São Paulo - Quanto movimenta a comercialização de mercadorias ilícitas,
como produtos roubados, furtados, contrabandeados e pirateados? Só nos
municípios paulistas, R$ 13,26 bilhões, segundo um estudo inédito
apresentado hoje pela Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp) que mapeou o impacto do
comércio ilegal em nove setores durante o ano passado.
Não fosse essa concorrência, que chega a morder quase 12% do consumo de
produtos como eletrônicos, toda a indústria paulista poderia criar 111,6
mil empregos formais, o que significaria uma geração de renda, entre
salários e lucro, de R$ 3,02 bilhões, conforme estimativa da entidade
patronal.
Para os governos, a perda na arrecadação é de R$ 2,81 bilhões em
impostos federais - o suficiente para construir 1,5 mil escolas de
ensino básico ou 1,2 mil hospitais - e de R$ 2,54 bilhões em impostos
estaduais.
Embora tenha, no ano passado, ficado praticamente estagnado em relação a
2014, quando movimentou R$ 13,24 bilhões, o mercado ilícito quase
dobrou de tamanho desde 2010, ano em que girava R$ 6,71 bilhões.
Os maiores rombos se dão nas indústrias de tabaco e de
automóveis/autopeças, onde as vendas da concorrência ilegal somaram,
respectivamente, R$ 4,25 bilhões e R$ 3,49 bilhões no ano passado.
Como porcentual de mercado, porém, os maiores estragos foram
identificados no setor de eletrônicos, no qual os produtos ilícitos
representam 11,9% de tudo o que é consumido, e de brinquedos (11,1%).
No caso do comércio ilegal de tabaco, como cigarros, quase a totalidade (99,5%) são produtos contrabandeados.
Diretor do Sindifumo, sindicato da indústria do fumo de São Paulo,
Fernando Bomfiglio diz que cerca de 30 bilhões de cigarros - ou 30% do
consumo total - entram a cada ano no País como contrabando e toda essa
carga vem do Paraguai.
A assimetria tributária está, segundo ele, na origem do problema.
Enquanto os produtos contrabandeados causam uma evasão fiscal de quase
R$ 5 bilhões, os impostos respondem por pelo menos 70% do valor do
cigarro produzido de forma regular no Brasil, diz Bomfiglio.
Com isso, mesmo cobrando valores até três vezes acima do que pagam pelo
produto, os contrabandistas conseguem vender cigarros pela metade do
preço cobrado pela indústria nacional. "A atratividade se dá pela
combinação de alto lucro e baixa punição do contrabando", afirma o
diretor do Sindifumo.
Com preços baixos e a percepção, de parte da população, de que esse tipo
de comércio representa uma oportunidade de trabalho num período de
desemprego crescente, os produtos do contrabando ou pirateados ganharam
um respaldo popular que a indústria nacional reconhece ter dificuldade
em rebater.
"É um marketing imbatível. Como dizer para a dona Maria que ela está
comprando um produto ilegal? A polícia e o Judiciário não vão resolver
isso. Se o contrabando é inevitável, o que estamos tentando fazer é
ganhar escala para reduzir preços e oferecer produtos licenciados",
conta Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação da
indústria de brinquedos, onde o comércio ilegal movimentou R$ 258,5
milhões em 2015. "Se a carga tributária fosse menor, por que a dona
Maria colocaria o filho dela em risco?", questiona Costa.
Outra pesquisa da Fiesp, feita com 345 empresas de todos os portes,
revela o impacto do mercado ilícito quando a indústria é vítima dos
crimes, seja, diretamente, por cargas roubadas no transporte de
mercadorias ou desvios cometidos em suas próprias sedes, seja,
indiretamente, por conta de crimes sofridos por fornecedores, clientes e
funcionários. Segundo estimativa do estudo, a perda de caixa causada
por crimes contra as empresas é estimada em R$ 5,13 bilhões.
Além do efeito econômico, o levantamento da Fiesp aponta que esses
crimes jogam contra planos de investimento e trazem custo adicional de
ações para reduzir riscos ou proteger atividades e patrimônio.
Entre as companhias que participaram da pesquisa, 28,3% desistiram de
realizar alguma ação empreendedora em virtude da violência criminal,
77,4% pagam por seguro e 44,1% utilizam segurança privada terceirizada.
Quase metade das empresas (46,7%) diz que foi vítima de algum crime, principalmente durante o transporte de carga.