Nos depoimentos pré-delação, os executivos da companhia teriam citado pelo menos 130 políticos de todos os grandes partidos
Brasília – A
delação premiada de mais de 75 executivos da
Odebrecht — incluindo
os donos da construtora, Emílio e Marcelo Odebrecht — deve abalar as
estruturas da classe política brasileira. Nesta quinta-feira (24), deve
ser concluída a assinatura dos acordos de delação firmados com a
Procuradoria-Geral da República dentro da
Operação Lava Jato.
O acordo é visto com preocupação entre membros da base governista e
da oposição por uma evidente razão: nos depoimentos pré-delação, os
executivos da companhia teriam citado pelo menos 130 importantes
políticos de todos os grandes partidos.
Em diálogo gravado de forma oculta, o ex-presidente
José Sarney (PMDB)
teria afirmado que a delação da Odebrecht deve causar um estrago para a
carreira de partidos e políticos comparável à potência de uma
“metralhadora de [calibre] ponto 100”.
Diante do potencial da delação, a pergunta que não quer calar é: quem será citado?
De Temer a Dilma: quem estaria na boca dos delatores
De acordo com reportagem do
jornal O Globo, deputados, senadores, ministros e ex-ministros deverão ser atingidos pelas delações. O presidente
Michel Temer (PMDB) também estaria entre os citados.
Nomes do núcleo duro do atual governo, como os ministros da
Secretaria do Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), e da Casa Civil,
Eliseu Padilha (PMDB-RS), também estariam na lista. O chefe da pasta de
Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), e o líder do governo no
Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), idem.
Os nomes do senador
Aécio Neves
(PSDB-MG) e dos governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, Geraldo
Alckmin (PSDB-SP) e Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), também compõem a
lista.
Segundo O Globo, a oposição também teria sido mencionada. Entre os citados, estaria o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT-MG). Bem como os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega.
Ainda de acordo com a publicação, os delatores também fizeram
denúncias contra o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e contra o
ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Os dois já estão
presos por conta de outras acusações na Lava Jato.
Segundo reportagem da revista
VEJA publicada em junho, a ex-presidente
Dilma Rousseff
(PT) também deve ser uma das principais protagonistas dos depoimentos.
No cerne da delação estariam detalhes sobre recursos ilegais que teriam
abastecido a campanha da petista em 2014.
Os investigadores da Lava Jato afirmam que a Odebrecht teria
repassado 22,5 milhões de reais ao marqueteiro João Santana entre
outubro de 2014 e maio de 2015. Responsável pela campanha à reeleição da
petista, Santana está preso desde fevereiro do ano passado.
Reportagem da
revista Istoé
desta semana revela também que a própria presidente afastada Dilma
Rousseff teria cobrado uma doação “por fora” de 12 milhões de reais de
Odebrecht para sua reeleição. O pedido teria sido feito pelo então
tesoureiro de campanha, Edinho Silva, e confirmado pela petista.
Próximos passos
Após a assinatura dos acordos, os delatores serão chamados para
prestar depoimentos oficiais e apresentar detalhes das acusações que
prometeram fazer. Quando essa etapa for concluída, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, enviará esse material ao ministro Teori
Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal
(STF), para que as delações sejam homologadas.
Teori deve separar os trechos que citarem pessoas, políticos com e
sem foro privilegiado para mandar para a PGR e para a primeira
instância. Depois das investigações, o Ministério Público vai definir
quem será ou não denunciado à Justiça.
Em nota, a Odebrecht disse que não se manifestará sobre o caso, mas
reafirmou “seu compromisso com uma atuação ética, íntegra e
transparente, expressa por meio das medidas concretas já adotadas para
reforçar e ampliar o programa de conformidade nas empresas do grupo.