imitou. No plano internacional reinava calmaria econômica. No âmbito interno nenhuma oposição partidária ou institucional. As performances escrachadas do “pobre operário” agradavam a maioria e formou-se uma representação coletiva que aceitava todos os desvios e desmandos do governo. Diante da roubalheira o povo dizia: “se eu estivesse lá faria a mesma coisa”.
O todo-poderoso Lula da Silva se reelegeu e fez mais, obteve um “terceiro mandato” sem precisar alterar a Constituição. Isso porque elegeu uma subordinada que não dá passo sem ouvir suas ordens.
 
Contudo, no final do segundo mandato de Lula da Silva a economia do Brasil paraíso começou a fazer água e os três anos da sucessora tem sido um fiasco retumbante.
 
O álibi para o descalabro é a a crise internacional, mas, na verdade foi a politica econômica incompetente e errática da presidente e do Mr M autor das mágicas contábeis, ou seja, do Senhor Mantega, que está nos conduzindo ao fracasso.
 
O governo do PT conseguiu nos transformar no país dos pibinhos, no lanterninha dos BRICS. A inflação cresce, tivemos em 2013 o maior déficit comercial de nossa história, com resultado negativo de US$ 81,3 bilhões, a geração de emprego recuou 18,6% no ano passado, a desvalorização cambial já é outro grave problema.
 
Existe, porém, algo mais que a economia. Lula da Silva se aliou à escória governamental, a começar pela América Latina. Insuflou ódios raciais. Jogou a Educação no nível mais baixo enquanto seu ministro Haddad tentava insuflar amoralidade na formação das crianças. A Saúde virou sinônimo de crueldade e não serão médicos cubanos, ideologicamente trazidos para cá, que reporão a falta de estrutura de hospitais e postos de saúde.
 
Agora está sendo colhido o que foi plantado com os votos no PT. A manifestação pacífica de junho, em 2013, foi só um passo tolhido pela entrada dos tais black blocs, politicamente inseridos ou não. Entretanto, várias outras manifestações vêm se espalhando pelo país de forma violenta com queima de ônibus, interdição de estradas, depredações, saques. Enquanto isso aumenta a força da criminalidade dando a nítida impressão de que um tenebroso Estado paralelo se sobrepõe ao Estado de Direito.
 
A rotineira barbárie da prisão de Pedrinhas é a ilustração mais perfeita da anomia brasileira a qual devemos agradecer aos nossos governantes, especialmente, ao governo do PT.
 
(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga www.maluvibar.blogspot.com.br

domingo, 26 de janeiro de 2014

Bilionário egípcio fará proposta para comprar a TIM


Naguib Sawiris lidera um grupo de investidores dispostos a pagar até € 20 bilhões para comprar a subsidiária da Telecom Italia no Brasil.


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Lianne Milton/Bloomberg
Pedestres passam em frente a uma loja da TIM em Ipanema, no Rio de Janeiro
Pedestres passam em frente a uma loja da TIM: venda da subsidiária pode chegar à  € 20 bilhões

São Paulo – O bilionário egípcio Naguib Sawiris disse que fará uma proposta para comprar a TIM, caso a empresa seja posta à venda, segundo uma reportagem publicada neste sábado pela Folha de. S Paulo.

Ainda de acordo com texto, ele lidera um grupo de investidores dispostos a pagar até € 20 bilhões para comprar a subsidiária da Telecom Italia no Brasil.

O governo brasileiro tem feito uma forte pressão para a venda da TIM, desde que a Telefónica, dona da Vivo no Brasil, comprou o controle da Telecom Italia.

Uma das opções era o fatiamento da TIM e o compartilhamento das partes com Claro e Oi. Essa alternativa eliminaria um concorrente e traria uma economia substancial nos custos de cada empresa. 

Mas essa solução não agradou em nada Sawiris, o 2º homem mais rico do Egito e 11º da África, segundo a revista Forbes.

Politicamente engajado (ele fundou um partido revolucionário contra o ditador Hosni Mubarak e ainda apoiou rebeldes anti-Mohamed Morsi), Sawiris apressou-se em vir ao Brasil para impedir o fatiamento da TIM.

De acordo com a Folha de S. Paulo, ele encontrou-se com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para fazer um alerta ao governo sobre esta alternativa.

A fortuna de Sawiris, feita na área de telecomunicações, chega a US$ 2,7 bilhões – uma parte do seu capital (1,2%) está aplicado, inclusive, na Telecom Italia.

Oficialmente, a Telecom Italia diz que não haver plano de venda da TIM e que não recebeu nenhuma proposta pela subsidiária brasileira. 

Sabe-se, no entanto, que a venda da mais valiosa operação da empresa no mundo ajudaria a diminuir o endividamento da companhia, hoje em torno de € 58 bilhões. 

Inflação resistente aumenta custo para governo se financiar


Segundo especialistas, probabilidade de que o BC continue a elevar a Selic é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos títulos públicos

Wellton Máximo, da
Elza Fiúza/ABr
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, coordena reunião do Copom
Alexandre Tombini, coordena reunião do Copom: Banco Central deve continuar a elevar a taxa Selic para conter os preços

Brasília - A expectativa de que a inflação continue resistente nos próximos meses tem elevado o custo para o governo se financiar. Segundo especialistas, a probabilidade de que o Banco Central (BC) continue a elevar a taxa Selic – juros básicos da economia – para conter os preços é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos títulos públicos.

Nas últimas semanas, os títulos prefixados de dez anos, um dos papéis ofertados pelo Tesouro com taxas mais altas, vem pagando juros de 13,2% ao ano, o maior nível desde fevereiro de 2010. A instabilidade levou o Tesouro Nacional a suspender a venda de títulos no Tesouro Direto e a fazer leilões de compra, quando o governo readquire os papéis dos aplicadores para fornecer um referencial para o mercado.

Por meio dos títulos públicos, o governo pega dinheiro emprestado dos investidores para honrar compromissos. Em troca, o Tesouro compromete-se a devolver os recursos com alguma correção, que pode seguir a taxa Selic, a inflação, o câmbio ou ser definida com antecedência no caso dos títulos prefixados. O Tesouro vende os papéis se concordar com as taxas pedidas pelo mercado.

No caso dos títulos prefixados e corrigidos pela Selic, as taxas têm como referencial os juros básicos da economia. De acordo com o professor de estratégias empresariais Ricardo Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a preocupação de que a inflação permaneça alta em 2014 pressiona os juros dos títulos públicos por causa do aumento das chances de que o Banco Central promova novos aumentos na taxa Selic, atualmente em 10,5% ao ano.

“Os investidores olham como a inflação e os juros vão se comportar. O mercado considera o quanto a inflação vai resistir e quanto tempo deverá durar o ciclo de alta da Selic para formar os juros dos títulos públicos”, explica Teixeira. As preocupações, ressalta, aumentaram depois que a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, divulgada quinta-feira (23), indicou a possibilidade de a Selic continuar a subir.

No caso dos títulos prefixados, as taxas também refletem a desconfiança dos investidores em relação ao governo. Apesar de os juros desses papéis terem atingido os níveis mais altos em quatro anos, o professor da FGV não acredita que as taxas reflitam o desempenho das contas públicas, pressionadas pelo aumento dos gastos federais nos últimos anos.

“Em outras regiões, como na Europa, os juros dos títulos refletem uma crise de desconfiança em relação aos governos. No Brasil, o governo, de fato, tem gastado mais, mas isso ainda não afetou a crença na capacidade de pagamento da dívida pública pelo Tesouro”, diz.

Segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, os investidores acreditam que a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará 2014 em 6,01%. Pela segunda semana seguida, a estimativa aumentou.

O vice-presidente da Associação de Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, também acredita que as perspectivas em torno da inflação sejam o principal fator de influência sobre as taxas dos títulos públicos. “O mercado tem a expectativa de que o Banco Central continue a aumentar os juros por causa da pressão dos preços de transportes e de combustíveis. Sem contar que o dólar tende a subir ainda mais e pode contaminar a inflação”.

Embora resultem em aumento de custos para o governo financiar a dívida pública, Oliveira acredita que o momento é bom para quem deseja comprar títulos federais. “Esse nível de juros é ruim para o devedor, que é o governo, mas beneficia o investidor, que vai ganhar mais aplicando nesses papéis do que há um ano, mesmo com a inflação corroendo parte dos rendimentos”, acrescenta.

Paralisação de seis horas atinge cerca de 13 portos


Por Fernanda Pires | Especial para o Valor
 
Dado Galdieri/Bloomberg

SANTOS  -  Dos 23 portos anunciados que adeririam à paralisação de seis horas, na manhã e tarde desta sexta-feira, 24, “entre 12 e 13” de fato suspenderam as atividades administrativas, disse a Federação Nacional dos Portuários (FNP), que organizou o movimento. “Cada sindicato tem sua assembleia, estamos a mil quilômetros do porto mais próximo, foi a informação que nos chegou”, disse o diretor de administração e finanças da FNP, que fica em Brasília, José Renato Inácio de Rosa.

A FNP anunciou que os trabalhadores portuários das companhias docas paralisariam as atividades, hoje, das 7 horas às 13 horas. Eles reivindicam a implantação do plano de cargos, carreira e salários nas estatais, uma solução para a dívida bilionária do Portus — o fundo de previdência complementar da categoria — e a garantia de que a guarda portuária não será privatizada.

A estimativa era de que oito mil profissionais cruzassem os braços nesta sexta. Eles não atuam diretamente na movimentação de cargas, mas em funções administrativas, como a permissão para atracação e desatracação de navios e o controle de acesso de pessoas e veículos ao cais.

Na maior administradora portuária, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), não houve interrupção dos trabalhos. Segundo a assessoria de imprensa da estatal, a Codesp já tem um plano de cargos e salários e não houve tempo legal para dar publicidade ao ato.

Houve suspensão dos trabalhos nas administrações portuárias do Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Pará, informou a FNP.

Segundo o sindicalista, está mantida uma paralisação por 24 horas na quinta, 30, e, foi marcada, para o dia 4, uma reunião na FNP. Caso os portuários não consigam estabelecer um cronograma de ação com o governo, até lá, há a possibilidade de deflagrar greve por tempo indeterminado.
O ponto mais nevrálgico das reivindicações é a dívida do Portus. Desde agosto de 2011, o fundo de pensão complementar está sob intervenção da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) e tem visto suas reservas minguarem. O Portus se diz credor de uma dívida de quase R$ 4 bilhões que seria fruto da inadimplência das patrocinadoras (as companhias docas) e da União, como sucessora da extinta Portobrás (antiga estatal federal).
A intervenção já foi renovada seis vezes e vence em 31 de janeiro. Segundo a FNP, o Portus atende 11 mil portuários ativos e pensionistas. Considerando os dependentes, são mais de 30 mil pessoas.

Exportações brasileiras ficam 3,2% mais baratas em 2013

Por Rodrigo Pedroso | Valor

SÃO PAULO  -  O Brasil aumentou o volume exportado em 2013 em relação ao ano anterior e vendeu mais barato ao exterior, de acordo com levantamento realizado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O recuo nos preços, contudo, ficou aquém da desvalorização cambial ocorrida no período.

No ano passado, o índice de preço das exportações totais medido pela fundação caiu 3,2%, enquanto o indicador de quantum dos embarques aumentou 3,1%. Em dezembro, ante o mesmo mês de 2012, os preços recuaram 2,2% e o quantum aumentou 7,8%.

Na divisão por classe de produtos, três apresentaram redução de preços: semimanufaturados (10,1%), manufaturados (2,8%) e básicos (1,8%). No recorte da Funcex por categorias de uso, apenas bens duráveis apresentaram alta de preços, de 3,2%. Em 2013, o real sofreu desvalorização de 15,3% em relação ao dólar. Os recuos mais expressivos ocorreram em combustíveis (7,9%) e bens intermediários (3%).

Em relação à quantidade exportada pelo Brasil, todas as classes de produtos embarcaram mais ao exterior: básicos, com alta de 1,1%, semimanufaturados, com alta de 2,7%, e manufaturados, com crescimento de 5,6%.

Apenas combustíveis, no recorte por categorias de uso, embarcaram menos em volume: 25,5%. Bens de capital, puxados pelas vendas de equipamentos de transporte exceto automóveis, aumentaram o quantum exportado em 20,8%. Bens duráveis também tiveram alta de 26,7%.


Importações


No ano passado, o Brasil também aumentou, e de forma substancial, o volume de compras externas. De acordo com levantamento divulgado nesta sexta-feira, 24, pela Funcex, enquanto o preço geral das importações recuou 1,2% ante 2012, o quantum importado aumentou 8,6%. Em dezembro, em relação ao mesmo mês de 2012, os preços recuaram 0,4% e o volume aumentou 4,3%.

Os preços tiveram leve recuo em 2013, mesmo com a desvalorização do real, o que encareceu as compras externas. Na divisão por categorias de uso, houve recuo nos preços de bens intermediários (2,2%) e de combustíveis (2,6%). Por outro lado, bens de capital e bens duráveis e não duráveis ficaram 1,9%, 1,7% e 0,8% mais caros, respectivamente.

Em relação ao volume, o maior aumento aconteceu em combustíveis, 19,3%. O resultado, contudo, ficou inflado com os registrados realizados em 2013 referentes a importações do fim de 2012.

Além dos derivados de petróleo, houve forte incremento no volume de compras de bens intermediários e bens de consumo não duráveis: 8,9% e 8,2%. A indústria também demandou maior quantidade de bens de capital importados, que registrou alta de 2,8%.

A única queda em quantum aconteceu em bens de consumo duráveis: 5,3%.

Em Cuba, Dilma buscará incluir encontros bilaterais na agenda

 
Por Bruno Peres
AP Photo/Keystone,Laurent Gillieron 
 
A presidente Dilma Rousseff, durante o Fórum Econômico Mundial
 
HAVANA  -  A presidente Dilma Rousseff chega a Havana neste domingo, após passar o sábado em Lisboa sem compromissos oficiais, informou a assessoria da Presidência. O motivo oficial da escala de Dilma em Portugal - em trânsito da Suíça para Cuba – foi uma parada técnica para abastecimento do avião presidencial.

Dilma viaja acompanhada de autoridades do governo, como os ministros das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Após participar do Fórum Econômico Mundial e ter uma série de encontros com empresários e representantes da Fifa entre quinta e sexta-feira, Dilma deixou Zurique no início da tarde de sábado e deve chegar a Havana no meio da tarde de domingo para participar, na terça-feira, de reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

Antes, na segunda-feira, Dilma terá um encontro bilateral com  o presidente Raúl Castro e participará da inauguração do porto de Mariel, construído pela brasileira Odebrecht com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e operação da PSA, de Cingapura. Para o domingo, não há previsão até o momento de compromissos oficiais.

Conforme informou o Valor na sexta-feira, Dilma deve aproveitar o caráter político da cúpula, com a presença de diversos chefes de Estado, para incluir outros encontros bilaterais em seu roteiro oficial - ainda em elaboração - durante sua passagem por Cuba.

(Bruno Peres)

As Dilmas


Ir à Suíça para dizer como está o Brasil de hoje, isso não faz sentido. Dilma Rousseff choveu, não no molhado, mas em uma inundação digna de São Paulo. Os endinheirados a quem a presidente pediu investimentos ocupam-se de ganhar dinheiro pelo mundo afora, o que lhes exige, e aos seus assessores, estar bem informados para detectar oportunidades. No convescote dos cifrões, mal denominado Fórum Econômico Mundial, por certo muitos sabiam sobre o Brasil o que nem no Brasil se sabe. 

A Dilma Rousseff que foi a Davos não é a Dilma Rousseff que chegou à Presidência. Não é o oposto, mas é bastante diferente. Se nos princípios ou nos fins, eis a questão. Fernando Henrique e Lula, mal ouviram falar em Davos e seu pessoal, começaram a preparar as malas. A ida de Dilma, só agora no ano final do mandato, reflete dupla concessão. Uma, na concepção de políticas governamentais que a levavam a desconsiderar Davos, convicta de um Brasil capaz de cuidar de si mesmo. Outra, no seu diagnóstico do momento vivido pelo país e, em particular, pelo governo. 

O capital estrangeiro -os cifrões de Davos- não precisa ser buscado. Grandes indústrias automobilísticas não param de vir para cá, e as já instaladas não cessam novos investimentos para crescer. Indústria e comércio de alimentos, agronegócio, aquisições fundiárias, exploração e indústria petrolíferas, as concessões/privatizações, são muitos os setores que têm merecido a procura espontânea do capital estrangeiro. O problema é que grande parte desse investimento não se destina à criação de novas atividades econômicas, ou seja, ao crescimento econômico, mas a assumir o controle acionário ou a propriedade de empreendimentos já ativos. É a chamada desnacionalização. 

O capital graúdo não é considerado, em geral, o grande disseminador do crescimento econômico. Este vem pela multiplicação dos empreendimentos, mesmo os pequenos, e pelo reinvestimento do lucro, para ampliação do negócio. O dinheiro para empreender, porém, é muito caro no Brasil, com a tradição crescentemente escorchante praticada pelo sistema bancário. Além das exigências de garantias, dos prazos insuficientes e outras dificuldades. 

E o reinvestimento na indústria nacional já consolidada, ah, esse tem um adversário terrível: o próprio empresário. Como regra natural, lerdo, retardatário, incapaz de inovação, pedinte permanente de benesses do governo, esse empresário trata de investir o lucro é em si mesmo: moradia nova, carro de luxo, e todo o necessário ao exibicionismo de mais um novo rico. O empresário brasileiro é, em geral, um atrasado -como pessoa e como dirigente de empresa. 

Mudar essa realidade interna era um objetivo implícito nas palavras e na ação da Dilma Rousseff que assumiu a Presidência. Bem, quanto à atual, ceder aos interesses de aumento dos juros já era estar no caminho para Davos. 

janio de freitas
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos, terças e quintas-feiras.