A Colombo fechou 200 lojas e diminuiu o mix de produtos. Com isso, pretende voltar ao lucro operacional neste ano e se prepara para uma nova negociação
A Camisaria Colombo, dos irmãos Álvaro e Paulo Jabur Maluf,
passou por duas tentativas de parcerias recentes, envolvendo vendas de
participação. Primeiramente, foi a Gávea Investimentos que, entre 2013 e
2014, adquiriu 49,9% da empresa. O acordo terminou com a recompra dessa
fatia pelos controladores, em fevereiro de 2015. Seis meses depois,
veio o anúncio de que haveria um novo sócio para a companhia, o Garnero
Group Acquisition Company (GGAC), braço de aquisições do banco de
negócios no exterior do empresário Mario Garnero, o Brasilinvest. Essa
transação, que foi avaliada em R$ 1,1 bilhão, previa a atração de
investidores internacionais para a rede de lojas. Um ano depois, o
negócio foi desfeito com a alegação que os irmãos Maluf não teriam
cumprido a sua parte, tanto em termos financeiros quanto na divulgação
de informações aos sócios, além de que estariam negociando com os bancos
credores por conta própria.
Agora, a Colombo está mais uma vez à venda. E, segundo pessoas
próximas, dessa vez, os irmãos estão conscientes de que precisam
negociar uma parcela significativa a um novo sócio ou até mesmo se
desfazer totalmente da companhia fundada em 1917. A empresa atravessa
uma recuperação extrajudicial, desde março de 2017, e começa a dar
sinais de retomada. A chegada de um investidor poderia completar a
transição para dias melhores. A gestão tem sido tocada pela Starboard,
companhia de reestruturação que, atualmente, também administra a
varejista Máquina de Vendas, buscando resultados similares: a melhoria
da operação e uma venda. Mesmo com o baque sofrido pelo comércio após a
greve dos caminhoneiros, a expectativa é de que a Colombo apresente
neste ano um Ebitda positivo, de R$ 25 milhões (no primeiro semestre se
esperava que pudesse ser o dobro disso). Em 2017, o resultado foi R$ 130
milhões negativos. “Fizemos um processo de estabilização da empresa,
com o fechamento de lojas, diminuição do tamanho de outras e a
renegociação do preço dos aluguéis”, afirma Warley Pimentel, sócio da
Starboard, criada no início de 2017 por ex-executivos da área de
reestruturações do banco Brasil Plural. “A empresa está enxuta.”
A empresa encolheu para ficar mais eficiente. De um total de cerca de
450 lojas, em 2014, a Colombo conta agora com 250 pontos. E 30% das
lojas diminuíram de 130 m2 para 75 m2. Todas as outras também deverão
ficar menores. A consultoria Bain Company foi contratada para
repensar o mix de produtos. “Vamos focar apenas em roupa social e
esportiva masculina, em vez de ter ofertas para crianças e para
mulheres”, diz Pimentel. “E já fizemos todas as compras para a
temporada de Natal.” Essa receita é defendida como inevitável. “A
Colombo, como outras empresas, teve um crescimento agressivo demais e de
forma alavancada, e muitas lojas de resultado duvidoso foram abertas”,
afirma Alberto Serrentino, analista de varejo da Varese Retail. Ele cita
o otimismo exagerado com o boom da economia até 2014 como a origem
desse contexto. “Quando a economia virou e houve o corte das linhas de
crédito, não sobrou alternativa senão a racionalização dos recursos, a
renegociação de contratos e a mudança de sortimento de produtos”, diz.
Um ponto mais delicado da recuperação é a renegociação da dívida de
R$ 1,2 bilhão da empresa. Os bancos, os maiores credores, incluindo
Itaú, Santander e Bradesco, aceitaram que a dívida fosse transformada em
debênture conversível, enquanto ainda corre uma negociação de abertura
de nova linha de crédito. Houve um primeiro ano e meio de carência dos
pagamentos, que venceu em julho, quando a empresa começou a quitar os
débitos. Os pagamentos deverão ser feitos durante oito anos e começaram
com a dívida de R$ 100 milhões relativas a juros.
Nem todos os credores demonstram satisfação. Alegando ter R$ 80
milhões a receber, as confecções Caedu, Blue Bay e Blue Center entraram
com ação no Tribunal de Justiça de São Paulo, depois que a Colombo pediu
há quatro meses a extensão do prazo de pagamento. Segundo a defesa das
fornecedoras, representada pelo escritório Warde Advogados, as empresas
não subscreveram ao plano de recuperação extrajudicial e querem que a
Gávea pague a dívida. “É muito estranho terem recebido um pagamento logo
antes da recuperação extrajudicial”, diz uma fonte próxima dos
fornecedores. Procurada, a Gávea afirmou que não tinha nada a comentar
sobre o caso. Já a Colombo alega que o processo tem motivação
concorrencial, pelo fato de a Blue Bay e da Blue Center possuírem ações
da rival TNG, e que se trataria de um caso isolado dentre os credores.
Também observa que não poderia, por lei, pagar antes a elas em relação a
todas as outras fornecedoras.