Modelo adotado por Lemann na Ambev chega à Petrobras e pode marcar uma "nova virada" para a estatal
Petrobras (Dado Galdieri/Bloomberg)
São Paulo – Depois que Pedro Parente assumiu a Petrobras, a confiança do mercado
na petroleira dá mostras de estar se fortalecendo. Parte desse sucesso se deve
a um novo modelo de gestão adotado pela empresa, conhecido no Brasil por ter
sido adotado com sucesso por Jorge Paulo Lemann na Ambev.
Com o
novo modelo, a Petrobras espera reduzir os custos operacionais em US$ 27
bilhões entre 2017 e 2021, o que representa um corte de 18% em relação à
estimativa anterior.
Mas,
afinal, o que é a “gestão Ambev” e que benefícios ela pode trazer para uma empresa,
especialmente à Petrobras, que andava com a imagem tão combalida, entre
escândalos da Lava Jato e investimentos fracassados?
Para
começar, o nome oficial é “orçamento base zero”. Ele foi implantado pelo setor
público dos Estados Unidos na década de 1970 e consiste em uma forma
radical de cortar custos e melhorar a eficiência de uma empresa.
No
orçamento tradicional, os custos são incrementais: o gasto do próximo ano é
planejado, levando-se em conta os gastos do ano anterior e acrescentando a
inflação do período como ajuste.
No
orçamento base zero, cada setor de uma empresa precisa justificar, ponto a
ponto, os gastos que já são adotados, o que leva a um exame de prioridades e ao
corte de atividades supérfluas, fazendo com que a empresa ganhe em produtividade.
“Os
processos revistos são monitorados e os desvios corrigidos permanentemente,
buscando a melhoria contínua. Em resumo: partimos do princípio de que tudo pode
ser reavaliado e que cada atividade e processo tem que ser justificado como se
não estivesse ali”, explica Nelson Silva, o diretor de Estratégia, Organização
e Sistema de Gestão da Petrobras, trazido por Parente da presidência da BG para
comandar a área durante seu mandato.
Como isso se aplica à Petrobras?
Segundo
fontes próximas ao processo na Petrobras, o maior desafio para a implantação é
o aprendizado de novas práticas, a criação do hábito de identificar os gargalos
e transferir conhecimentos.
A
velocidade das mudanças também é crucial neste caso, já que as variações do
preço do petróleo têm um impacto significativo no orçamento e planejamento da
empresa, e as novas práticas precisam ser adotadas o quanto antes.
Para
William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos de Finanças da FGV/EAESP,
o orçamento base zero é “sempre a melhor alternativa”, e para a Petrobras, que
tem vários vícios de gestão, é melhor ainda.
Por nunca
ter trabalhado com o orçamento base zero, praticamente todos os custos da
empresa podem ser cortados em alguma medida. Em todas as empresas, há custos
que ninguém questiona e, por isso, é importante o espírito de “vamos começar de
novo”, segundo Eid.
A
Petrobras ainda tem várias subsidiárias e sedes, o que permite que setores
separados da empresa “aprendam” boas práticas uns com os outros.
Além
disso, o processo é facilitado por uma particularidade: a de que os
funcionários têm orgulho de trabalhar na empresa e querem, mais do que ninguém,
a reabilitação da imagem da estatal.
Uma “nova virada” para a empresa
Em termos
históricos, o atual momento vivido pela empresa pode ser visto como um novo
“ponto de virada”, como foi a gestão de Philippe Reichstul, que comandou a
Petrobras de 1999 a 2001, segundo a jornalista Roberta Paduan, autora do livro
Petrobras – Uma história de orgulho e vergonha.
A
jornalista afirmou que, na gestão Reichstul (que queria até mudar o nome da
empresa para Petrobrax), a estatal viveu um ponto de inflexão importante,
construindo uma relação de confiança com o mercado e se abrindo a práticas de
gestão mais eficientes.
Pessoas
próximas do processo entrevistadas por ela veem o momento como um “cavalo de
pau” na gestão da empresa.
“O plano
de negócios e o plano estratégico da Petrobras começaram a ser divulgados para
o mercado. As pessoas ficaram fãs da empresa. Ele chamou consultorias
internacionais para comparar a Petrobras com as majors do setor”, afirmou a
jornalista.
Segundo
ela, os últimos quatro governos surfaram a boa onda da Petrobras, mas criaram
uma cultura de gastos de quem nunca teve que se preocupar com receita.
“A
empresa fez investimentos bilionários, sem pensar em custos, ela tinha muita
facilidade para se financiar”, contou.
Agora,
com a gestão de Parente, ela acredita que a adoção do orçamento base zero possa
significar um novo ponto de virada, para uma gestão mais consciente e
conservadora em relação aos gastos.
“Talvez
ele esteja usando o modelo para chacoalhar e repensar a empresa inteira e os
processos, eliminar o histórico de gastos e repensar custos e investimentos”.
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