Segundo o empresário da JBS, o ex-ministro Guido Mantega operava as contas
Por
Estadão Conteúdo
Lula e Dilma: o delator informou que em 2009
destinou uma conta a Lula e no ano seguinte, outra para Dilma (Ricardo
Stuckert / Instituto Lula/Divulgação)
O termo de colaboração 1 do empresário Joesley Batista, do Grupo
JBS, descreve o fluxo de duas “contas-correntes” de propina no exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e
Dilma Rousseff.
O empresário informou à Procuradoria-Geral da República que o saldo
das duas contas bateu em US$ 150 milhões em 2014. Ele disse que o
ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e Dilma) operava as
contas.
O delator informou que em 2009 destinou uma conta a Lula e no ano seguinte, outra para Dilma.
Joesley revelou que em dezembro de 2009, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) adquiriu de debêntures da
JBS, convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões, “para apoio do
plano de expansão” naquele ano.
“O depoente escriturou em favor de Guido Mantega, por conta desse
negócio, crédito de US$ 50 milhões e abriu conta no exterior, em nome de
offshore que controlava, na qual depositou o valor”, relatou Joesley.
Segundo o empresário, em reunião com Mantega, no final de 2010, o
petista pediu a ele “que abrisse uma nova conta, que se destinaria a
Dilma”.
“O depoente perguntou se a conta já existente não seria suficiente
para os depósitos dos valores a serem provisionados, ao que Guido
respondeu que esta era de Lula, fato que só então passou a ser do
conhecimento do depoente”, contou o empresário.
“O depoente indagou se Lula e Dilma sabiam do esquema, e Guido confirmou que sim.”
Joesley declarou que foi feito um financiamento de R$ 2 bilhões, em
maio de 2011, para a construção da planta de celulose da Eldorado. O
delator disse que Mantega “interveio junto a Luciano Coutinho (então
presidente do BNDES) para que o negócio saísse”.
“A operação foi realizada após cumpridas as exigências legais”,
afirmou Joesley. “Sempre percebeu que os pagamentos de propina não se
destinavam a garantir a realização de operações ilegais, mas sim de
evitar que se criassem dificuldades injustificadas para a realização de
operações legais.”
O empresário declarou que depositou, “a pedido de Mantega”, por conta
desse negócio, crédito de US$ 30 milhões em nova conta no exterior.
“O depoente, nesse momento, já sabia que esse valor se destinava a
Dilma; que os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados
pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo,
que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef; que esses saldos
somavam, em 2014, cerca de US$ 150 milhões.”
Segundo Joesley, a partir de julho de 2014, Mantega “passou a chamar o
depoente quase semanalmente ao Ministério da Fazenda, em Brasília, ou
na sede do Banco do Brasil em São Paulo, para reuniões a que só estavam
presentes os dois, nas quais lhe apresentou múltiplas listas de
políticos e partidos políticos que deveriam receber doações de campanha a
partir dos saldos das contas”.
Neste trecho de seu depoimento, Joesley cita o partido do Governo
Michel Temer. O empresário destacou que o executivo Ricardo Saud,
diretor de Relações Institucionais da J&F que a interlocução com
políticos e partidos políticos para organizar a distribuição de dinheiro
coube a Ricardo Saud, Diretor de Relações Institucionais da J&F que
o ex-presidente olhou nos olhos do depoente, mas nada disse”, contou.
Em outra ocasião, em novembro de 2014, Joesley disse que “depois de
receber solicitações insistentes para o pagamento de R$ 30 milhões para
Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais, veiculadas por
Edinho Silva (tesoureiro da campanha de Dilma em 2014), e de receber de
Guido Mantega a informação de que ‘isso é com ela’, solicitou audiência
com Dilma”.
“Dilma recebeu o depoente no Palácio do Planalto; que o depoente
relatou, então, que o governador eleito de MG, Fernando Pimentel estava
solicitando, por intermédio de Edinho Silva, R$ 30 milhões, mas que,
atendida essa solicitação, o saldo das duas contas se esgotaria; que
Dilma confirmou a necessidade e pediu que o depoente procurasse
Pimentel”, narrou aos investigadores.
Joesley afirma que, no mesmo dia, encontrou-se com Pimentel no
Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e disse ao petista “que havia
conversado com Dilma e que ela havia indicado que os 30 milhões deveriam
ser pagos”.
“Pimentel orientou o depoente a fazer o pagamento por meio da compra
de participação de 3% na empresa que detém a concessão do Estádio
Mineirão; que afora essas duas ocasiões, Edinho Silva, então tesoureiro
da campanha do PT, encontrava-se, no período da campanha de 2014,
semanalmente com Ricardo Saud e apresentava as demandas de distribuição
de dinheiro; que Ricardo Saud submetia essas demandas ao depoente, que,
depois de verificá-las com Guido Mantega, autorizava o que efetivamente
estivesse ajustado com o então ministro da Fazenda.”
Defesa
Em nota, os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira que
defendem Lula, afirmam: “Verifica-se nos próprios trechos vazados à
imprensa que as afirmações de Joesley Batista em relação a Lula não
decorrem de qualquer contato com o ex-Presidente, mas sim de supostos
diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados.
A verdade é que a vida de Lula e de seus familiares foi – ilegalmente
– devassada pela Operação Lava Jato. Todos os sigilos – bancário,
fiscal e contábil – foram levantados e nenhum valor ilícito foi
encontrado, evidenciando que Lula é inocente. Sua inocência também foi
confirmada pelo depoimento de mais de uma centena de testemunhas já
ouvidas – com o compromisso de dizer a verdade – que jamais confirmaram
qualquer acusação contra o ex-Presidente.
A referência ao nome de Lula nesse cenário confirma denúncia já feita
pela imprensa de que delações premidas somente são aceitas pelo
Ministério Público se fizerem referência – ainda que frivolamente – ao
nome do ex-Presidente.”