quarta-feira, 23 de março de 2016

Decisão de Moro sobre telefonemas de Lula foi inconstitucional, decide Teori






O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba envie para o STF todas as investigações que envolvem o ex-presidente Lula. 

Segundo Teori, o juiz Sergio Moro, titular da vara, ao constatar que conversas de Lula com autoridades com prerrogativa de foro foram gravadas e anexadas ao processo, deveria ter enviado os autos ao Supremo, para que a corte decidisse sobre a cisão ou não do processo. A decisão é desta terça-feira (22/3).

Teori ainda cassou a decisão de Moro que levantou o sigilo dos grampos telefônicos envolvendo Lula, por entender que o magistrado não tinha competência para tomá-la. Segundo o ministro, Moro decidiu “sem nenhuma das cautelas exigidas em lei”. Os grampos envolviam conversas entre Lula e a presidente Dilma Rousseff e o então ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, hoje chefe de gabinete da Presidência.

De acordo com o ministro, o decreto de fim do sigilo dos grampos foi ilegal e inconstitucional. Primeiro porque foi o resultado de uma decisão de primeiro grau a respeito de fatos envolvendo réus com prerrogativa de foro no Supremo. Depois porque, ao divulgar o conteúdo dos grampos, Moro violou o direito constitucional à garantia de sigilo dos envolvidos nas conversas.

Ainda segundo Teori, a Lei das Interceptações, "além de vedar expressamente a divulgação de qualquer conversa interceptada (artigo 8º), determina a inutilização das gravações que não interessem à investigação criminal (artigo 9º)".

“Não há como conceber, portanto, a divulgação pública das conversações do modo como se operou, especialmente daquelas que sequer têm relação com o objeto da investigação criminal. Contra essa ordenação expressa, que — repita-se, tem fundamento de validade constitucional — é descabida a invocação do interesse público da divulgação ou a condição de pessoas públicas dos interlocutores atingidos, como se essas autoridades, ou seus interlocutores, estivessem plenamente desprotegidas em sua intimidade e privacidade.”


Sem relevância
 

Conforme mostrou reportagem da ConJur, Moro tomou uma decisão que não lhe cabia e acabou divulgando grampos ilegais. Isso porque, segundo professores ouvidos pela reportagem, ao constatar que autoridades com prerrogativa de foro aparecem nas conversas gravadas, a única decisão que ele poderia tomar era enviá-las ao Supremo, e não divulgar seu conteúdo para a imprensa, como fez.

A ilegalidade dos grampos também foi apontada pela ConJur, e depois reconhecida pelo próprio Moro. Às 11h13 da quarta-feira (16/3), Sergio Moro havia mandado suspender as interceptações. A conversa entre Dilma e Lula, divulgada pela 13ª Vara, aconteceu às 13h32.

O próprio juiz, no dia seguinte, reconheceu que divulgou conversas gravadas sem autorização, mas dizendo não ver “maior relevância” no fato.

Na decisão desta terça, é o ministro Teori quem reclama da decisão de Sergio Moro. “Embora a interceptação telefônica tenha sido aparentemente voltada a pessoas que não ostentavam prerrogativa de foro por função, o conteúdo das conversas passou por análise que evidentemente não competia ao juízo reclamado”, escreveu.

De acordo com o ministro, “jurisprudência reiterada” do STF diz que cabe “apenas ao Supremo Tribunal Federal, e não a qualquer outro juízo, decidir sobre a cisão de investigações envolvendo autoridade com prerrogativa de foro na corte, promovendo, ele próprio, deliberação a respeito do cabimento e dos contornos do referido desmembramento”.

“No caso em exame, não tendo havido prévia decisão desta Corte sobre a cisão ou não da investigação ou da ação relativamente aos fatos indicados, envolvendo autoridades com prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal, fica delineada, nesse juízo de cognição sumária, quando menos, a concreta probabilidade de violação da competência prevista no artigo 102, inciso I, alínea b, da Constituição da República.”


Clique aqui para ler a decisão.
Rcl 23.457

terça-feira, 22 de março de 2016

“A Lava Jato não tem viés político nenhum”

O cineasta carioca José Padilha, de 48 anos, tem se dedicado a expor a violência e o crime que permeiam a sociedade brasileira. Foi o que fez no documentário Ônibus 174 e nos dois Tropa de Elite, fenômenos de bilheteria que consagraram um anti-herói nacional, o Capitão Nascimento. Também responsável pela série Narcos, do Netflix, Padilha vive nos Estados Unidos com a mulher e o filho de 12 anos. E anda atento a outra modalidade de crime bem conhecida dos brasileiros: a corrupção. Ele anuncia que um de seus próximos trabalhos para a TV internacional será sobre a Operação Lava-Jato. Por telefone, falou do projeto e dos escândalos que o inspiraram.

Como será sua série de TV sobre a Operação Lava-Jato?
O objetivo é narrar a operação policial em si e mostrar inúmeros detalhes esclarecedores que a própria imprensa desconhece. Como se trata de um projeto bancado por dinheiro internacional, o título será em inglês. Estamos chamando a série provisoriamente de Jet Wash. Mas o escândalo oferece tantas possibilidades de título que é até difícil escolher. Poderia ser Solaris, não?

O senhor tem estudado escândalos como o mensalão e o petrolão?
Conheço os dois a fundo. Li grande parte das sentenças do STF no julgamento do mensalão. E também conheço bem o petrolão, pois comprei os direitos de um livro ainda inédito que traz entrevistas até com envolvidos que estão na cadeia – a obra será uma das bases da série. Após uma leitura atenta dos fatos, não dá para ignorar que o PT e as empreiteiras montaram uma quadrilha para lesar os cofres públicos, sim. Também não dá para fingir que a campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff não foi irrigada com dinheiro da corrupção. Sejamos francos: é bem provável que outras campanhas tenham sido irrigadas também.

O que a futura série dirá sobre a tese tão alardeada pelo PT de que a Lava-­Jato tem viés político?
Não tem viés político nenhum. É uma operação policial, ponto. Para entender o que está ocorrendo hoje no Brasil, é preciso tirar a cortina de fumaça que nubla os fatos. Existem três processos históricos distintos andando em paralelo e se retroalimentando. A combinação de mal-estar com a economia, revelações da Lava-Jato e a atuação de uma imprensa livre e combativa. Tudo isso produziu algo inédito no país: o andar de cima ficou vulnerável à aplicação da lei. É o que está acontecendo de concreto. Em torno disso, tem muita espuma: a tentativa de transformar um fenômeno de natureza policial e legal num embate político. Toda vez que alguém fala dos indícios avassaladores contra Lula, um petista diz que o PSDB também rouba. Tenta-se transformar tudo numa questão ideológica. Mas tudo é caso de polícia.

No que a corrupção do governo petista se diferencia da que se via antes?
A política no Brasil – nas esferas municipal, estadual e federal – sempre funcionou assim: os partidos elegem seus representantes e indicam pessoas para cargos-chave com poder de contratar serviços públicos. Depois, superfaturam as obras e embolsam um pedaço do dinheiro, que vai para pessoas físicas e o financiamento de campanhas. O PT fez isso em volumes muito maiores – vide a compra da Refinaria de Pasadena. E o caso do PT também é pior porque o roubo sistêmico se soma a um enorme cinismo. Lula, antes, fazia o discurso da ética e da moralidade. Mas, quando chegou ao poder, não só montou seu esquema como levou ao limite da sustentabilidade o assalto a empresas estatais e órgãos públicos. Um político assim só poderia chamar para si mais ódio do que os outros, obviamente.

Qual seria a melhor saída para a crise política desencadeada pelo petrolão?
Minha preferência, como brasileiro, seria a cassação da chapa Dilma-­Temer no TSE. Se o TSE tivesse a coragem de olhar para as campanhas e impugnar as chapas que receberam recursos ilícitos, tenho a impressão de que não sobraria nenhuma chapa relevante. Uma nova eleição seria o melhor caminho para o Brasil. Mas não me parece que vá acontecer. Há muita ingerência política no TSE.

Num artigo recente, o senhor encontra uma explicação psicanalítica para tantos artistas e intelectuais não aceitarem as evidências contra Lula e o PT. Por que essas pessoas vivem, como o senhor diz, em negação?
É um fenômeno psicológico que foi primeiro estudado pela psicanálise, por Freud e sua filha Anna. Quando você constrói uma imagem pública em torno de uma ideologia e assume publicamente posturas a favor de determinado grupo político – vai ao programa eleitoral do PT, abraça o Lula, faz campanha para a Dilma – e depois descobre que estava errado, há duas opções: aceitar seu erro ou fingir que nada aconteceu. A maioria dos artistas e intelectuais preferiu fingir que nada de errado está ocorrendo com o partido e seus dirigentes. É um mecanismo de defesa psicológica. Meus amigos são cineastas, atores e escritores, muita gente da esquerda, enfim. E decidi alertá-los: camaradas, acordem. Se vocês valorizam suas crenças, afastem-se do Lula. No momento, curiosamente, já detecto que a negação passou para outro patamar.

Qual seria?
Cada vez há menos negação total. Agora, quando confrontados com o erro que foi acreditar que o PT é um partido e não uma quadrilha, os artistas e intelectuais apelam para dois subterfúgios. O primeiro é afirmar que a presidente Dilma não roubou “como pessoa física”, embora seja evidente que a campanha eleitoral da Dilma foi beneficiada por um propinoduto – disso a Lava-Jato não deixa a menor dúvida. Embora seja grave roubar para si próprio, é ainda pior roubar para fraudar o processo democrático.

 http://www.institutomillenium.org.br/divulgacao/entrevistas/jos-padilha-lava-jato-tem-vis-poltico-nenhum/

Mais um comício no Palácio. Fim do governo Dilma é um show de horrores

 Advogado Geral da União faz discurso de líder estudantil para tentar defender o indefensável governo a que serve. É vergonhoso.
 




Mais um comício no Palácio. Fim do governo Dilma é um show de horrores
Advogado Geral da União faz discurso de líder estudantil para tentar defender o indefensável governo a que serve. É vergonhoso.

José Eduardo Cardozo, Advogado Geral da União, acaba de fazer um discurso incendiário no Palácio do Planalto. Acusou o imepeachment de ser um golpe de estado. Disse que o cumprimento da 
Constituição é uma atitude golpista. Defendeu o indenfesável governo Dilma. E tudo num tom infinitamente acima do aceitável à uma cerimônia no Palácio do Planalto.

O PT desconhece o quê seja impessoalidade, princípio expresso em nossa Constituição.

O PT desconhece a diferença entre partido, governo e Estado, outro princípio expresso em nossa Constituição.

Neste momento, Dilma faz um discurso para complementar o de Cardozo. Com engulhos no estômago, acompanhamos as barbaridades ditas.

O final do governo Dilma Rousseff é um show de horrores.

Grupo Colombo reestrutura dívida de R$ 1,3 bilhão


Divulgação/Facebook oficial
Interior da loja da Camisaria Colombo que está pedindo reestruturação da dívida
Camisaria Colombo: Os principais credores, responsáveis por 800 milhões de reais do total, são bancos
 
 
 
São Paulo - O Grupo Colombo, dono da camisaria de mesmo nome, está reestruturando uma dívida de 1,3 bilhão de reais.

Os principais credores, responsáveis por 800 milhões de reais do total, são bancos como HSBC, Credit Suisse, Santander, Itaú e Banco do Brasil. O restante da dívida é com fornecedores e, portanto, pode mudar de mês a mês conforme os pagamentos forem feitos.

Ainda não há um modelo fechado para a negociação, diz Pedro Bianchi, sócio da Felsberg Advogados, escritório que está intermediando os acordos com bancos.

No entanto, a “recuperação judicial nem está na mesa agora”, diz ele. Segundo o advogado, a empresa não tem dívidas trabalhistas nem tributárias relevantes e não sofre de penhoras que comprometam a sua atividade.

Por isso, “os bancos entendem que, nesse momento, a recuperação extrajudicial é a mais atrativa e gera menos impacto”.

Além do escritório, o Banco Plural assessora a reestruturação organizacional da empresa, pensando em cortes de equipe, mudança no organograma, novos layouts de lojas e adequação de estoques.

 

Queda brusca


A crise que abalou todo o varejo também derrubou as vendas da empresa. De 2014 para 2015, as receitas do grupo Colombo caíram 40%. “Ninguém esperava essa queda tão abrupta”, diz Bianchi.

Nos últimos meses, as varejistas Barred’s, de moda, Grupo Bmart de lojas de brinquedos e o grupo GEP, dono da Luigi Bertolli, pediram recuperação judicial. A justiça também decretou a falência da fabricante de eletrodomésticos Mabe.

“Os empresários do setor apostavam muito na continuidade do crescimento do Brasil, fizeram investimentos grandes, expandiram as lojas. Mas o cenário mudou muito rápido, em um ritmo que os varejistas não conseguem acompanhar”, analisa o advogado.

Advent capta US$13 bilhões de fundo global de private equity



Thinkstock/Ingram Publishing
dólares
No Brasil: parte destes recursos pode ser destinado a negócios no Brasil e outros países latinos
 
 
 
 
São Paulo – A gestora de private equity Advent International concluiu hoje a captação do fundo GPE VIII, com US$ 13 bilhões em recursos levantados.

Parte desses recursos serão destinados seletivamente para o Brasil e outros países da América Latina, em conjunto com o fundo de US$ 2,1 da Advent destinado a região.

O montante superou a expectativa do fundo, o oitavo criado pela companhia, em US$ 1 bilhão e foi captado em apenas seis meses.

O valor também foi superior ao último fundo global da Avent, o GPE VII, cuja captação feita em 2012 ficou em US$ 10,8 bilhões.

De acordo com a empresa, o dinheiro será investido em transações de controle ou em posições relevantes dentro de companhias com alto potencial de crescimento e atuação nos setores financeiros, de saúde, indústria, varejo e tecnologia.

As regiões prioritárias serão Europa e América do Norte, mas negócios selecionados na América Latina e Ásia também poderão receber investimentos.

"A conclusão da captação do GPE VIII é um marco importante para a Advent”, afirma Patrice Etlin, Managing Partner da Advent International em São Paulo, acrescentando que o novo fundo recebeu a adesão de investidores institucionais do Brasil.

Os recursos do fundo de investimento serão investidos por uma equipe de mais de 130 profissionais de investimento da Advent na Europa, América do Norte e Ásia. 

Dilma diz que jamais renunciará a seu mandato





José Cruz/Agência Brasil
Dilma Rousseff em cerimônia de posse de novos Ministros de Estado
Dilma Rousseff: a presidente disse que lutará para não sofrer em plena democracia o que sofreu na ditadura
 
Da REUTERS


Brasília - A presidente Dilma Rousseff disse nesta terça-feira que "jamais" renunciará a seu mandato e, ao criticar o pedido de impeachment de que é alvo na Câmara dos Deputados, negou ter cometido crimes de responsabilidade que pudessem justificar a interrupção de seu mandato.

Em discurso no Palácio do Planalto após receber apoio de juristas, a presidente, que foi presa e torturada durante o regime militar, disse que lutará para não sofrer em plena democracia o que sofreu na ditadura.

R$ 3,60: esse pode ser o novo piso do dólar para o Banco Central!




Alexandre Cabral
22 março 2016 | 06:32 


O Banco Central levou hoje (21/03) a leilão um produto chamado Swap Cambial Reverso. Vamos explicar por que o BC resolveu recorrer a esse produto, que não era utilizado desde 2013, e qual é a mensagem que a autoridade monetária quer passar ao mercado com essa decisão.

Filosofando sobre o Banco Central

O Banco Central de qualquer país do mundo tem várias funções. Uma delas, que não possui manual, é mostrar ao mercado como a autoridade monetária pensa.

– Gerar ou tirar expectativa: nem sempre o Banco Central precisa partir para a ação, para que fique clara a sua intenção. Às vezes, uma simples declaração pública já atinge o objetivo de mexer com as expectativas do mercado. Em 24 de setembro de 2015, no auge da desvalorização do real (US$ 1,00 = R$ 4,25), o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, veio a público dizer que “Banco Central e Tesouro Nacional têm instrumentos adequados para conter as turbulências do mercado”. Essa frase “tirou expectativa” do mercado, principalmente inibindo a aposta na desvalorização do real. Muitas vezes, o simples fato de o BC dizer que “está vivo” já segura a voracidade do especulador. Afinal, deve ser briga ruim peitar uma instituição que tem mais de US$ 370 bilhões em caixa e que pode vender, se achar necessário.

E hoje? Hoje, com o real se fortalecendo, nós temos o Banco Central como “gerador de expectativa”. Antes de eu detalhar melhor o meu pensamento, vou explicar algumas coisas.


Uma introdução, para facilitar a leitura


Valorização do real frente ao dólar: foi de 13,84% no período entre 24 de setembro de 2015 e 18 de março de 2016; 7,43% no ano de 2016; e 9,17% só no mês de março.
Vencimento do Swap Cambial Reverso do leilão do dia 21 de março: 01 de julho de 2016.

Agora, preciso falar um pouco mais sobre o produto Swap Cambial, que tem duas modalidades: Tradicional e Reverso
Muito utilizado hoje em dia, o Swap Cambial Tradicional foi lançado pelo Banco Central há mais de 10 anos. Funciona assim:
Ao adquirir o Swap Cambial, o Banco A:
1) APLICA na variação do dólar, mais uma taxa de juros ao ano – portanto, fica ATIVO na variação da moeda americana;
2) DEVE ao Banco Central pela taxa Selic – portanto, fica PASSIVO na variação da nossa taxa básica de juros.

Já o BC fica na posição contrária: ATIVO em variação da Selic e PASSIVO em variação do dólar.
Se a variação da moeda americana (1) for maior que a da Selic (2), o banco “A” ganha dinheiro, já que foi remunerado por um montante superior ao valor que teve que pagar.

O produto agradou aos bancos, que passaram a receber a variação do dólar, sem precisar ficar com a moeda americana em mãos. O raciocínio então é o seguinte: se os bancos acreditam que o real vai desvalorizar frente ao dólar, investem em Swap Cambial Tradicional. Se a moeda brasileira de fato perder valor, esses bancos terão ganhos. Mas, se o real se valorizar, terão perdas e quem ganhará será o Banco Central, que está na outra ponta da operação, em posição contrária.


O que foi leiloado no dia 21 de março


É um produto conhecido como Swap Cambial Reverso, que funciona exatamente de maneira inversa ao Swap Cambial Tradicional.
Ao adquirir o Swap Cambial Reverso, o Banco A:
1) APLICA pela taxa Selic – portanto, fica ATIVO na variação da nossa taxa básica de juros;
2) DEVE ao Banco Central a variação do dólar, mais uma taxa de juros ao ano – portanto, fica PASSIVO na variação da moeda americana.
Já o BC fica na posição contrária: ATIVO em variação cambial e PASSIVO em taxa Selic.

Se a variação da taxa Selic (1) for maior que a variação do dólar (2), o banco “A” ganha dinheiro, já que foi remunerado por um montante superior ao valor que teve que pagar. Portanto, essa operação é feita por quem acredita na queda do dólar, caso contrário, se achasse que o dólar subiria mais que a Selic, faria o Swap Cambial Tradicional, ficando ativo em variação cambial e passivo na taxa básica de juros.

Resumindo – ao adquirir o Swap Cambial Tradicional, os bancos acreditam que o real irá se desvalorizar frente à moeda americana. Ao contratar o Swap Cambial Reverso, os bancos têm expectativa que nossa moeda se valorize em relação ao dólar.
Só que aqui está um detalhe importante: se o banco possui essas duas operações na carteira para o mesmo vencimento, na verdade ele não tem nada, porque o ganho de uma operação zera o resultado positivo da outra, já que são operações exatamente inversas. Nessa situação, o banco fica, ao mesmo tempo, aplicado em dólar e devedor em dólar! Nesse cenário, o dólar pode ir para qualquer lado, que nada ocorre com o banco. Devido ao modo de como ele é registrado na bolsa, na prática o estoque será de zero no final do leilão para esse banco – para quem tinha o Tradicional e fez o Reverso hoje.

O que me leva a concluir que, ao leiloar o Swap Cambial Reverso, o Banco Central está fazendo com que DIMINUA a posição aplicada em dólar dos bancos.

O saldo das aplicações em Swap Cambial em 18/03/16 era de US$ 108,113 bilhões. E o leilão do dia 21 representava US$ 1,0 bilhão.


Vamos para uma sequencia lógica:

O banco A acredita na desvalorização do real => Adquire o produto Swap Cambial Tradicional => O real começa a se valorizar devido a questões políticas, só que de uma forma muito rápida (9,17% só em março) => O Banco Central atua para tirar o Swap Cambial Tradicional do mercado (lançando o Reverso) => O banco A, ao zerar ou diminuir a posição via aquisição de Swap Reverso, perde o produto que dá a ele a garantia do rendimento do dólar => Solução: o banco A se vê obrigado a comprar dólar, se quiser apostar na desvalorização do real => Portanto, surgem compradores novos segurando a queda da moeda americana.
Por isso que digo que o Banco Central está trabalhando de maneira informal com um piso para o dólar que, nesse momento, é algo próximo de R$ 3,60.

Por que será que o Banco Central está criando esse piso?
Banco Central também lê jornal. No atual momento, deve estar lendo com especial atenção a parte política do jornal. E deve estar pensando:

O real vem se valorizando frente ao dólar nesses últimos dias e o motivo dessa valorização é político e não econômico => Se eu, BC, deixar isso continuar a acontecer, podemos ver o real ganhar cada vez mais força => Se por acaso a Dilma perder o mandato, existe uma chance considerável do real se valorizar mais ainda (já que um dos motivos pelos quais o investidor estrangeiro não aplica atualmente no Brasil é a falta de confiança gerada pela instabilidade política/econômica) => Se eu deixar que o real se valorize muito antes do impeachment, quando de fato ocorrer o afastamento da presidente podemos ter uma valorização grande e rápida, atrapalhando a economia real. Parem para pensar em como deve estar a cabeça dos importadores e exportadores com essa volatilidade (o dólar estava a R$ 4,24 em setembro e hoje vale R$ 3,60) => Já sei o que fazer: vou começar a tirar do mercado, aos poucos, o produto que dá rendimento em dólar => Se eu tirar esse produto, os bancos serão obrigados a comprar o dólar => Posso estar criando uma base informal nesse mercado. Se a Dilma cair, iremos partir de um dólar mais alto, fazendo com que a economia real sinta menos.


Outro detalhe importante


Em abril, vencem US$ 3,8 bilhões de Swap Cambial Tradicional e o Banco Central anunciou na sexta (18/03) que vai diminuir a rolagem. O que isso quer dizer? Que, se todo mundo que tem posição hoje, quiser comprar, não vai conseguir, pois o BC só vai vender uma parte do que está vencendo. Mais uma estratégia para segurar a valorização do real.

Olhando o calendário do Swap
O Banco Central está diminuindo a rolagem para abril e, ao mesmo tempo, está começando a diminuir o estoque para julho (leilão de hoje). Na hora em que fizer a rolagem para julho, será de uma quantidade menor do que tem hoje.


Resultado do Leilão


Quando eu estava concluindo este texto, saiu o resultado do leilão. O Banco Central vendeu apenas 27,5% do volume financeiro que tinha em mente para vender (US$ 1 bilhão) e que representa menos de 1% do total de posição na mão do mercado financeiro.

O que podemos ter por trás desse resultado: o mercado está com medo que o processo de impeachment demore muito, com várias tramitações entre Congresso e STF, gerando uma incerteza cada vez maior no mercado de câmbio. Aí os bancos pensam: “por que eu vou zerar uma operação que está me dando variação cambial? Vai que o processo da saída da Dilma empaca e o real desvaloriza tudo novamente. Prefiro ficar com o meu produto aqui quietinho na carteira”.


Conclusão


Para mim, o Banco Central deu claramente um recado: “se o dólar bater na casa de R$ 3,60, eu vou entrar no mercado, com o objetivo de segurar essa valorização”. Temos aqui, portanto, um piso informal do dólar – que pode ser rompido a qualquer hora, mas que, neste momento, é o número com o qual o BC trabalha.

O Banco Central, como fez em setembro de 2015, está falando ao mercado: “Pessoal, se vocês ficarem apostando a favor da valorização do real frente ao dólar e fizerem isso muito rápido, eu atuo”. Se tivermos fluxo, não tem milagre e aí esse piso abaixa.

Então, fazer o Swap Cambial Reverso tem como objetivo zerar posição de quem possui o Swap Cambial Tradicional, já que são pontas exatamente opostas. Vi muita gente falando que hoje (21 de março) o dólar ia DISPARAR devido a esse leilão. Mas o Banco Central está zerando posição velha e não abrindo posição nova. Fora que o montante oferecido em leilão representa apenas cerca de 1% da posição em aberto. Na verdade, o BC pode estar testando como o mercado reage à diminuição do Swap Cambial Tradicional. Vamos acompanhar com carinho os próximos passos do BC!


Complemento


Agora à noite, antes de eu postar este texto no site do Estadão, o Banco Central anunciou que vai leiloar amanhã (22/03) US$ 725 milhões em Swap Cambial Reverso com vencimento em julho de 2016, igual ao de hoje (21/03). Só muda um detalhe: o que foi feito hoje (21/03) só vai liquidar em 01/04, enquanto o que vai ser feito amanhã (22/03) terá liquidação no dia 23/03. Assim, veremos uma pressão maior em cima do dólar neste final do mês, por dois motivos:

01) Pela retirada do Swap Tradicional do mercado, como já explicado neste artigo;
02) Pelo fato novo de a liquidação ocorrer ainda no mês de março. Vamos lembrar que a operação nova (em Swap Reverso) anula a antiga (em Swap Tradicional). E, na antiga, os bancos estão ativos em variação cambial – portanto, quanto maior o dólar, maior o lucro. Assim, os bancos vão querer zerar posição no Swap Tradicional contra o Banco Central com dólar alto, para poder ganhar dinheiro. Provavelmente o dólar ficará pressionado nos próximos dias, não obrigatoriamente DISPARAR. Vamos acompanhar.


 http://economia.estadao.com.br/blogs/economia-a-vista/r-360-esse-pode-ser-o-novo-piso-do-dolar-para-o-banco-central/