São Paulo - Durante 2015, o
Magazine Luiza
enxugou o que pôde: cortou gastos com marketing, renegociou preços de
aluguéis e serviços de parceiros, baixou o consumo de energia, diminuiu
sua
dívida e até encolheu a equipe.
As economias não foram suficientes para evitar as perdas, mas fortaleceram o caixa.
A companhia encerrou o ano com um
prejuízo de 65,5 milhões de reais, revertendo o lucro recorde de 128,6 milhões registrado em 2014.
O resultado financeiro líquido, que é a diferença entre tudo o que a
empresa ganhou e gastou no ano, ficou negativo em 486,1 milhões de
reais, ante 360,7 milhões de reais também negativos em 2014.
"O ano de 2015 teve condições macroeconômicas muito desafiadoras e nosso
setor potencializa esses efeitos", justificou o presidente da rede,
Frederico Trajano, em conferência com analistas nesta semana.
Reservas
A empresa se preocupou em engordar as reservas e melhorar o capital de giro para encarar 2016, outro ano que
promete ser turbulento. O caixa atingiu 1,1 bilhão de reais em 2015, contra 863 milhões de reais no ano anterior.
A geração de caixa operacional aumentou e passou de 91,1 milhões de reais em 2014 para 428,2 milhões de reais no ano passado.
Tudo isso ajudou a melhorar a qualidade do endividamento da varejista. A
dívida líquida ajustada passou de 651 milhões de reais em dezembro de
2014 para 489 milhões em dezembro de 2015.
Assim, a relação entre a dívida ajustada e o Ebitda da companhia caiu de 2,3 vezes para 1,1 vez.
"Em momentos de dificuldade, é preciso focar na geração de caixa, e foi
exatamente isso que fizemos. Sentimos que estamos devidamente preparados
para enfrentar as eventuais dificuldades de 2016", comentou Trajano.
Margens
No ano passado, o Magazine Luiza passou a cobrar por frete e montagem de
móveis, investiu em um melhor mix de produtos e maior oferta de
serviços. Essas medidas levaram a um amento da margem bruta em 1,2
pontos percentuais, chegando a 28,7%.
Apesar disso, a queda nas vendas atrapalhou a margem a Ebtida, que caiu 1
ponto percentual e fechou a 5,2%, totalizando 465 milhões de reais.
Para este ano, a empresa espera continuar ganhando participação de
mercado sem abrir mão das margens. "Podemos ganhar share sem destruir
valor ao acionista", disse Trajano.
O que foi cortado
Para otimizar os gastos e sobreviver à crise, o Magazine Luiza contratou ajuda da consultoria Galeazzi.
Com a orientação dela e um pesado planejamento junto a fornecedores e
trabalhadores, a varejista conseguiu reduzir o custo de reforma de suas
lojas
de 1 milhão de reais para 200.000 reais, segundo Luiza Trajano, presidente do conselho de administração.
Ela ainda está reduzindo despesas fixas como transmissão de dados, telefonia, energia, segurança e limpeza.
Frederico Trajano não abre os valores que a companhia já conseguiu
economizar, mas diz que acredita que todas as metas serão atingidas.
"Vamos ser muito disciplinados na execução desses projetos", disse em entrevista a EXAME.com.
Paralelamente, o Magazine Luiza enxugou uma parte significativa de sua
equipe. No fim de 2014, eram cerca de 22.000 funcionários. Em 2015, o
número caiu para 20.000.
A maior parte da redução se deu nas lojas, com o fechamento de postos de
trabalho que vagaram devido à rotatividade do setor. Mas houve também
demissões no time administrativo.
"Nas lojas, fazemos ajustes fechando a porta de entrada, porque o turnover naturalmente é alto", explicou Frederico Trajano.
A empresa encerrou o ano com 30 novos pontos de venda. Foram investidos 158 milhões de reais em construções.
A consultoria McKinsey foi outra contratada, dessa vez para tentar
melhorar a vendas. Ela está mapeando as lojas da rede para verificar
discrepâncias e encontrar as melhores práticas.
Cada vez mais digital
O lema do Magazine Luiza é se transformar de "uma empresa tradicional
com uma área digital em uma empresa digital com pontos físicos".
Para isso, a companhia investe forte em novas tecnologias e criou em
2014 o Luiza Labs, laboratório de desenvolvimento de soluções que tem
hoje 50 engenheiros dedicados.
Só no ano passado, alocou 54 milhões de reais em digitalização de lojas.
Seu aplicativo para compras via celular, lançado há quatro meses, já
tem 1 milhão de usuários.
Como reflexo desses esforços, as vendas online corresponderam a 21,1% da
receita total da companhia no último trimestre, um crescimento de
19,1%.
Essa fatia, de acordo com Frederico Trajano, só deve crescer. "É uma
tendência. Se a gente acompanhar, vai ganhar mercado automaticamente".
Já no segundo semestre deste ano, o Magazine Luiza abrirá ao mercado o
seu marketplace, vitrine em que outras empresas podem anunciar produtos
em seu e-commerce.