Trabalhadores da construção no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg)
São Paulo – O Brasil só é mais
competitivo do que Mongólia e Venezuela, de acordo com um ranking da escola de negócios suíça IMD divulgado hoje.
“É esperado que esses países ocupem estas posições por tudo o que
acompanhamos nos noticiários sobre as questões políticas atuais. Mas
estas questões estão na raiz da má eficiência dos governos, e isso
diminui as posições no ranking”, diz Arturo Bris, diretor do Centro
Mundial de Competitividade do IMD.
Ficamos na 61ª posição entre 63 países, atrás de Índia, Turquia, Bulgária, Grécia e Argentina.
A queda brasileira é de 4 posições em relação ao ano passado e de 23
posições em relação a 2010, quando o país atingiu sua melhor posição
(38º).
O Brasil obteve, em 2017, 55.829 pontos no índice agregado. Foi um
avanço de 4.153 pontos em relação a 2016, mas insuficiente para gerar
avanços no ranking geral.
Em competitividade, não é preciso apenas melhorar, mas melhorar mais
do que os outros. Se o mundo avança rapidamente, correr atrás do
prejuízo não é suficiente.
Ainda assim, “a queda apresentada pelo Brasil em 2017 não é apenas
relativa, mas também absoluta se observada no longo prazo”, explica um
dos autores, o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, que faz o
levantamento da parte brasileira.
Hong Kong e Suíça lideram pelo segundo ano consecutivo e os Estados Unidos saíram do top 3 pela primeira vez em uma década.
Os 10 primeiros lugares são, na ordem: Hong Kong, Suíça, Singapura,
Estados Unidos, Holanda, Irlanda, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e
Emirados Árabes Unidos.
Metodologia
O ranking é publicado desde 1989 e tem quatro pilares: performance
econômica, eficiência do governo, eficiência empresarial
e infraestrutura.
Dos 260 indicadores utilizados, dois terços são dados estatísticos e
um terço vem de uma pesquisa de opinião com 6.250 executivos de alto
escalão.
No Brasil, esse levantamento foi feito entre fevereiro e março, antes
da crise política disparada pelas denúncias que enfraqueceram o
presidente Michel Temer, em um momento em que os índices de confiança do
empresariado estavam em forte alta.
Resultados
A recessão profunda e prolongada levou a uma queda acentuada do
Brasil no pilar “Desempenho Econômico”, com perda de 23 posições em um
ano no item “Emprego”.
O desemprego no país ficou em 13,6% no trimestre até abril, segundo
números divulgados hoje pelo IBGE, contra 11,2% no mesmo período de
2016.
“A recessão é algo que explicita e afeta nossa capacidade de
concorrer com outros”, diz Ana Burcharth, professora e pesquisadora do
Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e uma das
autoras do estudo.
O país também caiu 5 posições em um ano no pilar de “Infraestrutura”.
A infraestrutura científica, por exemplo, teve impacto da queda de
recursos e de pessoas empregadas em pesquisa e desenvolvimento. No
momento da crise, as empresas estão mais preocupadas em sobreviver do
que em novar.
“Em um contexto político abalado e extremamente incerto, é um desafio
mover pessoas e recursos em prol de um projeto de nação”, diz Carlos
Arruda.
Outros problemas citados são a dificuldade em atrair talentos de fora
e as questões trabalhistas, assim como a baixa eficiência no uso de
recursos.
Nosso gasto em educação, por exemplo, é compatível com nosso nível de
renda e está na média de países comparáveis, mas nossos indicadores de
qualidade ficam muito aquém na comparação.
Para Arturo, os países que conseguiram subir no ranking adotaram uma
agenda de produtividade, melhora de ambiente de negócios e abertura para
o comércio internacional. Ana diz que falta ao Brasil essa visão mais
estratégica e consistente:
“Muitas vezes a gente fica refém de questões conjunturais, economia
volátil e instabilidade institucional. Os países que conseguem melhorar e
sustentar competitividade são aqueles que pensam em investimentos de
longo prazo”, resume.