Para o presidente da maior aceleradora de empresas de tecnologia do Vale do Silício, os empreendedores brasileiros começam a chamar a atenção do mundo
São Paulo – O investidor americano Sam Altman, de 31 anos, tem uma posição privilegiada no Vale do Silício.
Como presidente da Y Combinator, principal empresa aceleradora de
startups da região, Altman tem contato com alguns dos negócios mais inovadores
do mundo logo que saem do forno. A Y Combinator já investiu em mais de
1.300 startups — dez delas estão avaliadas hoje em mais de 1 bilhão de
dólares.
1) A economia brasileira está há dois anos em recessão. Como o
setor de tecnologia costuma ser afetado por crises econômicas desse
tipo?
Sam Altman – Na maior parte dos países, uma desaceleração econômica estimula o crescimento de startups.
As grandes empresas são forçadas a reduzir o número de funcionários
para cortar custos. Quem é demitido acaba, com certa frequência, tendo
de empreender. Fica mais criativo. Nos Estados Unidos, muitas empresas
foram criadas na última recessão. O site de hospedagem Airbnb e o
aplicativo de transporte Uber são dois exemplos.
2) Essa mesma crise que serve de catalisadora para o
empreendedorismo também provoca o fechamento de empresas iniciantes. O
que uma startup deveria fazer em um momento de crise?
Sam Altman – Na crise, as empresas têm de usar o
dinheiro de investidores de forma ainda mais cuidadosa, até que consigam
criar um produto que os clientes realmente queiram comprar. Para fazer
isso, é preciso evitar ao máximo um aumento no quadro de funcionários.
Dizemos aos empreendedores que tratem o dinheiro de investimento como se
fosse o último que vão receber. Isso serve de lição para as startups do
Brasil e de qualquer parte do mundo.
3) Criada em 2005, a Y Combinator investiu neste ano, pela
primeira vez, em uma startup brasileira — a Quero Educação, site para
encontrar bolsas em faculdades particulares. Por que levou tanto tempo?
Sam Altman – Não tínhamos muitas candidatas do
Brasil no programa de aceleração. Até pouco tempo atrás havia uma ideia
errada de que não tínhamos interesse em startups estrangeiras ou focadas
em mercados fora dos Estados Unidos. Isso nunca foi verdade. Mas os
empreendedores estrangeiros só agora perceberam e começaram a se
inscrever.
4) Por que o senhor decidiu fazer esse investimento no Brasil justamente neste momento de crise?
Sam Altman – Não nos guiamos pela conjuntura. O que
nos atraiu foi o surgimento no Brasil de empreendedores de nível
internacional. É isso que buscamos quando investimos. Queremos escolher
os melhores fundadores de empresas do mundo.
5) Como se mede a qualidade de um empreendedor?
Sam Altman – Fazemos isso nas entrevistas pessoais,
analisando a inteligência e a determinação de cada um. Para mim, o mais
importante é o empreendedor saber explicar como o ramo de atuação da
empresa se tornará um mercado bilionário.
6) Qual é a pergunta decisiva que o senhor faz?
Sam Altman – Minhas favoritas são: por que vocês
estão nesse segmento? Por que, de todas as empresas que poderiam ter
criado, escolheram exatamente essa?
7) Por que essas perguntas são decisivas?
Sam Altman – Elas me ajudam a avaliar a paixão dos
fundadores pelo negócio. Se não me convencerem, não vão conseguir
convencer os consumidores, os funcionários e outros investidores.
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