Sendo mínima a alternância de poder no país vizinho, o embaixador não colocaria em risco nossos interesses comerciais
Por Fernando Dourado Filho, do Porto (Portugal)
Pode parecer uma contradição,
mas não faço objeção a que profissionais de outras áreas ocupem postos
diplomáticos no exterior. Ou mesmo internamente, no caso como Chanceler –
o que já aconteceu com personalidades como Celso Lafer, Olavo Setúbal,
Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes, todos estes com
bastante sucesso à frente do Itamaraty.
Quando
se trata de nossas embaixadas lá fora, acho também explicável que em
circunstâncias excepcionais sejam confiadas a "outisiders." Pode-se
gostar ou não de Delfim Netto, mas ninguém pode, em sã consciência,
dizer que ele deslustrou nossa representação quando esteve em Paris como
embaixador. E confio que algo de bom deve ter resultado da investidura
do bonachão Zé Aparecido em Lisboa.
Na
contramão, diplomatas licenciados também são muito bem-vindos em
conselhos de administração e na vida política. Se lhes falta a verve e a
agilidade de executivos, sobra-lhes "savoir faire" em articulação
paciente e dosada. Na política eles são inúmeros. O espectro cobre desde
o prefeito de Manaus a acadêmicos prendados como é o caso de Marcos
Troyjo – já referido neste blog.
Acho,
contudo, que jovens alheios à carreira e com poder de influência capaz
de catapultá-los a embaixadores, deveriam ter um pouco de consideração
pela hierarquia do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e calibrar
suas expectativas de acordo com o noviciado, por preparados que se
sintam. Nesse contexto, alinho sete razões pelas quais Eduardo Bolsonaro
deveria optar pela embaixada brasileira em Assunção (foto) neste
momento.
a) A curta
distância da república vizinha dos principais centros de decisão do
Brasil permitiria ao atual deputado se deslocar semanalmente rumo a seus
familiares e eleitores. Assim, na eclosão de alguma crise familiar, ele
estaria presente sem grandes prejuízos de agenda e/ou despesas;
b)
Sendo uma pessoa vocacionada para temas ditos policiais, mercê de sua
carreira de escrivão da Polícia Federal – o que o faz levar a arma no
coldre até para um estúdio de televisão –, lá ele teria amplo
laboratório de rastreamento e repressão ao comércio ilegal sobre nossa
fronteira;
c) Inserido num
xadrez estratégico menor, nem por isso menos importante dada a
relevância de Itaipu para ambas as capitais, ele poderia fazer
aprendizado com os embaixadores dos EUA, China e Argentina – os próceres
mais nevrálgicos de sua posição avançada;
d)
Como conspirador contumaz que é contra o governo venezuelano – que se
não cairá de podre, cairá de maduro –, Assunção lhe permitiria fina
articulação e tomada regular de posição com seus pares
latino-americanos, o que não é pouca coisa;
e)
Sendo Assunção um posto mais discreto, serão menores as repercussões de
arroubos eventuais tais como os que o moveram ao propugnar uma bomba
atômica para o Brasil como forma de impor respeito e anunciar como
inevitável uma intervenção num país vizinho;
f)
Sendo mínima a alternância de poder de comando no Paraguai, o
embaixador não colocaria em risco nossos interesses comerciais,
militares e estratégicos por conta de, declaradamente, ter um lado. Se
isso seria danoso e lesivo ao Brasil nos EUA, no país vizinho é até
esperável;
g) Sendo um
posto menos sensível no xadrez diplomático brasileiro, ainda que não
secundário, a aprovação de seu nome pelo Senado seria mais tranquila, o
que desobrigaria o Executivo de ter que se sujeitar ao balcão de trocas
do Congresso.
Isso dito,
vê-se que o deputado, se já estiver desinteressado do exercício de um
mandato que não o seduz nem singulariza, estaria dando provas de
maturidade e de surpreendente traquejo diplomático se nos surpreendesse
com tal aspiração. Afinal, seria embaixador da mesma forma.
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