Assinadas por Trump, regras que reduzem tarifas de 1,7 mil produtos importados entram em vigor no dia 13 de outubro
Os fabricantes de calçados do
Sul do país estão animados com a possibilidade de aumento das vendas
para os Estados Unidos que, no começo deste ano, perderam para a
Argentina a posição de maiores compradores desses produtos brasileiros. O
que anima os empresários da região é a entrada em vigor de uma nova
legislação norte-americana que prevê redução tarifária para 1,7 mil
produtos importados, entre os quais, calçados. Assinadas pelo presidente
Donald Trump no último dia 13, as novas regras entram em vigor no dia
13 de outubro.
A maior
abertura do mercado americano ocorre em um momento em que o Brasil
precisa ajustar a sua demanda externa. Segundo a coordenadora de
Inteligência de Mercado da Associação Brasileira da Indústria de
Calçados (Abicalçados), Priscila Linck, o consumo mais retraído em solo
nacional obriga os empresários a buscar compradores de fora. Ela lembra
que os Estados Unidos sempre foram o principal destino das exportações
do setor, mas, desde o ano passado, as encomendas de lá vinham caindo e
só registraram um pequeno crescimento em agosto. A Argentina, que era a
segunda maior importadora dos calçados brasileiros, passou à primeira
posição em janeiro deste ano, mas começou a reduzir as compras em julho,
por causa da crise econômica no país. De acordo com Priscila, os
negócios bilaterais são facilitados até pela proximidade geográfica com o
principal polo exportador, que fica no Rio Grande do Sul.
Dos
909 milhões de pares de calçados produzidos pelo Brasil, no ano
passado, 20,6% foram confeccionados pelos gaúchos que detêm quase a
metade das vendas externas. No ano passado, os produtores do Rio Grande
do Sul tiveram participação de 41,4% no total de 127 milhões de pares
embarcados. Em 2017, as exportações brasileiras alcançaram volume
financeiro de US$ 1,09 bilhão, superando o resultado de 2016 (125,6
milhões de pares e US$ 999 milhões). O posto de maior produtor nacional,
no entanto, é do Ceará (28,1%), mas a maior parte da fabricação desse
estado abastece o mercado doméstico e apenas 26,5% seguem para o
exterior. Quarto lugar na lista de produção, São Paulo é o terceiro
maior vendedor externo (10,4%). Além dos mercados da Argentina e dos
Estados Unidos, os sapatos brasileiros têm grande aceitação na França,
terceiro maior importador, seguida por Paraguai, Bolívia, Chile, Peru
Colômbia, Equador e Reino Unido.
Priscila
observou que a nova regulamentação tarifária baixada por Trump, válida
para o período de 13 de outubro próximo a 31 de dezembro de 2020, inclui
produtos têxteis, químicos e calçados, entre outros bens de consumo não
produzidos pelos Estados Unidos. “A regra não é unilateral para o
Brasil, vale para qualquer país”, ressaltou Priscila. As novas normas
americanas vão beneficiar até mesmo a China, independentemente da guerra
comercial do país com os EUA. É da China que provém a maioria dos itens
usados para calçar os pés da população mundial, o equivalente a 67,7%
do comércio global. Segundo a porta-voz da Abicalçados, os concorrentes
mais diretos do Brasil são o México e Portugal. De acordo com Priscila,
mesmo diante desse quadro, é uma boa chance para inserção dos
empresários brasileiros no mercado americano. “A redução tarifária deve
facilitar as negociações entre os nossos fabricantes e os importadores
dos Estados Unidos”, entende.
Questionada
sobre uma eventual retomada da economia argentina por meio da
antecipação do empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e, a
partir disso, haver um estímulo à produção de calçados brasileiros,
Priscila afirmou que a projeção é de um segundo semestre ruim nessa
parceria, pois, além da situação em si da Argentina, essa nação tem
sofrido os efeitos da volatilidade cambial, assim como os demais países
emergentes. “Todo impulso que tivemos até junho deu arrefecida em julho e
houve uma queda em agosto nos embarques para Argentina”, comentou.
Priscila acredita que esse cenário perdure por mais algum tempo, tomando
por base os ajustes internos que fazem parte do acordo com o FMI e que,
certamente, vão refletir na capacidade de consumo.