Cármen Lúcia disse que juízes já respondem por seus atos pelo estatuto da magistratura e que a democracia depende de Poderes fortes e independentes
São Paulo – A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Cármen Lúcia, disse em nota nesta quarta-feira que a inclusão
da possibilidade de punir juízes e membros do Ministério Público por
abuso de autoridade nas medidas contra a corrupção aprovadas na Câmara
dos Deputados pode ferir a independência entre os Poderes.
A ministra afirmou que atualmente os juízes já respondem por seus
atos na forma do estatuto da magistratura e disse que a democracia
depende de Poderes fortes e independentes. Disse ainda que se pode
tentar calar um juiz, mas jamais o Judiciário.
“A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, reafirma o seu
integral respeito ao princípio da separação de poderes. Mas não pode
deixar de lamentar que, em oportunidade de avanço legislativo para a
defesa da ética pública, inclua-se, em proposta legislativa de
iniciativa popular, texto que pode contrariar a independência do Poder
Judiciário”, afirma a nota.
“O Judiciário brasileiro vem cumprindo o seu papel. Já se cassaram
magistrados em tempos mais tristes. Pode-se tentar calar o juiz, mas
nunca se conseguiu, nem se conseguirá, calar a Justiça.”
Na madrugada desta quarta-feira, os deputados incluíram no pacote de
medidas de combate à corrupção a possibilidade de punir magistrados e
promotores pelo crime de abuso de autoridade. Pelo texto aprovado,
juízes também poderão responder por crime de responsabilidade se
expressarem, por meios de comunicação, opinião sobre processo em
julgamento, tendo como punição pena de reclusão de seis meses a dois
anos e multa.
A inclusão da proposta tem sido duramente criticada pelos integrantes
da força-tarefa da operação Lava Jato, que investiga um bilionário
esquema de corrupção na Petrobras e que tem uma série de políticos entre
os investigados.
A aprovação da proposta também gerou reações da Procuradoria-Geral da
República (PGR). Para o procurador-geral, Rodrigo Janot, a votação
desta madrugada na Câmara “colocou o país em marcha a ré no combate à
corrupção”.
“Um sumário honesto da votação das 10 Medidas, na Câmara dos
Deputados, deverá registrar que o que havia de melhor no projeto foi
excluído e medidas claramente retaliatórias foram incluídas. Cabe
esclarecer que a emenda aprovada, na verdade, objetiva intimidar e
enfraquecer Ministério Público e Judiciário”, escreveu Janot.
“As 10 Medidas contra a corrupção não existem mais. O Ministério
Público brasileiro não apoia o texto que restou, uma pálida sombra das
propostas que nos aproximariam de boas práticas mundiais.”
Janot lembrou que o texto aprovado na Câmara ainda terá de passar
pelo Senado e pediu que a sociedade se mantenha atenta “para que o
retrocesso não seja concretizado; para que a marcha seja invertida
novamente e possamos andar pra frente”.
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