Em meio à tensão com situação fiscal no Brasil, mercado mira juro nos EUA
Analista prevê dólar
ultrapassando a faixa de R$ 3,40 no curto prazo (Reuters/Siphiwe Sibeko)
SÃO PAULO - O dólar ampliou a alta a
mais de 1% nesta terça-feira (28), acima de R$ 3,40 pela primeira vez em
mais de 12 anos, em meio às preocupações com a situação fiscal
brasileira e à expectativa de alta dos juros norte-americanos.
Às 12:05 (horário de Brasília), o dólar avançava 1,17%, a R$ 3,4032
na venda. Na máxima da sessão, a moeda norte-americana atingiu R$
3,4058, maior nível durante a sessão desde 27 de março de 2003, quando
foi a R$ 3,4230. Nas últimas 4 sessões, o dólar acumulou valorização de
6%.
"Todos os motivos que têm pressionado o dólar nos últimos dias
continuam valendo. Não dá para saber onde a moeda vai parar", disse o
gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho.
Investidores têm demonstrado preocupação com a possibilidade de o
Brasil perder o grau de investimento, após cortes nas metas fiscais do
governo deste e dos próximos anos surpreenderem e decepcionarem os
mercados financeiros.
O cenário político conturbado também pesa neste momento, em que o
governo depende muito do Congresso - em pé de guerra com o Executivo -
para aprovar as medidas de ajustes fiscais. Nesta manhã, o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, voltou a afirmar que fará todos os esforços junto
ao Legislativo "para garantir a previsibilidade fiscal".
Outro fator importante para os próximos passos do dólar é a reunião
do Federal Reserve, banco central norte-americano, que termina na
quarta-feira (29). Sinalizações de que o Fed caminha para elevar os
juros ainda neste ano podem servir de gatilho para a moeda
norte-americana dar mais um salto, afirmaram operadores, uma vez que
pode atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados no Brasil.
"A verdade é que o dólar não tem motivo para cair. Qualquer queda vai
ser um alívio temporário", disse a operadora de um banco nacional.
O atual momento do mercado de câmbio também fez investidores
redobrarem a atenção sobre a intervenção do Banco Central, já que a
valorização da moeda norte-americana tende a pressionar a inflação ao
encarecer importados. O sinal mais imediato será o anúncio da rolagem
dos swaps cambiais que vencem em setembro, equivalentes a venda futura
de dólares.
Nos últimos meses, o BC tem feito rolagens parciais e caminha para
repor cerca de 60% do lote de agosto, equivalente a US$ 10,675 bilhões.
Operadores têm afirmado que, se mantiver essa proporção para o lote de
setembro, o BC sinalizaria que está confortável com o avanço da moeda
norte-americana.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total no leilão de rolagem de swaps
cambiais. Com isso, já rolou o equivalente a US$ 5,684 bilhões, ou
cerca de 53% do lote que vence no início de agosto, que corresponde a
US$ 10,675 bilhões.
Pela manhã, o dólar chegou a recuar 0,6% sobre o real, em um
movimento de ajuste após as altas recentes e em linha com os mercados
externos, onde o dólar se desvalorizava em relação às principais moedas
emergentes. No entanto, operadores já esperavam que a moeda dos EUA
retomasse a trajetória de alta.
"A trajetória do dólar é de volatilidade no curto e no médio prazo",
disse pela manhã o operador da corretora SLW João Paulo de Gracia
Correa, já prevendo que a moeda dos EUA ultrapassaria R$ 3,40 no curto
prazo.
(Por Bruno Federowski)