A
presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, deferiu,
neste domingo (6/11), liminar que voltou a suspender a tramitação de 32
projetos de lei relacionados à Justiça do Trabalho. Os PLs já haviam
sido suspenso pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro
Ives Gandra Martins Filho, mas voltaram a andar quando a ministra do
TST Delaíde Arantes cassou a decisão do presidente da corte.
O ministro Ives Gandra fechou
acordo com o Congresso para preservar o orçamento da Justiça
trabalhista e, em troca, desistir, por enquanto, de pedir novos
desembolsos da União, enquanto durar a crise econômica do país. De
acordo com o presidente do TST, adiar a abertura de 8 mil novas vagas,
por exemplo, significa uma economia de R$ 1 bilhão por ano.
A
maioria dos projetos tratava da criação de varas do Trabalho e de cargos
de juiz, que precisam de aprovação de lei pelo Congresso Nacional.
Havia ainda projetos de aumento salarial da magistratura trabalhista e
concessão de benefícios.
A medida de Ives Gandra, no entanto, não
foi bem recebida pelos magistrados trabalhistas. Diversos ministros do
TST defenderam que o presidente do tribunal precisaria consultar o órgão
especial da corte antes de tomar tal decisão.
O ministro e
ex-presidente do tribunal, João Oreste Dalazen, que tem uma filha
aguardando a abertura de vagas no TRT-2 para ser nomeada, fez um discurso furioso
contra a iniciativa de Ives Gandra. “Vossa excelência relegou ao
oblívio decisão não só do CSJT, mas do Órgão Especial do TST.
Sobrepôs-se a todos esses órgãos que, ouvidas as áreas técnicas,
aprovaram o encaminhamento dessas dezenas de projetos de lei de
interesse da Justiça do Trabalho”, disse.
Na realidade, dos 32
projetos do TST, apenas cinco tiveram referendo do Órgão Especial. Os
outros 27 foram enviados pelo antecessor de Ives Gandra ad referendum do colegiado e ainda não foram apreciados. Vale lembrar que a retirada de projetos de pauta pela Presidência não é inédita.
Quem
também não gostou da medida foi a Associação Nacional dos Magistrados
do Trabalho (Anamatra). Em nota, a entidade chamou a atitude de
retrocesso. “Lastima-se que ao invés de manter os projetos o Congresso
Nacional, com acompanhamento individualizado e negociado com lideranças e
com o governo, para adequação de possibilidades de aprovação de forma
gradativa, ou mesmo de suspensão de todos, temporariamente, mas com
retomada em tempo oportuno, tenha-se optado por medida radical e que não
prestigia o interesse público pela lógica da eficiência da prestação
jurisdicional”, diz a nota da associação de juízes trabalhistas.
Foi a entidade que impetrou Mandado de Segurança Coletivo contra o ato de Ives Gandra. Delaíde Arantes concedeu
liminar na ação constitucional, e suspendeu a medida do presidente do
TST. Segundo Delaíde, ao enviar ofícios ao Congresso pedindo que os
projetos fossem retirados de tramitação, Ives Gandra usurpou a
competência do CSJT e do órgão de cúpula do TST. Na liminar, ela afirma
que, embora o presidente da corte tenha a competência de enviar ao
Congresso projetos aprovados pelos colegiados, não pode,
monocraticamente, decidir que eles não interessam mais.
“A
competência do presidente do Tribunal Superior do Trabalho está definida
no artigo 35, incisos I a XXXVII, do Regimento Interno do TST e não
consta em nenhum desses incisos qualquer menção à competência para a
prática do ato tido por coator”, escreveu a ministra.
A briga
acabou extrapolando a Justiça do Trabalho e indo parar no STF. A
advogada-geral da União, Grace Mendonça, entrou com pedido de Suspensão
de Segurança no Supremo. Cármen Lúcia, liminarmente, deu razão à AGU, e
cancelou os efeitos da decisão de Delaíde.
Cármen contra aumentos
Diferentemente do ex-presidente do STF Ricardo Lewandowski, que
costumava apoiar pedidos de reajustes a juízes e servidores, Cármen
Lúcia vem adotando uma posição de austeridade salarial. Em entrevista ao
programa Roda Viva, ela declarou
ser contra a proposta de aumentar os vencimentos da magistratura
brasileira. Segundo ela, juízes devem ter boas condições de trabalho e
ser bem remunerados, mas agora “não é hora” de discutir o reajuste, em
período de crise econômica.
“Nenhum bom juiz brasileiro quer que o
aumento de sua remuneração seja à custa de 12 milhões de
desempregados.” O projeto de lei que aumenta os subsídios dos membros do
Supremo foi aprovado em agosto na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ) do Senado e teve pedido para tramitar em regime de
urgência.
A ministra defendeu ainda o fim dos 60 dias de férias
para juízes. Segundo ela, grande parte da magistratura volta antes desse
período para colocar os processos em dia. O problema na verdade é que
esses benefícios acabam sendo acumulados, avaliou.
Obviamente, as declarações da presidente do STF foram criticadas
pela classe. Para a Anamatra, o reajuste é justo, já que, entre 2005 e
2015, a Justiça do Trabalho pagou R$ 208 bilhões aos jurisdicionados e
contribuiu com o recolhimento de R$ 3 bilhões aos cofres da União. "No
entanto, ao longo dos anos, sempre que tramitam projetos de lei
destinados a apenas revisar, e não aumentar o valor dos subsídios,
surgem os mesmos argumentos quanto a não ser o 'momento adequado'",
reclamou a entidade, que ainda apontou que o salário dos magistrados da
área trabalhista não ultrapassa o teto constitucional e tem perdido
poder de compra.
SS 5.154
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