O governo decidiu partir para o enfrentamento para reagir à mais
grave crise desde que o presidente Michel Temer assumiu há um ano, e
tentar tocar as reformas, especialmente a da Previdência, em um esforço
para demonstrar que ainda tem força, depois de o peemedebista anunciar
que não tem qualquer intenção de renunciar ao mandato.
"O presidente jamais cogitou qualquer saída que não fosse o enfrentamento da crise", disse uma fonte. "Vamos insistir nas reformas. Se algum partido achar que não deve votar, explicite seus motivos para a sociedade e arque com as consequências."
A crise se instaurou depois da notícia de uma gravação na qual Temer teria dado aval ao empresário Joesley Batista, um dos controladores da JBS, para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Mas a divulgação dos áudios no final da tarde melhorou o clima no Palácio do Planalto.
"Não existe nada de pagamento. É só sobre a relação entre eles", argumentou uma fonte do Planalto.
Aprovar as reformas, na avaliação de auxiliares de Temer, é o caminho que o governo ainda tem para recuperar alguma confiança do mercado. Pela manhã, irritado, Temer afirmou que o que estava acontecendo parecia uma "conspiração", e que o governo vinha passando por um bom momento e que não iria deixar isso atrapalhar.
DIFICULDADES À FRENTE
A tarefa,
no entanto, não deve ser fácil. O governo já não tinha votos para
aprovar a Previdência, e pode perder mais alguns agora. Antes mesmo da
acusação contra Temer, alguns parlamentares mostravam pouca vontade de
se associar a uma reforma impopular com um governo mais impopular ainda.
Nesta
quinta, tanto os relatores da reforma trabalhista no Senado, Ricardo
Ferraço (PSDB-MS), quando da Previdência na Câmara, Arthur Oliveira Maia
(PPS-BA), afirmaram, em notas, que não seria possível manter o
calendário previsto das votações na atual situação.
Ao longo do dia, o
Planalto tentou se movimentar para recompor a base, com a ameaça de
vários partidos --inclusive o PSDB, considerado a principal base do
governo-- ameaçando abandonar a aliança. Logo depois do pronunciamento,
Temer chamou a seu gabinete os ministros tucanos Aloysio Nunes, das
Relações Exteriores, e Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, para
pedir fidelidade.
Ao longo do dia, 14 ministros estiveram com o presidente. Entre eles, o da Defesa, Raul Jungmann, que em seguida divulgou uma nota afirmando que ficaria no governo, apesar de seu partido, o PPS, ter dito que estava deixando a base. Roberto Freira, da Cultura, seu colega de partido, entregou a carta de demissão no final da tarde.
"Nós vamos até o final, a base, o PMDB. Quem quiser pular fora, que pule", disse a fonte.
Questionado sobre as possíveis dificuldades de aprovar uma reforma complicada como a Previdência em um momento em que o governo está fragilizado, respondeu: "Já fizemos muita coisa. A Previdência era a cereja do bolo, mas se não der, paciência. Fica para o próximo presidente".
"NÃO RENUNCIAREI"
Pela manhã, depois de cancelar toda sua agenda após seu primeiro compromisso --que estava lotada de parlamentares das 8h às 19h-- reuniu-se seus aliados mais fiéis, entre eles o líder do governo no Senado, Romero Jucá, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, além da equipe de comunicação do governo.
Apesar de ter sido aconselhado por algumas
pessoas próximas a renunciar ao mandato, fontes governistas afirmaram à
Reuters que essa nunca foi a intenção de Temer. "Renúncia não foi
analisada nem ontem, nem hoje", garantiu outra fonte.
No final da
manhã, Temer pediu ao STF os áudios de Joesley Batista. Temer queria ter
certeza do que havia na gravação antes de falar à imprensa, mesmo
garantindo que tinha certeza de que não havia nada comprometedor.
A
demora, no entanto, fez com que o presidente desistisse de esperar --os
áudios só foram liberados depois das 18h. "Nosso deadline era 16h. Não
apareceu até ali, tinha que falar. O governo não podia fechar mais um
dia sem falar", disse uma das fontes.
A interlocutores, o presidente afirmou que estava "angustiado" e "precisava falar".
No rápido pronunciamento pouco depois das 16h, Temer falou enfaticamente.
"Não
renunciarei. Repito, não renunciarei. Sei do que fiz e sei da correção
dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os
esclarecimentos ao povo brasileiro"
(Reuters, 18/5/17)