O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta
terça-feira um decreto que revoga uma série de regulações da era Obama
para conter as mudanças climáticas, mantendo uma promessa de campanha de
apoiar a indústria do carvão, enquanto põe em xeque o apoio dos EUA a
um acordo internacional para combater o aquecimento global.
Ao lado
de mineiros de carvão, Trump assinou o decreto "Independência de
Energética" na Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês).
Uma coalizão de 23 Estados e governos locais prometeu combater o decreto
nos tribunais.
O principal alvo do decreto é o Plano de Energia
Limpa de Obama, que exige que os Estados eliminem as emissões de carbono
das usinas de energia --um elemento crítico para ajudar os EUA a
cumprirem seus compromissos com um acordo climático global firmado por
quase 200 países em Paris em dezembro de 2015.
O decreto também
rescinde a proibição de exploração de carvão em terras federais, reverte
regras para a contenção de emissões de gás metano resultantes da
produção de gás e petróleo e reduz o peso da mudança climática e emissão
de carbono nas decisões políticas e permissões de infraestrutura.
O
dióxido de carbono e o metano são dois dos principais gases responsáveis
pelo efeito estufa, o que segundo cientistas causa o aquecimento
global.
"Meu governo está colocando um fim à guerra ao carvão", disse
Trump antes de assinar o decreto. "Com o decreto de hoje, estou dando
passos históricos para levantar as restrições à energia americana, para
reverter a intromissão do governo e cancelar a regulamentação que mata
empregos", disse Trump na EPA.
A sala estava cheia de mineiros,
executivos de companhias de carvão e funcionários de grupos industriais,
que aplaudiram alto quando Trump falou. As ações das empresas de carvão
dos EUA subiram após a assinatura.
O decreto abrangente é o mais
ousado adotado até agora por Trump em sua agenda ambiciosa para reduzir a
regulação ambiental e impulsionar as indústrias de perfuração e
mineração, uma promessa que ele fez repetidamente durante a campanha
presidencial de 2016.
Analistas de energia e executivos questionaram
se o movimento terá grande efeito sobre suas indústrias, e os
ambientalistas o classificaram de imprudente.
"Não posso dizer
quantos postos de trabalho o decreto vai criar, mas posso dizer que ele
dá confiança em relação ao compromisso deste governo com a indústria do
carvão", disse o presidente da Associação de Carvão de Kentucky, Tyler
White, à Reuters.
Grupos ambientalistas desprezaram o decreto de
Trump, argumentando que é perigoso e vai contra a tendência global mais
ampla em direção a tecnologias de energia mais limpas.
"Essas ações
são um ataque aos valores americanos e põem em perigo a saúde, a
segurança e a prosperidade de todos os americanos", disse o ativista
ambientalista Tom Steyer, o chefe do grupo ativista NextGen Climate
(Reuters, 28/3/17)
China pode desbancar América do Norte em captura de carbono
A China deverá desbancar a América do Norte e assumir a liderança na
nova onda de projetos de captura e armazenagem de carbono após o avanço
de seu primeiro empreendimento em grande escala com a tecnologia.
A
construção do Projeto Integrado de Captura e Armazenagem de Carbono de
Yanchang já pode começar agora que foi tomada a decisão final de
investimento para avançar com o local de demonstração, segundo o Global
CCS Institute, organização sem fins lucrativos que ofereceu apoio
técnico e de assessoria à iniciativa.
O projeto foi realizado como parte do acordo de 2015 da China com os
EUA para combater a mudança climática. Quando concluído, será capaz de
capturar 410.000 toneladas de carbono por ano. Este é um dos oito
projetos em grande escala de captura e armazenagem de carbono (CCS, na
sigla em inglês) — em diferentes estágios de avaliação e sujeitos a
aprovação — que a China está estudando, segundo Tony Zhang, conselheiro
sênior do instituto.
Dos 16 projetos de CCS em grande escala ao redor do mundo, dois
terços estão na América do Norte, segundo a Agência Internacional de
Energia, que tem sede em Paris. Quatro dos cinco novos projetos em
construção também estão baseados no Canadá ou nos EUA.
A nova onda de projetos, contudo, deverá acontecer na China, que
responde por cerca de metade de todos os projetos de CCS sob análise ou
planejamento sério, disse a analista da AIE Samantha McCulloch, em
apresentação em Pequim, na segunda-feira. Em 2020, a China terá 330
gigawatts de usinas movidas a carvão que poderiam ser reconfiguradas com
tecnologia de redução de emissões, disse ela.
Tecnologia importante
CCS “é um importante conjunto de tecnologias para reduzir as emissões
do uso do combustível fóssil que permite que recursos importantes como o
carvão continuem contribuindo para a segurança energética e para os
objetivos econômicos”, disse McCulloch.
O projeto em Yulin, uma região mineira localizada a cerca de 900
quilômetros a sudoeste de Pequim, injeta dióxido de carbono liberado
pelo carvão em campos esgotados, onde o mistura com petróleo dentro da
formação, permitindo que o petróleo destinado à produção seja
transferido para poços adjacentes.
O projeto trabalha com cerca de 12 por cento de sua capacidade total,
ou 50.000 toneladas por ano, segundo o instituto. A China atualmente
possui cerca de 950.000 toneladas de capacidade operacional de captura,
disse Zhang no instituto CCS.
Tempo necessário
A desenvolvedora de projetos Shaanxi Yanchang Petroleum Group não respondeu aos vários telefonemas em busca de comentário.
A tecnologia precisará contribuir com cerca de 15 por cento das
reduções das emissões globais para atingir a meta do acordo de Paris de
manter o aquecimento da atmosfera bastante abaixo de 2 graus Celsius. Os
investimentos em CCS, no entanto, foram paralisados e permaneceram
inalterados em 2016, em US$ 184,4 bilhões, segundo a Bloomberg New
Energy Finance.
O alto investimento de capital inicial, o tempo necessário para
atingir retornos e a falta de casos comerciais suficientes estão entre
as preocupações que atrasam os investimentos em CCS, disse McCulloch, da
AIE
(Bloomberg, 28/3/17)