sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Oito marcas de carros que decidiram abandonar o Brasil


Alta do dólar e baixas vendas estão entre os motivos que fizeram algumas marcas desistirem de seus planos no país

 

 




A instabilidade da economia brasileira não inspira muita confiança nas empresas que desejam ingressar no país.

Mesmo amargando prejuízos significativos, várias importadoras de veículos seguem apostando na recuperação do mercado interno nos próximos anos.

Se sonhar não custa nada, a maioria das fabricantes deseja voltar ao mesmo patamar pré-2014, quando a indústria vivia com motivos de sobra para sorrir.

Enquanto isso não acontece, separamos abaixo oito exemplos de montadoras que, por um motivo ou outro, decidiram abandonar o mercado brasileiro – algumas, inclusive, sequer tiveram tempo de se aclimatar às peculiaridades do nosso país.

Mazda

O clássico roadster MX-5 (ou Miata, se preferir) é um dos ícones da Mazda
O clássico roadster MX-5 (ou Miata, se preferir) é um dos ícones da Mazda (Quatro Rodas/)

A Mazda é uma das únicas grandes marcas japonesas fora do nosso país. Mas nem sempre foi assim: a empresa responsável pela fabricação de modelos como o 626 e o MX-5/Miata esteve por aqui do começo dos anos 90 até novembro de 2000.

Assim como em outros casos, sua partida deixou os clientes da marca órfãos, dependendo de poucas oficinas especializadas nos veículos japoneses. Em outros países da América do Sul, como o Chile, ela mantém atuação forte, com modelos populares como o hatch médio Mazda 3 e o SUV CX-5.

Atualmente controlada pela Ford, a marca japonesa ensaiou uma volta ao pais em 2012, focada na importação de SUVs e noticiada em diversas publicações. Mas a crise que se instaurou no país aparentemente desestimulou os planos.

Geely Motors

A Geely deixou o país em 2016 devido às baixas vendas
A Geely deixou o país em 2016 devido às baixas vendas (Divulgação/)


O ano era 2014 quando a Geely iniciou suas operações no Brasil, representada pelo Grupo Gandini – importador oficial da Kia Motors desde 2008. No início, as expectativas eram grandes e incluíam até a construção de uma fábrica no estado de São Paulo.

“Não temos dúvida de que isso é necessário para ser competitivo aqui. Não há dúvida sobre ter uma fábrica no país, mas somente sobre qual produto e o tamanho da planta e do investimento”, disse Ivan Fonseca e Silva, então presidente da Geely Brasil, durante a coletiva de imprensa da marca no Salão do Automóvel de 2014.

O sonho virou pesadelo em pouco tempo. Apesar do preço atraente (abaixo da média dos rivais, como é de praxe entre as marcas chinesas) e do design correto, a Geely não emplacou. Apenas 1.019 unidades dos dois modelos vendidos pela marca no Brasil (o compacto GC2 e o sedã EC7) foram emplacadas até 2016.

No último ano de operação, somente 182 veículos foram vendidos – abaixo até do volume no ano de estreia da Geely.

Resignada, a importadora atribuiu o insucesso da Geely a vários fatores, sendo os principais deles a alta no dólar, a restrição na cota de importação de veículos (um dos pontos fundamentais do programa Inovar-Auto, que prejudicou várias empresas importadoras) e as dificuldades da filial brasileira em negociar preços com a matriz.

Mesmo assim, o grupo do empresário José Luiz Gandini afirmou que a saída da Geely é temporária, podendo ser revertida quando a situação econômica do Brasil melhorar.

 

Mahindra

Antiquados, os modelos da Mahindra nunca foram campeões de venda
Antiquados, os modelos da Mahindra nunca foram campeões de venda (Divulgação/)

A Mahindra iniciou suas atividades no Brasil em 2008 por meio da Bramont, empresa que investiu R$ 30 milhões na construção de uma linha de montagem na Zona Franca de Manaus.

Embora seja uma das maiores empresas da indústria indiana, a Mahindra não conseguiu repetir o sucesso no Brasil: em seu melhor momento, a marca vendeu 250 unidades por mês.

Some à falta de bons resultados o aumento nas alíquotas de importação e a alta do dólar e não será difícil entender porque a Mahindra decidiu deixar o país em 2015. Nos sete anos em que esteve entre nós, a marca vendeu dois modelos veteranos: a Pik-Up (assim mesmo, sem o “c” da palavra “pick-up”) e o SUV (anteriormente conhecido como Scorpio).

 

Brilliance

Famosa por produzir carros BMW na China, a Brilliance ainda não iniciou suas vendas por aqui
Famosa por produzir carros BMW na China, a Brilliance ainda não iniciou suas vendas por aqui (Divulgação)

O Salão de 2010 foi dominado pela China: nada menos do que nove empresas do país participaram do evento. Uma delas era a Brilliance. Na época representada pela CN Auto, a marca (mais famosa por produzir os veículos BMW no mercado chinês) exibiu o hatch FRV Cross e o sedã FSV.

Ambos foram desenhados pelo estúdio Italdesign e desembarcariam no mercado brasileiro no ano seguinte. No entanto, o súbito aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) adiou os planos da Brilliance.

Porém, isso não significa que a empresa nunca botará seus pés no Brasil: representantes da empresa discutiram com o governo do Paraná a possibilidade de construir uma fábrica no estado, mas nada foi decidido até o momento.

 

Haima

Parece um Mazda, não? Todos os carros da Haima são assim…
Parece um Mazda, não? Todos os carros da Haima são assim… (Divulgação/)


Se a Mazda (ainda) está longe de voltar para o Brasil, o Salão do Automóvel de 2010 trouxe um alento para os fãs da marca japonesa. Ou quase isso, já que os modelos da chinesa Haima chamavam muita atenção pela semelhança com alguns modelos Mazda vendidos lá fora.

Para a chinesa isso não era um problema – e sim uma vantagem a ser alardeada. Até o logotipo era parecido! Depois de uma participação apagada (que incluiu um estande vazio no dia reservado à imprensa por problemas na alfândega) na edição de 2010, a Haima voltou pretensiosa ao Salão de 2012. Confirmou a venda de três modelos (o hatch Haima2, o sedã Haima3 e o utilitário esportivo Haima7) e anunciou a importação de um lote inicial de 2 mil unidades até o fim daquele ano.

Representada pelo grupo Districar, a Haima pretendia produzir carros localmente em uma fábrica erguida em Linhares (ES), juntamente com modelos de Ssangyong e Changan – outras marcas comandadas pela Districar. Seriam investidos US$ 300 milhões na construção do complexo industrial, que teria capacidade produtiva anual estimada em até 10 mil unidades, gerando 1,1 mil empregos diretos e outros 3,5 mil empregos indiretos.

Na época, foi dito que aproximadamente 80% do investimento viria dos agentes financiadores da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) – no caso, ou do Banco do Nordeste ou do BNDES.

Os planos, porém, nunca foram levados adiante e a Haima não se estabeleceu no mercado brasileiro até hoje. Estranhamente, há um perfil no Twitter criado em 2014 e abastecido raramente com supostas notícias oficiais sobre o lançamento da marca no Brasil. Segundo o autor da página, a estreia estava prevista para 2015 e teria sido postergada para o ano seguinte, desta vez trazendo dois modelos elétricos. Nenhuma das previsões se concretizou.

 

Daewoo

Com design europeu, o Espero figurou entre os 10 importados mais vendidos
Com design europeu, o Espero figurou entre os 10 importados mais vendidos (Divulgação/)


Fundado em março de 1967, o Daewoo Group atuava em diversos ramos (como a maioria das grandes empresas sul-coreanas), como telecomunicações, tecnologia, eletrônicos e… automóveis.

A Daewoo Motor desembarcou no Brasil em 1994, aproveitando a invasão das montadoras forasteiras após a reabertura das importações no começo dos anos 90. Seus modelos eram baseados em projetos da General Motors, herança de uma joint-venture firmada com a empresa norte-americana no fim dos anos 70.

Um dos modelos mais lembrados no Brasil é o Espero. Baseado na primeira geração do Vectra, o sedã tinha design atraente assinado pelo estúdio Bertone e uma lista generosa de itens de série. Figurou entre os 10 carros importados mais vendidos do país e resistiu até 1997, quando foi aposentado pelo Nubira.

Além desses dois modelos, a marca vendeu o compacto Tico e os sedãs Prince e Super Salon, estes dois últimos substituídos posteriormente por Lanos (nas versões hatch e sedã) e Leganza. A Daewoo Motor sucumbiu à crise asiática de 1999 e foi adquirida pela GM dois anos depois, que a transformou em GM Korea a partir de 2011.

 

Daihatsu

Controlada pela Toyota, a Daihatsu teve vida curta por aqui
Controlada pela Toyota, a Daihatsu teve vida curta por aqui (Divulgação/)


Assim como a Daewoo, a Daihatsu aportou no mercado brasileiro em 1994. Diferente da empresa coreana, a marca japonesa oferecia uma linha de produtos mais diversificada, formada por modelos como o subcompacto Cuore (um legítimo kei-car com motor de 0,85 litro) e o simpático Terios, um SUV urbano de dimensões ultracompactas nascido numa época em que os brasileiros nem ligavam para utilitários esportivos.

Mesmo exótico, o Terios fez relativo sucesso no Brasil, antecipando o boom dos jipinhos citadinos. Mas quis o destino que a Daihatsu também fosse prejudicada pela crise na economia asiática, que, juntamente com a valorização do dólar, determinou a despedida da marca do Brasil em 1999.

 

Asia Motors

Aclamada pelos vendedores ambulantes, a Towner fez muito sucesso nos anos 90
Aclamada pelos vendedores ambulantes, a Towner fez muito sucesso nos anos 90 (Divulgação/)


Quem viveu os anos 90 no Brasil se lembra da invasão das vans coreanas. Além da Kia Besta, dois modelos dominavam as ruas: a pequenina Towner (campeã de vendas entre microempresários e vendedores de cachorro-quente) e a grande Topic.

Ambos eram feitos pela Asia Motors, que iniciou suas atividades por aqui em meados de 1994, após a fundação da Asia Motors do Brasil (AMB). A marca viveu seu auge em 1997, quando vendeu mais de 17,6 mil veículos.

Pouco antes disso, em 1996, a AMB aderiu ao regime automotivo da época, beneficiando-se da redução de 50% na alíquota de importação em troca da construção de uma fábrica no Brasil, mais especificamente em Camaçari (BA). A cerimônia de inauguração da pedra fundamental contou com a presença de várias autoridades do Brasil e da Coreia do Sul, sendo que a previsão era que a fábrica iniciaria suas operações em outubro de 1999.

Esse episódio marcante foi apenas o começo de uma história nebulosa. Embora levasse o nome da Asia Motors no Brasil, a AMB nunca teve relação com a Asia Motors Corporation (que foi posteriormente incorporada à Kia Motors em 1999).

Ao longo dos anos, a AMB acumulou (e ainda acumula) uma dívida estimada em R$ 475 milhões – em valores corrigidos de quatro anos atrás – por veículos importados que nunca foram pagos. Essa dívida acabou prejudicando a Kia Motors do Brasil, que por anos foi impedida de construir uma fábrica no país pela suposta relação com a AMB.

Apenas em 2013 é que o Supremo Tribunal Federal (STF) livrou a Kia de qualquer vínculo com a antiga dívida da AMB – que já estava em R$ 2 bilhões na época –, seguindo a decisão da Corte de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional.
 
 
 

Os NOVOS SINO-BAIANOS






Como Salvador se tornou um destino privilegiado da imigração chinesa.

 oestrangeiro.org
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A China tem sido a nação com uma das mais difundidas e contínuas séries de migração no mundo. São aproximadamente 44 a 50 milhões de chineses distribuídos pela América, Europa, África e outros países asiáticos.1
Os estudiosos sobre migração chinesa dividem esse processo em duas fases distintas com características ambientais, circunstâncias determinantes e consequências econômicas, geográficas e sociais diferenciadas na sociedade hospedeira. A primeira fase se estende do período da dinastia Ming até 1960 e a segunda se inicia a partir daí e segue até os dias atuais.
E é nesse cerne que esse texto se insere, tendo como pano de fundo dados de uma pesquisa etnográfica realizada com os chineses que habitam e trabalham no Centro de Salvador. Ele busca reconstruir o processo migratório chinês para essa cidade, situando-o dentro do movimento maior da diáspora chinesa.

A diáspora chinesa

Os especialistas em migração internacional definem o movimento migratório chinês como uma diáspora. A presença de uma consciência identitária compartilhada entre os migrantes, que se percebem enquanto grupo com uma determinada cultura e história de dispersão específica; a existência de uma multipolaridade e de uma interpolaridade entre os diversos grupos; uma disjunção contrária à ideologia Estado-nação; a necessidade de um longo tempo para estabilizar o lugar do migrante entre as comunidades; a existência de uma estratificação social interna e a consciência da sua diáspora são características desse movimento que permitem essa denominação.2
A diáspora chinesa começou a ser intensificada a partir da dinastia Ming (1368-1644), uma época marcada pelo fortalecimento do comércio marítimo chinês, contato com outros povos, desastres naturais, redução na produção de alimentos, epidemias e alta de impostos, fatores que levaram a grandes períodos de fome e pobreza extrema e à saída de um grande contingente de chineses para os países vizinhos em busca de sua sobrevivência. E foi se mantendo de forma sutil durante os séculos seguintes.
No século XIX, as atividades exploratórias no interior do país se intensificaram. Com o trânsito frequente de estrangeiros pelos portos chineses e com uma população empobrecida em busca de melhores condições de vida, a China parecia ser uma boa fonte de braços para as colônias europeias, que necessitavam de trabalhadores para a agricultura, principalmente depois do fim da escravidão africana. Assim, o fluxo de chineses para fora das fronteiras do império começou a ganhar cada vez mais volume.
Como a escravidão não era mais possível, esses trabalhadores saíam de seu país após a assinatura de um contrato de trabalho, que deveria ser algo voluntário, apesar de que muitos embarcavam obrigados nos barcos, e iam abastecer as fazendas e campos de trabalho, principalmente na América.3
O termo coolie tem sido empregado para designar o trabalhador braçal asiático, especialmente chinês, requisitado nesse período, através de um contrato de trabalho. Mas, apesar de o contrato garantir sua condição de livres, eles eram submetidos a condições similares às de escravos: eram marcados, vendidos, revendidos, alugados, traficados, emprestados, vigiados, punidos e recebiam o nome de seus proprietários. O termo “livre” era apenas uma estratégia de mercado que permitia o seu trânsito, mesmo com a proibição da escravidão.4
O trabalho coolie foi empregado no Peru, Estados Unidos, Cuba, Colômbia, Ilhas Maurício, Austrália, Fiji, Malásia, Singapura, Inglaterra, África do Sul, criando o alicerce para a expansão do capital.5

O caso do Brasil

No Brasil, o fluxo de coolies não foi expressivo. As questões raciais que permeavam o discurso migratório no país impediram que a contratação desses trabalhadores fosse adotada como uma alternativa de substituição dos escravos africanos, como ocorreu em outros países da América Latina.
As primeiras tentativas de trazer chineses para o Brasil remontam a 1807, quando o juiz João Rodrigues de Brito, economista e membro da suprema corte de Salvador, Bahia, seguindo o modelo inglês, sugeriu a entrada de chineses e indianos para trabalhar nas fazendas de cana-de-açúcar. Contudo, os primeiros imigrantes chineses só chegaram ao solo brasileiro em 1812, um grupo formado por aproximadamente 400 pessoas, provenientes de Macau, colônia portuguesa na época. Eles atracaram no Rio de Janeiro e foram enviados para a fazenda imperial e o Jardim Botânico, com o intuito de implantar o cultivo do chá no Brasil, um desejo antigo de Dom João VI que queria transformar o chá em mercadoria para exportação, concorrendo assim com a Inglaterra, que era o grande comerciante desse produto.6
Mas essa experiência não saiu como esperado e marcou negativamente a relação do Brasil com os chineses. O chá produzido tinha sabor desagradável, sendo rejeitado pelo mercado internacional. As condições do solo e do clima não eram apropriadas para o produto. No entanto, para os brasileiros, o insucesso da tentativa era decorrente do fracasso dos chineses, pois muitos fugiam e relutavam em se submeter às precárias condições de trabalho impostas pelos patrões, acostumados que estavam a lidar com a mão de obra escrava e tendo, assim, dificuldade em se adaptar ao trabalhador livre.7
A partir de 1843, o debate sobre a migração chinesa voltou a entrar em destaque na sociedade brasileira. Para um grupo de brasileiros, a mão de obra chinesa parecia ser a solução perfeita para a demanda nas fazendas de café e cana-de-açúcar, pois a considerava uma classe servil que, embora não escrava, se submeteria às condições de trabalho similares às da escravidão, com baixos salários e poucas exigências, diferindo assim, dos europeus.
Mas, para outro grupo, esse imigrante ia de encontro às ideias de modernização que imperavam na época. No seu entendimento, a migração teria três funções primordiais: fornecer mão de obra, colonizar o país e branquear o povo, criando uma nova raça brasileira. Portanto, era fundamental a escolha do imigrante a partir de aspectos raciais.
O debate acerca da contratação ou não de chineses como substitutos dos trabalhadores negros foi batizado de Questão Chinesa e envolveu a mídia, autoridades e intelectuais que defendiam as duas posições, os prós e contras da migração chinesa.
Os argumentos apresentados tinham um forte cunho racial, político e econômico, carregados de ideais racialistas e abolicionistas e direcionavam-se para as possibilidades de contratação desses trabalhadores como uma opção transitória até a chegada dos trabalhadores brancos. O cerne da discussão não estava apenas nos aspectos econômicos da migração, mas também no modelo civilizatório que se desejava construir.8
Apesar das posições contrárias serem predominantes, alguns chineses chegaram ao país durante esse período e muitos desses fugiram das fazendas, onde eram submetidos a duras condições de trabalho. Eles se instalaram nas ruas das cidades, onde trabalhavam como vendedores ambulantes, dando novos contornos demográficos à população brasileira.
As diversas tentativas sem sucesso de estabelecer um fluxo migratório, a resistência do governo chinês em enviar seus cidadãos para o Brasil, devido a histórias de maus tratos e à pressão interna da oposição, fizeram com que o governo brasileiro desistisse de estabelecer a contratação de trabalhadores chineses e se voltasse para outra opção amarela: os japoneses.9
No período da revolução de 1911, alguns chineses vieram voluntariamente para o Brasil e se estabeleceram como comerciantes. As poucas histórias de sucesso desses imigrantes e de outros que fugiram das fazendas e se estabeleceram como vendedores ambulantes nas ruas das cidades, principalmente do Rio de Janeiro, voltavam para a China com os retornados e alimentavam o imaginário de jovens que viviam nos pequenos povoados.
Através de uma rede de apoio, com a participação de chineses bem sucedidos da Califórnia e do México, alguns desses jovens migraram para o Brasil com outros chineses. Como havia políticas restritivas nos Estados Unidos e Canadá, países como Peru, Cuba, Brasil, México eram uma boa opção, estabelecendo assim uma nova fase do fluxo migratório.10
Essa nova fase apresentava uma estrutura diferente da anterior, ela era formada por migrantes que saíam voluntariamente de seu país, com recursos próprios ou com a ajuda de uma rede de apoio em busca de oportunidades de negócios. Eles tinham mais autonomia na busca da sua rota e o objetivo de se estabilizar no novo território, depois de algum tempo.
Seguindo uma tendência como ocorreu nos Estados Unidos, Canadá, Peru, França, ao chegar ao país, esses migrantes se estabeleceram em uma mesma região, onde trabalhavam e residiam. Em São Paulo, isso ocorreu no bairro da Liberdade e na Rua 25 de Março, e no Rio de Janeiro, na região do Saara, onde os chineses abriram pequenos comércios.11
Até a primeira metade do século XX, São Paulo e Rio de Janeiro despontavam como as principais cidades de atração de chineses. Contudo, a partir de 1950, as cidades do sul, principalmente da fronteira com o Paraguai, e do nordeste começaram também a atrair novos imigrantes.12 Assim, pouco a pouco, os chineses foram se estabelecendo e se difundindo em solo brasileiro.

Salvador na rota da diáspora

A partir do momento em que a migração chinesa para São Paulo e Rio de Janeiro se intensificou, os novos imigrantes passaram a buscar novas rotas migratórias, onde as possibilidades de negócios fossem maiores. E foi nesse momento que Salvador começou a despontar na rota da diáspora chinesa.
Em 1960, um pequeno grupo de chineses procedentes de Cantão e Taiwan chegou e se instalou no Centro da cidade e em alguns bairros da Orla. Esse grupo era formado, geralmente, por homens que chegavam sozinhos e que, após um tempo, traziam sua família da China.
As razões que levaram esses chineses a migrar foram as mais variadas, desde a pobreza, como o pai de Wu; o casamento, como Ana; um convite para trabalho, como o pai de Chen; ou a busca por melhores oportunidades de negócios, como Kite. Ou simplesmente por desejo de mudança, como Ling. Mas a maioria saiu do seu país de origem em busca de melhores condições de vida.
A chegada desses imigrantes coincidiu com um período em que a região central da cidade sofria um processo de transformação. Com muitos imóveis sendo desocupados, grandes lojas fechando, um bom sistema de transporte e estrutura de serviços, um comércio popular crescente, a região parecia o local certo para início de uma nova jornada comercial para esses homens e mulheres.
Contudo, diferente do que ocorreu em outras cidades como São Paulo, Lima, Cidade do México, Bogotá e Buenos Aires, em Salvador, apesar de escolherem o Centro para morar e trabalhar, os chineses não buscaram uma segregação. Os estabelecimentos de propriedade chinesa se voltaram para a população local e não para a comunidade de chineses. Eles não demarcaram a região com símbolos de uma “chinesidade”. Ao invés de se segregarem, eles se dispersaram pelas ruas do Centro da capital baiana, em busca de uma invisibilidade. E assim, eles foram “aprendendo a viver”, como diz um dos entrevistados, e se espalharam pelo tecido urbano do Centro.
Os negócios
A primeira geração de chineses que migrou para Salvador tinha baixa escolaridade, geralmente trabalhadores de fábricas ou camponeses, que vieram para o Brasil fugindo da pobreza, da miséria, em busca de melhores oportunidades de negócios ou de uma melhor qualidade de vida.
Alguns vieram ainda crianças ou adolescentes, acompanhando os pais, e tiveram que largar a escola na China e se envolver nos negócios da família, como Wu. A vida dura de trabalho impediu de retornar aos estudos. Outros apresentavam uma boa qualificação profissional, no entanto, independente do nível de escolaridade, todos eles passaram seus dias atrás dos balcões de seus restaurantes, pastelarias ou lanchonetes, em uma vida que se restringiu a trabalho e família.
Eles abriram restaurantes típicos de comida chinesa, lavanderias e lojas de produtos importados, com mão de obra quase que exclusivamente chinesa, muitos trouxeram parentes da China para ajudar nas atividades comerciais.
Em um primeiro momento, as lavanderias tiveram destaque, mas aos poucos os restaurantes foram se popularizando, alguns foram abertos com recursos adquiridos com as lavanderias, à medida que essas entravam em declínio. De acordo com os entrevistados, a preferência por restaurante se dava devido à facilidade nesse tipo de atividade comercial, pois exigia baixo investimento, pouco conhecimento técnico da língua, o que se encaixava bem no perfil de imigrantes recém-chegados. Além disso, a busca por lavanderias começou a entrar em declínio com a popularização das máquinas de lavar domésticas, fazendo com que os comerciantes dessa área buscassem campos mais lucrativos de investimento.
Atualmente, dois tipos de negócios são predominantes na comunidade chinesa, as lojas de produtos importados, geralmente artigos femininos, e estabelecimentos na área de alimentos, como restaurantes de comida a quilo e lanchonetes.
A história da comida chinesa em Salvador: os primeiros restaurantes chineses
Para os imigrantes, o alimento tem papel fundamental, pois além de ajudar na demarcação do seu espaço na nova sociedade, ele reacende as memórias que o ligam com o passado, com o que foi deixado para trás.
Segundo eles, “chinês come tudo fresco”, “chinês sempre usa Ajinomoto”, “chinês cozinha tudo no vapor, baiano refoga, frita, a gente não, só come no vapor”; “chinês come cada coisa de uma vez, baiano é que mistura tudo, a gente come cada comida de uma vez”. A comida sempre surgia nas falas dos entrevistados como um elemento da identidade, que diferenciava chineses de baianos.
Não foram encontrados dados que comprovassem qual foi o primeiro restaurante chinês de Salvador. Alguns entrevistados, baianos e chineses, mencionaram o Tonk Fong, de propriedade de Sheng Shong, que funcionava em um imóvel no Campo da Pólvora, na década de 1960. Esse restaurante era famoso pelos seus pratos agridoces e era uma referência da culinária chinesa na cidade. Os proprietários e cozinheiros eram chineses e a comida chinesa dominava o cardápio.
A partir daí, com o aumento do fluxo, outros restaurantes chineses foram abrindo na Avenida Sete, Politeama, Ladeira da Praça, Comércio.
Na final da década de 1970 e início de 1980, o número de imigrantes aumentou, isso refletia as mudanças políticas que ocorriam na China, que estendia as possibilidades de emissão de passaportes e reduzia as restrições para a migração, o que levou a um aumento do fluxo migratório para o Brasil.
Esse novo grupo também buscou a área de alimentos para iniciar suas atividades comerciais. Nesse período, foram abertos outros restaurantes, o Yan Ping, na Barra, em 1981 e na Pituba, 1983; o Tai San, em 1988, na Pituba; o Suan Loun, em 1988, na Barra; o Aogobom, em 1989, no Rio Vermelho.
Esses restaurantes, assim como os primeiros, se caracterizavam como empresas familiares, a mão de obra brasileira era apenas utilizada como complementar à chinesa, os proprietários e sua família se dividiam entre a cozinha e o atendimento dos salões e traziam, inclusive, parentes da China para ajudar nas atividades. Alguns dos chineses que atualmente possuem restaurantes no Centro vieram para ajudar algum familiar que tinha restaurante na cidade, como o pai de Chen e o marido de Ling.
A chinesidade estava nos elementos decorativos que identificavam sua característica étnica, cardápio em duas línguas (português e cantonês) e os hashis sobre a mesa. O cardápio era composto por preparações típicas da culinária chinesa, ou uma reprodução do que era servido nos restaurantes dos Estados Unidos, onde muitos tinham familiares, como o chop suey, chow mein, pratos populares junto à população local, assim como a “família feliz”, o frango agridoce, a carne acebolada, o camarão agridoce, o peixe e o frango empanados. Os sabores predominantes eram o agridoce, obtido através de um molho preparado com vinagre, corante vermelho, açúcar, água e amido de milho, e o salgado, decorrente do uso de molho de soja.
Salvador não era uma cidade com muitos restaurantes estrangeiros, assim, os restaurantes chineses apresentavam uma cozinha “diferente”, o que atraía uma classe média ávida por novidades.
Sem uma comunidade chinesa forte que servisse de clientela, esses restaurantes foram pouco a pouco perdendo suas características étnicas e seguindo outros caminhos. Eles passaram a se voltar para uma clientela geralmente composta por famílias, grupos de estudantes e trabalhadores, que buscavam uma refeição farta, saborosa e com preço baixo. Assim, eles se incorporaram no cenário culinário dos soteropolitanos, com a inserção da comida chinesa no ramo do fast food, abertura dos restaurantes delivery (final da década de 1980) e inauguração de uma rede de restaurantes nos shoppings centers (1992).
Diferente dos seus precursores, os novos imigrantes se afastaram dos restaurantes étnicos e adotaram a culinária local em seus estabelecimentos, apesar de sempre manterem em seus balcões uma a três preparações reconhecidas pela população local como chinesa, geralmente o yakisoba, o rolinho primavera e o frango xadrez. As mudanças não ocorreram apenas nos cardápios, mas também na decoração do espaço, que perdeu elementos decorativos associados à cultura chinesa, e na mão de obra empregada, com a contratação de cozinheiros e atendentes brasileiros.
E assim, o Centro de Salvador foi-se constituindo uma nova forma de aglomerado chinês, diferente das tradicionais chinatowns. Os chineses do Centro não se posicionam como um grupo a parte, eles adotaram o vestuário e o linguajar locais, nomes brasileiros tanto para si como para seus filhos e estabelecimentos, e restaurantes populares como principal ramo de atividade, eles buscaram uma invisibilidade no contexto da cidade.
Rede de apoio
O estabelecimento de redes de apoio, guanxi, vem marcando os negócios do chinês ultramar. Guanxi são relações privilegiadas estabelecidas entre os membros da comunidade chinesa que compartilham um mesmo lugar de origem, língua, história, família e são estruturadas a partir de laços de confiança. O termo é de origem chinesa e, traduzido literalmente, significa relacionamento, geralmente estabelecido com um objetivo e fundamentado em ideias de confiança e lealdade.13
As relações estabelecidas pelos imigrantes chineses no Brasil seguem os princípios de lealdade que as caracterizam, sendo estabelecidas a partir de um círculo de amizade ou familiar. Baseadas em um sistema de troca de favores, circulação de bens (simbólicos e materiais) e informações, que são recebidas e retribuídas, elas interferem na distribuição das posições e das oportunidades entre os membros do grupo social e em possíveis modalidades de reconhecimento, inclusão e prestígio.14
Em Salvador, essa rede de apoio existe, principalmente envolvendo familiares. Muitos vieram trazidos por um familiar, para ajudá-los no seu negócio e, posteriormente, foram ajudados por este familiar a montar um novo estabelecimento.
Chang veio para Salvador ajudar seu primo que tem um restaurante na Avenida Sete e outro no Largo Dois de Julho. Em 2006, depois de seis anos de trabalho, seu primo o ajudou a abrir seu restaurante, na mesma rua. Em entrevista, disse-me que seu primo sempre o ajudou, principalmente porque ele mesmo depois de oito anos morando no Brasil ainda não fala português. July contrata trabalhadores brasileiros para encaminhar aos restaurantes dos chineses. Toda sua família (irmãos, primos, pai e tio) trabalha no Centro.
O apoio familiar é fundamental para a inserção do imigrante no novo território, e é a família seu único ponto de contato na nova cidade. Todos os entrevistados disseram não conhecer outros chineses, além daqueles com quem têm laços familiares ou que são seus vizinhos. Em Salvador, a família é a unidade básica de apoio.
Eles não interagem com a cidade, poucos mencionaram ter amigos fora do círculo familiar ou da comunidade chinesa. No coletivismo familiar, os chineses se organizam para facilitar o processo de adaptação na nova cidade e se fortalecem.

Tipos de imigrantes

Segundo dados do Departamento da Polícia Federal, em março de 2014, período desta pesquisa, residiam em Salvador 392 chineses, sendo 384 provenientes da RPC (República Popular da China), 02 de Taiwan e 06 de Hong Kong, o que corresponde a 60,87% dos chineses que vivem na Bahia. Contudo, o chefe do Departamento salientou que este número não retratava a realidade, pois englobava apenas os imigrantes registrados na cidade de Salvador, e muitos vieram de outras cidades brasileiras. Além disso, os registros não consideravam aqueles que ainda estavam em processo de legalização.
A distância entre o número de migrantes legalizados e a realidade do quadro migratório pode ser facilmente visualizada quando andamos pelas ruas da cidade, principalmente no Centro, onde a cada dia aumenta o número de chineses. Há muito mais do que os números oficiais demonstram. Em minhas entrevistas pude também confrontar esta realidade. Entrevistei cinco taiwaneses que residem há mais de 20 anos em Salvador, e nos registros da Policia Federal há apenas dois imigrantes de Taiwan. Além desses taiwaneses, entrevistei dezessete imigrantes da RPC e dois de Hong Kong.
Segundo um dos entrevistados, que possui restaurante no Centro, há mais de 2000 chineses na capital baiana, mas muitos estão em situação ilegal, o que dificulta a contagem do número de imigrantes.
Em campo, segundo o processo de migração, pude identificar seis perfis de chineses instalados em Salvador.
Grupo 1: veio diretamente para esta cidade, na década de 1960. Alguns desse grupo retornaram para a China, mas seus filhos permaneceram e outros ainda vivem em Salvador, mas não trabalham mais, ou os estabelecimentos fecharam ou estão sob a responsabilidade dos filhos.
Grupo 2: veio trazido pelo grupo 1, composto por chineses que chegaram aqui para trabalhar para amigos ou parentes, ficaram ilegais, trabalhando em condições quase escravas. Após um tempo de trabalho, legalizaram sua condição de migrante, trouxeram a família e abriram estabelecimentos comerciais, normalmente na área de alimentos que, segundo eles, exige menor investimento.
Grupo 3: formado por chineses que migraram inicialmente para o Rio de Janeiro e São Paulo, trabalharam lá, mas depois buscaram novas áreas onde fosse mais fácil investir ou que tivesse uma melhor qualidade de vida; vieram, então, para Salvador, alguns por terem conhecidos na cidade, pertencentes ao primeiro grupo, outros simplesmente por causa das condições climáticas da região.
Grupo 4: veio diretamente para Salvador trazido por parentes ou por razão de casamento.
Grupo 5: chegaram aqui quando eram crianças ou adolescentes, acompanhando os pais.
Grupo 6: nasceu em Salvador, seus pais são chineses do grupo 2, 3 ou 4.

Considerações finais

Em um primeiro momento, a migração chinesa para o Brasil não foi expressiva, do ponto de vista demográfico. Contudo, à medida que o fluxo migratório chinês foi se intensificando, o Brasil foi despontando como destino para muitos imigrantes que buscavam no país novas oportunidades de negócios, o que causou mudanças nos contornos da diáspora chinesa dentro do território brasileiro. Nesse momento, Salvador entra na rota da diáspora.
Os chineses chegaram à capital baiana em um período de transformação na sua região central, e essa área se transformou no principal polo de interesse dos novos imigrantes, que aí se estabeleceram e criaram uma nova forma de aglomerado chinês, sem a segregação e a demarcação nítida do espaço como vinha ocorrendo nas tradicionais chinatowns.
Para os chineses que aí se instalaram, o espaço da “chinesidade” restringe-se ao núcleo doméstico e não avança para o ambiente da rua. É nas mesas das suas casas, onde compartilham as refeições em família, onde se fala a língua materna, que as tradições são mantidas e a sua herança cultural é transmitida para as novas gerações. Nesse contexto, as crianças e adolescentes fazem a ligação entre o novo e o antigo. Elas vivenciam o ambiente familiar, onde a cultura de origem tenta subsistir, mas também são jogadas no mundo novo, como novos atores estranhos à sua comunidade, vivenciam, assim, os elementos do novo espaço e as lembranças do velho. São, portanto, um importante elemento de mudança para a comunidade chinesa.
E assim, Salvador vai se inserindo na rota da diáspora chinesa, como um espaço de acolhimento para a população imigrante que encontra na sua região central o seu lugar. Aí, eles constituíram família, se estabilizaram economicamente, criaram seus filhos, aprenderam a viver, se transformaram em baianos, mesmo permanecendo chineses.
Ana Claudia Minnaert*
(Bahia com História - Agosto 2016)
* Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (1991) e Nutrição pela UFBA (1997). Mestrado em Saúde Coletiva (2006) e Doutorado em Antropologia, ambos pela Universidade Federal da Bahia (2015), com pesquisa na área da Antropologia da Alimentação e Migração.
1 Dong Sull Choi. “Myth and reality of the chinese diaspora”. Comparative civilizations review, n. 46 (2002), p. 120-135.
2 Emmanuel Ma Mung. La diaspora chinoise, géographie d’une migration. Paris: Ophrys, 2000, p. 176.
3 Shih-shan H. Tsai. “American Involvement in the Coolie Trade”. American Studies, v 6 ( 1976), p. 49-66.
4 Lisa Yun. The Coolie Speaks: Chinese indentured laborers and African slaves in Cuba.
Philadelphia: Temple University Press, 2008, p. 336.
5 Idem.
6 Jeffrey Lesser. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil. São Paulo: UNESP, 2001, p. 344.
7 Rogério Dezem. Matizes do “Amarelo”: a gênese do discurso sobre os orientais no Brasil (1878-1908).
São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 306.
8 Idem.
9 Robert Conrad. “The planter class and the debate over Chinese immigration to Brazil 1850-1893”.
International Migration Review, v.9, n.1 (1975), p.41-55.
10 Shu Chang-Sheng. “Chineses no Rio de Janeiro”. Portal Ciência e Vida. 2010 Disponível em: http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/17/imprime125466.asp. Acesso em 14/07/2014.
11 Douglas de Toledo Piza. Um pouco da mundialização contada a partir da região da Rua 25 de Março: migrantes e chineses e comércio informal. (Dissertação de Mestrado em Sociologia, USP, 2012).
12 Rosana Pinheiro-Machado. “(Re) pensando a diáspora chinesa: fluxos globais e dinâmicas locais da imigração contemporânea”. In: 30º Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, 2006, p. 30.
13 Carine Pina-Guerassimoff. La Chine et sa nouvelle diaspora: la mobilité au service de la puissance. Paris: Ellipses, 2012, p.237.
14 Marcos de Araújo Silva. Guanxi nos trópicos: um estudo sobre a diáspora chinesa em Pernambuco. (Dissertação de Mestrado em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, 2008).
  

Trump volta a atacar México e diz que relação deve mudar “já”


Segundo o presidente americano, "o México se aproveitou dos Estados Unidos por muito tempo"

 




O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou nesta sexta-feira a atacar o México, um dia após o cancelamento de uma reunião com seu colega Enrique Peña Nieto, alegando que a relação deve mudar imediatamente.

“O México se aproveitou dos Estados Unidos por muito tempo. O enorme déficit comercial e a pouca ajuda em uma frágil fronteira é algo que deve mudar JÁ!”, expressou o presidente na rede social Twitter, sua arma favorita.

As relações entre México e Estados Unidos, dois países vizinhos e associados pelo Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN), alcançaram na quinta-feira seu ponto mais baixo em décadas, em uma súbita escalada de tensões que se acelerou dramaticamente desde a chegada de Trump à Casa Branca.

Os desentendimentos aumentaram na quarta-feira, dia em que Trump assinou dois decretos sobre vigilância migratória. O primeiro deles determina o início “imediato” dos passos necessários para construir um “muro físico” na fronteira.

Além disso, o presidente americano insistiu que o México custeará, de uma forma ou de outra, a obra.

Mas diante da negativa mexicana de aceitar pagar o muro, Trump sugeriu na quinta-feira no Twitter que, neste caso, era melhor cancelar a visita marcada de Peña Nieto.

O presidente mexicano confirmou posteriormente o cancelamento também pelo Twitter.

Na noite de quinta-feira, o chanceler mexicano, Luis Videgaray, disse em Washington que a possibilidade de que seu país pague pelo muro “é inegociável”.

Nesta sexta-feira, no entanto, uma das pessoas mais próximas de Trump, sua assessora Kellyanne Conway, disse a uma rede de televisão que o México deve pagar pelo muro porque “obtém muito” dos Estados Unidos.

O México “não quer pagar porque quer continuar permitindo que pessoas, e assumo que também drogas – já que não estão fazendo muito para detê-las – passem por nossa fronteira. O México deve pagar pelo muro porque obtém muito deste país”, disse Conway à rede de TV CBS.

Com relação à ideia lançada na quinta-feira por Sean Spicer de uma taxa de 20% sobre as importações provenientes do México, Conway acrescentou outra: a de atuar sobre as remessas enviadas ao seu país por mexicanos que vivem nos Estados Unidos.

“A principal fonte de renda ao México é de mexicanos que trabalham aqui e enviam dinheiro. Por isso, a repatriação de fundos é uma peça importante na visão do presidente Trump”, afirmou.

“Temos que parar com isso de ter gente e drogas passando por nossa fronteira. Somos uma nação soberana que gasta bilhões ajudando outros países a proteger suas fronteiras. É o momento de fazermos o mesmo pelos Estados Unidos”, acrescentou.


Quem é Marcelo da Costa Bretas, o algoz de Cabral e Eike


Por que o juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio está sendo comparado com Sergio Moro

 




Basta ouvir alguma comparação com Sergio Moro para um sorriso se abrir no rosto do juiz Marcelo da Costa Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Desde que mandou prender o ex-governador do estado, Sérgio Cabral, em novembro do ano passado, essas comparações se tornaram cada vez mais comuns e as semelhanças entre ambos, pelo menos na visão de investigados e réus, realmente existe. Bretas, que atua na vara especializada em lavagem de dinheiro e crimes financeiros, no Rio de Janeiro, acabou se tornando o responsável pelo desdobramento da Operação Lava-Jato no estado, mais especificamente na investigação do “Eletrolão”, um inquérito análogo à operação curitibana, mas que investiga desvios na Eletrobras e na Eletronuclear.

Ainda em 2015, quando surgiu a possibilidade de Bretas ser o responsável por casos de corrupção da Lava-Jato que ocorreram no Rio e não fossem diretamente relacionados à Petrobras, uma empreiteira investigada pediu um perfil do juiz para seus advogados. A conclusão apresentada, adiantada pelo jornalista Anselmo Gois, do jornal O Globo, foi a de que o juiz carioca “é tão honrado e preparado como Sérgio Moro, só que, ao contrário do curitibano, não é um ativista político”.

Nas sentenças, Bretas mostra correspondências com Moro. Assim como o paranaense, é um admirador da maneira como a justiça americana opera. Meses antes de se tornar responsável pelo atual processo, passou quatro meses nos Estados Unidos estudando como as coisas funcionam por lá. Repete que, lá, a Justiça é mais respeitada e efetiva, mas é otimista, dizendo que o Brasil está no caminho. A animação, em boa parte, ressurgiu depois do julgamento do Mensalão e de que a Lava-Jato passou a trazer resultados mais efetivos.