quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Lei do abuso: Moro indica livro que não leu. E quer chumbar a lei!





Leio bela matéria de Gabriela Coelho na ConJur: “Ministério da Justiça emite parecer contrário ao projeto de Lei de Abuso”.
Spacca
Sobre o PL, falei na semana passada. Sobre a justificativa do ministro da Justiça para os vetos, não preciso falar de todos. Basta um deles em especial. Simboliza a “sofisticação” destes tempos difíceis. Falo dos motivos que justifica(ria)m o veto ao artigo 9º da Lei.

Antes do pedido de veto, vejamos o que diz o próprio artigo. Trata-se do dispositivo que prevê a vedação à decretação de “medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais”. Simples assim: diz que é proibido descumprir a lei sobre decretação de prisão. E veja-se: Manifesta desconformidade! Manifesta des-com-for-mi-da-de! Não tem nada de crime de interpretação ou “crime de hermenêutica”. Isso sem considerar que quem denuncia uma violação desse artigo é o Ministério Público. E quem julgará será o Poder Judiciário. Repito o que  falei sobre isso. Élio Gaspari e eu.

Bom, antes mesmo do motivo, já salta aos olhos a estranheza de alguém pedir que se faça veto a um artigo de lei que, em uma democracia séria, seria (na melhor das hipóteses) desnecessário. Porque é tautológico. É um dispositivo legal que repete o que há de mais elementar no princípio constitucional da legalidade. Basicamente, está dizendo que não se pode prender ninguém ilegalmente. Não simples ilegalidade. Manifesta ilegalidade. E mesmo assim, Moro quer vetar.

E o pedido de veto parte de um ministro que, enquanto juiz, seria o primeiro a desrespeitar a lei que sugere vetar.

Se já não fosse assustador por si só, vejamos a justificativa de que falei ao início desta coluna. Fosse uma prova de teoria do direito, Moro chumbaria. Vejamos:

O ministro quer o veto, porque o dispositivo (art. 9º.) eliminaria "a discricionariedade do magistrado na exegese normativa", ou seja, “a margem de decisão do juiz na interpretação da norma".

O parecer segue dizendo que “a evolução do direito, dos costumes e, portanto, a mudança do chamado standard jurídico cria, ainda, uma zona cinzenta pela qual o magistrado deve caminhar para viabilizar a compatibilidade entre a norma e a sociedade. Em última instância, o dispositivo depõe contra a própria dinâmica e evolução do direito pela via jurisprudencial".

Isso dá tese doutoral, com o título “Algaravias teóricas sobre interpretação da lei”. Sub- temas: Pam-discricionariedade do magistrado. Margem na interpretação da norma. Zona cinzenta pela qual caminha o magistrado. Compatibilidade entre a norma e a sociedade. Evolução do direito pela via jurisprudencial. O texto do ministério é bem curtinho. Mas o suficiente para aquilatarmos a “sofisticação” da fundamentação. Seria por isso que o Presidente da República deveria vetar a lei? Com esses argumentos? Mas, se a lei veio exatamente para proibir esse tipo de coisa, por qual razão os motivos da proibição poderiam servir para chumbar a própria lei?

Se o artigo 9º. é uma tautologia, uma obviedade – e já falei e repeti que estamos em tempos de reafirmação de obviedades –, a sugestão de veto do Ministro da Justiça é uma ode ao que há de pior e de mais filosoficamente ultrapassado nas mais ingênuas vertentes de positivismo jurídico. Na verdade, da vulgata do conceito de positivismo.

Que não se perca de vista o que diz o artigo de lei. Trocando em miúdos, diz que não se pode prender ninguém ilegalmente. Repito: para infringir a lei, o juiz deve decretar a prisão sob manifesta ilegalidade. Ora, uma prisão ilegal já é um problema. O que dizer se a prisão é MANIFESTAMENTE ILEGAL, isto é PRISÃO DECRETADA EM MANIFESTA DESCONFORMIDADE com a lei? É isso que o ministro pede que Bolsonaro vete? (“A pergunta é retórica”, diz a plaquinha levantada pelo estagiário.)

Mais do que isso, o veto é solicitado com tudo que há de mais antidemocrático – anti-hermenêutico – no Direito. Uma concepção baseada em um modelo de regras, em um sistema hermético, formalista, que exige a discricionariedade do intérprete quando for incompleto.

Se isso por si só já não fosse problemático, é ainda pior: na medida em que o artigo questionado diz tão somente que não se pode prender sem que configurada hipótese legal para tal (lembremos: manifesta ilegalidade), sequer haveria que se falar em discricionariedade. Ou seja, nem para o positivismo mais radical seria um caso de poder discricionário: Moro quer trazer a discricionariedade positivista para um easy case, um caso em que a hipótese legal é clara e evidente. Pobre conceito de discricionariedade; pobre conceito de easy case.

Para além disso tudo, já é de há muito que se sabe – desde Dworkin, lá na década de 1960 – que, em uma democracia, o Direito tem princípios de moralidade política institucionalizada que conduzem o raciocínio judicial. Norma e sociedade já estão “compatibilizadas” por aquilo que é ajustado institucionalmente pelo Direito. É o fit de que fala Dworkin.

A “evolução do direito via jurisprudencial” (sic), em uma democracia, é a interpretação autêntica do Direito à luz da própria tradição, em respeito ao elevado grau de autonomia que o fenômeno exige. Moralizá-lo e corrigi-lo em nome de supostas maiorias eventuais é ser contrário ao próprio Direito. 

Mas, pior: no caso, aqui, foram as maiorias que falaram...e aprovaram a lei.

Respeitar a sociedade é respeitar o Direito, não dizer ouvir uma suposta voz das ruas que não se sabe bem o que é. Em uma democracia, não há espaço para “margem cinzenta” (sic) sobre a qual se movimenta o magistrado para escolher uma resposta possível. Prisão preventiva não depende de escolhas, Ministro. Prisão depende de previsão legal e de prova. Decidir não é escolher na “zona cinzenta”.

Bastava Moro ter lido Dworkin. Tudo isso está n’O Império do Direito. Um livro considerado fundamental por... Sérgio Moro. Está aqui.

Pois é. Moro contra Moro. Tivesse o Ministro Moro lido o livro recomendado pelo Professor Moro, não defenderia esse tipo de tese (discricionariedade, zona cinzenta, evolução, etc). Pior, não defenderia uma discricionariedade ainda mais discricionária. Tivesse lido Law's Empire que recomendou, não cometeria esse erro. Tivesse o Ministro Moro seguido o conselho do Professor Moro.

Basicamente, Moro recorre a uma espécie de “pam-discricionariedade cinzenta” para pedir que se vete uma lei que diz que só se pode prender de acordo com...o que diz a lei. É isso. Na justificativa, Moro quer tanta discricionariedade que até mesmo a manifesta ilegalidade se subsume na...discricionariedade! Fantástico, não?

É porque chegamos a esse ponto que precisamos de leis tautológicas. Esse é o busílis.  

Paradoxalmente, penso que Moro pode ficar tranquilo. Bolsonaro nem precisa vetar nada. Se não se cumpre a lei que diz x, por que seria seguida a lei que diz “é preciso seguir o que diz a lei que diz x”? Melhor deixar assim, pois não? Afinal, o que a dogmática jurídica vem fazendo é, mesmo, próteses para fantasmas.

A “discricionariedade do magistrado”, a “margem na interpretação da norma”, a “zona cinzenta pela qual caminha o magistrado”, a “compatibilidade entre a norma e a sociedade” (isso é bem “novo” – remonta ao dualismo metodológico de Jelineck e quejandos), a “evolução do direito pela via jurisprudencial” – ou seja, a vulgata que Moro faz da obra de Hart; tudo isso já basta para que, quando a lei diga x, e quando a nova lei diz que deve ser obedecida a lei que diz x, o intérprete-juiz diga... y.

Tristes tempos. Tempos em que o Ministério da Justiça pede o veto a uma placa que diz “obedeçam às placas”.

Não, não, esqueçam o que eu disse. Com o que já tem sido feito no trânsito, melhor não dar ideia.


 https://www.conjur.com.br/2019-ago-20/lenio-streck-moro-indica-livro-nao-leu-chumbar-lei

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Esse negócio não vai acabar bem

Guerra econômica entre Estados Unidos e China se acirra e as consequências para os demais países — Brasil em especial — serão graves e imprevisíveis

Crédito: Susan Walsh/AP Photo
Os donos do poder: Donald Trump e Xi Jinping disputam o protagonismo global na economia e podem redefinir a História (Crédito: Susan Walsh/AP Photo)

É uma questão em aberto se, em poucos anos, a turbulência nos mercados financeiros da última semana será considerada a data oficial do começo da hostilidade aberta entre China e Estados Unidos. Na segunda-feira 5, as bolsas desabaram ao redor do mundo devido à decisão chinesa de deixar sua moeda, o yuan, desvalorizar-se levemente em relação ao dólar. Pela primeira vez desde 2008, a taxa de câmbio superou sete yuanes por dólar, movimento reforçado por uma decisão do Banco do Povo, o banco central chinês, na quinta-feira 8 (leia mais ao fim da reportagem). Em termos absolutos, uma variação irrelevante. Porém, em termos simbólicos, um alerta poderoso.

Exportações: navio carregado de contêineres com itens produzidos na China e destinados ao mercado internacional: Pequim dá sinais de que pode sobreviver às sanções dos EUA (Crédito:Gao Yuwen)
Na noite do domingo 4, ao anunciar a nova taxa de câmbio, o Banco do Povo, o banco central chinês, emitiu um comunicado dizendo que a decisão foi provocada pela “imposição unilateral de medidas protecionistas e tarifas sobre a China”. Destoando da linguagem normalmente neutra dos banqueiros centrais, a declaração foi um sinal eloquente que, para as autoridades em Pequim, a postura belicosa do presidente americano Donald Trump havia chegado perigosamente perto do limite. E o fato de os dois maiores países do mundo em Produto Interno Bruto (PIB) terem elevado o tom na arena econômica pode ter consequências graves e imprevisíveis, em especial para o Brasil.

A reação chinesa da segunda-feira seguiu-se a um prolongado processo de atrito entre Washington e Pequim. Periodicamente, Trump solta seus tuítes ameaçando elevar as tarifas comerciais. No dia 31 de julho, ele ameaçou lançar uma tarifa de 10% sobre bens e serviços chineses que representam US$ 300 bilhões em exportações, o maior aumento já anunciado. O principal ponto é a tecnologia. No dia 5 de maio, Trump proibiu grupos americanos de fazer negócios com empresas de tecnologia que “representassem risco à segurança nacional dos Estados Unidos”. Dias depois, o Google e Facebook anunciaram que estavam rompendo contratos com a gigante Huawei. Fundada em 1988 e com um faturamento que atingiu US$ 100 bilhões em 2018, ela é a principal concorrente em todo o mundo para a instalação da tecnologia de transmissão de dados 5G, que promete revolucionar a internet e deverá ser o principal negócio desse setor na próxima década. Trump a colocou na alça de mira.

Marcos Jank, professor do Insper e especialista em Ásia: “Ao bloquearem as compras de soja dos Estados Unidos, os chineses abrem espaço para o Brasil” (Crédito:Tadeu Fessel)
Em dezembro do ano passado, Meng Wanzhou, vice-presidente financeira e filha do fundador da companhia, foi presa no Canadá, acusada de violar as sanções americanas impostas ao Irã. Ela foi solta dez dias mais tarde após pagar dez milhões de dólares canadenses de fiança, de entregar seu passaporte e de concordar em usar uma tornozeleira eletrônica. O caso de Meng foi o movimento mais estridente, mas não o mais recente. A luta de Trump contra a Huawei continua. Na quarta-feira 7, o governo proibiu as agências governamentais de comprar produtos ou serviços da empresa e de mais cinco concorrentes conterrâneas a partir de 13 de agosto.


JOGO DURO 

Fiéis a seu estilo sutil de negociar, os chineses vinham minimizando as pressões de Trump e apostando as fichas na diplomacia tradicional. Porém, no fim de julho, um exasperado Trump elevou o tom de maneira a forçar Xi Jinping, o presidente chinês, a agir. Conseguiu. Deu certo? Philip Levy, economista republicano que participou do comitê de assessoramento econômico do ex-presidente George W. Bush acha que não. “Entramos em uma disputa comercial com a China com uma estratégia simples, que era pressionar Pequim até eles cederem”, disse ele à Bloomberg. “Só que não previmos o que aconteceria se eles não cedessem, e eles não parecem que vão ceder.” Trump permanece irredutível em sua eloquência. “Agora estamos no topo, os chineses realmente querem fechar um acordo”, disse ele na quarta-feira 7.

Chris Johnson, ex-analista da cia e especialista em China: “O que parecia uma batalha comercial está se tornando parecido com uma guerra de longo prazo” (Crédito:Divulgação)
Bravatas à parte, os chineses acreditam poder resistir aos ataques de Trump. Além disso, os chineses prometem avançar nas retaliações se Trump for adiante com sua ameaça de impor tarifas. Desde maio, Jinping vem defendendo uma nova “Longa Marcha”, alusão à campanha que levou Mao Tse-Tung ao poder em 1949 e implantou o governo comunista na China. Apesar de ter definido uma estratégia de privilegiar o consumo interno para tornar sua economia menos suscetível às variações do comércio global, Pequim tem dado sinais de que é capaz de sobreviver apesar das sanções americanas. Em vez de se dobrarem, eles deixaram o yuan desvalorizar. Mais do que isso, eles anunciaram mudanças em um dos pontos mais sensíveis nas relações comerciais através do Pacífico: o agronegócio. Ao lado do comunicado do BC chinês, foi anunciada a decisão de Pequim de interromper as compras de soja dos Estados Unidos.
Para entender como a situação chegou a esse ponto é preciso olhar para os números do comércio global. Desde 1975, os Estados Unidos importam mais do que exportam, e essa situação só piora para os americanos. Em 2018, o déficit comercial, sem contar as transações financeiras, foi de US$ 891 bilhões. Quase metade dessa diferença veio dos negócios com a China, com quem o déficit comercial no ano passado foi de US$ 419 bilhões, ou 47% do total. Na quinta-feira 8, o Departamento de Comércio divulgou os dados relativos a julho. No acumulado dos sete primeiros meses deste ano, o déficit com os chineses já está em US$ 168 bilhões.

Desequilíbrio: em 2018, déficit comercial dos Estados Unidos, sem considerar transações financeiras, foi de US$ 891 bilhões, sendo a China responsável por 47% do total (Crédito:Divulgação)
Nesse cenário, as medidas protecionistas, as declarações bombásticas e a pressão explícita visam tentar reequilibrar a balança comercial a favor dos Estados Unidos. Desde que ocupou seu assento na Casa Branca, o presidente colocou o déficit comercial com a China no topo da agenda. A questão vai além dos meros números. Ao buscar reduzir o desequilíbrio comercial, ele pretende fazer com que os americanos comprem menos produtos industriais e eletroeletrônicos chineses, e também ampliar as vendas do agronegócio americano para o outro lado do Pacífico. Todas essas medidas são destinadas a gerar empregos nos Estados Unidos, principal bandeira na eleição de 2016 e no pleito previsto para o próximo ano.

O problema com a reação chinesa é o impacto sobre os demais países. Na própria segunda-feira, o banco de investimentos americano Morgan Stanley divulgou um relatório dizendo que, se as maiores tarifas dos EUA e a retaliação da China durarem de quatro a seis meses, a economia global estará em recessão em nove meses. E os investidores estão começando a entender o potencial de um conflito prolongado. As ações americanas tiveram sua pior semana do ano, o dólar perdeu valor em relação às principais moedas e o ouro fechou no nível mais elevado desde 2013 na Bolsa de Londres, a US$ 1.503 a onça-troy (31,1 gramas). “O que parecia uma batalha comercial está se tornando parecido com uma guerra de longo prazo, sem nenhuma solução clara de curto prazo e com graves danos a uma economia global já enfraquecida”, avalia Chris Johnson, ex-analista da CIA especialista na China.

Tecnologia: Meng Wanzhou, vice-presidente financeira da Huawei, foi detida no Canadá por dez dias e libertada com tornozeleira eletrônica (Crédito:Jeff Vinnick/Getty Images/AFP)
 
E O BRASIL?


O agronegócio é importante nessa equação. Os Estados Unidos são o maior produtor mundial de soja, com 124 milhões de toneladas na safra 2018/2019, ante uma produção brasileira de 118,8 milhões de toneladas. Além de comprarem muita soja, os chineses são consumidores vorazes de carne de porco, um item que deverá trazer preocupações devido à febre suína africana, que vem devastando as criações por lá. “Ao bloquearem as compras de soja dos Estados Unidos, os chineses abrem espaço para o Brasil”, diz Marcos Jank, professor do Insper e um grande conhecedor dos mercados asiáticos. “Porém, esse espaço está longe de ser garantido”, diz ele. Jank avalia que os solavancos da semana passada demonstram a mudança no quadro geral do comércio internacional. Desde a queda do muro de Berlim, no início dos anos 1990, a tendência vinha sendo pelos acordos multilaterais. O melhor exemplo é o fortalecimento da Organização Mundial de Comércio (OMC), que vem sendo sistematicamente esvaziada pelos Estados Unidos nos últimos dois anos.

Um bom exemplo é a demora americana em indicar juízes para o Tribunal de Resolução de Conflitos, um dos órgãos mais importantes da organização. “O multilateralismo está sendo substituído por uma política em que os principais países fecham acordos bilaterais, sem a participação dos demais parceiros”, diz Jank. “Com isso, no longo prazo, o agronegócio brasileiro pode perder espaço no mercado chinês.” Pequim depende da importação de soja, mas não abre mão de preservar seu mercado de carnes, que têm maior valor agregado que os grãos. As autoridades chinesas podem facilitar o acesso das proteínas animais americanas a seu mercado em troca do relaxamento das sanções contra as empresas de tecnologia, alijando o Brasil desse segmento.

Oportunidade: com 1,42 bilhão de habitantes e PIB de US$ 13,6 trilhões, a China tem enorme demanda de carne suína, o que poderá ser bom para o Brasil (Crédito:Zhejiang Daily)
MAPAS REDESENHADOS Independente do movimento de curto prazo dos mercados financeiros, os primeiros dias de agosto mostraram claramente uma mudança na direção dos ventos. Em vez de multilateralismo, acordos bilaterais. Em vez de abertura, protecionismo. E uma visão mercantilista da economia, em que caberá aos países defender seus mercados em vez de integrá-los. Nesse cenário, perde quem tem menos competitividade e tecnologia. No caso brasileiro, as perspectivas não são boas. “O País tem vantagens no minério de ferro, na soja e no petróleo, mas não vai além disso”, diz Jank. Isso vai redesenhar os mapas do comércio internacional. E a primeira guerra séria do século 21 será econômica, e travada entre combatentes poderosos. País mais populoso do planeta, com 1,42 bilhão de pessoas (a Índia chega perto, com 1,37 bilhão), possuidor de um PIB de US$ 13,6 trilhões em 2018 segundo o Banco Mundial e dotado de armamento nuclear, a China é o único adversário capaz de enfrentar o poderio americano.
A perspectiva a partir de agora coloca em xeque a tese de que a globalização seria prevalente no longo prazo. No início dos anos 1990, o sociólogo americano Francis Fukuyama defendeu a ideia de que a confluência entre democracia e liberalismo econômico seria o ápice do desenvolvimento socioeconômico da humanidade. Ou, em uma frase muito citada e pouco entendida, havíamos chegado ao “fim da História”, um período em que arranjos totalitários e fundamentalistas não teriam mais espaço. Trinta anos depois, a guerra entre impérios nos dois lados do Pacífico mostra que não. É hora de apertar os cintos e se preparar para muita turbulência à frente. A História acabou de recomeçar.

Prejuízos (dos) bilionários

Desvalorização do yuan fez evaporar US$ 110 bilhões do patrimônio das 500 pessoas mais ricas do mundo


Na segunda-feira 5, os mercados reagiram de maneira quase catastrófica à decisão chinesa de desvalorizar sua moeda. A Bolsa de Nova York caiu 2,9%, e percentuais semelhantes de baixa espalharam-se pelos pregões em todo o mundo. Isso drenou as fortunas dos bilionários. Segundo um levantamento da Bloomberg, as 500 pessoas mais ricas do mundo sofreram uma desvalorização de US$ 110 bilhões em seus patrimônios em um só dia, uma baixa de 2,1%.

Segundo cálculos da Bloomberg, o maior perdedor foi Jeff Bezos, fundador da Amazon. A desvalorização das ações da empresa – e de outras nas quais o magnata investe – custou-se US$ 3,4 bilhões. Mesmo assim, Bezos permanece confortavelmente na posição de habitante mais abonado do planeta, com um patrimônio estimado em US$ 109 bilhões. Bem perto está o empresário francês Bernard Arnault, presidente da holding de luxo LVMH, com uma fortuna estimada em US$ 108 bilhões. Arnault sofreu prejuízos de US$ 3,2 bilhões. Outros ricaços também perderam dinheiro. Bill Gates, fundador da Microsoft e que até há pouco era o segundo da lista, viu sua fortuna de US$ 107 bilhões emagrecer US$ 2 bilhões. E o patrimônio de Mark Zuckerberg, estimado em US$ 69 bilhões no início do ano, encolheu US$ 2,8 bilhões na segunda-feira.

Um prejuízo de US$ 3,4 bilhões pode levar mesmo o mais calmo dos mortais ao desespero. Porém, não houve notícias de que Bezos perdeu a calma. A explicação é que, apesar dos valores elevados, essas perdas só serão efetivas se, por um azar, os bilionários optassem por vender todas as ações exatamente no momento da baixa, algo que raramente ocorre. Como as ações oscilam todo o tempo, os magnatas estão acostumados a ver seu patrimônio oscilar ao sabor dos humores do mercado. E, na ponta do lápis, não há tantas razões assim para reclamar. Segundo a Bloomberg, o patrimônio acumulado dos 500 mais ricos, estimado em US$ 5,2 trilhões, já cresceu 11% desde o início do ano devido à trajetória de alta das bolsas.




https://www.istoedinheiro.com.br/esse-negocio-nao-vai-acabar-bem/


E nós com a China?


E nós com a China?
No cabo de força de uma disputa de gigantes, China e EUA, o Brasil ainda tenta encontrar o seu lugar. A depender das escolhas, vai colher consequências ainda não totalmente previsíveis. É controversa a ideia de garantir vantagens a partir dessa disputa. Claro, as retaliações de lado a lado tendem a favorecer outros fornecedores, vendedores, parceiros comerciais que possam suprir eventuais vácuos de oferta. O Brasil está capacitado em diversas áreas para esse movimento. Mas em toda guerra, é fato histórico, a maioria sai perdendo.

O perrengue ainda se reveste de nuances políticas que podem comprometer a tradicional neutralidade que o País teve no passado. Por uma orientação de governo, nossa diplomacia se aproxima, em todos os sentidos, das práticas e deliberações estabelecidas pelo americano Donald Trump. Isso tem provocado e até irritado os chineses. A inclinação bolsonarista pode levar o Brasil a se postar, mesmo sem querer, como adversário da toda poderosa China, atualmente maior comprador de nossas mercadorias.

Qualquer desavença em uma direção ou sinal de conversão ou colaboração à outra parte pode significar duras retaliações, com desdobramentos financeiros imprevisíveis para a balança comercial. O Brasil já não ficou bem na fita e quase perdeu importantes encomendas quando, no início do Governo, algumas críticas foram levantadas pelo presidente contra o parceiro asiático. O mundo, nos últimos dias, fechou a respiração à espera do desfecho do combate. Não é de toda descartada a possibilidade de uma recessão global e foi em parte por isso que as bolsas despencaram e o câmbio entrou em parafuso.

O presidente Trump chegou a insinuar que os chineses manipularam criminosamente a sua moeda para ampliar as tensões. Ocorreu decerto uma correção cambial com desdobramentos turbulentos. Mas o maior dos riscos está na pauta de produtos penalizados dos dois lados. Trump listou minuciosamente mercadorias chinesas que estão em franca ascensão no mercado americano para realizar uma sobretaxa, até de maneira arbitrária, contrariando as regras da OMC.

É absolutamente impossível imaginar hoje não apenas os EUA como quase todas as praças globais prescindindo da oferta de mercadorias chineses. De longe as de melhor custo-benefício em qualquer circunstância. Por outro lado, a escalada da tensão comercial tem abalado a confiança dos empresários que, nesses momentos, tendem a refluir seus investimentos. Tanto na China, como nos EUA e no resto do planeta. Sem dúvida, no atual contexto, a torcida geral é por um entendimento o mais rápido possível entre os dois titãs. Antes que as consequências sejam desastrosas.
(Nota publicada na Edição 1133 da Revista Dinheiro)

Desmatamento corporativo


Sete a cada dez vazamentos de informação nas empresas referem-se a dados considerados sensíveis e confidenciais

Crédito: iStock
Você está sendo vigiado: informações compartilhadas por funcionários que usam e-mails corporativos revelam não apenas posturas pouco éticas mas até crimes (Crédito: iStock)

Parece desmatamento na Amazônia, mas o estrago acontece no ambiente corporativo. De cada dez incidentes de vazamento de informação nas companhias sete tratam de dados considerados confidenciais e estratégicos ao negócio. Os números referem-se à análise de 32 mil interceptações de mensagens, entre 2014 e 2018, feita pela consultoria de ética e compliance ICTS Protiviti. Eles foram extraídos de uma base formada por 50 corporações. O índice de procedimentos irregulares saiu de míseros 2,4% do conteúdo interceptado para assustadores 79,2%. O coordenador da pesquisa e diretor executivo de operações da ICTS, Fernando Scanavini, diz que o salto se explica por dois motivos. Por um lado, “existe maior preocupação das empresas em monitorar seus recursos”. Por outro, “mais ferramentas de monitoramento”.

Ainda que o aumento do zelo e das melhorais tecnológicas tenha crescido, é uma quantidade considerável de segredos, informações restritas, dados confidenciais e até mesmo crimes comuns pululando no mundo corporativo. A consultoria realiza serviços de análise de risco a partir do monitoramento do tráfego de informações em e-mails, desktops, laptops, celulares corporativos e publicações nas redes sociais.

A partir do momento que faz a interceptação, a consultoria não interfere no seu desenrolar. Ela encaminha o conteúdo para as empresas que contratam o serviço. Cabe à companhia esclarecer a questão e resolver o tema com seu colaborador. Scanavini afirma que cresce a percepção das lideranças corporativas para os problemas que nascem a partir da alta conectividade em ambientes de trabalho. Não importa o número de funcionários ou segmento de atuação. “Era, e ainda é, mais comum a cultura de segurança e boas práticas nas grandes empresas, mas cada vez mais organizações de porte médio ou menor começam a se preocupar”, diz.

E aí a tecnologia de monitoramento ganha espaço. Boa parte das empresas tem departamentos e canais para denúncias, mas ainda é a menor fatia delas que utiliza ferramentas tecnológicas para controlar a informação disseminada a partir dos próprios funcionários. “A cada 1 mil empregados, os canais de denúncia identificam quatro incidentes, enquanto no monitoramento, a cada 1 mil colaboradores, são interceptadas dez violações”, afirma Scanavini. É uma performance 2,5 vezes superior.

O monitoramento é feito por máquina, mas também há presença humana. Toda mensagem com anexo já passa por filtro. Algumas ficam numa quarentena e levam até 60 minutos para sair da caixa de mensagens. A autorização para monitorar esse fluxo de comunicação é assinada pelos colaboradores ao serem contratados. “Todas as empresas para quem prestamos serviços têm códigos de conduta e compliance informando as regras”, afirma. Ainda assim muitos esquecem o que assinaram, ou não leram, mais ou menos como acontece quando a gente aceita entrar numa rede social.



O robô utilizado pela ICTS Protiviti trabalha a partir de um acervo semântico – um conjunto de palavras e expressões que ao ser usado indica a probabilidade maior de existir alguma informação confidencial sendo vazada. “Esse dicionário, de umas 150 palavras, é nosso segredo”, diz, justificando manter silêncio sobre elas. Mas uma expressão ele revela: “A branquinha tá especial”, usada por funcionários que elegem o e-mail corporativo para avisar a colegas potenciais consumidores de drogas.
Para diminuir filtros humanos, feitos por analistas, e aumentar o índice de interceptação já se começa a utilizar no monitoramento Inteligência Artificial na busca de análises mais refinadas. Scanavini diz que muitas vezes uma palavra considerada ‘suspeita’ só está fora de contexto. Mas também ocorre o oposto. Pessoas que utilizam palavras aparentemente “inocentes” para vazar dados e informações. Por isso o investimento em IA. E, independentemente da adoção de canais de denúncia e do monitoramento, ele lembra da regra básica. “Treinar pelo menos anualmente e informar rotineiramente os colaboradores, novos ou não, sobre as regras para um comportamento ético.”




Piracanjuba anuncia nova fábrica no Paraná


Planta de São Jorge D’Oeste terá aporte de R$ 80 milhões

Da Redação

redacao@amanha.com.br
Piracanjuba anuncia nova fábrica no Paraná

O governador Carlos Massa Ratinho Junior recebeu na quarta-feira (14), em Curitiba, o diretor-superintendente da empresa de laticínios Piracanjuba, Cesar Helou. Na reunião (foto), o executivo confirmou dois novos investimentos no sudoeste do Paraná que, somados, atingem o valor de R$ 110 milhões. 

A construção da unidade de São Jorge D’Oeste começa em 2020, ao custo de R$ 80 milhões, criando 300 empregos diretos. Já a primeira unidade, em Sulina, começa a funcionar em setembro. Com capacidade de processar 150 mil litros de leite por dia e investimento de R$ 30 milhões, a indústria vai gerar no primeiro momento 70 empregos diretos na produção de queijo fatiado. “Recebemos todo o apoio para que as obras não tenham atrasos, principalmente quanto à necessidade de infraestrutura e energia”, destacou Helou. 

De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, o Paraná é o terceiro maior produtor de leite do Brasil, com cerca de 13% da produção nacional. Aproximadamente 90 mil produtores de leite atuam no Estado. Em 2017, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram produzidos 4,4 bilhões de litros. Em 2018, a produção de leite rendeu R$ 5,8 bilhões no Valor Bruto da Produção Agropecuária do Estado, segundo dados preliminares do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura, perdendo apenas para o frango, soja e milho. 


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CEO do Walmart defende endurecimento ao acesso as armas nos EUA

A maior rede varejista dos EUA está novamente sendo alvo de críticas pela venda de armas após os dois massacres no último final de semana e deixaram 31 mortos

CEO do Walmart defende endurecimento ao acesso as armas nos EUA
O Walmart afirmou que é responsável por 2% de vendas de armas e 20% de munições nos EUA


O CEO do Walmart, Doug McMillon, afirmou nesta quinta-feira (15) que é preciso “bom senso” no debate sobre o acesso a armas nos Estados Unidos e que apóia o fortalecimento de medidas que endureçam a legislação atual. A maior rede varejista dos EUA está novamente sendo alvo de críticas pela venda de armas após os dois massacres ocorridos no último final de semana e que deixaram 31 mortos. Além disso, dois gerentes do Walmart foram assassinados em um caso isolado.

“Acreditamos que a proibição das armas de assalto deve ser debatida para determinar sua eficácia em manter as armas feitas para a guerra fora das mãos dos assassinos em massa”, afirmou CEO em uma nota publicada hoje.

Entidades que defendem maior rigidez ao acesso a armas criticaram o Walmart pela inércia diante dos recorrentes massacres. Para eles, a rede deveria usar seu peso corporativo para pressionar por mudanças na legislação.

“Somos encorajados pelo amplo apoio que está surgindo para fortalecer as verificações de antecedentes e retirar as armas daqueles que estão determinados a representar um perigo iminente”, disse o CEO.

O Walmart afirmou que é responsável por 2% de vendas de armas e 20% de munições nos EUA. A rede é um importante parceiro de produtores do segmento, como a American Free Brands e Vista Outdoor. Segundo a CNN, a rede é o principal cliente da Vista, responsável por 14% dos US$ 2 bilhões de lucro da empresa armamentista do último ano.

https://www.istoedinheiro.com.br/ceo-do-walmart-defende-endurecimento-ao-acesso-as-armas-nos-eua/

Possível retaliação chinesa mantém B3 no vermelho


Recessão global segue preocupando investidores 

 

Da Redação

 

redacao@amanha.com.br
Possível retaliação chinesa mantém B3 no vermelho

O principal índice da bolsa brasileira, a B3 (foto), segue em retração nesta quinta-feira (15). A B3 tem refletido o comportamento do mercado mundo afora em meio às crescentes preocupações de uma recessão global. A China divulgou um comunicado afirmando que poderá retaliar os Estados Unidos depois de a Casa Branca ter anunciado que adiria a aplicação do novo pacote de taxas sobre produtos chineses. Trump anunciou novas taxas no início deste mês, tendo desencadeado uma resposta imediata da China, que suspendeu a compra de produtos agrícolas norte-americanos.

No início da tarde, por volta das 13h, o Ibovespa tinha queda de 0,4%, a 99.812 pontos. Na abertura, o índice chegou a operar em alta de 0,6%, mas depois retrocedeu. O dólar, no mesmo  horário, era cotado a R$ 4,0150, queda de 0,5% em relação à cotação de ontem. Na quarta-feira (14), a bolsa recuou 2,9%, a 100.258 pontos, após dados fracos da produção industrial da China e a queda do PIB da Alemanha. 

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