quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Por que a delação da Odebrecht deve estremecer a classe política

Nos depoimentos pré-delação, os executivos da companhia teriam citado pelo menos 130 políticos de todos os grandes partidos




Brasília – A delação premiada de mais de 75 executivos da Odebrecht —  incluindo os donos da construtora, Emílio e Marcelo Odebrecht — deve abalar as estruturas da classe política brasileira. Nesta quinta-feira (24), deve ser concluída a assinatura dos acordos de delação firmados com a Procuradoria-Geral da República dentro da Operação Lava Jato.

O acordo é visto com preocupação entre membros da base governista e da oposição por uma evidente razão: nos depoimentos pré-delação, os executivos da companhia teriam citado pelo menos 130 importantes políticos de todos os grandes partidos.

Em diálogo gravado de forma oculta, o ex-presidente José Sarney (PMDB) teria afirmado que a delação da Odebrecht deve causar um estrago para a carreira de partidos e políticos comparável à potência de uma “metralhadora de [calibre] ponto 100”.

Diante do potencial da delação, a pergunta que não quer calar é: quem será citado?


De Temer a Dilma: quem estaria na boca dos delatores


De acordo com reportagem do jornal O Globo, deputados, senadores, ministros e ex-ministros deverão ser atingidos pelas delações. O presidente  Michel Temer (PMDB) também estaria entre os citados.

Nomes do núcleo duro do atual governo, como os ministros da Secretaria do Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), e da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), também estariam na lista. O chefe da pasta de Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), e o  líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), idem.

Os nomes do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e dos governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), também compõem a lista.
Segundo O Globo, a oposição também teria sido mencionada. Entre os citados, estaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT-MG). Bem como os  ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega.

Ainda de acordo com a publicação, os delatores também fizeram denúncias contra o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e contra o ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Os dois já estão presos por conta de outras acusações na Lava Jato.

Segundo reportagem da revista VEJA publicada em junho, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também deve ser uma das principais protagonistas dos depoimentos. No cerne da delação estariam detalhes sobre recursos ilegais que teriam abastecido a campanha da petista em 2014.

Os investigadores da Lava Jato afirmam que a Odebrecht teria repassado 22,5 milhões de reais ao marqueteiro João Santana entre outubro de 2014 e maio de 2015. Responsável pela campanha à reeleição da petista, Santana está preso desde fevereiro do ano passado.

Reportagem da revista Istoé desta semana revela também que a própria presidente afastada Dilma Rousseff teria cobrado uma doação “por fora” de 12 milhões de reais de Odebrecht para sua reeleição. O pedido teria sido feito pelo então tesoureiro de campanha, Edinho Silva, e confirmado pela petista.


Próximos passos


Após a assinatura dos acordos, os delatores serão chamados para prestar depoimentos oficiais e apresentar detalhes das acusações que prometeram fazer. Quando essa etapa for concluída, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviará esse material ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), para que as delações sejam homologadas.

Teori deve separar os trechos que citarem pessoas, políticos com e sem foro privilegiado para mandar para a PGR e para a primeira instância. Depois das investigações, o Ministério Público vai definir quem será ou não denunciado à Justiça.

Em nota, a Odebrecht disse que não se manifestará sobre o caso, mas reafirmou “seu compromisso com uma atuação ética, íntegra e transparente, expressa por meio das medidas concretas já adotadas para reforçar e ampliar o programa de conformidade nas empresas do grupo.


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