Para Peter Frankopan, da universidade de Oxford, a democracia não causou o “final da história” e o Ocidente está em xeque
São Paulo — O historiador inglês Peter Frankopan, professor na Universidade de Oxford, lançou em 2015 o livro Rotas da Seda, uma Nova História do Mundo,
sugerindo que o mundo ocidental fizesse uma reavaliação profunda. Para
Frankopan, eventos como o Brexit e a eleição de Trump podem acelerar o
declínio da democracia liberal.
Exame – Qual o contexto que permitiu a eleição de Trump?
Frankopan – Trump está certo ao dizer que o
mundo está em transição. Ideologias em ascensão, mudanças climáticas,
incerteza econômica e a mudança do eixo de poder global são fatores que
afetam a todos. Os medos se baseiam na realidade de mudança. A reação à
globalização, a raiva, a divisão dos Estados Unidos
em dois — e do Reino Unido, onde os que votaram a favor e contra o
Brexit não se falam mais — mostram que o Ocidente tem problemas reais.
Divisão e medo levam a perigosas decisões de se isolar. Com a ascensão
do Oriente e países como Rússia e China se tornando mais influentes,
ambiciosos e importantes, o Ocidente terá de aprender que não pode fugir
e esperar que o crescimento oriental pare.
Exame – Os valores ocidentais estão enfraquecidos?
Frankopan – O Ocidente está em apuros, mas colapso e declínio duram décadas, às vezes séculos. O Brexit e a eleição de Trump
aceleram o processo. Há 100 anos, quase todo país da Europa tinha um
império. Nenhum tem mais. Os Estados Unidos eram um país emergente. Se
Trump impuser barreiras à China, haverá consequências. Quando parceiros
viram as costas uns aos outros, surge a rivalidade, e em geral um dos
lados ganha. Não acho que serão os Estados Unidos.
Exame – Quais as consequências para a democracia liberal?
Frankopan – É marcante que os países da
Rota da Seda, na Ásia, não tenham o modelo de democracia liberal e seus
líderes governem como reis medievais. Em vez de trazer o final da
história, como o cientista social Francis Fukuyama previu, a democracia
liberal está em recuo. Nos Estados Unidos e na Europa, a cooperação e o
respeito com nosso mundo parecem mais frágeis do que nunca. Democracia
significa ter de viver com a divisão. Muitos acham isso inquietante.
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