Estácio busca alvos para aquisições no setor de educação
Rede busca novas aquisições para diversificar seus negócios além da oferta de cursos universitários
São Paulo - A rede de ensino Estácio Participações, que está comprando a universidade Uniseb, busca alvos para aquisições para
diversificar seus negócios além da oferta de cursos universitários e
para reduzir a dependência em relação aos financiamentos estudantis do
governo.
O CEO Rogerio Melzi disse que está mirando empresas fornecedoras de
treinamentos corporativos e educação continuada, um setor que também
está atraindo o interesse de fundos de private-equity como KKR Co. e
Carlyle Group LP. Esses setores não têm acesso aos subsídios federais
que vêm sustentando as empresas universitárias com fins lucrativos desde
2010.
“Ao operar em um setor regulado pelo governo, você nunca sabe o que
pode acontecer, principalmente em um país como o Brasil, onde as
autoridades interferem no dia a dia das empresas mais do que
gostaríamos”, disse Melzi, em entrevista, no Rio de Janeiro. “As
políticas mudam. Há uma mão que te controla e pode mudar as regras
rapidamente”.
Após flexibilizar os termos dos empréstimos em um esforço para
incentivar os estudantes a irem à universidade, o governo está estudando
reduções nos gastos com saúde pública e educação neste ano em um
momento em que as finanças públicas estão em dificuldades, segundo dois
funcionários do governo que pediram para não serem identificados porque
as negociações não são públicas. A presidente Dilma Roussef cortará R$
44 bilhões (US$ 18,7 bilhões) do orçamento de 2014 porque as dívidas
mais altas estão colocando o Brasil sob risco de um rebaixamento da
classificação de crédito antes das eleições presidenciais, em outubro.
As ações da Estácio, que tem sede no Rio de Janeiro, subiram 33 por
cento, para R$ 21,51, nos 12 meses até ontem, contra um ganho de 69 por
cento da Kroton Educacional SA e uma queda de 3 por cento da Anhanguera
Educacional Participações SA.
KKR, Carlyle
A KKR, a empresa de aquisições fundada por George R. Roberts e Henry R.
Kravis, a Carlyle Group e a Apax Partners LLP estão tentando comprar
uma participação controladora da Abril Educação SA, que opera cursinhos
preparatórios e escolas de idiomas, segundo duas fontes familiares ao
assunto, que pediram para não serem identificadas porque as negociações
são privadas.
Como parte de sua expansão para novos negócios, a Estácio anunciou no
mês passado uma parceria de R$ 30 milhões com o Grupo Contax para
treinar seus 4.000 funcionários em marketing e gestão. A empresa também
está buscando investir em cursos de pós-graduação e aulas preparatórias
para empregos no setor público.
“Todas elas são iniciativas que estão nos planejamentos de médio e
longo prazos da empresa”, disse Melzi, em entrevista, em 21 de
fevereiro. “Não espero que nenhum desses projetos dê retorno em 2014 ou
2015. Talvez comecem a dar em 2016”.
Empréstimos estudantis
A Estácio está sendo negociada a 25 vezes a estimativa do lucro de
2014, assim como a Kroton, contra 29 vezes da Anhanguera, segundo dados
compilados pela Bloomberg. O retorno da ação da Estácio foi de 19 por
cento no terceiro trimestre de 2013, contra 18 por cento da Kroton e 6
por cento da Anhanguera.
Cerca de 28 por cento dos estudantes presenciais da Estácio usaram o
empréstimo estudantil do governo, conhecido como Fies, no terceiro
trimestre de 2013, contra 52 por cento da Kroton e 36 por cento da
Anhanguera, segundo arquivos regulatórios. A Kroton e a Anhanguera
preferiram não comentar.
O governo ainda “é um parceiro para as empresas de educação”, disse
Guilherme Moura Brasil, analista da Fator Corretora SA, em entrevista
por telefone, de São Paulo. “O Fies é importante para todas as
empresas”.
De qualquer maneira, a Estácio não está aproveitando as chances
oferecidas pelo governo. A empresa sempre foi conservadora, com a mais
baixa penetração de estudantes com Fies, disse por telefone Bruno
Giardino, analista do Banco Santander em São Paulo, que mantém uma
recomendação de “compra” para a Estácio.
“Aqueles que mostram um maior crescimento dos estudantes com Fies podem
se favorecer mais, mas isso não significa que a Estácio não esteja
crescendo”, disse Giardino.