Christiana Sciaudone e Denyse Godoy, da Bloomberg
São Paulo - A administradora de universidades
Kroton Educacional SA
está estudando entrar na briga pelas lucrativas escolas privadas de
Ensino Fundamental e Médio do Brasil. A empresa vai enfrentar uma forte
concorrência.
A Kroton se junta, assim, ao fundo de private equity
KKR Co.
e a um punhado de bilionários que apostam que as matrículas em escolas
privadas continuarão fortes mesmo com a retração econômica.
Para a Kroton, o segmento é uma nova área de crescimento depois que o
governo da presidente Dilma Rousseff reduziu o financiamento barato para
estudantes universitários, derrubando as ações da Kroton e colocando um
fim a seus três anos de reinado como ação de maior retorno no Brasil.
Enquanto o financiamento estudantil é afetado pelas medidas do governo
para reforçar suas contas fiscais, os investidores dizem que as
famílias, pressionadas pela desaceleração econômica, desistirão de
jantar fora e de viajar ao exterior, mas não voltarão a colocar os
filhos em escolas públicas.
O aumento do número de matrículas em escolas privadas é um legado
duramente conquistado na década de expansão econômica que impulsionou
quase 45 milhões de pessoas à classe média.
“Tudo indica que sim, estaremos interessados nesse negócio, e vamos
querer ser um player relevante no setor”, disse o CEO da Kroton, Rodrigo
Galindo, em 30 de junho, em entrevista no escritório da Bloomberg em
São Paulo, acrescentando que a decisão final será tomada no mês que vem.
“A ideia é comprar as melhores escolas em uma determinada cidade e usar
essa marca para crescer organicamente em outros bairros e nas cidades
vizinhas”.
Financiamentos estudantis
No ano passado, a Kroton se tornou a maior empresa educacional listada
em Bolsa do mundo com a aquisição da Anhanguera, sua maior rival.
A Kroton, que tem sede em Belo Horizonte, aproveitou a onda da primeira
geração de estudantes universitários custeados pelo programa de
financiamento estudantil do governo, conhecido como Fies, que oferecia
taxas de 3,4 por cento.
Nos três anos em que a Kroton liderou o índice acionário Ibovespa, o valor de suas ações se multiplicou por sete.
Tudo isso mudou neste ano. O Ministério da Educação do Brasil
surpreendeu os mercados e provocou a queda das ações da empresa no
último dia de negociação de 2014, quando publicou novas regras que
limitaram o acesso aos financiamentos estudantis e alteraram os prazos
de pagamento às faculdades.
De lá para cá, a pasta ampliou ainda mais as restrições, o que
significa que apenas 37 por cento dos futuros estudantes da Kroton,
aproximadamente, estariam qualificados para o financiamento. Cerca de 56
por cento do corpo discente atual da empresa utiliza financiamento do
Fies, disse Galindo.
O Ministério da Educação não respondeu a um telefonema e um e-mail em busca de comentário.
“O Fies foi o grande impulso para essas empresas e para suas ações, mas
elas não deveriam ter achado que o programa seria eternamente daquele
jeito”, disse Danilo de Júlio, analista da Concórdia Corretora, que
classifica a ação com o equivalente a hold (manter).
“É positivo que a empresa esteja procurando novos negócios, mas vai
levar um tempo até que as escolas de Ensinos Fundamental e Médio
representem uma parte significativa de sua receita”.
Em 2014, a Cognita Schools, da KKR, comprou parte de uma escola do Rio
de Janeiro dois anos depois de adquirir uma instituição em São Paulo,
onde os colégios mais caros cobram mais de US$ 25.000 por ano.
O bilionário Júlio Bozano disse, em uma reportagem em dezembro, que
levantaria R$ 800 milhões (US$ 254 milhões) para um fundo de educação.
E o bilionário Jorge Paulo Lemann é o investidor principal da Gera
Capital Venture, um fundo focado em educação que, no ano passado,
buscava investir em escolas de ensinos Fundamental e Médio, segundo uma
fonte com conhecimento do assunto.
A KKR, a Cognita, a Gera e o fundo de investimento de Bozano não retornaram imediatamente os pedidos de comentário.