PIB caiu pelo sétimo trimestre seguido. Com desalavancagem, Trump, ociosidade e crise política, como o Brasil vai sustentar uma recuperação?
São Paulo – Quem vai fazer a economia brasileira voltar a crescer?
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A dúvida surge diante dos dados divulgados na manhã dessa quarta-feira pelo IBGE, mostrando queda de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) em relação ao trimestre anterior.
É o sétimo tombo consecutivo, generalizado em todas as medidas de despesa e de oferta. As famílias e empresas se endividaram demais, então embolsam os recursos que entram, o que não movimenta a economia.
“É um processo de desalavancagem muito mais demorado, porque o mercado de crédito e de trabalho ainda não chegaram no fundo do poço”, diz Bruno Rovai, economista do Barclays.
A projeção do banco é que o consumo das famílias fique parado ainda em 2017, resultado da combinação tóxica entre queda da renda, desemprego em alta, juros altos, crédito escasso e inflação.
A esperança do mercado era que o investimento entrasse para preencher esse vácuo já que ele foi a primeira vítima da crise, que caiu antes mesmo da recessão se instalar.
O investimento acumulava 10 trimestres seguidos de queda quando ensaiou uma recuperação no 2º trimestre desse ano, com alta de 0,5%. No entanto, já voltou a cair.
“A construção civil depende de crédito, e porque as empresas vão investir em máquinas e equipamentos se há ociosidade e não há perspectiva de volta da demanda?”, pergunta Silvia Matos, coordenadora do boletim macroeconômico do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Já o setor externo havia sido um alento até a metade do ano, quando o real desvalorizado e a economia fraca fizeram subir as exportações e cair as importações. Mas o efeito está se dissipando.
“As exportações estão desacelerando globalmente e a perspectiva não é nada positiva, já que todas as agendas eleitas recentemente no mundo desenvolvido são de protecionismo. Qualquer cenário que você faz agora tem um leque de possibilidades maior porque a incerteza é enorme”, diz Rovai.
Além disso, muitos planos de Donald Trump são inflacionários, o que causou um aumento na expectativa de juros futuros nos Estados Unidos.
Juros mais altos no mundo desenvolvido significam fuga de capital dos emergentes e uma margem menor para cortar os juros por aqui.
O Banco Central decide hoje a Selic e a expectativa do mercado é de um corte tímido de 0,25 ponto percentual.
Aliviar o aperto monetário seria outra forma de estimular a recuperação, mas os especialistas notam que isso depende também do andamento da agenda de reformas.
“A gente tem que fazer o dever de casa mais rápido. Sem queda dos juros fica difícil pensar em retomada do crédito”, diz Silvia.
Um passo foi dado com a primeira aprovação da PEC do Teto no Senado ontem, mas a medida não sobrevive sem uma reforma da Previdência.
Além disso, ninguém sabe até onde vai a força do governo diante dos últimos acontecimentos que culminaram na queda de Geddel Vieira Lima, secretário de Governo.
“A preocupação agora é com o 4º trimestre após os impactos da eleição do Trump e a piora política em novembro. Mas o processo de recuperação está em andamento, apenas está mais lento”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Ele destaca a tabela de comparação com base anual, onde fica claro que as quedas nos componentes da demanda são grandes mas estão se suavizando.
A recuperação em 2017 virá de “uma virada esperada no ciclo de inventários, investimento privado com base em um ambicioso programa de privatização e concessões públicas e contribuição positiva das exportações”, diz uma nota assinada por Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs.
As previsões ajustadas de crescimento para 2017 ficam entre 0,5% (Barclays) e 1,1% (Goldman Sachs).
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