Estadão Conteúdo
O crescimento das fontes renováveis de energia
elétrica, que até pouco tempo atrás eram figurantes na matriz energética
nacional, repercute agora dentro do Congresso Nacional. Por meio da
mobilização de parlamentares e da indústria nacional, a geração de
usinas eólicas e solares passará a contar com uma frente parlamentar na
Câmara dos Deputados, com o objetivo de ampliar a participação dessas
fontes no País.
De cada cem casas que acendem a luz no Brasil diariamente, dez usam
energia eólica. Em tempos de ventos fortes, esse número sobe para 15
residências. A energia solar, que até quatro anos atrás era praticamente
uma experiência casual na matriz elétrica, hoje já chega a 2% da
potência nacional e supera a geração nuclear.
Para ampliar a relevância dessas fontes e turbinar o mercado
nacional, a Frente da Energia Renovável (FER) terá o papel de
concentrar, no Congresso, os principais pleitos do setor, envolvendo
mudanças legislativas que possam estimular o segmento no País.
A FER, que nasce com a participação de 212 deputados, vai incluir
entre suas prioridades a geração por meio de tecnologia de exploração de
hidrogênio e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Um evento para oficializar a criação da FER acontece nesta
quarta-feira, 17, em Brasília. Um encontro presencial e com transmissão
online será feito em uma área cedida da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA). Há expectativa de presença dos ministros Bento
Albuquerque (Minas e Energia), Tereza Cristina (Agricultura) e Ricardo
Salles (Meio Ambiente).
A frente será presidida pelo deputado Danilo Forte (PSDB-CE). “Há uma
convicção no mundo todo de que a proteção do clima e uma menor geração
de gases de efeito estufa passam pela produção de energia limpa. A
frente é de interesse de todos, por isso nasce com parlamentares de
esquerda e direita, gente do PCdoB ao PSL”, disse Forte ao jornal
O Estado de S. Paulo.
O governo tem especial interesse no tema devido à Conferência das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 26, prevista para
novembro, em Glasgow, na Escócia. “A COP está batendo à nossa porta e o
mundo pede uma resposta do Brasil.”
O parlamentar disse que já há uma agenda inicial prevista, como a
criação de um novo marco regulatório para a micro e minigeração
distribuída de energia, ou seja, a instalação de painéis solares em
residências e empresas. O deputado também menciona a necessidade de
criar regras gerais para orientar o licenciamento ambiental de projetos
eólicos no País. “Hoje cada Estado estabelece uma regra e isso gera
problemas.”
Uma das prioridades da geração renovável continua a ser a instalação
de novas linhas de transmissão de energia. Nos últimos anos, o Brasil
viu centenas de parques eólicos instalados na região Nordeste concluídos
serem impossibilitados de entregar energia porque os projetos de
transmissão atrasaram.
Apesar do interesse do governo em lançar novas plantas de geração
nuclear, sob o argumento de que se trata de uma geração limpa, essa
fonte não fará parte dos esforços da FER. “A geração nuclear é uma
energia cara, em que o preço depende de dinheiro público”, comentou.
Expansão
Pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com a
consultoria Accenture, estima que, nos próximos cinco anos, os
investimentos da indústria de energia solar e eólica podem gerar mais de
1,2 milhão de novos empregos no País, além de reduzir em 28 toneladas a
emissão de gases de efeito estufa. Os dados foram apurados com 25
empresas de serviços públicos globais e empresas de tecnologia voltada
ao setor elétrico.
Hoje, o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking mundial de capacidade
instalada em energia eólica – com 18 GW, em 695 parques de geração,
segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Em
2012, era o 15º colocado. A eólica é a segunda fonte de geração de
energia elétrica nacional e, em dias de recorde, já chegou a atender até
17% do País. “A frente representa a existência de um grupo de
parlamentares que se dedicará a discutir temas importantes do setor, num
ambiente de diálogo e troca de experiências”, diz Elbia Gannoum,
presidente da Abeeólica. “O Brasil já tem uma das matrizes mais
renováveis do mundo, mas não podemos parar por aí. Há muitas inovações
tecnológicas que precisam ser discutidas e apoiadas.”
Solar
O parque de geração solar (fotovoltaica) está distribuído em 4.440
plantas, respondendo por 8% da potência total do País, se considerados
todos os projetos em operação, em construção e planejados, segundo a
Aneel. Em muitos parques eólicos, a geração solar passou a ser um
complemento importante, com a instalação de painéis abaixo dos
cataventos. Dessa forma, o aproveitamento da área é total,
principalmente no Nordeste do País, que tem forte incidência de sol, com
vento mais forte no período noturno.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.